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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Uma leitura alternativa de São Francisco de Assis

Frei Celso Márcio Teixeira, OFM*
Petrópolis - RJ

Uma leitura que se tornou comum desde o início do século XX é a chamada sabateriana. O adjetivo “sabateriana”, termo familiar aos estudiosos de franciscanismo, provém do sobrenome de Paul Sabatier. Este pesquisador, a partir do final do século XIX, se destacou como um dos grandes estudiosos de Francisco de Assis, contribuindo decisivamente para os estudos em torno deste santo, a ponto de podermos dizer com propriedade que suas conquistas constituem um marco divisório nas pesquisas sobre o tema. Foi com Sabatier que as investigações de caráter histórico sobre Francisco de Assis ganharam notável impulso. Além de editar criticamente textos antigos sobre São Francisco, escreveu Vie de Saint François d’Assise, sua obra mais famosa e não menos polêmica. Fundou coleções de publicações sobre o santo de Assis, dentre as quais as conceituadas Collection d’Études e des documents sur l’histoire religieuse et littéraire du moyen Âge e Opuscules de critique historique. Fundou também a Sociedade Internacional de Estudos Franciscanos, com sede em Assis, aberta aos estudiosos de franciscanismo de todo o mundo, com congressos anuais. Seus méritos são incontestáveis, tendo sido ele um dos primeiros a fazer a leitura do Francisco-homem, de preferência à leitura do Francisco-santo.
 
Mas o que caracteriza a leitura sabateriana não é a abordagem de Francisco-homem, mas seus pressupostos. Nossa tentativa será a de fazer uma leitura alternativa à de Sabatier.

1. Leitura sabateriana

O notável pesquisador fez uma leitura muito própria de Francisco de Assis. Pelo fato de ter sido ele o inaugurador dessa leitura ou, pelo menos, o que a aplicou a Francisco, é que preferimos denominá-la de leitura sabateriana. Ela, porém, não terminou com a morte do grande estudioso, mas foi retomada por estudiosos imediatamente posteriores a ele e ainda é praticada por estudiosos e escritores de hoje, caracterizando uma maneira muito comum de abordagem da figura do santo de Assis.
 
Daí as perguntas: Basicamente, em que consistiria esta leitura? Quais os seus pressupostos fundamentais? Que implicações poderia ela trazer? Comportaria uma modificação da imagem de Francisco? Que imagem de Francisco ela nos apresenta?
 
Sem dúvida, uma leitura ou interpretação comporta uma imagem que é transmitida. Inevitável e inconscientemente, quando fazemos uma leitura de um personagem como Francisco de Assis, acabamos por projetar nele nossas próprias atitudes, anseios, lutas, problemáticas. Colocamo-nos de tal modo na “pele” dele que o fazemos pensar como nós pensamos, desejar o que nós desejamos, julgar como e o que nós julgamos. Isto, porque nunca conseguiremos desvencilhar-nos de nosso subjetivismo. Jamais alcançaremos a pura objetividade. Importante, no entanto, é ter sempre presente que nossa leitura não coincide absolutamente com a realidade lida, mas representa apenas uma busca da objetividade, um esforço de aproximação da realidade a ser lida ou interpretada. Portanto, qualquer leitura deve ser relativizada, inclusive a que nós nos propomos neste pequeno estudo.
 
No entanto, embora a objetividade absoluta seja inalcançável (não é o que se pretende aqui), existem abordagens que mais se aproximam e outras que mais se distanciam da realidade lida. O que nos pode garantir uma maior aproximação da objetividade é o uso criterioso e crítico das fontes e o recurso à história, embora saibamos que estas, por sua vez, foram escritas sempre a partir de subjetividades, dentro de contextos sócio-culturais determinados e determinantes.

a) O pressuposto de Paul Sabatier

O pressuposto de Sabatier é que Francisco e a Igreja são polos diametralmente opostos e em permanente tensão. De um lado, Francisco vive de uma maneira que se contrapõe à maneira da Igreja; e, de outro lado, a Igreja procura sufocar a novidade franciscana e, não o conseguindo, faz todo o possível para dominá-la através de uma aprovação jurídica, tendo como finalidade controlá-la e manipulá-la para alcançar seus próprios interesses e colocar a nova Ordem a serviço de sua política. Nessa leitura, não é Francisco que tem a iniciativa de dirigir-se à Igreja para buscar nela proteção e orientação, mas é a Igreja que pretende absorver e neutralizar os questionamentos, contestações e impactos que esse homem pobre estava apresentando por seu modoevangélico de vida. Na busca de seus objetivos, a Igreja, na pessoa do cardeal protetor e utilizando alguns frades letrados, exerce sobre Francisco constante pressão para que o movimento franciscano se curve às pretensões dela.
 
A leitura de antonímia, isto é, por meio de opostos, oferece o risco de santificação de um polo e de demonização do outro. Fundamentalmente, trata-se de uma leitura maniqueísta. Estabelece-se como método básico de leitura a oposição bem-mal, luzes-trevas, graça-pecado, trigo-joio, como se a realidade humana se dividisse nitidamente em dois campos antagônicos e irreconciliáveis e como se esses campos nunca se mesclassem e se interpenetrassem. Esquece-se que a experiência nos mostra que a realidade humana comporta contradições, que o ser humano é um ser de contradições, pois é, ao mesmo tempo, trigo e joio, luz e trevas, santo e pecador.

b) A utilização das fontes

A partir desse pressuposto fundamental, Sabatier vê nas primeiras fontes hagiográficas surgidas no âmbito da Ordem franciscana o dedo da Igreja. Por ter sido a primeira hagiografia escrita a pedido do papa, ele de antemão a rejeita sistematicamente, bem como outras que dela dependem, sem sequer entrar no mérito delas. Pelo fato de essas hagiografias tecerem elogios ao papa e ao cardeal Hugolino e mostrarem uma imagem positiva de certos personagens da Ordem, como Frei Elias, ele conclui que elas não são fidedignas. Dá, então, preferência a fontes tardias do final do século XIII e início do século XIV que espelham não tanto o contexto de Francisco, mas o de grupos extremistas que começaram a surgir dentro da própria Ordem franciscana a partir da metade do século XIII.
 
É verdade que ele insiste em que a prioridade cabe aos escritos de São Francisco. Mas a leitura dos escritos de Francisco é feita por ele dentro e a partir do mesmo pressuposto. Apenas para citar um exemplo: Sabatier vê no Testamento de Francisco um inconsciente insurgir contra a Regra definitiva. Segundo seu modo de ler, a Igreja, ao confirmar a regra franciscana por meio de uma bula papal, “teria aprisionado” a iniciativa evangélica da Ordem franciscana. O Testamento de Francisco, protestando contra a confirmação-estratificação da regra, retomaria os ideais de Francisco anulados pela bula papal. Esta leitura contradiz o próprio texto do Testamento, em que o santo explicitamente afirma que este não se opõe nem se coloca acima da regra, mas é apenas uma exortação para que a regra seja mais catolicamente observada.

c) A imagem de Francisco

Uma primeira imagem que se infere da leitura sabateriana – e aqui não se compreende apenas a leitura feita por Sabatier unicamente, mas por muitos que percorrem a sua trilha – é a de um Francisco ingênuo que, em sua simplicidade e humildade, se deixa manipular pelas autoridades eclesiásticas e se lhes submete como um cordeiro indefeso diante de um lobo voraz; a de um Francisco sem fibra diante de frades que se impõem e fazem da Ordem o que bem entendem; a de um Francisco incapaz de conduzir os destinos da Ordem, o qual deve ceder às pressões dos frades, especialmente dos letrados, e modificar a regra de acordo não com sua vontade, mas para atender aos interesses deles.
 
Outra imagem resultante desta leitura é a de um Francisco reformador da Igreja e da sociedade, segundo o modelo de Lutero ou de Calvino, o qual, porém, não conseguiu seu intento, pois a Igreja teria sido bastante hábil, absorvendo-o dentro da “oficialidade” para anular-lhe o impulso renovador e quaisquer pretensões de reforma. Uma justificativa talvez para o fato de Francisco não ter passado à história como um crítico reformador da Igreja e da sociedade, ou como um irreverente contestador, ou talvez até mesmo como um renitente herege.
 
Ainda outra imagem é a de um Francisco vítima não apenas das manipulações de poder por parte da Igreja, mas também das incompreensões e rebeldia dos frades, como se estes se conspirassem contra ele, no intuito de colocar a Ordem em caminhos contrários às opções das origens. E a redação da regra bulada seria o resultado das manobras dos frades, contra a vontade de Francisco.

2. Considerações críticas

Antes de apresentarmos uma leitura alternativa, faz-se necessário tecer, ainda que brevemente, algum comentário ou consideração às posições de Sabatier com relação aos três itens abordados: pressuposto, utilização das fontes e imagem de Francisco.

a) Quanto ao pressuposto – Pressupostos podem ser evidentes, porque devidamente provados, menos evidentes e não evidentes. Nos dois últimos casos, eles têm que ser fundamentados, as afirmativas justificadas, e as conclusões comprovadas. Deve-se levar em conta aquele princípio básico da lógica que diz: quod gratis affirmatur gratis negatur. Este princípio adverte que tudo aquilo que é afirmado gratuitamente, sem comprovação, é passível de negação gratuita. Portanto, sem uma comprovação suficiente dos pressupostos, corre-se o risco de uma leitura puramente hipotética, perpassada de suspeições, na qual prevalece não tanto a realidade lida, quanto o subjetivismo de quem a lê e interpreta. E a hipótese, em qualquer campo da ciência, é “verdade” a ser comprovada.

b) No que concerne à utilização das fontes – A rejeição apriorística das primeiras hagiografias, igualmente sem uma comprovação que a justifique, negando-lhes sem mais a fidedignidade, não deixa de caracterizar-se como posição de puro subjetivismo. E, curiosamente, as fontes tardias que a leitura sabateriana utiliza também não lhe dão respaldo em seu pressuposto fundamental.
 
É claro que as primeiras hagiografias, como quaisquer outras, espelham a ótica de seus escritores com todos os seus condicionamentos sócio-culturais. A rejeição de um grupo de fontes por causa de subjetivismos levaria coerentemente à rejeição de toda e qualquer fonte.
 
Além do mais, não se pode esquecer que os primeiros hagiógrafos estavam sob o controle da comunidade, isto é, eles não podiam inventar ou falsificar os dados, pois aqueles que viveram com Francisco ainda estavam vivos. Interessante é que Frei Leão, companheiro de Francisco e apontado por Sabatier como o legítimo hagiógrafo dele em oposição aos primeiros, em uma carta escrita em Gréccio em 1246, atesta, juntamente com Ângelo e Rufino, a fidedignidade das primeiras hagiografias. Literalmente se diz na carta: “há algum tempo foram redigidas legendas de sua vida... em linguagem tão verídica quão elegante”.

c) Com relação à imagem de Francisco – Uma primeira consideração a ser feita é a de que Francisco era filho de Pedro Bernardone e herdara do pai a tenacidade. Se ele enfrentou o pai de igual para igual, é porque tinha a mesma têmpera, sem temer as consequências (ser deserdado pelo pai, sem sequer levar consigo a roupa do corpo). Na leitura sabateriana, não sobressai aquele Francisco vigoroso que, em 1209, ainda desconhecido, se dirigiu a Roma para pedir aprovação de sua “forma de vida” e, questionado sobre a dificuldade de seu propósito, o defendeu sem concessões, recusando com consciência e firmeza a proposta do cardeal encarregado de encaminhar ao papa os pedidos de aprovação de regras religiosas. E manteve, na mesma ocasião, esta firmeza diante do papa Inocêncio III, firmeza mostrada também ao bispo de Assis que lhe propusera adquirir propriedades como as Ordens monacais. A imagem de um Francisco manipulável não condiz com o que algumas fontes tardias narram sobre ele em episódio, a ser datado dez anos depois ou pouco mais, em que, diante de um pedido de alguns frades letrados com relação à regra, apresentado pelo cardeal Hugolino, o santo mostrou a mesma inflexibilidade de 1209. Noutra ocasião, ao mesmo cardeal Hugolino, que queria nomear alguns frades como prelados da Igreja, Francisco respondeu com humildade, mas também com firmeza: “Quero que meus frades deem frutos na Igreja em sua condição de menores, não como prelados”.
 
Com esta resposta, cai por terra também a imagem de Francisco-reformador. Se ele quisesse ser um reformador da Igreja, ele próprio promoveria estrategicamente seus frades a cargos de influência. A minoridade franciscana, de fato, não condiz com a pretensão de tornar-se reformador da Igreja ou da sociedade.

Quanto a Francisco-vítima, trata-se de uma imagem transmitida muito sutilmente pelas fontes tardias, especialmente quando estas mostram Francisco como que doentiamente ocupado em lamentar e em recriminar os maus comportamentos dos frades. Sem dúvida, havia maus frades naquela época, como sempre os houve e há. Certamente Francisco sofria ao ver abusos, ao constatar a defasagem entre ideal proposto e realidade vivida. Mas deduzir disto uma conspiração dos frades contra Francisco é tirar conclusões que as premissas não permitem. Concluir que a regra bulada foi redigida à revelia de Francisco ou por pressão dos frades é advogar um complexo de perseguição ao santo.

3. Uma leitura alternativa

Ao iniciar seu processo de conversão, Francisco não pensava em fazer oposição a ninguém nem a nada. Motivo para recriminar a Igreja e a sociedade da época ele tinha em profusão. Ele próprio reconhecia que a Igreja tinha seus pecados e que a hierarquia estava caminhando à distância do Evangelho e, algumas vezes, na contramão do Evangelho. Ele tinha inteligência suficiente para perceber a realidade eclesial que o cercava. Prova disto é que em seus escritos ele faz alusão ao pecado do clero. Mas em lugar nenhum de todos os seus escritos se percebe qualquer indício de que ele se propunha, a si e aos frades, a tarefa de reformar a Igreja e a sociedade. Em lugar algum dos seus escritos se percebe o mínimo sinal que pudesse sugerir que ele fizesse oposição à Igreja como um todo ou à hierarquia. Pelo contrário. Chegou a afirmar que, mesmo sendo pecadores, os membros da hierarquia eram seus senhores. Aliás, se Francisco quisesse fazer oposição à Igreja, ter-se-ia tornado de início um herege, caminho mais fácil e coerente para a oposição naquela época.
 
Quando ele se dirige à Igreja para pedir aprovação de sua “forma de vida”, tem plena consciência de que seu propósito constitui uma alternativa, não uma oposição. Se fosse oposição, como entender que pedisse aprovação exatamente ao suposto adversário?
 
De sua parte, a Igreja o questiona, propondo-lhe os caminhos já existentes, a saber, que ele vivesse com seu grupo uma das regras antigas. Não se trata de querer manipular desde o início o propósito de Francisco e de seu grupo, mas de um procedimento normal, em que se questiona o que se propõe como específico e se discutem os detalhes da vida, tais como sobrevivência, trabalho, organização do grupo, possibilidades e maneiras de aceitação de novos membros, presença e atuação dentro da Igreja, etc. Trata-se de uma negociação. E é possível que em matéria de somenos importância Francisco tenha cedido às sugestões de quem o questionava. Pequenos acertos necessários para dar consistência e coesão organizativa ao grupo, uma ajuda antes que uma manipulação. Alegar que a Igreja os manipulou por se tratar de pessoas ignorantes, é desconhecer a realidade do grupo. Três dos doze frades que compunham e que estavam à frente do grupo podiam não ter grandes estudos, mas eram pessoas experientes. Francisco tinha experiência do comércio, sabia negociar; Bernardo de Quintavalle era um homem rico, certamente não devia ter sido tão ignorante; Pedro Cattani era formado em Direito.
 
Interessante é observar que o cardeal encarregado desses questionamentos foi considerado pelos frades da primeira hora não como adversário que os queria sufocar, mas como “cardeal protetor” da Ordem, consistindo sua ajuda não somente nesses questionamentos iniciais, mas principalmente na defesa da novidade que ele assumiu diante do colégio dos cardeais reunidos em consistório.
 
E a Igreja compreende e aprova o diferente de Francisco como caminho alternativo, não como oposição. Com toda a certeza, não o teria aprovado, se tivesse visto nele uma oposição. Mais ainda, teria proscrito o grupo como um bando de hereges, como soía acontecer. Pelo contrário, deixou liberdade ao grupo para que explicitasse melhor os caminhos a percorrer, pois a Igreja também era consciente de que se tratava de algo realmente novo.
 
A aprovação, porém, não significava ausência de conflitos. Certos setores da Igreja, como bispados e paróquias, viam o caminho alternativo de Francisco com desconfiança e suspeita. Em algumas dioceses e paróquias, os frades eram proibidos de pregar. Em outras, eram considerados hereges ou confundidos com eles. Mas isto não significa que devamos considerar a Ordem como vítima de uma oposição sistemática da Igreja. Trata-se de um processo normal. Em qualquer sociedade, o aparecimento de um grupo diferente ou de uma proposta alternativa causa estranheza a certos setores. E a inserção de um grupo novo na sociedade não se dá sem arranhões. E o grupo novo tinha a tarefa de encontrar na Igreja e na sociedade o seu espaço e desempenhar seu papel específico, caso contrário, ou se colocaria à margem da sociedade ou teria que abandonar o caminho alternativo. Trata-se, portanto, de processos históricos absolutamente normais. Com a Ordem franciscana não se deu de modo diferente.

Conclusão

A leitura alternativa apresenta um Francisco também alternativo, no sentido de que ele propôs um caminho alternativo de vida evangélica. Ele não pretendeu substituir nada do que já existia nem opor-se a instituição alguma; nem fazer um caminho paralelo, como foi, por exemplo, a reforma luterana, mas inserir-se na instituição existente; nem impor-se como o único caminho válido, mas respeitando a pluralidade. Ele deu sua contribuição própria, sem tornar-se reformador.

Esta leitura evita dramatizações que se criaram em torno de Francisco e liberta-o da síndrome de vítima que comumente se lhe atribui ou sob a qual ele é interpretado (vítima de conspiração dos frades e das manipulações da Igreja). Reconhece que houve conflitos nas relações com setores da Igreja, que ele sofria quando seus frades não viviam de acordo com as opções de origem, mas considera isto como processo histórico normal.
 
Apresenta um Francisco não ingênuo, mas inflexível no essencial; iletrado, mas suficientemente experiente e capaz de propor e de defender seu propósito diante da autoridade máxima da Igreja.
 
Enfim, esta leitura prefere valorizar Francisco pela sua vida a engrandecê-lo por supostas perseguições sofridas.

  • Texto publicado na Grande Sinal de setembro/outubro 63/2009/5 
  • * Frei Celso Márcio Teixeira é da Ordem dos Frades Menores, doutor em Espiritualidade atualmente leciona Teologia Espiritual e Espiritualidade Franciscana na Faculdade de Teologia - ITF.  
  • Extraído de http://franciscanos.org.br/itf/artigos/2011/011.php acesso em 29 nov. 2011.

VIGIAI E ORAI...




VIGIAI E ORAI...

A convivência com Deus e a permanência Nele é a maior de todas as necessidades da alma humana; na verdade temos como que um desejo quase insaciável da união com o Senhor de nossa vida; digamos que é uma espécie de necessidade permanente que há em nós; uma aspiração de liberdade infinita, de amor sem fim, de felicidade incondicional, etc., desse modo, ver a Deus; conhece-lo, amá-lo e viver Nele, Dele e para Ele é tudo o que precisamos para nos sentirmos plenamente no seu aconchego ou mesmo como sua posse definitiva.

Ocorre que a vida natural nem sempre nos dá essa condição de satisfação espiritual plena, por isso, somos seres profundamente carentes e até ausentes da presença divina, por causa de nossas imperfeições, principalmente no que diz respeito aos exercícios espirituais: desatenção na oração do coração; falta de adoração, de silêncio e escuta interior, da prática das virtudes e outros exercícios piedosos. De fato, isso acontece porque nem sempre temos a percepção de que encontramos Deus profundamente em nossos exercícios espirituais e com isso, deixamos de interagir com o Senhor como interagimos com nossos pais carnais.

Entretanto, o Senhor nos incentiva e instiga para que o busquemos de todo o nosso coração e encontremos Nele a supressão de todas as nossas carências e necessidades, pois o seu amor nos é infinitamente mais que suficiente para nos sentirmos felizes e realizados mesmo estando neste mundo. O fato é que a esperança com que Deus nos cumula, nos faz viver e experimentar antecipadamente o que na eternidade seremos e teremos em toda sua plenitude. Por isso, o Senhor nos convida ao Seu Banquete santo, onde Ele mesmo é o Alimento espiritual perfeito que verdadeiramente nos satisfaz em todos os sentidos; para que assim gozemos de sua intimidade e Ele mesmo, agindo no íntimo de nossas almas, nos faça atingir a perfeição das virtudes e nos santifique para que tenhamos pleno acesso à Sua glória eterna.

De fato, somos a família de Deus presente neste mundo; somos Sua Igreja, a parte visível do Seu Reino, a nova criação; isto porque fomos redimidos e adotados como filhos e filhas em Cristo Jesus, que por sua obediência e imolação, expiou nos pecados definitivamente e nos faz vencer todo mal presente ainda neste mundo. Por isso, em Cristo Jesus, temos acesso a todas as graças e bênçãos de Deus Pai; temos ainda a nosso favor os anjos e santos do Senhor que nos ajuda na vivência da fé; temos também Maria Santíssima, a mãe de Jesus e nossa mãe, como nossa intercessora permanente que nos faz sentir ainda mais na presença de Deus como Sua família.

Portanto, não nos falta nada para vivermos em conformidade com a salvação que nos foi concedida em Cristo Jesus; todavia, não podemos vacilar na vivência de nossa fé para não perdermos tão salutar benefício que de Deus, nosso Pai, recebemos. Logo, precisamos ficar atentos e vigilantes no combate às forças do mal que tenta nos tirar da vida de oração, da comunhão eucarística e da prática dos outros sacramentos; do serviço ao Senhor e da participação nas coisas santas.

Por fim, atenção, muitas vezes as distrações têm levado as pessoas piedosas a relaxarem na fé e com isso perderem as graças recebidas. Ora, isso é um terrível perigo para as nossas almas; podemos nos divertir sim, mas sem perder o “espírito de oração” como nos ensinou são Francisco de Assis, porque somente assim permaneceremos ligados constantemente ao Senhor, mesmo em meio às distrações e imperfeições deste mundo. Então que nada ocupe o lugar que é só de Jesus em nosso coração, se de fato, quisermos vencer a batalha espiritual que ora travamos; caso contrário, sofreremos os danos de nosso desvario e falta de vigilância.

Escutemos, pois, São Paulo para entendermos melhor esse assunto: “Vigiai, pois, com cuidado sobre a vossa conduta: que ela não seja conduta de insensatos, mas de sábios que aproveitam ciosamente o tempo, pois os dias são maus. Não sejais imprudentes, mas procurai compreender qual seja a vontade de Deus. Não vos embriagueis com vinho, que é uma fonte de devassidão, mas enchei-vos do Espírito. Recitai entre vós salmos, hinos e cânticos espirituais. Cantai e celebrai de todo o coração os louvores do Senhor. Rendei graças, sem cessar e por todas as coisas, a Deus Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo! Sujeitai-vos uns aos outros no temor de Cristo”. (Ef 5,15-21).

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.


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sábado, 26 de novembro de 2011

Durante séculos, temos educado os fiéis para a submissão e a obediência

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 13, 33-37, que corresponde ao 1º Domingo do Tempo de Advento, ciclo B do Ano Litúrgico.

O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

A CASA DE JESUS

Jesus está em Jerusalém, sentado no monte das Oliveiras, olhando para o Templo e conversando confidencialmente com quatro discípulos: Pedro, Santiago, João e André. Vê-os preocupados por saber quando chegará o final dos tempos. A Ele, pelo contrário, preocupa-O como viverão os Seus seguidores quando já não O tenham entre eles.

Por isso uma vez lhes apresenta a Sua inquietação: “Olhai, vivei despertos”. Depois, deixando de lado a linguagem terrorífica dos visionários apocalípticos, conta-lhes uma pequena parábola que passou quase desapercebida entre os cristãos.

Um senhor foi de viajem e deixou a sua casa”. Mas, antes de se ausentar, “confiou a cada um dos seus criados a sua tarefa”. Ao despedir-se, só lhes insistiu numa coisa: “Vigiai, pois não sabeis quando virá o dono da casa”. Que, quando venha, não vos encontre adormecidos.

O relato sugere que os seguidores de Jesus formarão uma família. A Igreja será “a casa de Jesus” que substituirá “a casa de Israel”. Nela todos são servidores. Não há senhores. Todos viverão à espera do único Senhor da casa: Jesus Cristo. Não o esquecerão jamais.

Na casa de Jesus ninguém deve permanecer passivo. Ninguém tem de se sentir excluído, sem responsabilidade alguma. Todos são necessários. Todos têm alguma missão confiada por Ele. Todos estão chamados a contribuir para a grande tarefa de viver como Jesus, sempre dedicado a servir o reino de Deus.

Os anos vão passando. Será que se manterá vivo o espírito de Jesus entre os Seus? Continuarão a recordar o seu estilo de Serviço aos mais necessitados e desvalidos? Irão segui-lo pelo caminho aberto por Ele? Sua grande preocupação é que a Sua Igreja é que venha a adormecer. Por isso insiste até três vezes: “Vivei despertos”. Não é uma recomendação aos quatro discípulos que o estão a escutar, mas sim um mandato aos crentes de todos os tempos: “O que vos digo, digo a todos: velai”.

O traço mais generalizado dos cristãos que não abandonaram a Igreja é seguramente a passividade. Durante séculos, temos educado os fiéis para a submissão e obediência. Na casa de Jesus só uma minoria se sente hoje com alguma responsabilidade eclesial.

Chegou o momento de reagir. Não podemos continuar aumentando mais ainda a distância entre “os que mandam” e “os que obedecem”. É pecado promover o desafeto, a mútua exclusão ou a passividade. Jesus queria ver-nos a todos despertos, ativos, colaborando com lucidez e responsabilidade.

Extraído de http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=49726 acesso em 26 nov. 2011.
Foto: Image d'un oeil ambre / Italiancommandos. 2009. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Oeilbrun.JPG acesso em 26 nov. 2011.  

Advento, tempo de esperança num mundo melhor

“O tempo do Advento é tempo de preparação: preparar o coração para acolher a novidade radical que é o próprio Deus irrompendo no mundo. O que requer de nós uma espera vigilante, uma esperança operosa e uma expectativa ativa. Uma espera que é preparação.”
A reflexão é de André Langer, pesquisador do Cepat, em artigo publicado no jornal Folha Diocesana, da diocese de São José dos Pinhais, PR, edição de novembro de 2011.

André Langer é sociólogo, com mestrado em Ciências Sociais pela Unisinos e doutorado em Sociologia pela UFPR. É também bacharel em Teologia.
Eis o artigo.
“Alegrem-se os céus e a terra,
porque o Senhor nosso Deus virá
e terá compaixão dos pequeninos” (Is 49, 13).

Possivelmente você, eu, outros, já dissemos: “Novamente é Tempo de Advento”, sem muita convicção, como se isso fosse apenas parte de um ciclo do tempo que anualmente se repete. Pelo efeito da repetição, torna-se algo automático, rotineiro, um costume, uma tradição. Ou como se o “advento”, na verdade, caracterizasse uma disposição psicológica para o final do ano, para os tempos de festas, as férias, o verão, o descanso, as viagens... Dessa maneira, o verdadeiro Advento vai sofrendo uma corrosão em seu sentido mais profundo, em sua dimensão de real preparação para o acolhimento do Salvador entre nós.

Uma passagem de São Paulo, na carta aos filipenses (4, 4-6), mostra de modo claro o espírito com que o tempo do Advento deve ser encarado: “Fiquem sempre alegres no Senhor! Repito: fiquem alegres! Que a bondade de vocês seja notada por todos. O Senhor está próximo. Não se inquietem com nada. Apresentem a Deus todas as necessidades de vocês através da oração e da súplica, em ação de graças.”

A alegria faz parte da preparação para o Natal. Já nos sabemos salvos e acolhidos no Senhor. Basta que destravemos o nosso coração, para que se abra à alegria que vem Dele. A verdadeira alegria não é sinônimo de risadas ou gargalhadas, muitas vezes superficiais e enganosas e que disfarçam tristezas interiores.

A verdadeira alegria brota do coração, como dom de Deus, por todas as maravilhas que Ele realiza, inclusive a encarnação de seu Filho Jesus. Assim, uma pessoa alegre, é alegre também quando suporta as adversidades da vida, o sofrimento... Por isso, a alegria é uma graça que podemos pedir ao longo deste Advento.

Alegria que brota da certeza da presença de Deus no meio do seu povo. “Canta de alegria, cidade de Sião; rejubila, povo de Israel! Alegra-te e exulta de todo o coração, cidade de Jerusalém (...). O Senhor, teu Deus, está no meio de ti” (Sf 3, 14.17).

A alegria expulsa o medo. Jesus, em várias ocasiões, precisa reconfortar os seus discípulos, dizendo-lhes: “Não tenham medo” (Jo 6, 20). O medo e a alegria não têm a mesma origem, nem produzem os mesmos frutos em nós. Enquanto o medo vem do espírito do mal e deixa o coração do cristão tímido e calculista, a alegria, vinda de Deus, faz explodir em bondade, generosidade, abertura e criatividade.

O tempo do Advento é, por isso mesmo, tempo de preparação: preparar o coração para acolher a novidade radical que é o próprio Deus irrompendo no mundo. O que requer de nós uma espera vigilante, uma esperança operosa e uma expectativa ativa. Uma espera que é preparação.

Esta preparação requer vigilância. “Cuidado! Ficai atentos, porque não sabeis quando chegará o momento. (...) Vigiai, portanto (...) para que não suceda que, vindo de repente, ele vos encontre dormindo. O que vos digo, digo a todos: Vigiai!” (Mc 13, 33-37). Uma advertência que repousa a nossa atenção sobre a práxis. Um exame de consciência que nos deve fazer retornar às nossas origens, ao nosso primeiro Amor.

Com certeza, descobriremos que reformas deverão ser implementadas: “Abram no deserto um caminho para Javé; na região da terra seca, aplainem uma estrada para o nosso Deus. Que todo vale seja aterrado, e todo monte e colina sejam nivelados; que o terreno acidentado se transforme em planície, e as elevações em lugar plano” (Is 40, 3-4). Séculos depois, Lucas colocará esta passagem na boca de João Batista, aquele que vem preparar o caminho para Jesus (Lc 3, 4b-6).

O Advento é, pois, um tempo forte (kairós) para dispor a nossa vida toda a serviço da vontade de Deus. Um tempo para tirar as amarras e a tibieza do nosso coração. Pode-nos ajudar nessa tarefa olhar para alguns personagens marcantes, que a Igreja nos coloca como modelos dessa preparação: João Batista, José e especialmente Maria. Cada um, a seu modo, preparou-se para acolher Jesus. João Batista, através do chamado à conversão e pelo batismo de conversão; José e Maria, renunciando aos seus projetos de vida para se abrirem ao apelo que Deus, através dos anjos, lhes fez. Maria, aplainando o caminho da sua vida, ao final do processo de discernimento e tomada de decisão, exclamou: “Faça-se em mim segundo a tua vontade” (Lc 1, 38).

Esse é o espírito com o qual o Tempo do Advento deve ser encarado. Algumas atitudes, práticas e gestos podem contribuir para alcançar os frutos desejados pelo Advento. Elencamos algumas práticas:

a) participação atenta e renovada da Eucaristia, com atenção às antífonas, leituras bíblicas, cantos, que expressam esperança e expectativa;

b) participação na Novena em Famílias, meio para aprofundar o espírito do Advento e reforçar os laços de comunhão e fraternidade;

c) mutirões para um Natal sem fome (coleta de alimentos, roupas...), que abrem para a solidariedade com os mais necessitados;

d) presépios que reproduzam o espírito desejado por São Francisco de Assis, na linha da simplicidade e da humildade descrita por São Paulo: “Tenham em vocês os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo: Ele tinha a condição divina, mas não se apegou a sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens” (Fl 2, 5-7).

e) encontrar meios para se comprometer com as grandes causas do mundo de hoje e que dizem respeito ao “bem viver” de todos na Terra.

Um dos frutos desejados pelo Ciclo do Natal é o compromisso com a transformação do mundo, isto é, proporcionar a todas as pessoas e a cada uma “a passagem de condições menos humanas a condições mais humanas”, como disse Paulo VI na Encíclica Populorum Progressio, sempre em sintonia com a preservação da vida na Terra.

Esperança é semear, é plantar. A semente germinando espanta a fome e aproxima o dia da colheita, da fartura. Concluindo estas singelas reflexões, remetemos o leitor(a) à mensagem do poeta Thiago de Mello, ao último verso de Madrugada camponesa:
“Madrugada camponesa.
Faz escuro (já nem tanto),
vale a pena trabalhar.
Faz escuro mas eu canto
porque a manhã vai chegar.”

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

É ESSA MINHA BATALHA ESPIRITUAL




















É ESSA A MINHA BATALHA ESPIRITUAL

Ø  O amor é uma espécie de provocação santa... O que sei é que, quanto mais provocados, mais amados, mais santos...

Ø  Aprendi a viver com o essencial, porque a providência divina me pede isso. Assim tenho tudo o que Deus quer para me dedicar ao seu Reino...

Ø  Só sabe o que é o pecado quem luta contra ele; quem o segue nunca sabe por que sofre tanto, por isso, põe sempre a culpa nos outros ou em Deus...

Ø  Felicidade é a vida em Deus. Nada se compara a essa verdade, tudo o mais nos será acrescentado pela Divina Providência... Desde que busquemos em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça...

Ø  Aprendi com o Senhor (Cf. Mt 6,33-34) a não atormentar minha alma com preocupações exageradas, mas a confiar e depender da sua divina bondade...

Ø  Quando a vida nos presenteia com chamas ardentes que abrasam nosso ser, chamas vivas de amor que perpassam os limites das fraquezas que tentam nos atingir, gritamos: ó Deus, faz a tua eternidade brotar em mim para que eu viva a felicidade que há em Ti, e somente em Ti, Senhor... Assim minha vida e minhas palavras serão tão eternas quanto o infinito que criastes...

Ø  Eu sei o que preciso fazer para que a vontade de Deus aconteça em minha vida, mas nem sempre faço aquilo que conheço e desejo. Ora, isso não me ajuda a permanecer em estado de graça. Por isso, peço humildemente ao Senhor para me manter na verdade que conheço, amá-la, praticá-la e ser fiel até o fim... Porque já não aguento mais seguir a mim mesmo...

Ø  A verdade é tão maravilhosa que a sinceridade a acompanha sempre e em toda parte... De fato, só a verdade permanece para sempre...

Ø  Eu também sei que nem sempre conseguimos o que queremos, isto acontece porque o nosso querer não é o mesmo querer de Deus para a nossa salvação... E não adiante reclamar ou se lamentar, porque Deus sabe o que é melhor para a nossa vida...

Ø  A verdadeira luta é aquela em que buscamos a santidade de vida e o Reino de Deus em primeiro lugar; assim tudo o mais nos será dado em acréscimo, porque dependemos da providência divina...

Ø  A dúvida é muito boa quando buscamos em Deus a resposta! Deus nunca nos deixa sem resposta, nunca... Nossa busca de Deus é meio eficaz para a nossa salvação, porque somente Nele encontramos a verdadeira segurança...

Ø  Somos contingentes e é por isso que dependemos sempre... Felizes de nós se compreendermos isso; assim, jamais nos colocaremos no lugar de nosso Criador; na verdade, esse foi o grande erro de Adão e Eva, querer ser como Deus, conhecedores do bem e do mal...


***
“Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos! Seja conhecida de todos os homens a vossa bondade. O Senhor está próximo. Não vos inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração, as súplicas e a ação de graças. E a paz de Deus, que excede toda a inteligência, haverá de guardar vossos corações e vossos pensamentos, em Cristo Jesus.” (Fil 4,4-7).

***

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.



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FREI FERNANDO, VIDA, FÉ E POESIA by Frei Fernando,OFMConv. is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Compartilhamento pela mesma Licença 2.5 Brasil License.

RS: Curso de Franciscanismo : 1ª etapa

PAZ E BEM!

Com alegria convidamos a cada irmã e cada irmão para participar da 1ª Etapa do Curso de Franciscanismo, que se realizará de 02 a 13 de janeiro de 2012, no Convento São Boaventura dos Frades Menores, em Daltro Filho, município de Imigrante, com início às 19h do dia 02 e término às 12h do dia 13 de janeiro de 2012.





TEMAS DA 1ª ETAPA – 02 a 13 de Janeiro de 2012

· Espiritualidade Francisclariana
· Assessoria – Frei João Inácio Müller, OFM
· Fontes e Escritos Francisclarianas
· Assessoria – Frei Arno Frelich, OFM

Solicitamos que cada Irmão e Irmã nos ajudem a divulgar este evento e que a ficha de inscrição seja devolvida até o dia 20 de dezembro de 2011. Obs.: Vagas limitadas, até trinta participantes, por ordem de inscrição.
- Via Correio: endereço da FFB-RS acima.
- Por e-mail: rosejmaria@gmail.com
- Por Tel.: 51-3233-9726 ou cel.51-9712.9106

A diária total do curso (hospedagem + alimentação) é de R$ 550,00, mais R$ 50,00 de inscrição por pessoa, a serem pagas no início do curso em Daltro Filho.
A Equipe de Coordenação da FFB-RS



FAMILIA FRANCISCANA
DO RIO GRANDE DO SUL
FFB - RS

* Endereço do Curso:
Convento São Boaventura - Frades Menores
Avenida Ipiranga, 601
Daltro Filho - IMIGRANTE - RS
Fone: xx 51-3754.2021
Email.: conventofranciscano_daltrofilho@yahoo.com.br
* Como chegar de ônibus:
De Porto Alegre a Estrela – até a rodoviária
De Estrela a Daltro Filho - Imigrante - RS
Contamos com a tua participação para este momento de estudo, reflexão e partilha.

Na alegria fraterna, receba nosso abraço.


_______________________________ _____________________________
Irmã Rose Jascke, IFB Ir. Lourdes Mantovani, IFNSA
Coord. da FFB-RS Vice-Coord. da FFB-RS


FICHA DE INSCRIÇÃO PARA A 1ª ETAPA
CURSO DE FRANCISCANISMO - DALTRO FILHO
De 02 a 13 de Janeiro de 2012


Nome: ..............................................................................................................

Entidade Religiosa: . . .. . .. . . . . . . . .. . . . .. .. . . . .. ..... . ... .. .. . .. . . . ......... ..

Endereço: Rua..............................................nº........ Bairro:...............................

Cidade:.................................................................... Estado:.............. ..............

Telefone:........................ ........................................ Fax: .................................
E-mail: .................................................................................................

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O ESTADO DE GRAÇA...




















O ESTADO DE GRAÇA...

Diz-se da alma em plena comunhão com Deus, estado que perdura pelo cultivo da piedade e penitência; vida de oração, vida sacramental e exercício das virtudes acompanhado da vigilância e leitura da Sagrada Escritura (Cf. Mt 26,41). De fato, tenho vivido em meio a uma grande batalha espiritual para me manter em estado de graça. O Senhor, em sua infinita bondade, não me deixa desanimar, pelo contrário, Ele tem me incentivado a continuar a luta, dando-me todas as graças que me faz vencer as terríveis forças do mal que atentam contra a minha alma.

Ora, quais são as fraquezas humanas que fazem o mal se aproveitar delas para nos tirar do estado de comunhão com Deus? Em primeiro lugar, os pensamentos vãos, desordenados e estranhos; e quando isso acontece, procuro logo o Senhor por meio da oração mental (Cf. 1Tes 5,17), porque se tenho o Senhor em meus pensamentos não há lugar para o que não convém a um filho de Deus pensar. Desse modo, procuro seguir o que São Paulo ensinou: “Não vos inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração, as súplicas e a ação de graças. E a paz de Deus, que excede toda a inteligência, haverá de guardar vossos corações e vossos pensamentos, em Cristo Jesus. Além disso, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é nobre, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, tudo o que é virtuoso e louvável, eis o que deve ocupar vossos pensamentos.” (Fil 4,6-8).

Em segundo lugar, os meios de comunicação que atraem nossos sentidos a fim de nos manter distantes da oração ou qualquer outro exercício de piedade. Temos que ter muito cuidado com a televisão, internet, rádios e outros meios de distração que tentam tirar nossa concentração das coisas santas. Normalmente procuro filtrar o que vejo nesses meios de comunicação; e mesmo assistindo-os, procuro não me deixar levar por eles, pois, tenho sempre em mãos o controle e com isso posso exercer minha autoridade sobre o que devo ou não devo assistir; todavia, procuro manter a vigilância e a oração, visto que nada acontece sem minha permissão, assim afugento o que não é alimento para minha alma.

Em terceiro lugar, as conversas frívolas, principalmente a respeito da vida alheia; por isso, procuro não falar mal de ninguém e também evito que falem mal dos outros à mim, pois, a coisa mais fácil do mundo é comentar as fraquezas alheias; julgar e condenar os outros. Assim, para vencer tal tentação, procuro ouvir o Senhor: “Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados;   dai, e dar-se-vos-á. Colocar-vos-ão no regaço medida boa, cheia, recalcada e transbordante, porque, com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos vós também.” (Lc 6,36-38).

Existem ainda outras fraquezas que nos impedem a perfeita comunhão com Deus, quais sejam: preguiça espiritual; o não serviço ao Senhor; interesses pessoais; busca de satisfação meramente instintiva; autopromoção; desmotivação; superstições, medo, e todos os pecados mortais. Quanto a estas imperfeições temos que ter o maior cuidado, porque elas são meios por onde o mal penetra e age em nossa vida cada vez que as permitimos. Por isso, sejamos atentos para não cairmos em tentação.

Por fim, para se nos manter em estado de graça permanente, precisamos experimentar o fruto dos exercícios espirituais que praticamos, ou seja, gozar das graças que o Espírito Santo nos comunica, seja pelo arrependimento sincero quando falhamos; e para isto, temos o sacramento da confissão; seja ainda pela união com Jesus Eucarístico, alimento perfeito de nossa salvação; pois, quando comungamos o Senhor, Ele age nos purificando e nos santificando para que permaneçamos em sua presença em espirito e verdade como verdadeiras células do seu Corpo, a Igreja, que é a parte visível do Reino de Deus neste mundo.

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.


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"Proponho um ano sem homilias nas Igrejas"

Há algum tempo eu havia escrito alguns apontamentos para um artigo quase sério depois de ter ido à missa e ter sofrido durante uma homilia. O início da celebração havia sido muito bonito, tínhamos entrado em um singelo crescendo em direção ao momento central; mas mais de 15 minutos de homilia, talvez não do mesmo grau de intensidade, me haviam feito experimentar um processo inverso.

A reportagem é de Marco Tosatti e está publicada no sítio Vatican Insider, 22-11-2011. A tradução é do Cepat.
Havia escrito o que vocês podem ser mais abaixo com a intenção de não publicá-lo; um escrito destinado ao lixo, melhor dito, aos “arquivos” dos escritos nunca publicados. Mas, há alguns dias, me caiu diante dos olhos uma notícia de agência, protagonista: o presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, biblista de renome, inventor do Pátio dos Gentios, e disse a mim mesmo: então...

O cardeal Gianfranco Ravasi, convidado – na qualidade de biblista e intelectual – para abrir, na Pontifícia Universidade Gregoriana, um curso sobre a palavra, afirmava: “A palavra está sofrendo. Também para a comunidade eclesiástica, a Igreja e sua comunicação. A palavra é traída e humilhada”. Inclusive no púlpito. Ravasi chama à causa diretamente os sacerdotes. Porque “com frequência, os sermões são tão incolores, insípidos, inodoros, que são irrelevantes”. Em compensação, “é necessário recuperar a palavra que ‘ofende’, fere, inquieta, julga”, a “palavra saudável, autêntica, que deixa marcas”. É preciso não esquecer que hoje, goste-se ou não, quem escuta “é filho da TV e da internet”.

E continua: Ravasi recorre a Voltaire e a Montesquieu, e diz que com eles “a eloquência sacra é como a espada de Carlos Magno, longa e plana: aquilo que não pode dar em profundidade, o dá em comprimento”. O tom do cardeal é leve, mas cortante. “O sacerdote não deve aceitar que a palavra seja humilhada. Está claro que a capacidade de falar é, em parte, dom natural, mas também existe a formação, o aspecto pedagógico, os instrumentos técnicos com os quais se dotar. E isto é algo que hoje falta nos seminários”.

Para terminar: “Umberto Eco estima que hoje os jovens utilizam apenas 800 palavras. Isto impõe a quem fala essencialidade, força, narração, cor”.

Então, tomei coragem e trouxe à tona o meu pedido, que espero seja formalmente correto, porque não tenho experiência no campo; é a primeira vez que escrevo a um papa.

“Santidade,

Permito-me fazer-lhe um pedido, simples, mas apenas até certo ponto.
Tem a ver com as homilias. Aquelas que ouvimos, cada domingo, quando vamos à missa.
É um pedido que, na realidade, contém várias sugestões, propostas e ideias; e como é costume ao se dirigir a você, com toda humildade, naturalmente.

A primeira ideia é um tanto radical. Proclamar um período (você pode decidir sua duração) de jejum de homilias. Isto é: estabelecer que, durante um ano nas igrejas (com exceção, obviamente, do Papa e dos bispos) não se façam homilias. Não me peça explicações nem razões. Não desejo ofender os sentimentos (bons) de ninguém. Peça explicações, caso desejar, a Giulio Andreotti, que – se não me falha a memória – procura(va) ir nas missas matutinas, exatamente para não ouvir homilias. Eu creio que, se a homilia fosse substituída por um breve momento de recolhimento e de meditação das palavras ouvidas nas Leituras, poderia ser benéfico para todos.

Segunda sugestão. Isto, obviamente, com um tom de brincadeira. Obrigar os sacerdotes a fazerem um curso de jornalismo e, em particular, de jornalismo de agência ou televisivo. Mais de uma vez nos disseram, durante a nossa presença já de longa data em redações, que em 50 linhas se pode descrever a história de uma vida. É possível que seja impossível escrever, no mesmo espaço, uma reflexão sobre o Evangelho do dia?

Terceira possibilidade (também tem um tom de brincadeira, mas...): solicitar à Congregação correspondente a redação de um documento em que estabeleça taxativamente que o tempo dedicado à homilia não deve ultrapassar os cinco minutos. Um santo, ou um padre da Igreja, disse certa vez: “nos primeiros cinco minutos fala Deus, nos outros cinco fala o homem, nos restantes mais de cinco minutos fala o diabo”. Tendo a acreditar que, na realidade, depois dos primeiros cinco minutos em muitos púlpitos continua falando o homem; e, lamentavelmente, nem todos estão à Sua altura, ao escrever e pronunciar os discursos. E a experiência nos torna palpável – sem culpa de ninguém, os sacerdotes estão animados pelos melhores sentimentos, e estão cheios de santo entusiasmo – que uma homilia que se alonga, se perde, divaga, toca muitos pontos diversos, o que, muitas vezes, não ajuda a manter a concentração e a tensão espiritual criadas pelas Leituras. Pelo contrário. Naturalmente, estariam isentos o Papa, os cardeais, os patriarcas e os arcebispos metropolitanos. Sobre os bispos e os abades, pode-se discutir...

Esperamos que estas linhas sejam lidas por alguém.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Audiência pública preparatória para a Rio+20

Nesta segunda-feira, 21, a Comissão de Saúde e Meio, presidida pela deputada Marisa Formolo, realizou audiência pública preparatória para a Rio+20. Na abertura da audiência, Irmão Antônio Cechin falou sobre os catadores e a questão do lixo:




Vivemos a era do lixo
Necessidade de políticas públicas


por Irmão Antônio Cechin*


Um professor e pesquisador da universidade de Campinas (UNICAMP) tem um artigo intitulado “O triunfo do lixo”.
Começa seu artigo afirmando “se a humanidade vive a era do conhecimento, vive também a era do lixo. Do ponto de vista da quantidade, a natureza movimenta, em seu ciclo normal, 50 bilhões de toneladas de materiais por ano. Os homens, por sua vez, movimentam 48 bilhões de toneladas-ano. Destes 50 bilhões, 30 bilhões são de lixo.
Leia mias no blog da Pastoral da Ecologia
www.pastoraldaecologia.blogspot.com

Clara e Francisco: soldados da pobreza

Um novo estudo da historiadora italiana Chiara Frugoni se dedica aos estudos dos santos de Assis.
A reportagem é de Mariapia Veladiano, publicada no jornal La Repubblica, 14-11-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Por amor, volta-se mais uma vez, e depois de novo, e depois novamente, a frequentar a mesma pessoa, a repassar os lugares dos quais conhecemos cores e sombras, a ouvir novamente palavras que podemos repetir de memória mais do que uma oração cara da infância, em busca daquele núcleo de luz que promete, todas as vezes, um estupor diferente.

Algo de muito semelhante ao amor parece levar Chiara Frugoni a nos presentear agora um novo livro, tecido com paixão em torno daquela história extraordinária que viu São Francisco e Santa Clara juntos em uma aventura espiritual que jamais deixa de falar à nossa vida de homens e de mulheres.

Storia di Chiara e Francesco, publicado nestes dias pela editora Einaudi, vem depois de uma série de artigos, discursos, estudos que Chiara Frugoni já dedicou tanto a São Francisco e Santa Clara, quanto ao "tempo do aproximadamente", como ela gosta de chamar a Idade Média no texto, em que um ano também pode ser o antes ou o depois, quase como uma antecipação do único tempo eterno que São Francisco sabia que era a promessa de Deus ao mundo.

E assim, com a desenvoltura que lhe vem de um conhecimento maravilhoso de documentos, fatos, lugares e pessoas, a autora segue os caminhos de Clara e Francisco ainda não santos (mas por pouco tempo; ambos serão santos logo, dois anos depois da morte). Ele, em espontânea e preciosíssima luta contra os "pensamentos fechados de lucro e ganhos" do seu ambiente familiar, dentro de um clima citadino de forte luta entre a sua classe, a dos “homines populi”, e a classe dos “boni homines”, nobres, poderosos e inacessíveis, "a serem odiados, mas também admirados".

E ela ainda segue Francisco depois da batalha de Collestrada, encerrado na atroz prisão de Perugia, cercado por feridos para os quais "a morte não consegue vir". E depois nos muitos confrontos tremendos e necessários: com o pai, com os concidadãos, consigo mesmo, em uma tempestade de impulsos e abandonos e retornos muito humanos, até à solidão, na qual ele encontra Deus e o homem juntos. Deus para o homem.

E uma nova história nasce, e nada é mais como antes, e Francisco, agora na boa companhia do seu Senhor, mostra com a sua bizarra e jamais vista comunidade de leigos e clérigos e nobres e cultos e iletrados, que o Evangelho pode ser posto em prática, de verdade.

Enquanto isso, Clara menina cresce, e as fontes dizem que muito em breve ela se interessou por aquilo que acontecia em torno de Francisco, até aos encontros com ele, à vocação, à fuga e ao nascimento da sua comunidade em São Damião. Em tudo semelhante à de Francisco: pobre, a serviço dos homens, com a extraordinária novidade das “sorores extra monasterium servientes”, irmãs ativas entre os homens e as mulheres do mundo, testemunhas do Evangelho, como os freis de Francisco, com a mesma liberdade.

Liberdade é a palavra que Chiara Frugoni nos dá como sigla dessa história. Em uma sociedade obrigada à luta pelo poder e pelo dinheiro, os irmãos de Francisco e as irmãs de Clara rejeitavam toda honra, odiavam o poder, suplicavam ao pontífice que conservasse o "privilégio da pobreza". Uma pureza implacável que lhes chegou a partir do Evangelho e que se tornou vontade muito firme de construir "um modelo de comportamento que pacificamente se contrapusesse ao que estava em voga e que pacificamente o tirasse do eixo". Pacificamente, renunciando também à violência implícita em todo julgamento, livres também das santas expectativas: "E no Senhor ama-os. E não pretenda que sejam cristãos melhores", escreveu Francisco a um ministro irmão seu perturbado por aqueles que o acusavam injustamente. Era a época das origens, aliança inimaginável entre terra e céu. Muito em breve veio o tempo das acomodações as quais a história sempre obriga.

Certamente, a leitura ao mesmo tempo rigorosa e combatente de Chiara Frugoni pode fazer nascer algumas críticas, como sempre acontece quando o amor por uma pessoa ou por uma história é compartilhada com muitos. Porque o amor muitas vezes é ciumento.

Talvez seja verdade que o desfecho da história de Clara, a clausura estrita decretada em 1263 por Urbano IV, se assemelhe muito a um fracasso humano. Mas nem sempre os resultados diferentes dos esperados são fracassos. Quem acredita pode reconhecer muito bem, na vida escondida das clarissas, a pobreza subterrânea de uma beatitude igualmente profética.

No entanto, é difícil negar que a batalha pela pobreza tenha sido um verdadeiro fracasso, dado o escândalo que ainda hoje a riqueza da Igreja representa aos olhos do mundo. Porém, aqui também a fé salva da amargura, embora na determinação da verdade a ser afirmada. Eis o que Santa Clara escreveu para Inês da Boêmia, à frente do mosteiro de Praga, a propósito da sua luta comum contra as autoridades religiosas pela defensa do privilégio de ser pobre: "Em rápida corrida, com passo ligeiro e pé firme, de modo que os teus passos não levantem poeira, avança segura, feliz e confiante no caminho de uma felicidade pensativa".

Para ler mais:
Extraído de http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=49672 acesso em 22 nov. 2011.

Pinturas da Estigmatização de São Francisco de Assis

Pinturas da Estigmatização de São Francisco de Assis :
da cena narrativa ao retrato - Séculos XIII-XVI
Aldilene Marinho Cesar












QUEM É DEUS?  CONTINUAÇÃO...

O exemplo de Abraão...

Outro exemplo vivo que fez Deus presente no meio dos homens é Abraão. Abraão acreditou, isto é, se uniu ao Senhor e nele permaneceu até o fim dos seus dias neste mundo; e nunca, por nada, quis outra vida fora da vida de fé que Deus lhe concedeu. E foi assim que Abraão conviveu com o Senhor e a partir dessa sua convivência, conviveu também com os homens testemunhando que é possível viver em conformidade com a vontade de Deus neste mundo, por isso, ficou conhecido na história humana até o fim dos tempos como o pai da fé.

O exemplo de Moisés...

Mais um outro exemplo de convivência com Deus,  é o de Moisés que falava com Ele “face a face”; tudo em sua vida e em missão de conduzir os filhos de Abraão, da terra da escravidão até a terra prometida, nasceu sempre do seu convívio permanente com Deus. Homem de oração, penitência, humildade, profunda obediência e temor do Senhor, procurou ouvi-lo sempre para depois agir, impulsionado pelo Espírito Santo e assim poder cumprir os desígnios do Senhor para com seu povo. Moisés é aquele homem que ficou na história como alguém que nunca quis fazer sua vontade própria, porque sabia que a obra da redenção humana não era sua, mas de Deus. Por isso, pôs a vida integralmente a serviço do Senhor, para que tudo o que vivesse ou ordenasse fosse de fato plena vontade de Deus e nada mais fora dela. Com isso, nos deu o belo exemplo do que é ser um homem conduzido pelo Espírito Santo em todos os sentidos da vida.

O exemplo de Maria, Mãe de Jesus...

Em Maria, a Mãe de Jesus, Deus Pai cumpriu todas as promessas que fez ao longo da história da salvação humana. Primeiro, a criou sem pecado em vista do Seu Filho, Jesus Cristo e da nossa salvação, pois em Deus não há pecado; e foi assim que Ele fez nascer Seu Filho de Maria, que o concebeu pela ação direta do Espírito Santo. Segundo, permanecendo Seu Filho no meio de nós, Deus deu curso à nova criação, renovando por Ele todas as coisas, isto é, nos fazendo nascer da água e do Espírito Santo, não para o pecado, mas sim na ordem da graça para a vida eterna; e Maria, a Mãe de Jesus, é aquela que primeiro experimentou tudo isso por sua entrega total a Deus Pai.

Portanto, sua experiência de Deus é única, visto que jamais se repetirá, ou seja, Deus se fez carne em sua carne e habitou no meio de nós. Com isso, ela nos deu o exemplo da perfeita união com o Senhor de toda a vida; Ela, a filha muito amada e consagrada ao serviço de nossa salvação eterna.

“Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!”

Paz e Bem!

Frei Fernando, OFMConv.


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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Site do Centro Franciscano de Espiritualidade - Piracicaba, SP


Como as palavras de Deus devem ser ouvidas


Como as palavras de Deus devem ser ouvidas com humildade e como poucos as ponderam


As palavras de Cisto, palavras suavíssimas, excedem toda ciência dos filósofos e sábios deste mundo.

As suas palavras são espírito e vida e não devem ser julgadas segundo o critério humano.

Não se deve usar delas por vã complacência; mas devem ser ouvidas em silêncio, recebidas com grande afeto e toda humildade.

Bem-aventurado aquele a quem, o Senhor, instrui e ensina sua lei, para que o guarde nos dias maus e não fique sem consolo na terra.

- Eu, diz o Senhor, desde o princípio instruí aos profetas e a todos sem cessar e ainda falo; contudo, muitos são rebeldes e surdos à minha voz.

Muitos escutam o mundo de preferência a Deus; mais facilmente seguem os apetites da carne que o consentimento divino.

Promete o mundo coisas temporais e de pouco valor e é servido com grande empenho, o Senhor promete bens soberanos e eternos e os corações das pessoas ficam insensíveis.

Quem serve e obedece o Senhor em todas as coisas, com o mesmo cuidado, com que serve o mundo?

Envergonha-te, Sidônia, diz o mar e se desejas saber a causa, ei-la: Por pequeno lucro fazem as pessoas longas viagens e, dificilmente, dão um único passo pela vida eterna.

Procura-se sempre o lucro, mesmo que seja de uma maneira vil; por uma pequena moeda questionam e criam confusão, as vezes, vergonhosamente; por ninharia ou mesquinha promessa não se teme trabalhar e se fadigar tanto de dia como de noite.

Mas, que miséria! Pelo bem imutável e pelo prêmio inestimável, pela honra suprema e pela glória que não tem fim, hesita-se em sofrer um pouco.

Envergonha-te, pois, servo preguiçoso e murmurador, por haver alguns mais solícitos pela perdição, que tu pela vida eterna!

Buscam com mais gosto a futilidade, que nós a verdade.

Entretanto, não raro, são frustrados em suas esperanças; mas a promessa do Senhor a ninguém engana e jamais deixa de mãos vazias quem nele confia.

Se alguém perseverar fiel ao seu amor, até o fim, o Senhor dará o que promete e cumprirá o que diz.
É o Senhor o remunerador de todos os bons e quem submete a duras provações todos os justos.

Devemos guardar em nossos corações e meditar, atentamente, as palavras do Senhor, que, na hora da tentação serão muito necessárias.

O que não entendermos, quando lermos, conhecê-lo-emos no dia da Sua visita.

De dois modos costuma o Senhor visitar os seus eleitos: pela tentação e pela consolação; e, cada dia, dar-nos duas lições, uma repreendendo nossos vícios, outra exortando-nos ao progresso na virtude.

Aquele que ouve as palavras do Senhor e as despreza, terá quem o julgue, no último dia.



sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O Evangelho chegou tarde

“Por isto, eu disse que ‘o Evangelho chegou tarde’. Tão tarde, que, a não poucos batizados, ainda não chegou. Isto explica, em definitiva, por que estamos mais preocupados em ‘nos submeter’ ao Senhor glorioso do que em ‘seguir’ o Jesus terreno. E por isso aconteceu o que tinha acontecer: temos um Cristianismo com muita autoridade, mas levamos uma vida com escassa exemplaridade”.

A reflexão é do teólogo espanhol José María Castillo, publicada em seu blog Teología sin Censura, 14-11-2011. A tradução é do Cepat.
Eis o artigo.

Acontece com frequência que, entre cristãos, se dá mais importância aos ritos, às normas, à organização, à gestão da autoridade ou aos assuntos econômicos (a tudo isso), do que à fidelidade ao Evangelho. Por isso, muitas vezes me pergunto: o que acontece com aqueles que dizem crer em Jesus, cujo princípio orientador de nossas vidas não é justamente o mesmo princípio que rege a nossa forma de viver?

Este problema – pelo que pude me informar – vem de longe. Não é coisa de agora. Trata-se de um assunto que tem suas origens nas próprias origens do cristianismo. A questão se compreende quando se tem em conta como e quando foram organizadas as primeiras “igrejas”. E também quando se sabe como e quando, naquelas primeiras “igrejas”, se conheceram os evangelhos, isto é, o que foi a vida de Jesus e o que aquela vida representa para a nossa vida.

Quero dizer o seguinte: Jesus morreu nos anos 30 do século I. São Paulo escreveu suas cartas a “igrejas” que ele mesmo havia fundado, e pelas quais se sentia responsável, entre os anos 49 e 56. Os evangelhos, na redação que chegou até nós, começaram a ser difundidos depois do ano 70 e não foram conhecidos totalmente senão no final do século I ou talvez ainda depois. Os Atos dos Apóstolos foram redigidos entre os anos 80 e 90.

Tudo isto quer dizer que as primeiras “igrejas” (das quais temos notícias) se organizaram de acordo com as ideias e crenças transmitidas pelo apóstolo Paulo. Mas sabemos que Paulo não conheceu Jesus. Nem mostrou interesse para se informar sobre a vida terrena de Jesus. A Paulo “lhe apareceu” o Cristo ressuscitado e glorioso (Gl 1, 11-16; 1Cor 9, 1; 15, 8; 2Cor 4, 6). Mais, Paulo chegou a dizer que o conhecimento de Cristo “segundo a carne” não lhe interessou (2Cor 5, 16).

Portanto, há indicadores suficientes para pensar que as primeiras “igrejas” cristãs, das quais temos notícias, tiveram sua vida, suas esperanças e suas motivações mais determinantes na glória, no céu, na eternidade, ali onde eles pensavam encontrar o Senhor da Glória. A vida, o exemplo, a bondade, a profunda humanidade de Jesus, tudo isso, foi conhecido por muitas comunidades, e pelas mais importantes “igrejas” da primeira hora, muitos anos mais tarde, talvez 20 ou 30 anos depois. Pode-se dizer que o “Senhor glorioso” se adiantou ao “Jesus terreno”.

Por isto, eu disse que “o Evangelho chegou tarde”. Tão tarde, que, a não poucos batizados, ainda não chegou. Isto explica, em definitiva, por que estamos mais preocupados em “nos submeter” ao Senhor glorioso do que em “seguir” o Jesus terreno. E por isso aconteceu o que tinha acontecer: temos um Cristianismo com muita autoridade, mas levamos uma vida com escassa exemplaridade.

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