Arquivo do blog

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Como Francisco enviou os primeiros irmãos ao mundo

Certo dia, Francisco e os primeiros sete irmãos chegaram a Poggio Bustone, no vale de Rieti. Quando ele viu a imensa planície a seus pés, ele compreendeu: Nós somos enviados ao mundo todo! Por isso, chamou os irmãos, falou-lhes do Reino de Deus e da vocação que cada um recebeu e pela qual deve responder. Depois, ele dividiu os irmãos em quatro grupos de dois e disse: Vão, queridos, de dois em dois às diferentes regiões do mundo e proclamem a boa nova de paz! “Sejam pacientes na tristeza e cheios de confiança, de que o Senhor cumpre as suas promessas. Aos que lhes perguntarem, respondam com humildade; abençoem a quem os persegue; agradeçam a quem os trata com injustiça e os difamam! " (1 Cor 29.).

Este episódio nos ensina que, tanto na origem de sua vocação como na compreensão de missão, Francisco confia em sua intuição! A missão dos irmãos é proclamar a Boa Nova da paz, o que correspondia ao Reino de Deus. E ao mundo todo, em todas as direções. Ele pensou que seria necessária uma vocação especial. “O Senhor mesmo me revelou”. Ele procura a confirmação de sua convicção, mas não se amarra a costumes e normas eclesiásticas do seu tempo. Nós os irmãos e irmãs de hoje, temos dificuldade de confiar em nossas intuições: “O Senhor mesmo nos revelou”. Tudo é estabelecido. Para tudo existem regras claras – para a Pastoral, a Missão ad Gentes, o serviço social, a formação e a responsabilidade. A rede das normas e leis é tão apertada, que não sobra muito espaço para o Espírito Santo. E, na busca de caminhos seguros, preferimos “a instituição à intuição”! Como nos faria bem, maior coragem franciscana!

Por outro lado, não podemos olhar nossa missão com a simplicidade de Francisco. Vivemos num mundo bem mais complexo! É uma aldeia global, onde cada acontecimento pode ser visto e acompanhado em tempo real, em qualquer lugar! E isto muitas vezes nos amedronta e nos leva a nos fecharmos em nosso mundo particular. Mas seria muito importante que, em especial nos dias de hoje, partilhássemos nossas experiências com outros. Assim, chegaremos a uma ação global. De outra maneira, não é possível experimentar a mensagem libertadora do Reino de Deus. Não podemos permitir que nossos próprios problemas nos impeçam de ver e encarar os desafios globais.

O que é preciso, então, para nos encantarmos novamente por Francisco e Clara, por sua inocente abertura a Deus e por sua convicção: “o Senhor mesmo me revelou?” Isto poderá acontecer hoje e nos levar a respostas novas e decisões originais! Não se trata de imitar Francisco e Clara, e sim de reescrever a história. Se quisermos saber para que Deus nos envia hoje, estejamos, antes de tudo, atentos para reconhecer “os sinais dos tempos” e, como Francisco e Clara, demos resposta adequada a estes sinais!

Como Francisco descobriu a sua vocação no encontro com o leproso, acolhamos os marginalizados de hoje e releiamos o Evangelho na ótica dos pobres e excluídos. É isto o que significa reanimação da opção franciscana pelos pobres.

Como Francisco mudou sua visão do centro para a periferia da cidade de Assis, assim também nós devemos assumir a causa dos 2/3 excluídos do mundo e sermos seus portavozes na sociedade e na igreja. Isto será a redescoberta da nossa vocação profética.

Como Francisco que, no “Cântico das Criaturas” cantou a irmandade de todo ser criado e nos lembrou intensamente, que nós não somos os donos da criação mas criaturas, também nós devemos assumir a defesa da criação de Deus. Isto significa redescobrir a espiritualidade da criação. Sensível às necessidades do tempo (800 anos atrás), Francisco fundou um movimento que mudou a Igreja. 800 anos depois, sejamos também um movimento, que ajuda a Igreja a devolver ao mundo sofrido, a confiança num Deus que ama a humanidade.

Andreas Müller OFM

terça-feira, 4 de setembro de 2012

CRÔNICAS DE MINHA ALMA: A ÚNICA VERDADE, O REINO DE DEUS E SUA JUSTIÇA...


CRÔNICAS DE MINHA ALMA: A ÚNICA VERDADE, O REINO DE DEUS E SUA JUSTIÇA...

Nada do que conhecemos deixa de ser revelação, porque tudo o que conhecemos, quando muito, o fazemos só exteriormente e nunca essencialmente, isto é, só conhecemos a nós mesmos e as outras criaturas de fora para dentro e nunca de dentro para fora, porque a essência do ser só a Deus pertence conhecer e mais ninguém; a não ser àquele a quem Ele o queira revelar em parte, mas não plenamente (cf. 2Cor 12,2-4); é por isso, que tudo continua um grande mistério, especialmente o conhecimento da Essência de Deus.

Ora, só existe Deus e Sua criação, nada mais. E, dentro de Sua criação, o que Ele quiser revelar Dele mesmo ou de Sua criação. Tudo fora de Deus é conhecimento meramente externo, nada essencial, porque sem Deus nada podemos (cf. Jo 15,5). Para nós seres humanos o essencial é conhecer a Deus pelo amor, e amando-o, conhecer sua obra à medida que Ele no-la revele. A nós, porém, foi dado o conhecimento da verdade tal qual ela nos foi revelada por Deus mesmo, quer na visibilidade do que vemos materialmente (cf. Rom 1,20); quer na invisibilidade da fé (cf. Jo 1,12-13), isto é, espiritualmente, pela aceitação da Verdade divina revelada nas Sagradas Escrituras.

Desse modo, pelo conhecimento e aceitação das verdades da fé, que experimentamos em nós mesmos, pois são atos de amor a Deus acima de todas as coisas, acreditamos firmemente que Deus tudo criou por amor para o nosso bem e para o louvor de sua glória, isto porque detectamos a bondade e o amor do Senhor em toda a extensão de sua obra. Não obstante o pecado do homem que traz a indiferença e a ignorância, quanto à presença real de Deus neste mundo; o Senhor nunca deixou de se revelar, mesmo ante a invisibilidade de Sua Pessoa divina.

Conforme escreveu São Paulo na Carta aos Gálatas: “Chegada à plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, que nasceu de uma mulher e nasceu submetido a uma lei, a fim de remir os que estavam sob a lei, para que recebêssemos a sua adoção”. (Gl 4,4-5).  Já na Carta aos Hebreus, lemos: “Muitas vezes e de diversos modos outrora falou Deus aos nossos pais pelos profetas. Ultimamente nos falou por seu Filho, que constituiu herdeiro universal, pelo qual criou todas as coisas. Esplendor da glória (de Deus) e imagem do seu ser, sustenta o universo com o poder da sua palavra. Depois de ter realizado a purificação dos pecados, está sentado à direita da Majestade no mais alto dos céus, tão superior aos anjos quanto excede o deles o nome que herdou”. (Hb 1,1-4).

Assim, Deus se fez presente fisicamente neste mundo por meio do Seu Filho, Jesus Cristo (cf. Lc 1,26-35). E para conhecermos mais profundamente essa verdade, São João, escreveu: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio junto de Deus. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito. Nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. Houve um homem, enviado por Deus, que se chamava João. Este veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio dele. Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz. [O Verbo] era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem. Estava no mundo e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o reconheceu. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Mas a todos aqueles que o receberam, aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus”. (Jo 1,1-14).

Por isso, como lemos no Evangelho de São João (cf. Jo 3,1-15), é preciso nascer na ordem da graça pela fé para a vida eterna; trata-se do Sacramento do Batismo que recebem os filhos e filhas de Deus (cf. Mt 28,19-20). Pois, só a vida natural não nos basta, porque, na verdade, temos anseio de eternidade, uma vez que caminhamos para ela a cada instante de nosso viver aqui na terra. Daí, estarmos em movimento contínuo em direção ao Senhor de toda a criação, quer acreditem os homens nessa verdade ou não, esse movimento é irreversível.

Portanto, Jesus Cristo, o Filho de Deus veio a este mundo para revelar quem Deus é – Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, Autor e consumador de nossa fé que sustenta e governa todas as coisas por meio de sua Divina Providência (cf. Gn 1 – 2). Como Deus age – Por ser infinitamente amor, Deus só age por amor, mesmo se não for acreditado, mesmo se não for amado (cf. 1Jo 4,7-16). E como chegarmos à Plenitude de Deus – Somente por Ele, que é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,1-6) e o verdadeiro alimento de nossa salvação (cf. Jo 6,53-58).

Por fim, eis a última verdade: “Cristo ressuscitou dentre os mortos, como primícias dos que morreram!   Com efeito, se por um homem veio a morte, por um homem vem a ressurreição dos mortos. Assim como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos reviverão. Cada qual, porém, em sua ordem: como primícias, Cristo; em seguida, os que forem de Cristo, na ocasião de sua vinda. Depois, virá o fim, quando entregar o Reino a Deus, ao Pai, depois de haver destruído todo principado, toda potestade e toda dominação. Porque é necessário que ele reine, até que ponha todos os inimigos debaixo de seus pés. O último inimigo a derrotar será a morte, porque Deus sujeitou tudo debaixo dos seus pés. Mas, quando ele disser que tudo lhe está sujeito, claro é que se excetua aquele que lhe sujeitou todas as coisas. E, quando tudo lhe estiver sujeito, então também o próprio Filho renderá homenagem àquele que lhe sujeitou todas as coisas, a fim de que Deus seja tudo em todos”. (1Cor 15,20b-28).

“Então o que está assentado no trono disse: Eis que eu renovo todas as coisas. Disse ainda: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras. Novamente me disse: Está pronto! Eu sou o Alfa e o Ômega, o Começo e o Fim. A quem tem sede eu darei gratuitamente de beber da fonte da água viva. O vencedor herdará tudo isso; e eu serei seu Deus, e ele será meu filho. Os tíbios, os infiéis, os depravados, os homicidas, os impuros, os maléficos, os idólatras e todos os mentirosos terão como quinhão o tanque ardente de fogo e enxofre, a segunda morte”. (Ap 21,5-8).

“Vi, então, um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra desapareceram e o mar já não existia. Eu vi descer do céu, de junto de Deus, a Cidade Santa, a nova Jerusalém, como uma esposa ornada para o esposo. Ao mesmo tempo, ouvi do trono uma grande voz que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens. Habitará com eles e serão o seu povo, e Deus mesmo estará com eles. Enxugará toda lágrima de seus olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque passou a primeira condição”. (Ap 21,1-4).

“Aquele que atesta estas coisas diz: Sim! Eu venho depressa! Amém. Vem, Senhor Jesus! A graça do Senhor Jesus esteja com todos”. (Ap 22,20-21).

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.

  Creative Commons License
FREI FERNANDO, VIDA, FÉ E POESIA by Frei Fernando,OFMConv. is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Compartilhamento pela mesma Licença 2.5 Brasil License.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Congresso Calriano, Canindé 2012 ; fotos


Paz e bem!

Participei do
Congresso Clariano (Canindé (Brasil), 9 a 11 ago. 2012).
As fotos que tirei estão disponíveis em:
http://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Congresso_Clariano_%28Canind%C3%A9_%28Brasil%29,_9_a_11_ago._2012%29

Peço duas coisas:
  1. Que se tiverem fotos também disponibilizem lá.
  2. Que me ajudem a identificar as congregações franciscanas das irmãs que estão de hábito ou similar.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

CRÔNICAS DE MINHA ALMA: QUANTO TEMPO DEDICAMOS A DEUS?



CRÔNICAS DE MINHA ALMA

QUANTO TEMPO DEDICAMOS A DEUS?


Será que Deus precisa do nosso tempo? Terá o Senhor alguma necessidade dele? Na verdade, nós é que precisamos dar tempo a Deus para Ele fazer um santo uso de nosso tempo, caso contrário, perderemos todo o tempo que de Deus recebemos, deixando de nos relacionar intimamente com o Senhor, dedicando-lhe a vida e tudo o que pode acontecer nela; para nos ocuparmos com coisas fúteis e banalidades que só nos fazem tragar o ranço do pecado nosso e dos outros.

Existe um tempo mais mal empregado do que o tempo perdido com o pecado? Vejamos alguns desses pecados que toma tanto nosso tempo e nossa vida, e só deixam em nossas almas um rastro de insatisfação e de vazio existencial: “Nota bem o seguinte: nos últimos dias haverá um período difícil. Os homens se tornarão egoístas, avarentos, fanfarrões, soberbos, rebeldes aos pais, ingratos, malvados, desalmados, desleais, caluniadores, devassos, cruéis, inimigos dos bons,      traidores, insolentes, cegos de orgulho, amigos dos prazeres e não de Deus, ostentarão a aparência de piedade, mas desdenharão a realidade. Dessa gente, afasta-te!” (2Tim 3,1-5). Isto porque, quem perde tempo com o pecado, deixa o bem viver e a santidade de lado, para cultivar conflitos intermináveis que só trazem desolação, perca de tempo e da paz interior que Deus nos dá com o estado de graça.

Falando ainda do tempo que empregamos, quanto tempo dedicamos, por exemplo, à televisão ou outros meios de entretenimento, alimentando nossas almas com todo tipo de lixo televisivo/midiático, seja com filmes, novelas e outras baboseiras tipo CQC, Pânico na Tv, BBBs e outros Reality Shows; os mais diversos programas de auditórios e outras coisas do gênero? Vejamos o que diz São Paulo sobre isto: “Eu te conjuro em presença de Deus e de Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, por sua aparição e por seu Reino: prega a palavra, insiste oportuna e importunamente, repreende, ameaça, exorta com toda paciência e empenho de instruir. Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a sã doutrina da salvação. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, ajustarão mestres para si. Apartarão os ouvidos da verdade e se atirarão às fábulas.” (2Tim 4,3-4).

Agora, vejamos, quanto do nosso tempo dedicamos ao Senhor? Para respondermos a essa pergunta observemos: Quanto tempo dedicamos à oração, à escuta de Sua Palavra, à participação nas Santas Missas; aos exercícios de penitência e piedade; aos serviços pastorais e práticas das virtudes; enfim, à tudo o que diz respeito a nossa fé, ou seja, à formação pessoal e também dos nossos. Pois o homem e a mulher de Deus, tudo fazem para agradar a Deus, assim, torna todo o seu viver um ato permanente de amor e comunhão com o Senhor. Por exemplo: Se estiver no trabalho, lá está dedicando-se a Deus; se estiver no lazer, também seu lazer é encontro de vida e comunhão com o Senhor e os seus, porque nossa vida e o que dela fazemos, precisam da graça santificante do Senhor, para termos a certeza de que sua vontade está se realizando no meio de nós.

Porquanto, quem dá tempo, à quem está dando o tempo, está dando também seu esforço, sua vida e tudo o que é. Então, vamos dar a Deus o que é de Deus, nossa vida, nosso tempo e a nossa dedicação, desse modo, estaremos em plena sintonia com o Senhor, fazendo em tudo a sua vontade e obtendo como resultado a felicidade e a paz.

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.


Creative Commons License
FREI FERNANDO, VIDA, FÉ E POESIA by Frei Fernando,OFMConv. is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Compartilhamento pela mesma Licença 2.5 Brasil License.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

CRÔNICAS DE MINHA ALMA: SÓ POR TUA GRAÇA, SENHOR...



CRÔNICAS DE MINHA ALMA

SÓ POR TUA GRAÇA, SENHOR...

É assim que ora vivo, sintonizado, inebriado, consagrado, perdido no mar sem fundo do teu Amor e da Verdade que És e com a qual me criastes para te testemunhar, meu Senhor e meu Deus. Recebe, pois o que sou e transforma-me no que queres que eu seja. Assim poderei viver mais intensamente a vocação à qual nos chamastes, a santidade de pensamentos e ações, e de toda vida. Por isso, guarda-me, Senhor, no mais íntimo do teu coração, conduz-me com tua santa mão que me acalenta e me faz sentir-me seguro em meio as provações deste mundo, que são tantas.

De fato, há em mim uma necessidade de “orar sem cessar”, de ter um convívio permanente com Deus, uma espécie de desejo ardente do céu. Por isso, não sei mais viver neste mundo sem a oração, sem a comunhão do coração com o Senhor; o Pai Nosso, como nos ensinou Jesus; o Eterno, Todo Poderoso e Misericordioso Deus. Sem Deus não há felicidade neste mundo; aliás, nenhuma criatura pode dizer que é feliz por si mesma, porque enquanto houver dependência de nossa parte, a felicidade é só um sonho a ser alcançado. E aqui todos nós sabemos que dependemos sempre, todavia, quando buscamos nossa liberdade em Deus, a encontramos prontamente, porque não há prazer, satisfação, integridade, felicidade, que Deus não nos possa dar ao infinito.

Ora, quem vive a vida em Deus assim, compreende perfeitamente o que Jesus ensinou: “Portanto, eis que vos digo: não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis. A vida não é mais do que o alimento e o corpo não é mais que as vestes? Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros e vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós muito mais que elas? Qual de vós, por mais que se esforce, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida? Portanto, Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo. Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado”. (Mt 6,25-27.33-34).

Assim, vejo que a maior de todas as necessidades humanas é Deus. Nele, com Ele e para Ele deve ser tudo o que vivemos e empreendemos, caso contrário, estaremos sempre inseguros, imaturos, confusos e com medo das perdas que naturalmente se nos apresentam as circunstâncias desta vida. Porque só a vontade de Deus é a que permanece e que faz permanecer com ela, aqui e por toda a eternidade, aqueles que a cumprem fielmente.

Então, Senhor, com a Virgem Santíssima, tua e nossa mãe, dizemos: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra”. (Lc 1,38).

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.


Creative Commons License
FREI FERNANDO, VIDA, FÉ E POESIA by Frei Fernando,OFMConv. is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Compartilhamento pela mesma Licença 2.5 Brasil License.

domingo, 26 de agosto de 2012

Franciscano e franciscanos

Frei Dorvalino Fassini, OFM


O movimento sugerido pelo Papa João XXIII e confirmado pelo Vaticano II está nos revelando, cada vez mais, que nós franciscanos constituímos uma única e mesma Ordem, seguimos uma única e mesma Regra e vivemos uma única e mesma Vida: a Ordem, a Regra e a Vida da ardente Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo, vivida e testemunhada pelos Apóstolos, re-aparecida ou ressuscitada em Francisco, re-vivida e testemunhada por ele e por inúmeros de seus companheiros, séculos afora[1].
O vigor desse mistério ou Paixão é de tal efervescência, disposição e fecundidade que explodiu e se multiplicou desde cedo em milhares e milhares de pessoas que olhavam, procuravam e seguiam Francisco não apenas de forma individual ou particular, mas também comunitariamente em pequenas e, às vezes, em grandes grupos ou comunidades. Essa multiplicação pode ser comparada à Igreja nascente do primeiro século cristão. Em poucos anos o mistério do mesmo Cristo crucificado, vivo e ressuscitado, multiplicava-se e difundia-se por quase todas as partes do mundo. Os fiéis, nascidos e vivificados pela seiva da única e mesma Boa Nova, eram todos “cristãos”, mas nem todos de igual forma. Uns eram de Éfeso e formavam a Igreja de Éfeso, outros de Roma e formavam a Igreja de Roma, de Jerusalém, Corinto, Tessalônica, etc.; uns procediam do paganismo e outros do judaísmo. Todos, pois, são cristãos, mas nem todos do mesmo jeito. Assim, também, acontece com nossa Ordem. Todos somos franciscanos, mas nem todos do mesmo jeito. Por isso, todos os capuchinhos são franciscanos, mas nem todos os franciscanos são capuchinhos, vice e versa, etc. 
Assim também aconteceu com o Carisma originário de Francisco que, aos poucos, passou a chamar-se “franciscano”. “Franciscano” é, pois, a raiz, o comum de todos quantos se sentem atingidos pelo mesmo mistério da Paixão de Cristo que atingiu Francisco. Mas, o atingimento e a resposta não são iguais em ou para todos. Cada um procura recebê-la e concretizá-la a seu modo. É o fenômeno da multiplicação que outros, indevidamente, chamam de divisão. Por isso, desde logo nasceram as três Ordens, cada qual com uma denominação diferenciada e própria: Ordem dos Frades Menores, Ordem das Irmãs Pobres e Ordem Terceira. E, dentro de cada uma dessas três Ordens, com o decorrer dos anos e séculos, o processo continua florescendo e se multiplicando, com o consequente surgimento de muitas outras ramificações. Na ou da OFM surgiram os menores, os conventuais e os capuchinhos. Na ou da Ordem de santa Clara, surgiram as Coletinas, as Capuchinhas, as Concepcionistas, as Urbanistas, e outras. Na ou da Ordem Terceira, finalmente, nasceram e continuam nascendo dezenas e mais dezenas de Congregações e Institutos religiosos, conglomerados na então denominada Terceira Ordem Regular de são Francisco (TOR).
Todos e todas, porém, denominam-se “franciscanos/as”. Por isso, assim como o cristão de Roma não pode ser igual ao cristão de Éfeso, ou o gaúcho ao catarinense, o mesmo acontece conosco. Nenhum conventual ou capuchinho, nenhum franciscano secular ou regular gostaria de chamar-se de “menor”, e vice-versa, nenhum “menor”, gostaria de ser chamado de conventual ou capuchinho, etc. 
Por isso, não há nenhuma razão que justifique o neologismo “francisclariano”, inventado para designar todos os franciscanos. As únicas que podem usar com justiça e propriedade esse nome seriam as clarissas. Quando um outro franciscano recorre a este termo para se auto-definir está renunciando e negando o vigor próprio de sua origem e de sua espiritualidade, o brilho de sua identidade, conduzindo-se, necessariamente, a um lento, mas irremediável processo de vagueza, enfraquecimento e diluição do específico de seu espírito, carisma, vocação e missão[2].
O importante em tudo isso é não sucumbir à tentação de reduzir o mistério, a obra, a “coisa” de Deus à subjetividade das pessoas, sejam indivíduos ou grupos. Em outras palavras, cuidar para que o Carisma franciscano não vire “coisa” de um Francisco, de uma Clara, de um Egídio e, no fim, de cada um de nós, seus seguidores. Neste caso, estaríamos prendendo e reduzindo à mera fragilidade dos limites da subjetividade das pessoas, dos fatos, das ocorrências passageiras e do biológico o que não se pode subjetivar ou prender: a floração do mistério, do amor, da Paixão de Deus que não se limita a nenhuma pessoa, a nenhum tempo, lugar ou gênero, mas a tudo e a todos, fazendo surgir um novo Céu e uma nova Terra. Pode-se parafrasear, aqui, o pensamento de Oscar Wilde acerca da arte[3]: O Franciscanismo, ou o Carisma franciscano, não pode jamais ser submetido ao sujeito Francisco e a nenhum outro sujeito. Pois, neste caso, não seria mais carisma, graça do Senhor. Seria apenas biografia, mera narrativa de fatos e ocorrências, através da qual a realidade, isto é o real, que costumamos chamar de “franciscano”, foge e escapa.



 Notas:

[1] Portanto, em vez de se falar em “Família Franciscana do Brasil” dever-se-ia falar em “Ordem Franciscana do Brasil”.

[2] Tudo o que se diz aqui, das pessoas, isto é, dos franciscanos, vale também das assim chamadas Fontes Franciscanas. Não existem Fontes “francisclarianas”. O que existe são Fontes Franciscanas que se desdobram em Fontes ou Escritos de São Francisco, de Santa Clara, de Frei Egídio, de São Boaventura, de Santo Antônio, etc. Assim, ao se dizer “Fontes Franciscanas” está-se pensando e incluindo todas. Por isso, se disser uma, não estarei, necessariamente, incluindo as demais. Se disser “Fontes fancisclarianas” estarei falando apenas dos Escritos de São Francisco e de Santa Clara. Não estarão, necessariamente, incluídos, por exemplo, os Escritos de Frei Egídio, de Junípero, Tomás de Celano, São Boaventura, etc. Mas, ao contrário, se disser Fontes Franciscanas incluo todos os escritos que de uma ou outra forma estão sob a inspiração originária desse Carisma que moveu Francisco, Clara e seus primeiros companheiros.
[3] Oscar Wilde expressa assim seu pensamento: A arte não pode ser submetida ao seu sujeito. Nesse caso não é mais arte e sim biografia e a biografia é a rede pela qual a realidade escapa (Oscar Wilde).

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

É AQUI QUE DEFINIMOS O DEVIR...



É AQUI QUE DEFINIMOS O DEVIR...

Essa dor dói demais, a dor da queda humana...
A dor de ver Deus não amado por suas criaturas...
A dor de ver o mal agir como se pudesse fazer isso...
A dor da impotência diante de tantas almas perdidas...
A dor doída, a dor da vida que se esvai sem sentido algum...

Ó homens todos, por que tão tolos em sua grande maioria?
Será que não discernem bondade de maldade?
Será que não percebem pelos efeitos os dejetos dos vícios?
Será que não experimentam o resultado maléfico de seus desvarios?
Será que são tão cegos assim? E como fica o devir?

Por que será que trocam o valor eterno da honestidade pela podridão da corrupção?
Não é porque deixam de fazer o que é verdadeiro e decidem pelo erro, pela mentira, mesmo sabendo que estão atentando contra a verdade?
Por que será que juram inocência mesmo diante das evidências que lhes desmascaram?
Não é porque têm aqueles que advogam com falácias seus abusos indefensáveis e a justiça não os pune, só porque são advogados?
Por que será? Quem está por trás de tamanhas injustiças?

Por que se dão às drogas entorpecentes e outros vícios abomináveis e não à paz das virtudes que Deus pôs em todos os corações?
Por que optam pelo ódio e não pelo amor?
Por que deixam a fé pela incredulidade?
Por que semeiam a discórdia, a divisão e não a compreensão e a solidariedade?

Por que deixam de se entregar a Deus pelas virtudes da obediência, da piedade, da penitência...; para se entregarem ao mal por toda espécie de comportamentos estúpidos, esdrúxulos, pervertidos?
Por que visam só os bens materiais; mesmo diante da fragilidade temporal que os fará sucumbir?
Por que não visam os bens eternos, um vez que nossas almas são imortais?
Oh! Quanta dor, Senhor, por se apartarem de Ti por nada...
Porque, o que há de bom fora de Deus? Nada...
Neste mundo, tudo sem Deus é insatisfação...
Eis a razão de tanta miséria, de tanta histeria, maldade, infelicidade, morte...

Ora, Deus é eterno e tudo cria para a eternidade...
Tudo o que existe, existe em função da eternidade...
Caso não vivamos essa verdade, tudo perde o sentido, até mesmo a morte...
Pois, por ela, vamos ao encontro definitivo do Senhor, no dia eterno, por isso, nada fica parado...
Porque tudo tem um fim atemporal mesmo que esteja ainda no tempo...
Porque é o tempo, com suas leis e movimentos recebidos de Deus, que nos leva para Deus...
Portanto, chegou o tempo de passar a limpo essa nossa humanidade...

A verdade, todos já conhecem, pois independentemente de Religião, raça, cor, seja lá o que for, Deus no-la revelou, quer naturalmente por suas obras, quer pela vinda de Seu Filho, Jesus Cristo...
“Pois, quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, que nasceu de uma mulher e nasceu submetido a uma lei, a fim de remir os que estavam sob a lei, para que recebêssemos a sua adoção”. (Gl 4,4-5).

“Nesse Filho, pelo seu sangue, temos a Redenção, a remissão dos pecados, segundo as riquezas da sua graça que derramou profusamente sobre nós, em torrentes de sabedoria e de prudência.
Ele nos manifestou o misterioso desígnio de sua vontade, que em sua benevolência formara desde sempre, para realizá-lo na plenitude dos tempos - desígnio de reunir em Cristo todas as coisas, as que estão nos céus e as que estão na terra”. (Ef 1,7-10).

Assim, ante a morte e ressurreição de Jesus Cristo, o Filho de Deus,
nenhuma criatura, humana ou angélica, poderá justificar-se ou ponderar de que não conheceu a Verdade tal qual ela É...
“Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado; por que não crê no nome do Filho único de Deus”.

“Ora, este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz, pois as suas obras eram más.
Porquanto todo aquele que faz o mal odeia a luz e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.
Mas aquele que pratica a verdade, vem para a luz.
Torna-se assim claro que as suas obras são feitas em Deus”.
(Jo 3,16-21).

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.


Creative Commons License
FREI FERNANDO, VIDA, FÉ E POESIA by Frei Fernando,OFMConv. is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Compartilhamento pela mesma Licença 2.5 Brasil License.

Firefox