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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O Espírito de Assis

Para o dia 27 de outubro, o Papa Bento XVI convidou os líderes de todas as grandes Religiões do mundo, para um encontro em Assis. Este encontro será uma memória do primeiro encontro paradigmático do Papa João Paulo II, de 25 anos atrás. No ano 1986, ele iniciou o diálogo e a colaboração entre as religiões: “e um compromisso novo, porque na verdade nos não nos aproximamos destes objetivos elevados da época, até hoje. Nós vivemos neste tempo tensões dramáticas e conflitos, que têm causas bem diversas: a economia financeira que saiu de controle, o abismo crescente entre pobreza e riqueza, a ameaça de colapso de clima, porque nossas economias e nosso comportamento de consumidor estão longe de um relacionamento de sustentabilidade com os recursos limitados de nossa Mãe Terra. E o fatal é: em quase nenhum lugar do mundo se trata de problemas locais controláveis e sim de questões globais, que levam consigo a todos. Ainda mais a pergunta ansiosa, o que será da “Primavera Árabe”. Então é lógico, que as religiões devem ser alertadas sobre a situação ameaçadora do nosso mundo. Eles são, em sua autodefinição, responsáveis pela vida, uma vida significativa em harmonia e justiça, para uma coexistência pacífica de diferentes raças, culturas e religiões, para a proteção da criação, que nos é confiada para ser valorizada e cultivada. Ninguém de nós tem mais o direito de perseguir apenas próprios interesses e objetivos em meio e estes desafios globais.
Assis, como o ponto de encontro das religiões, é, portanto, modelo e compromisso. Francisco de Assis encarna o "espírito de Assis", no qual é possível que tal encontro tenha sucesso. Sua vida inspirou os cristãos e não cristãos, crentes e não crentes, ricos e pobres. Porque a dominação lhe era algo estranho, porque para ele, não existia o em cima e o embaixo, nada de senhores e escravos, porque somos todos irmãos e irmãs, filhos e filhas do único Pai nos céus; porque ele nada queria possuir para si só, mas tudo é dom e riqueza da criação, e pertence a todos, e porque ele mostrou em seu encontro com o sultão de Damieta em 1219, como um diálogo respeitoso e aberto entre as religiões, com pode ser feito com sucesso.

Francisco, no entanto, também precisou aprender isto. Viveu na época de cruzadas sangrentas, convocadas pelo Papa Inocêncio III e foram organizadas com grande zelo. "Deus está do lado do exército cristão contra os inimigos da Cruz". Esta era a justificativa teológica que mobilizou os homens, mas não conseguiu convencer Francisco. Ele tinha certeza de que a violência e a "missão com a espada" eram incompatíveis com o espírito do Evangelho. Ele se pôs a próprio caminho em 1219, para os cruzados no Egito; não para lutar contra os muçulmanos, mas "viver entre eles no espírito de Jesus" (ER 16). Ele queria fazer a paz. Aqui fica claro como ele entende a sua missão e como ele conseguiu inculcar isto nos seus irmãos. Onde quer que estejam, eles deverão levar a paz, não devem orgulhar-se de si mesmos e de nada se devem apropriar; eles devem pregar a palavra de Deus "mais pelo exemplo do que pelas palavras" e evitar qualquer disputa e controvérsia. Isso só é possível se eles renunciarem ao estilo de senhores, mas "viverem sujeitos à vontade de Deus" (ver RnB 14 e 16). A diferença em relação à ideologia das cruzadas não poderia ser mais significativa.

A partir desta experiência, então Francisco desenvolveu um conceito de missão, que vai muito além da tradição teológica de seu tempo. Onde quer que estejam os irmãos, sempre devem abster-se de estruturas baseadas no poder, autoridade e exploração. Pelo contrário, devem "estar sujeitos", não iniciar uma disputa teológica; mostrar que eles são cristãos e pregar a palavra de Deus, somente quando eles têm um sinal de Deus, que o momento certo chegou. Porque Deus, que cuida sempre e em toda parte da salvação da humanidade já está lá, bem antes da vinda dos missionários. Francisco tem a experiência própria, e descobriu a presença viva de Deus entre os muçulmanos.
Quem incorpora isto, irá encontrar-se com outras religiões sempre num espírito de valorização e respeito mútuo. Evitará todas as atitudes de superioridade. Terá um diálogo humilde e honesto para tentar descobrir o que podemos aprender uns com os outros para enfrentar os principais desafios do nosso tempo em conjunto. Estas são as características do "espírito de Assis", que deverão determinar a reunião de líderes religiosos em Assis. Então - como podemos esperar - será o 27 outubro um bom dia para a paz.

Andreas Müller OFM

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