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terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Relações humanas = nossas relações com Deus

Frei Hipólito Martendal


Vamos começar afirmando que existem extraordinárias semelhanças entre as melhores relações humanas e as melhores relações entre um ser humano e Deus. Claro que para podermos nos pôr a meditar sobre tal tema temos de enfrentar uma certa dose de medo, sem cair em ousadias e pretensões baratas. Mas se partirmos da magnífica tradição franciscana de concentrarmos o melhor de nossas meditações e contemplações no mistério da encarnação do Verbo de Deus, tudo fica mais fácil e mais iluminado. A partir deste acontecimento básico, um Deus que se faz um de nós, todos nós nos revestimos de um significado e valor extraordinários. Eu até diria que Deus afirmar que somos criados à sua imagem e semelhança não traduz a riqueza infinita e intraduzível do gesto silencioso de Deus fazer-se gente e escolher a nós, humanos, para sermos seus interlocutores, companheiros de viagem, parceiros de diálogo, amigos e amantes.

Aqui toco o cerne do tema: eu, ou você, em diálogo com Deus. Estou profundamente convencido de que o diálogo é a mais sublime e completa forma de relacionamento entre duas pessoas. Não tenho espaço para expor exaustivamente tudo o que é importante sobre o diálogo. Para o nosso objetivo basta afirmar apenas uma coisa. Para eu dialogar bem preciso ser capaz de esquecer-me o mais possível de mim mesmo e entregar-me inteiramente à escuta daquilo que o outro está revelando através de palavras e de toda linguagem não verbal, seu estado de alma, suas emoções. Só quem aprendeu a amar de verdade pode dialogar bem.

Quanto mais imatura e egocêntrica é uma pessoa, mais precárias serão suas relações com os outros. Em geral, seu relacionamento é interesseiro, explorador e conflituoso, pois dificilmente outras pessoas conseguem preencher todas as suas expectativas e necessidades. Pessoas maduras conseguem realmente usufruir a gratuidade do encontro amoroso ou a presença graciosa do amigo. Elas esquecem-se de si e entregam-se inteiramente à vivência do encontro. O mesmo acontece no diálogo.

A mesma coisa observamos nos relacionamentos de pessoas com Deus. Muitas pessoas relacionam-se com Deus sempre voltadas para seus interesses pessoais e imediatos. Tentam explorar Deus, colocá-lo a seu serviço e quando não são atendidas, partem até para o conflito. Acusam Deus, declaram-se decepcionados, cobram. Na verdade é comum o ser humano imaginar Deus mais à imagem dele próprio do que ele querer reproduzir em si a imagem de Deus. Nós somos tão interesseiros e Deus tão desinteressado e generoso... São Pedro queria mudar a cabeça de Jesus porque desejava participar e liderar os demais ao lado de um Mestre grandioso e sempre vitorioso.

Quando procuramos Deus, precisamos aprender a entregarmo-nos inteiramente e só à alegria do encontro, inteiramente esquecidos de nós, até mesmo de nossas necessidades prementes. Jesus está andando sobre as águas e Pedro pede para ir a seu encontro também andando sobre as águas. Pedro esquece a si próprio e está inteiramente embevecido em Jesus e anda como Jesus. Mas, eis que começa a pensar em sua segurança, sente medo, o milagre se desfaz e Pedro afunda. A boa oração e o diálogo são o mesmo. Quando nos entregamos assim, tudo pode acontecer, até o milagre.

Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/artigos/relacoeshumanas.php acesso em 27 Jan. 2009.

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