Einstein disse o seguinte: “O pensamento que originou um problema não pode ser, ao mesmo tempo, parte da solução do mesmo.” Isto parece muito lógico, mas tem pouco a ver com o mundo real. Ou será que estamos prontos, somos capazes de perceber verdadeiramente as consequências dramáticas das alterações climáticas, por exemplo, aguentando as respectivas consequências? Isso significaria, segundo Einstein, trocar simplesmente o trabalho primordialmente orientado ao crescimento e ao consumo e o pensamento do bem-estar.
A situação é tão dramática, precisamente devido ao fato de ainda não haver uma alternativa realmente comprovada e segura para o sistema atual. Mesmo assim, não devemos deixar o sonho de que outro mundo é possível. Caso contrário, há o perigo de nos entregarmos simplesmente à catástrofe iminente. Isto seria fatal, pois há verdadeiramente sinais de esperança. Há cada vez mais pessoas que conscientes de que não podemos continuar agindo como o fazemos agora. Em todas as partes do mundo, há exemplos de alternativas possíveis. São novas formas de alianças sociais, novos métodos de produção, outro modo de consumir. Há verdadeiramente o sonho de um novo tipo de comunidade universal, cultivado por inúmeros grupos e movimentos, em quase todos os setores da sociedade. Daí resulta a esperança de que a tendência destruidora do sistema reinante pode, sim, ser superada. Alternativas concretas são visíveis no “Forum Social Mundial”, no movimento “Attac”, em muitas alianças ambientalistas. Em Abril de 2010, reuniu-se em Cochabamba/Bolívia a assim chamada “Cúpula dos povos, para as alterações climáticas”. É apoiada por aproximadamente 15.000 ativistas do clima provenientes de todo o mundo, que querem deliberar o futuro procedimento, depois da desilusão da Cúpula do clima de Copenhaga, de 2009. A cidade de Cochabamba não foi escolhida por acaso. É uma reverência aos povos andinos que, na sua tradição, têm uma veneração muito especial pela “Pachamama” (= “Mãe Terra”). A mensagem da reunião foi inequívoca. “Ou morre o capitalismo ou a terra morre”. Isto quer dizer, duma maneira menos acentuada: ou superamos o sistema económico completamente baseado em consumo e lucro, respeitando as premissas e os limites da natureza, ou destruímos o planeta terra. Trata-se dos direitos da “Mãe Terra”, que temos que voltar a respeitar.
Sendo pessoas que se baseiam na espiritualidade de Francisco de Assis, só podemos agradecer tal afirmação. O mundo todo é a criação de Deus; ser humano e universo formam uma união. Francisco de Assis exulta com este fato e, em nenhuma parte, este prazer de estar no mundo de Deus foi tão bem expresso como no seu Cântico do Irmão Sol. As plantas e os animais têm dignidade e valor próprios, não são, portanto, só meios de produção e de consumo. Deus no-los confiou para que nós os tratemos e cuidemos. Francisco chama-os irmãos e irmãs, quer dizer, entes que nos pertencem a nós. Esta unidade de Deus, ser humano e natureza como paradigma da espiritualidade franciscana da Criação, não deve ser só objeto das Belas Artes, mas é a mensagem política da qual não podemos fugir. Devemos estar presentes e somarmos com pessoas que, com tanta paixão e tanto amor defendem a preservação da Criação. Sem espiritualidade, a longa caminhada rumo a um mundo diferente não sera realizada.
Os autores de Cochabamba também estão conscientes disso. Sabem que têm um caminho longo e difícil pela frente. Os recursos limitados da Mãe Terra e da biosfera impedem que continuemos a agir como no sistema atual, portanto, precisamos de alternativas. Estas devem ser suficientes para abastecer seis mil milhões de pessoas, sem a destruição indiscriminada do planeta terra. Há que se conseguir isto de maneira sustentável. O grande desafio será, portanto, como organizar a transição em harmonia com o sistema ecológico global, respeitando todas as formas de vida e a diversidade da natureza. O ser humano não pode estar bem quando a “Mãe Terra” está mal.
Isto só será possível com muitos passos pequenos e com um grande fôlego. Para isto, precisamos tecer novas alianças, coligações de governos, instituições, igrejas, centros de pesquisa e movimentos de cidadania. Na “Carta da Terra” e na “Declaração sobre os direitos da Mãe Terra” aprovadas em Cochabamba, isto vem descrito de maneira muito insistente. A visão de um outro mundo está assumindo formas concretas. Acompanhar e chamar a atenção sobre o tema da preservação de bela Criação de Deus, continua sendo a tarefa primordial de um movimento franciscano mundialmente orientado.
Andreas Müller OFMExtraído de http://www.ccfmc.net/wPortugues/cbcmf/cbcmf-news/2010/2010_07_News.shtml acesso em 6 ago. 2010.
Foto: Albert Einstein / by Oren Jack Turner ; modified with Photoshop by PM_Poon and later by Dantadd. c1947, not renewed ; 2007. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Albert_Einstein_1947a.jpg acesso em 6 ago. 2010.
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