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segunda-feira, 24 de março de 2008

A Páscoa nos faz pensar

Desde criança, quando reflito as questões da minha fé, venho me perguntando por que mesmo mataram Jesus? Porque o mataram se Ele é o Cristo, filho de Deus, o Messias que veio nos trazer a salvação? Mas andando nas procissões com o povo que vive, reza e canta sua fé, guardei em perpétua memória o refrão de um hino da semana santa, que diz assim: "Eles queriam um grande rei que fosse forte dominador e por isso não creram Nele e mataram o Salvador". A maioria do povo de Israel, no tempo de Jesus, talvez induzida por suas autoridades, queria mesmo um grande rei com pleno poder para derrubar do trono seus inimigos e governar soberanamente.

Dominados pelo poder dos romanos, os judeus da época, sonhavam com um rei dominador que também pudesse dominar o resto do mundo. Não pensaram que, aderindo ao projeto de Jesus de Nazaré, eles poderiam se libertar do jugo imperialista romano e construir um caminho de justiça e liberdade para todos os povos e nações. Não acolheram o Salvador da humanidade porque simplesmente queriam um rei que os governasse. Judas Iscariotes, o traidor que se sentiu traído, estava crente que Jesus de Nazaré iria fazer aquilo que ele, Judas, tanto queria, que era tomar o poder dos romanos. Judas seguiu a Jesus pensando que Ele iria fazer a sua vontade, realizar o seu projeto, mas foi bem diferente. E quando Judas não via mais em Jesus uma alternativa para seu plano, ele tratou de entregá-lo às autoridades para que o condenasse a morte. Aprisionado em seu projeto pessoal e incapaz de perceber a dinâmica do Reino de Deus, Judas Iscariotes e muitos outros do seu povo perderam a oportunidade de servir a Deus.

Mesmo no horizonte da ressurreição, a morte é sempre uma dor. E por isso, não creio que Deus Pai quisesse a morte de seu Filho, Jesus de Nazaré, mesmo certo de que Ele iria ressuscitar. Mas, o que causou a morte de Cristo foi a incapacidade do mundo de então compreender e acolher a graça de Deus. E o Cristo filho de Deus morreu na cruz porque foi além dos interesses humanos. Ele se manteve fiel ao projeto de libertação dos pobres e de todos os povos, de toda a humanidade. Jesus contrariou interesses de poder, e nisso Ele foi até as últimas conseqüências, ao ponto de ser condenado a morte de cruz. Analisando os fatos relatados nos Evangelhos, percebemos que Jesus desafiou todos os lados de interesse, mostrando que a lógica do Reino de Deus é diferente de muitas lógicas do mundo. Deus quer a paz, a justiça, o perdão, o amor e a fraternidade. De tudo o que Jesus propõe, nos parece que a novidade rejeitada por uma parte do seu povo naquela época e por muita gente de hoje, é o amor aos inimigos.

Jesus contrariou as autoridades numa dimensão religiosa, mas isso também tinha um desdobramento político, ético e social. Ele não queria uma religião de aparências e de exclusão, mas de simplicidade e compromisso com a vida, com a justiça e a verdade e que levasse a uma convivência de paz, de acolhimento e respeito às diferenças. Cristo anunciou o Reino de Deus. Talvez se tivesse anunciado um reino qualquer, inventado por ele mesmo, que fosse diferente do plano de Deus, poderia ter sido aceito pela maioria dos seus conterrâneos. Jesus poderia se tornar o imperador de Israel, mas os pobres de seu povo e de todo o mundo continuariam sem esperança, a humanidade continuaria sem conhecer a salvação, sem ver o testemunho da bondade e do pleno e sublime amor de Deus. Jesus rejeitou o poder e contrariou interesses de poder para manifestar um outro poder, o que serve e liberta o ser humano.

Frei Pilato Pereira

domingo, 23 de março de 2008

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