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terça-feira, 13 de janeiro de 2009

A Trindade, Francisco e a nova criação - 14

A Trindade, Francisco e a nova criação - 14

Texto de Frei Vitório Mazzuco, OFM, e Leonardo Boff
4. Um mistério de comunhão: a pericórese


Na comunidade dos Atos, os cristãos se amavam tanto que formavam um só coração e uma só alma (At 4,32). Se lá o amor constituía tão forte comunidade, como não deve ser com a Trindade! Santo Agostinho, comentando tal fato, escreveu: “O amor em Deus é tanto que impede a desigualdade e cria a igualdade inteira. Se na terra e nos homens pode haver tanto amor a ponto de muitas almas fazerem-se uma só, como não existiria também tal amor entre o Pai e o Filho e o Espírito Santo já que são sempre inseparáveis e, assim, serem um só Deus? Lá, nas muitas almas, fizeram-se uma só por uma inefável e suprema conjunção: aqui, igualmente e pela mesma razão, as pessoas divinas se fizeram não três deuses, mas um único Deus”. Ou como diz Alexandre de Hales, um dos Mestres medievais da Escola Franciscana: “À pergunta donde provém a pluralidade de pessoas em Deus, eu penso se deva responder que ela deriva da perfeição, do poder, da bondade e da capacidade. Querendo, todavia, precisar o assunto, conforme nosso modo de compreender, deve-se dizer que a raiz da pluralidade de pessoa em Deus encontra-se, acima de tudo, em sua bondade. De fato, o esplendor e a perfeição do bem se manifestam no ato de se comunicar. Mas cada comunicação sempre se dirige de um sujeito a outro sujeito. Disto segue que onde há comunhão há sempre dois ou mais sujeitos e, por conseqüência, multiplicação e número. A Suma Bondade é, pois, de certo modo, a causa principal de tal pluralidade de pessoas em Deus”.

O que constitui a união entre as divinas pessoas é a ininterrupta e infinita interpretação do Pai, do Filho e do Espírito Santo num jogo sem fim de amor e de recíproca entrega.

Nós preferimos essa última linha de pensamento, pois é mais adequada para expressar a singularidade da fé cristã em Deus, sempre comunhão de pessoas divinas, porque recolhe a experiência trinitária de S. Francisco que sempre partia da Trindade e porque responde às demandas de nossa cultura individualista e às exigências de justiça dos pobres que sonham com inclusão, participação e comunhão.

Essa comunhão que produz união é específica das pessoas e dos seres espirituais. Somente pessoas, diferentes uma das outras, podem estabelecer relações de intimidade e de amor e podem criar comunhão entre elas. Se estas pessoas são eternas e infinitas, sua comunhão é também infinita e eterna. Essa compreensão processual e pessoal impede que os três sejam considerados cada um por si Deus e com isso se caia no triteísmo (concepção substancialista e não relacional). Os divinos três são únicos e irredutíveis, mas desde sempre e para sempre inter-relacionados. São sempre concomitantes de sorte que, ao famoso ioque, deve-se acrescentar o Spirituque e o Patreque. Em outras palavras: o Pai se revela através do Filho no Espírito. O Filho revela o Pai na força do Espírito. O Espírito é o Sopro do Pai voltado para o Filho. Como se depreende as relações são sempre ternárias: onde está uma pessoa estão sempre as outras.

Ampliando:
A vida da Trindade e das primeiras comunidades são caracterizadas pela união entre as pessoas num jogo sem fim de amor e de recíproca entrega. Hoje, percebemos diferentes máscaras em nosso comunicar, revelar e se entregar. Por que isso ocorre?

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