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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Em meio a tensões, a Igreja sobrevive





"Aqueles que abandonaram o catolicismo superam aqueles que se uniram à Igreja por uma margem de quase quatro para um". Esse é apenas um dos muitos dados estatísticos sombrios citados por Tom Robertsem The Emerging Catholic Church: A Community’s Search for Itself (Ed. Orbis). SegundoRoberts, a Igreja está em apuros: os católicos norte-americanos estão vivendo tempos difíceis, causados por diversas forças, incluindo as reformas do Concílio Vaticano II (1962-1965), mudanças demográficas, o movimento de mulheres, questões de gays e lésbicas, celibato obrigatório para padres e religiosos, e a inadequação da hierarquia, especialmente no que diz respeito ao tratamento dado à crise dos abusos sexuais.

A análise é de Diane Scharper, professora da Towson University, em MarylandEUA, em artigo publicado no sítio National Catholic Reporter, 16-12-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Roberts aborda o seu assunto com as credenciais de um jornalista. Ele não é um religioso. Ele não é um teólogo, um estudioso das Escrituras, um ministro leigo nem mesmo um sociólogo. Mas, depois de 17 anos como editor do National Catholic Reporter e antes disso como editor de notícias do Religious News Service, ele conhece o tema. E ele pode contar uma história convincente.

O livro teve origem na popular série In Search of the Emerging Church que ele escreveu para que o NCR.Roberts tece coerentemente números, fatos, opiniões, anedotas pessoais e detalhes contundentes enquanto ele obriga o leitor a virar a página. Embora pesado em termos de estatísticas, o livro é legível por causa do estilo de escrita suave de Roberts.

É lamentável, entretanto, que Roberts fundamente muitos de seus fatos com documentos publicados há vários anos. Por que ele não incorporou algumas das conclusões da quinta pesquisa do NCR sobre os católicos norte-americanos? Fazer isso poderia atrasara a publicação, mas, nesta época de notícias instantâneas, isso teria aumentado a precisão e a oportunidade deste livro.

A nova pesquisa do NCR também não é especialmente otimista em sua avaliação, embora indique claramente que a parcela católica da população norte-americana manteve-se em estáveis 24% por causa dos imigrantes hispânicos. Na verdade,Roberts menciona o impacto dos hispânicos, mas suas observações tendem a se perder na perspectiva sombria que permeia o livro. Citando um estudo do Pew Forum on Religion & Public Life (2007), por exemplo, que diz que a porcentagem de hispânicos católicos está crescendo e transformando a Igreja, Roberts nota amargamente que os números por si sós não garantem um efeito duradouro.

Contudo, ele baseia o seu livro sobre os números, muitos dos quais de um relatório do Pew Forum de 2008, que revela que apenas 68% daqueles que cresceram católicos permanecem católicos. De fato, os ex-católicos (cerca de 22,8 milhões), tomados como uma denominação, seriam, ele especula, "o segundo maior [grupo religioso] no país atrás da Igreja Católica, que conta com 68,1 milhões de membros".

O livro de Roberts é menos sobre o futuro e mais sobre o passado, apesar do título e da introdução Ambos sugerem que esse livro apresentará a nova Igreja que está surgindo dos destroços da antiga. Mas apenas dois dos 11 capítulos do livro (sem contar as notas e o índice) digam respeito a uma "Igreja emergente".

Um deles discute práticas inovadoras nas paróquias do Novo México e de Nova Jersey. O outro, o capítulo 7, introduz a fascinante teoria de Phyllis Tickle (do seu livro The Great Emergence: How Christianity Is Changing and Why) de que, a cada 500 anos, uma nova forma de cristianismo emerge da antiga. Como explica Roberts, o último "período crítico" ocorreu durante a Grande Reforma, precedida pelo Grande Cisma. Curiosamente, esses períodos são caracterizados por sentimentos anticlericais, assim como por uma procura de uma nova autoridade. Se há um ponto brilhante, é essa seção, que afirma que essa nova forma de cristianismo vai ser mais pura e menos ossificada do que a antiga. Se Roberts planeja uma sequência, ele poderia muito bem se concentrar nas qualidades desse novo cristianismo.

A maior parte desse livro, entretanto, examina antigas manchetes que se concentram nos esforços clericais de, como vêRoberts, sequestrar as reformas do Vaticano II, assim como no tratamento dado pelos bispos à crise dos abusos sexuais. O sexo é um tema importante – como na discriminação contra meninas e mulheres, os antigos "clubes do bolinha", no controle de natalidade, no aborto, no casamento gay e no abuso sexual sacerdotal. Roberts tem poucas coisas boas a dizer sobre a hierarquia católica romana (especialmente sobre os cardeais Bernard Law, de Boston, e Anthony Bevilacqua, daFiladélfia), cujas ações parecem lhe enfurecer.

No entanto, a raiva pode acarretar uma prosa envolvente e apaixonante. Enquanto Roberts lista as suas queixas – muitas delas escritas em perfeitos ritmos paralelos –, o texto assume o poder hipnótico da poesia, embora não a preferência pela precisão da poesia. Grande parte do livro é desenhado em traços excessivamente grandes, especialmente a parte que trata dos bispos e do papado de João Paulo II. Roberts até admite que suas declarações sobre a hierarquia são "sem nuances e qualificação essencial". Ficamos perguntando por que ele as faz em primeiro lugar.

O ponto geral do livro, porém, é bem-feito: na última metade de século, a Igreja tem sofrido de uma hemorragia de membros, de dinheiro, de reputação, de vocações, de escolas, de conventos, de casas paroquiais e de edifícios da Igreja por causa do mal que existe dentro e fora dela. E ,diante desse cenário, o que espera pela Igreja?

O propósito ostensivo de Roberts é responder a essa pergunta. Ele diz que "lutou contra o fato de propor uma lista clara – os 10 itens de ação ou o plano de cinco anos (…) para o católico que quer uma ideia clara do que funciona, ou para alguém (...) [que] quer dados concretos sobre por que ele ou ela deve ficar". Mas, depois de passar um ano e meio viajando pelos EUA para encontrar algo de substância referente a uma Igreja emergente, ele não pode deixar de fazê-lo.

Ele considera muitas coisas erradas com relação à Igreja atual, especialmente a hierarquia Até mesmo a crise dos abusos sexuais, para Roberts, não tem a ver com sexo ou abuso. Tem a ver com o pobre tratamento dado pela hierarquia ao problema, uma situação que não irá melhorar significativamente, sugere Roberts, no futuro previsível.

Apesar do pessimismo de Roberts, pode-se dizer que, martelada pelo retrato negativo da mídia, em meio às lutas entre liberais e conservadores acerca do Vaticano II, e à história sem fim dos abusos sexuais, a Igreja Católica sobrevive e, em certas áreas, prospera.

O fato de a Igreja existir mesmo em meio a tais tensões parece ser milagroso e (na bem da verdade) um sinal de esperança.

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