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sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A REALIDADE DO PECADO NO HOMEM




















A REALIDADE DO PECADO NO HOMEM

O pecado é como uma erva daninha que nasce de forma misteriosa, mas permitida pelo homem (cf. Gen 3), no terreno de sua vida, levando-o a ruína e à perdição parcial ou total. Onde ele se faz presente com a anuência (aceitação) da humana criatura, perdemos toda ternura, todo sentido de vida e começamos pouco a pouco a derrocada rumo ao caos; isto se dá porque quando pecamos, o demônio, inimigo número um de nossas almas, “mina” todas as nossas iniciativas para Deus, fazendo-nos ter uma visão controversa da obra do Senhor e de nosso papel na criação. O pecado de Adão e Eva (original) se propaga a todos seus descendentes por geração, não por imitação; ele é inerente a cada indivíduo (cf. Sl 50,7).

Segundo Santo Agostinho, o pecado se traduz por "«palavra, ato ou desejo contrários à Lei eterna»", causando por isso ofensa a Deus e ao seu amor. Logo, este ato do mal é um "abuso da liberdade" e fere a natureza humana. "Cristo, na sua morte de cruz, revela plenamente a gravidade do pecado e vence-o com a sua misericórdia".

Há uma grande variedade de pecados, distinguindo-lhes "segundo o seu objeto, ou segundo as virtudes ou os mandamentos a que se opõem. Podem ser diretamente contra Deus, contra o próximo, contra nós mesmos, ou ainda contra a obra da criação. Podemos ainda distinguir entre pecados por pensamentos, por palavras, por ações e por omissões".

A repetição de pecados gera os vícios, que "'são hábitos perversos que obscurecem a consciência e inclinam ao mal, à escravidão. Os vícios conduzem aos chamados pecados capitais: soberba, avareza, inveja, ira, luxúria, gula e preguiça ou negligência". A Igreja ensina também que temos responsabilidade "nos pecados cometidos por outros, quando cupavelmente neles cooperamos”(*). A Santa Sé fez uma atualização (L’Osservatore Romano 10/03/2008) da lista dos pecados capitais para adaptá-la à “realidade da globalização”. Os quatro novos pecados capitais passíveis de condenação, são: desigualdade social, manipulação genética, poluição ambiental e uso de drogas.

Segundo São Paulo: “Com efeito, todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus, e são justificados gratuitamente por sua graça; tal é a obra da redenção, realizada em Jesus Cristo”. (Rm 3,23-24). Ora, Excetua-se desse “todos” de que fala São Paulo, a Virgem Mãe de Jesus, pois o Filho de Deus não tem pecado e não pode nascer de alguém com pecado (cf. 1Jo 3,5-6; Heb 7,26.28). Sabemos que a obra é de Deus e Deus age assim providencialmente tendo em vista a nossa salvação; por isso, Seu Filho Jesus nasce da Virgem Imaculada e oferece-se em sacrifício pelos nossos pecados para nos trazer a Eterna Redenção (cf. Heb 9,12.24).

Não restam dúvidas que a realidade do pecado humano na face da terra é visível e dolorosa, porque acompanhada de toda espécie de maldade e de seus efeitos tenebrosos; no entanto, “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5,20). “Por isso não desanimamos deste ministério que nos foi conferido por misericórdia” (2Cor 4,1) do Senhor, o anúncio da nossa participação no Reino dos Céus.

Por fim, supliquemos à sempre Virgem Maria que interceda por nós, ela que, pela ação do Espírito Santo, concebeu e deu à luz o Filho de Deus humanado para nos livrar de todo pecado e de todo o mal. “Àquele que, pela virtude que opera em nós, pode fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou entendemos, a ele seja dada glória na Igreja, e em Cristo Jesus, por todas as gerações dos séculos dos séculos! Amém”. (Ef 3,20-21).

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.

(*) Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Doutrina_católica#Pecado
(27/11/2009)

São Francisco de Assis e a Eucaristia

Frei Hermano Filipe, OFMCap. - (freihemano.ofmcap@hotmail.com): Frade da província portuguesa
SÃO FRANCISCO DE ASSIS (1182-1226) tinha poucos estudos. Por isso, a sua fé não estava sustentada por grandes teorias nem foi sua intenção escrever qualquer tratado teológico. Mas a forma como vivia o sacramento da Eucaristia deixava transparecer uma grande frescura evangélica, pois tinha percebido a presença do próprio Cristo, ainda que de forma simbólica, também nas criaturas, na Palavra de Deus, nos doentes e nos pobres – elementos de uma Fraternidade Universal conduzida pela presença fiel de Cristo. E tudo isto, quando certos movimentos heréticos ganhavam força e conseguiam influenciar negativamente algumas Comunidades Cristãs. Daí ser importante analisarmos, primeiro, o contexto histórico-religioso que o influenciou e o levou procurar uma perfeição evangélica mais exigente.

1. O contexto histórico-religioso de São Francisco de Assis


Não é por acaso que o tema da Eucaristia aparece muitas vezes nos escritos de São Francisco. Por um lado, amante como é da santa Igreja, sente-se impelido a lutar contra os movimentos heréticos do seu tempo; por outro, dotado de um profundo fervor eucarístico, não pode deixar de exortar os seus irmãos a prestarem cada vez maior reverência ao Santíssimo Sacramento.


A sua época – finais do séc. XII e princípios do séc. XIII – está cheia de contradições no plano eucarístico: o povo não compreende a Eucaristia nem participa nela, e a comunhão torna-se cada vez mais rara; a própria Igreja, mergulhada numa emergente sociedade mercantilista deixa-se muitas vezes corromper pelo poder civil e parece mais preocupada com os aspectos disciplinares do que doutrinais e espirituais. Os cristãos não encontram nem no clero nem nos monges quem os ajude a sentir desejos de perfeição evangélica.


Perante isso, a Igreja tenta renovar-se, primeiro com as reformas realizadas pelo papa Gregório VII (1073-1085) e mais tarde com o quarto concílio de Latrão, convocado em 1215 pelo papa Inocêncio III (1198-1216), no qual Francisco participou.


Com a reforma gregoriana, assistimos à renovação da vida monástica e ao surgimento de novos movimentos eremíticos que procuram dedicar-se totalmente à oração e à penitência como reacção a uma vida demasiado voltada para a sensualidade e a busca de riquezas e de poder. Mas aparecem também grupos evangélicos heterodoxos, como o dos Cátaros[1] que, embora procurem levar uma vida de austeridade e pobreza, rejeitam diversos dogmas e disposições doutrinais da Igreja e repudiam a própria hierarquia eclesiástica.


Francisco, pelo contrário, percebe que a sua vocação para viver o Evangelho em fraternidade, em pobreza e como pregador itinerante não se pode realizar a não ser dentro da Igreja[2]. A sua adesão à fé e às disposições da Igreja romana é total, ao ponto de sentir um amor filial pelo papa;[3] mas o seu modo de pensar e viver o sacramento da Eucaristia constitui uma novidade na medida em que “parece beber” directamente do Evangelho. Assim se compreende a confiança que Deus deposita nele, quando lhe ordena que repare a sua Igreja quase em ruínas.[4]


2. A experiência da presença de Cristo


Na narração da última Ceia, São João deu especial realce ao gesto do lava-pés (Jo 13,3-1). Não porque as palavras proferidas por Jesus não fossem importantes (eram-no, seguramente), mas porque preferiu realçar aquele gesto que, embora se enquadrasse de algum modo nos ritos próprios da ceia pascal judaica, primava pela originalidade na medida em que quis lavar aos seus discípulos não as mãos, como era hábito, mas os pés – uma acção própria dos escravos, a indicar que o serviço aos irmãos é também um memorial da sua presença.


Ao escrever a forma de vida que desejava para os seus irmãos, Francisco vai usar precisamente esta passagem do Evangelho de São João, convidando-os à menoridade que se deve traduzir por gestos como o de lavarem os pés uns aos outros.[5] Tinha compreendido que a Eucaristia, onde o Senhor está «presente de um modo verdadeiro, real e substancial, com o seu corpo e o seu sangue, com a sua alma e a sua divindade»[6], como havia prometido aos seus discípulos[7], deve levar o cristão a um sério compromisso com os pobres.


Francisco percebeu que Jesus está presente de um modo muito especial sob as espécies eucarísticas, como se manifesta na reverência que tinha para com o Santíssimo Sacramento[8], as Igrejas[9] e os Sacerdotes[10]; mas percebeu também a presença simbólica do mesmo Jesus onde estiverem reunidos dois ou três em seu nome,[11] nos pobres, nos leprosos e nos presos, nos mais pequeninos e nas mais humildes criaturas.[12] Vejamos.


A presença real de Cristo na Eucaristia


Depois da fracção do pão, durante a última Ceia, Jesus convidou os seus discípulos a repetirem aquele mesmo gesto em sua memória[13]. Tal gesto foi acolhido com obediência e gratidão por Francisco de Assis, que dizia:


«O pão nosso de cada dia, o teu dilecto Filho nosso Senhor Jesus Cristo, nos dá hoje, para memória, e inteligência e reverência do amor que nos teve, e de quanto por nós disse, fez e suportou.»[14]


Francisco «jamais deixava de ter presentes, em aprofundada contemplação, […] a humildade da Encarnação e a caridade da Paixão»[15] e exortava os irmãos a acreditarem, pela fé, na presença real de Cristo na Eucaristia[16], que «agora se mostra a nós no pão sacramentado»[17], presente «como auto-dom de si mesmo».[18]


Francisco «ardia de amor em todas as fibras do seu ser para com o Sacramento do Corpo do Senhor e […] comungava com tal devoção que tornava devotos os que o viam.»[19] Queria que os seus irmãos participassem todos os dias na Eucaristia[20] porque, dizia ele, «ninguém se pode salvar sem receber o santíssimo Corpo e Sangue do Senhor»;[21] mas, ao saber que vários sacerdotes celebravam várias missas por dia apenas por dinheiro, pediu, na Carta a toda a Ordem, que se celebrasse apenas uma missa por dia em cada comunidade e que nas comunidades em que houvesse vários sacerdotes os outros se contentassem em ouvir a missa daquele que celebrava.[22]


Francisco «consagrava a Cristo um amor tão vivo […] que parecia sentir fisicamente diante dos olhos a presença contínua do Salvador»,[23] percebendo que é sobretudo no sacrifício eucarístico, nessa constante doação do seu próprio Filho ao homem, que Deus se manifesta como Amor, Sumo Bem.[24] O Cristo presente na Eucaristia é o mesmo que está nos céus, sentado à direita do Pai[25], «a contemplar os que se aproximam devidamente do seu tabernáculo».[26] Na comunhão do Corpo do Senhor, Francisco viu o «alimento por excelência de toda a santidade».[27]


A reverência para com o Santíssimo Sacramento


Encontramos em quase todos os escritos de São Francisco o apelo à reverência pelo Santíssimo Sacramento. Na Carta a toda a Ordem, pede-o especialmente aos seus irmãos:


«E por isso a todos vós, irmãos, imploro no Senhor, beijando-vos os pés e com quanta caridade eu posso, que presteis toda a reverência e toda a honra que puderdes, ao santíssimo Corpo e Sangue de nosso Senhor.»[28]


A alguns movimentos heréticos que negam «a presença real de Cristo sob as espécies, fora da celebração»,[29] Francisco responde com um amor muito grande ao santíssimo Sacramento. Esse amor a Cristo, presente em todas as igrejas do mundo,[30] é que o levava a não suportar vê-l’O em lugares indignos, em igrejas sujas e descuidadas. Aliás, o «testemunho mais eloquente dessa fé concreta e realista de Francisco [na eucaristia] é talvez a sua extrema susceptibilidade para com as faltas de respeito ao Sacramento.»[31]


Ainda no mundo, antes da sua entrega total a Deus, comprava objectos «que servissem de adorno das igrejas e fazia-os chegar secretamente aos sacerdotes pobres»;[32] e quando saía pelas aldeias, levava consigo uma vassoura para varrer as igrejas e capelas por onde passasse.[33]


O seu respeito para com o Santíssimo Sacramento era tal que,


«Um dia, teve a ideia de enviar os irmãos pelo mundo com píxides preciosas, com a missão de colocarem o mais dignamente possível esse divino penhor da nossa redenção onde vissem que o conservavam com pouca reverência e decoro.»[34]


Mas esse respeito não o movia apenas a um cuidado muito grande com a limpeza das igrejas, das alfaias sagradas e das píxides; também o levava a preparar-se, por meio de uma contínua purificação interior, para comungar o Corpo do Senhor do modo mais digno possível.


Francisco tinha bem presente a advertência de São Paulo: «todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Portanto, examine-se cada um a si próprio e só então coma deste pão e beba deste vinho; pois aquele que come e bebe, sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a própria condenação».[35] Daí não se cansar de a repetir nos seus escritos, convidando «todos os cristãos, religiosos, clérigos e leigos, homens e mulheres»,[36] e ainda «todas as autoridades e cônsules, juízes e reitores, em qualquer parte da terra»[37] a fazerem penitência e a receberem o Corpo do Senhor com humildade e veneração.[38]


Grandemente preocupado com a ignorância e o pecado de alguns,[39] escreveu aos sacerdotes que entretanto a ele se juntaram:


«celebrem o verdadeiro sacrifício do Corpo e Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo, com santa e pura intenção, e não por qualquer motivo terreno, nem […] para agradar aos homens. Ó miséria grande, ó miseranda fraqueza, terde-lo vós assim presente, e ocupardes-vos de qualquer outra coisa do mundo!»[40]


O respeito pelos sacerdotes


Apesar do que se disse acima acerca do comportamento pouco correcto de muitos sacerdotes no tempo de São Francisco, uma das grandes novidades do movimento nascido com o Santo de Assis foi, precisamente, o enorme respeito pelos sacerdotes.


Acreditamos que «foi a fé na Eucaristia que lhe inspirou uma gratidão profunda para com os sacerdotes, ministros do inefável sacramento.»[41] Quando movimentos heréticos como o dos Cátaros, de que já falámos, questionavam a validade da Eucaristia celebrada por sacerdotes “indignos”, Francisco mostrou um amor e uma reverência muito grande para com eles, recomendando aos seus irmãos: «dissimulai as suas quedas, supri as suas muitas faltas e, quando isto houverdes feito, mais humildes sereis.»[42]


Era seu desejo que se tivesse grande respeito pelas mãos do sacerdote. Dizia frequentemente:


«Se me acontecesse […] encontrar ao mesmo tempo um santo vindo do céu e um sacerdote pobrezinho, saudaria primeiro o sacerdote, correria a beijar-lhe as mãos e diria: “Um momento, por favor, São Lourenço, porque as mãos deste tocam o Verbo da Vida e possuem um poder sobre-humano”.»[43]


Francisco vai ainda mais longe: segundo a Legenda do Anónimo Perusino, pede aos seus irmãos que, se encontrarem um sacerdote montado a cavalo, beijem não apenas a mão ao sacerdote, mas também as patas do cavalo em que ele for montado.[44] Embora num estilo de “florinha”, essa história revela bem a reverência que São Francisco tinha para com os sacerdotes, «ministros de Deus».[45]


Conclusão


Viver o sacramento da Eucaristia ao jeito de São Francisco implica não só a comunhão do Corpo e Sangue do Senhor, a adoração silenciosa e amorosa do santíssimo Sacramento, o cuidado com as igrejas e os objectos sagrados e o respeito pelos Sacerdotes – como também a opção pelos pobres e marginalizados, imagens do Menino frágil evocado em Greccio, sempre presente no seio de quem pratica o Bem e anuncia a Paz.


Julgamos esta fé se mantém actual e pode servir de convite, neste Ano da Eucaristia, a um aprofundamento da nossa vivência eucarística e da nossa Fé neste sacramento. Mas será importante fazer um outro estudo para vermos também, na sua vida, a presença de Cristo por meio da Palavra de Deus – o fio condutor sempre presente nos seus escritos e na vida da sua Fraternidade.

______

  1. Cf. 1 C 33; 39; Fl 40.
  2. Aizpurúa, Fidel – El camino de Francisco de Asís. Valencia: Editorial Asís, 1991, p.16.
  3. Sanchos Alventosa, Joaquín – Con Francisco hacia Dios. Valencia: Editorial Asís, 1980, p. 371.
  4. Cf. 2 C 10; TC 13; LM 2,1. Utilizamos a edição portuguesa das Fontes Franciscanas - I, S. Francisco de Assis: Escritos, Biografias, Documentos. Braga: Editorial Franciscana, 1982. 1363 p.
  5. Cf. 1 R 6,3.
  6. Igreja Católica, Catecismo Igreja Católica. 2ª ed. Coimbra: Gráfica Coimbra, 1999, n. 1413, p. 365.
  7. Cf. Mt 28,20. Jesus assegura a sua presença, por meio de sinais, no seio da Comunidade unida na Caridade.
  8. Cf. EP 6.
  9. Cf. EP 56-57.
  10. Cf. TC 57; 1 C 62; 2 C 8.
  11. Cf. Mt 18,20. Jesus é apresentado por Mateus como Senhor da Comunidade, Emanuel, o Deus connosco.
  12. Cf. Mt 25,31-46. Ver também Mc 9,36-37.
  13. Cf. Jo 6,48-58.
  14. PPN 6.
  15. Cf. 1 C 84.
  16. Ex 1,21.
  17. Ex 1,19.
  18. MARTINS, José Saraiva – Eucaristia. Lisboa: Universidade Católica, 2002, p. 146.
  19. 2 C 201.
  20. Cf. 2 C 201.
  21. Cf. 1 CCt 6.
  22. Cf. CO 30-31.
  23. LM 9,2.
  24. Cf. IRIARTE, Lázaro – Historia Franciscana. Valência: Editorial Asis, 1979, p. 151.
  25. Cf. 1Pe 3,22.
  26. KOSER, Constantino – O Pensamento Franciscano. 2ª ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1998, p. 184.
  27. Ibidem, p. 182.
  28. CO 12.
  29. Martins, José Saraiva – Eucaristia. Lisboa: Universidade Católica, 2002, p. 147.
  30. Cf. T 5. Desde há muitos anos, existe a tradição, nalguns Conventos Franciscanos, de rezar todo o versículo 5 do Testamento, que a seguir transcrevemos, cada vez que se entra na capela da comunidade ou numa outra igreja: «Adoramos-te, santíssimo Senhor Jesus Cristo, aqui e em todas as tuas igrejas que estão por todo o mundo, e te louvamos, porque pela tua santa cruz remiste o mundo».
  31. PELVET, Jean – Fé e Vida Eucarísticas. In A Espiritualidade de Francisco de Assis. Braga: Editorial Franciscana, 1993, p. 105.
  32. TC 8.
  33. Cf. LP 18; EP 56.
  34. 2 C 201.
  35. 1 Cor 11,27-29.
  36. 2 CF 1.
  37. CGP 1.
  38. Cf. CO 12.
  39. Cf. CCl 1.
  40. Cf. CO 14.25.
  41. Iriarte, Lázaro – Vocação Franciscana. Petrópolis: Editora Vozes, 1976, p. 41.
  42. 2 C 146.
  43. 2 C 201.
  44. Cf. AP 37.
Extraído de http://www.promapa.org.br/2006/index.php?pag=artigos&exibartigo=154 acesso em 21 nov. 2009.

Ilustração: A última comunhão de São Francisco de Assis / Peter Paul Rubens. 1619. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Die_letzte_Kommunion_des_Hl_Franziskus_von_Assisi.jpg
acesso em 21 nov. 2009.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O QUE É MESMO A ETERNIDADE?















O QUE É MESMO A ETERNIDADE?

“Dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele a glória por toda a eternidade! Amém!” (Rm 11,36).

Às vezes, indagamos, em nossa naturalidade: Quem somos? De onde vimos? Para onde vamos? Qual é mesmo o verdadeiro sentido da vida? E por mais que nossas indagações se façam, continuamos sem respostas, pois, as buscamos ou em nós mesmos ou na natureza que nos rodeia, por isso, não as encontramos porque a criação não foi posta para nos dar respostas, mas como expressão do amor de Deus.

Também o Papa João XXIII se indagou: “Quem sou eu, de onde venho, para onde vou? (...) Eu sou o nada. Tudo o que possuo, o ser, a vida, o intelecto, a vontade, a memória, tudo me foi dado por Deus, portanto tudo pertence a Ele. (...) Mesmo há vinte anos, quando nasci, já existia tudo o que me cerca; existia o Sol, a Lua, as estrelas, os montes, os mares, os desertos, os animais, as plantas, os homens”.

“No mundo, as coisas procediam ordenadamente sob o olhar vigilante da Divina Providência. E eu? E eu não existia. Tudo aconteceria sem mim, ninguém me imaginava, nem mesmo em sonho, porque eu não existia. E Tu, meu Deus, por um inefável traço do teu amor, (...) tu me tiraste do meu nada, me comunicaste o ser, a vida, a alma”.

Amados irmãos e irmãs, nós somos frutos da predileção divina, Deus em sua Infinita Bondade nos escolheu, não por acaso, mas com o santo propósito de sermos perenes em seu Desígnio Criador. Pois, dentre os cerca de 300 milhões de espermatozóides, que numa corrida amorosa, se fizeram em direção ao óvulo, foi exatamente o que me gerou e te gerou que venceram essa corrida do amor; corrida sem brigas ou disputas, mas cheia de entusiasmo pela chegada.

E é exatamente aqui que nos defrontamos com o milagre da vida, eis a grande resposta do Amor de Deus para conosco: somos amados mesmo antes de existirmos, pois, o nosso existir é fruto desse Amor Criador, dessa revelação de sermos em Deus; como disse São Paulo: “É em Deus que nós vivemos, nos movemos e somos.” (At 17,28)

Falando a respeito da interação entre vida de oração e eternidade, Santo Agostinho assim se refere na Carta a Proba: ”Quem pede ao Senhor aquele único bem e o procura com empenho, pede cheio de segurança e não teme ser-lhe prejudicial o recebê-lo; sem ele, nada do que puder receber como convém lhe adiantará. Pois é a única e verdadeira vida e a única feliz. Contemplar eternamente a maravilha do Senhor, imortais e incorruptos de corpo e de espírito. Em vista desta única vida tudo o mais se há de pedir sem impropriedade. Quem a possuir terá tudo quanto desejar. Nem desejará o que não convém e que ali nem mesmo pode existir”.

“Ali, com efeito, está a fonte da vida, de que temos sede agora no coração, enquanto vivemos na esperança e ainda não vemos o que esperamos; à sombra de suas asas, diante de quem está todo nosso desejo, para embriagarmo-nos da riqueza de sua casa e bebermos da torrente de suas delícias. Porque junto dele está a fonte da vida e à sua luz, veremos a luz (cf. Sl 35,8-10), quando se saciar de bens nosso anseio e nada mais haverá a procurar com gemidos, mas só aquilo que no gozo abraçamos.”

Findo essa meditação com o que diz o salmista no Salmo 72: “Mas estarei sempre convosco, porque vós me tomastes pela mão. Vossos desígnios me conduzirão, e, por fim, na glória me acolhereis. Afora vós, o que há para mim no céu? Se vos possuo, nada mais me atrai na terra. Meu coração e minha carne podem já desfalecer, a rocha de meu coração e minha herança eterna é Deus”.

“Sim, perecem aqueles que de vós se apartam, destruís os que procuram satisfação fora de vós. Mas, para mim, a felicidade é me aproximar de Deus, é pôr minha confiança no Senhor Deus, a fim de narrar as vossas maravilhas diante das portas da filha de Sião”. (Sl 72, 23-28).

Amém, assim seja! Vem, Senhor Jesus!

Paz e Bem!

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quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A evolução das espécies: aspectos religiosos

Frei Luís Leitão - (luisleitao@promapa.org.br): Frei Luis Leitão pertence a Província Capuchinha Nossa Senhora do Carmo. Atualmente reside no Pós-Noviciado de Filosofia e também é o vice-diretor geral do IESMA(Instituto de Estudos Superiores do Maranhão)
Comemoram-se neste ano 150 anos da obra clássica de Darwin “A Origem das Espécies” (1859). Nesta obra, Darwin apresenta ao mundo um novo modo de conceber a existência dos seres viventes, dentre os quais o homem. Ora, se com Darwin, a partir do século XIX, o cientista passou a afirmar a origem do homem como um processo evolutivo de ancestrais símios, o crente desde mais ou menos 1.800 a.C até o século XXI, afirma a origem do homem como um ato voluntário da criação divina. Observa-se, com isto, que existe aqui um confronto inevitável entre ciência e fé. Por esta razão, este artigo intitula-se: “A evolução das espécies: aspectos religiosos”.

Pois bem, se a nossa arena é religiosa ou teológica, cabe, então, clarear de início isto que vou dizer: analisar a “Origem das Espécies”, a partir da vertente religiosa, significa ter como base central de referência do discurso e da discussão o Criador e não o criado; o inatingível e invisível da Revelação e não o fóssil tangível e visível da paleontologia, enfim, o princípio ontológico, que é Deus como causa incausada e fonte do ser, e não o fenômeno, que é o que nos aparece ou se nos apresenta na mutabilidade do mundo em devir.

Dito isto, façamos agora a seguinte pergunta: além do discurso científico, qual é a razão de ser do discurso religioso no debate sobre a Teoria da Evolução das Espécies? Em busca de uma resposta, devido à inevitabilidade do confronto entre ciência e fé, pode-se dar com certeza esta: está no fato de a teoria da evolução ter provocado uma revolução epistemológica na antropologia[1], isto é, o homem passou a ser visto e compreendido não mais como obra da criação divina na sua origem, mas sim como resultado original de um processo evolutivo. Processo evolutivo este que aponta como base ancestral do homem a velha história do macaco. Em termos críticos percebe-se nesta colocação do evolucionismo darwiniano uma concepção de homem de tendências materializantes[2]. Por isso, aos cientistas que se encontram diante de grande material de fósseis ditos humanos, o senso religioso analisa e pergunta. A análise é esta: de acordo com o material fóssil a tese é de que a etapa evolutiva da espécie humana começou com os símios, formando-se o tipo antropos, que evoluiu na direção do neandertalense até o homo sapiens, e cujo processo evolutivo devia ser lento regresso dos caracteres simiescos e progressão dos elementos “homo sapiens”[3]. Se o é, agora vem a pergunta: então “onde acaba o animal, e onde começa o homem?”[4]. Não tenho dúvidas, esta é uma pergunta difícil de a teoria da evolução das espécies responder, porque seu postulado interpretativo da origem dos seres viventes é mecanicista. Além disso, a documentação fóssil dos antepassados do homem – o macaco – é por demais fragmentária, o que nos leva a afirmar que as conclusões científicas neste setor estão ainda no campo das conjecturas[5]. Categoricamente, a teoria da evolução da origem das espécies nunca foi efetivamente comprovada[6]. E nunca o foi, porque a resposta mais difícil de ser dada está no perguntar-se pelo ‘“como se origina uma espécie”’[7]. Se dar uma resposta ao como se origina a espécie é a mais difícil do que responder ao onde apareceu e ao quando se formou, porque os dados atuais apontam para a África em torno de 150.000 anos[8], com muito mais razão difícil é responder ao como da origem biológica do homem. Isto permanece ainda totalmente na sombra e no hipotético[9]. Ora, esta lacuna deixada pela ciência, mostra-nos, pois, que há uma brecha para o discurso religioso, cuja visão evolutiva transcende os buracos cavados no chão pela pesquisa importante e necessária da paleontologia. Neste sentido, a impostação religiosa no que concerne à Origem das Espécies põe em evidência que “a fé deve considerar como indispensável a criação de ao menos um ser determinado: o homem” Por que? Porque “se o homem for apenas um produto da evolução, também o espírito é um efeito do acaso. Ora, se o espírito se originou por evolução – e, portanto, é um efeito do acaso –, então a matéria é a origem primeira e suficiente de tudo o mais. E, se isto é assim, então Deus, Criador e criação desaparecem por si mesmos”[10]. Daí, pois, o motivo pelo qual ao menos um ser determinado, no caso o homem, o discurso religioso não prescinde de defendê-lo como obra da criação e nunca como produto ascendente da seleção natural. Vê-se que o caminho científico e natural, pelo qual se tenta uma solução do problema da origem da espécie humana, desembocou no teológico. Por isso, é preciso dizer com certeza e clareza absoluta que o evolucionismo, se admitido relativamente à espécie humana, só pode referir-se ao corpo, uma vez que a alma se origina por criação imediata. Assim, não se poderá dizer o homem é resultado de evolução ascendente, mas só o corpo humano possivelmente é resultado da evolução ascendente. De fato, Pio XII na encíclica Humani Generis diz que “não se pode admitir a hipótese de evolucionismo a respeito das almas humanas”[11]. Esta convicção religiosa é profundamente válida e inegável, porque “cada homem é mais do que produto da massa hereditária e do ambiente, nenhum resulta só de fatores intra-mundanos que podem ser calculados; o mistério da criação envolve a cada um de nós”[12].

Dado, pois, que “o homem, na sua estrutura humana, um ser composto, ontologicamente considerado, é algo misterioso para as limitações acanhadas da razão finita que o observa”[13], há de dizer que a figura do homo sapiens sapiens (que é o homem atual) se apresenta – nos traços hoje disponíveis – com características tais que impõem à ciência mesma interrogações ainda mais problemáticas das de suas origens biológicas. Por exemplo, nesta nova espécie (homo sapiens sapiens) a “mente” se impõe como uma verdadeira “novidade”. TH. Dobzhansky, pesquisador e pensador que deu contribuições fundamentais ao tema da evolução, reconhece: ‘“Sem dúvida a mente humana separa de modo claro a nossa espécie dos animais não humanos. (...). A grandeza da diferença é uma diferença de tipo, não de grau. Por causa desta diferença primária a humanidade se torna um produto extraordinário e único da evolução biológica”[14].

Esta novidade do homo sapiens sapiens comunica que sua estrutura biológica é uma evidente obra prima intrinsecamente vinculada a uma componente não de ordem material, mas estreitamente espiritual. Componente esta que exercita a função mente, raiz comum das duas faculdades intelecto e vontade. Há uma estreitíssima relação mente-corpo, relação que implica dois aspectos: uma de ordem psicológica entre inteligência, vontade e livre-arbítrio e funções neurofisiológicas e fisiológicas do corpo; e uma de ordem metafísica na relação alma-corpo. Observam-se aqui forças não materiais, mas espirituais, das quais o cérebro não é consciente, mas o é a pessoa. E isto porque, segundo C.M. Streeter ao expor uma visão antropológica das neurociências, afirma: ‘“O cérebro não é a mente. O cérebro é a infra-estrutura fisiológica da mente”’[15].

Diante destas colocações, constata-se mais e mais que mente e consciência são dois fatores que separam nitidamente a espécie homo sapiens do resto do mundo animal. Mente, energia que pensa, reflete e se exprime através de uma linguagem compreensível, imensamente desenvolvida e extraordinariamente guiada pela atividade de milhões de neurônios que operam ordenadamente sem paragem no cérebro. E consciência, reflexão que examina o que a mente exprime para, a partir daí, julgar o valor: bem ou mal. No debate, pois, da Teoria da Evolução, a visão religiosa com sua inteligência da fé afirma e reafirma que o ser da espécie humana deve ser visto também a partir de um nível muito superior ao estritamente biológico, o qual não poderá nunca fornecer uma explicação convincente[16]. E sobre isto, convém dizer que, se para Darwin o mecanismo primário que determina a transformação são as mutações puramente genéticas casuais, e as que garantem uma melhor adaptação ao ambiente sobrevivem, há de dizer que os primeiros problemas para Darwin chegam com a descoberta das leis sobre a hereditariedade do sacerdote G.J Mendel (1822-84) e a sucessiva redescoberta que encaminha a genética moderna com a descoberta do DNA, uma vez que se chegará à conclusão de que a transmissão hereditária dos caracteres ocorre independentemente do ambiente e do corpo do indivíduo e se desdobra em base a leis precisas, não casuais[17]. Tal descoberta científica dá credibilidade à visão religiosa para continuar a afirmar que a espécie humana não é soma do acaso, mas obra precisa proveniente do intelecto criador. E aqui, deve-se saber que a posição religiosa não é anticientífica, mas transcientífica[18].

Por isso, “seria tolo e falso declarar a teoria da evolução como um produto da fé, embora também a fé tenha contribuído para que se desenvolvesse aquele horizonte de pensamento no qual se podia originar o problema da evolução. Mais tolo ainda seria considerar a fé como uma espécie de ilustração da teoria da evolução, fazendo que esta seja confirmada por aquela. O plano das perguntas e respostas da fé é absolutamente outro”[19].

Hoje a Igreja reconhece a autonomia dos pesquisadores no caminho científico para escolher a teoria que melhor esclareça o fenômeno da evolução[20]. E isto é muito pacífico porque, a batalha com Darwin já foi superada, uma vez que o postulado de seleção natural e a sobrevivência do mais forte recebem um contexto novo e atual. Com efeito, “ainda que o monge agostiniano Mendel nunca tenha falado de ‘genes’, ele se encontra na origem de uma nova maneira de ver o mundo, tanto em sua evolução quanto em sua continuidade”[21].

Por causa disto, “hoje não discutimos mais se Darwin tinha ou não tinha razão. Pelo contrário, hoje gostaríamos de saber o que a teoria da evolução significa para a fé e para a teologia. Que significa esta nova visão para uma visão crente do cosmo, da vida e do homem?”[22]. Se é importante na seleção natural a sobrevivência do mais forte, o que tem que ver esta teoria da evolução com Deus? Pois a salvação não se dirige acima de tudo aos derrotados?[23]. “Como se entende propriamente o mundo, se o concebemos de modo evolutivo?”.

Haja vista isto, concluo com o que diz o teólogo Joseph Ratzinger, atual Bento XVI: “A teoria da evolução não elimina a fé; ela tampouco a confirma. Contudo, ela a provoca a que se entenda mais profundamente a si mesma, ajudando assim o homem a entender-se a si mesmo e a tornar-se mais e mais aquilo que é: o ser que deve dizer eternamente tu a Deus”[24].
  1. Cf. HARING, hermann e THEOBALDO, Christoph. Evolução e fé. Concilium (fasc. 284-288). Petrópolis: Vozes, 2000. p.7.
  2. Cf. CATÃO, Bernardo. O Evolucionismo. Conceitos em Confronto com a Teologia. REB, vol. 21, fasc. 1. Petrópolis: Vozes, 1961. p.4.
  3. KOSER, Constantino. Avatares do Evolucionismo na Origem da Espécie Humana. REB, vol. 19, fasc.3. Petrópolis: Vozes, 1959. p.640.
  4. LOPES, Paulo. Poligenismo e Antropologia Teológica. REB, vol.21, fasc.1, 1961. p.29.
  5. LOPES, Paulo. Poligenismo e Antropologia Teológica. p.26.
  6. Cf. HARING, Hermann e THEOBALDO, Christoph. Evolução e fé. Concilium (fasc. 284-288), 2000. p.17.
  7. SERRA, Angelo. A 150 anni dall’origine delle specie di Darwin. La civiltà cattolica, vol.1, anno 160, quaderni 3805-3810. Roma, 2009.p.350.
  8. SERRA, Angelo. Le origini biologiche dell’uomo. La civiltà cattolica. Vol.4, quaderno 3559. Roma, 1998.p. 29.
  9. Cf. SERRA, Angelo. A 150 anni dall’origine delle specie di Darwin. p.352.
  10. RATZINGER, Joseph. Dogma e Anunciação. São Paulo: Loyola, 1977. p.114.
  11. KOSER, Constantino. A transmissão do pecado original e a origem da espécie humana. REB, vol. 21, fasc. 1. Petrópolis: Vozes, 1961. p.40
  12. RATZINGER, Joseph. Dogma e Anunciação. p.114.
  13. LOPES, Paulo. Poligenismo e Antropologia Teológica. p.24.
  14. Cf. SERRA, Angelo. Le origini biologiche dell’uomo. p.30.
  15. [15] Cf. SERRA, Angelo. A 150 anni dall’origine delle specie di Darwin. p.356.357.
  16. [16] Cf. SERRA, Angelo. A 150 anni dall’origine delle specie di Darwin. p.38.359.
  17. [17] Cf. RESPINTI, Marco. Processo a Darwin (resenha bibliográfica). La civiltà cattolica, vol.3, anno 159, quaderni 3793-3798. Roma, 2008.p.346.
  18. [18] Cf. LOPES, Paulo. Poligenismo e Antropologia Teológica. p.38.
  19. [19] RATZINGER, Joseph. Dogma e Anunciação. p.117.
  20. [20] Cf. MICHOLLET, Bernard. A evolução e o conceito de ser humano. Ensaio de interpretação de imago Dei. Concilium (fasc. 284-288). Petrópolis: Vozes, 2000. p.98.
  21. [21] MOSER, Antônio. Biotecnologia e bioética. Para onde vamos? Petrópolis: Vozes, 2004.p. 67.
  22. [22] Cf. HARING, hermann e THEOBALDO, Christoph. Evolução e fé. p.7.
  23. [23] IERSEL, Bas Van. Evolução e Bíblia. Dois códigos, duas mensagens. Concilium (fasc. 284-288). Petrópolis: Vozes, 2000. p.134.
  24. [24] RATZINGER, Joseph. Dogma e Anunciação. p.117.120.
Extraído de http://www.promapa.org.br/2006/index.php?pag=artigos&exibartigo=152 acesso em 21 nov. 2009.

Foto: Statue of Charles Darwin in the Natural History Museum, London / statue was created by Sir Joseph Boehm. 1885. Fotógrafo Patche99z, 2009. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Charles_Darwin_statue_5661r.jpg acesso em 21 nov. 2009.

AS DIMENSÕES DO HUMANO E A PRÁTICA DA FÉ
















AS DIMENSÕES DO HUMANO E A PRÁTICA DA FÉ

O sentido da vida, diz respeito ao que somos aqui para a eternidade; porque o que vivemos aqui é o que viveremos na eternamente, ou seja, se aqui vivemos o amor de Deus para com todos, certamente viveremos esse amor por todo o sempre. Então é bom desde já sermos fiéis nas pequenas coisas para recebermos o nosso galardão nas grandes (nos céus)...

A vida só tem sentido quando vivida por amor a Deus, quem o encontra tem a liberdade, realidade que o conduz ao céu; porque do mundo nada se leva, porque no mundo, sem a graça de Deus, tudo é ilusão, visto que aqui e eternamente só Deus é a única felicidade, fora Dele nada há...

EIS AS DIMENSÕES DO HUMANO E A PRÁTICA DA FÉ

Dimensão espiritual: é aquilo que diz respeito à nossa alma, ou seja, somos eternos (cf. Gn 1,26) e tudo o que fazemos, para a eternidade é que fazemos, como escrevi acima. Por isso precisamos fazer para Deus porque tudo o que fazemos tem a sua recompensa: quem ama tem a recompensa do amor; quem perdoa tem a recompensa do perdão; quem compreende tem a recompensa da compreensão, etc. Se, porém, falharmos nisso, teremos como recompensa o produto nefasto dos nossos erros, que chamamos de perdição, infelicidade, maldição, etc.

Ensinando sobre isto são Paulo escreve: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba. O que o homem semeia, isso mesmo colherá. Quem semeia na carne, da carne colherá a corrupção; quem semeia no Espírito, do Espírito colherá a vida eterna. Não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo colheremos, se não relaxarmos. Por isso, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos os homens, mas particularmente aos irmãos na fé.” (Gal. 6,7-10).

A Dimensão Biológica: é tudo o que diz respeito ao nosso corpo, ou seja, somos templos do Espírito Santo e temos que nos amar como templos do Espírito Santo; não somos objetos sexuais como a sociedade escrava dos instintos prega; somos lugares sagrados onde Deus habita e precisamos viver como tais. (cf. 1Cor 3,16-17)

Dimensão Psicológica: é tudo o que diz respeito ao nosso psique, ou seja, nossos pensamentos de onde nascem? Veja o que São Paulo nos ensina: "Além disso, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é nobre, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, tudo o que é virtuoso e louvável, eis o que deve ocupar vossos pensamentos". (Fl 4,8).

Dimensão Moral: a palavra moral vem de “mors” que em Latim significa: lei, ordem. Ora, uma vida desordenada é uma vida bagunçada, sem nexo, sem sentido; pelo contrário uma pessoa moralmente equilibrada é, de fato, uma pessoa conduzida pelo Espírito Santo. Vede o que São Paulo escreve a este respeito:

“Os que vivem segundo a carne gostam do que é carnal; os que vivem segundo o espírito apreciam as coisas que são do espírito. Ora, a aspiração da carne é a morte, enquanto a aspiração do espírito é a vida e a paz. Porque o desejo da carne é hostil a Deus, pois a carne não se submete à lei de Deus, e nem o pode. Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus”.

“Vós, porém, não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito, se realmente o espírito de Deus habita em vós. Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é dele. Ora, se Cristo está em vós, o corpo, em verdade, está morto pelo pecado, mas o Espírito vive pela justificação.” (Rom 8,5-10).

EIS A PRÁTICA DA FÉ

Para vivermos mais perfeitamente a nossa vida de fé, precisamos da oração pessoal e comunitária; da meditação da Palavra de Deus e da contemplação dos mistérios de sua paixão, morte e ressurreição, como exercícios da alma que nos ajuda a crescer na graça, na sabedoria e no amor do Senhor.

Todavia, não podemos esquecer as obras da fé, porque... “Somos obras de Deus, criados em Jesus Cristo para as boas ações, que Deus de antemão preparou para que nós as praticássemos”. (Ef 2,10). De fato, precisamos trabalhar para o Reino de Deus nos engajando em algum movimento ou comunidade da Igreja, tais como: Grupo de Jovem, Renovação Carismática, Liturgia, Ministério de Música, Pastoral do Batismo e tantos outros.

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.

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terça-feira, 24 de novembro de 2009

UM SÓ AMOR
















UM SÓ AMOR...

Os teus olhos ...
São como chamas vivas...
Acesas labaredas infinitas...
Iluminando nossas almas...
Nossos corações...

Adentro os teus mistérios...
Fitando a beleza inigualável do teu olhar...
Que me toma para si...
e me faz delirar...
o delírio do mais profundo amor...

Ó ardor incomparável...
Ó harmonia inestimável...
Ó doçura pura...
cheia de ternura..
dos que se tornam Um...

Um só em Deus...
Um só amor...
Uma só fé...
Um único Senhor...

E tudo isso...
Vejo em ti...
Vês em mim...
Vemos em Deus...
Porque só em Deus...
e somente Nele...
a vida é eterna...
o amor não tem fim...

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.

PS: Poema dedicado ao amor de Ceci e Altino...meus irmãos na fé e de coração...


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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Fraternidades: nossa riqueza

Este texto seguiu de perto o capitulo Vivere la fraternità, do livro "La gioia di viverei il Vangelo", de Michel Hubaut, OFM, publicado pelas Edizioni Messaggero de Padova, p. 22-33

Frei Almir Ribeiro Guimarães,OFM (*)

1. O Documento final do Capítulo da OFS de Manaus pediu que fosse feito um esforço de revigoramento das reuniões mensais e da vida fraterna. O tema da fraternidade é vasto e complexo. Não é finalidade deste texto refletir sobre todos os seus aspectos e implicações. Desnecessário lembrar e frisar que a dimensão da fraternidade perpassa toda a Regra e colore o projeto de vida dos seculares. Constituímo-nos em Fraternidades. Somos Fraternidades da Ordem Franciscana Secular.

2. Ser irmão significa não querer dominar, mas servir. Uma das palavras-chaves da espiritualidade franciscana é servir. Nos escritos de Francisco encontramos mais de cinqüenta vezes o verbo servir e perto de vinte vezes o substantivo servo. Belo e sugestivo o que Francisco escreve: “Neste gênero de vida, nenhum irmão tenha poder ou dominação, principalmente entre si. Pois, como diz o Senhor no Evangelho: Os príncipes dos povos os dominam e os que são maiores exercem poder sobre eles, assim não será entre os irmãos. Mas todo aquele que quiser tornar-se maior entre eles, seja ministro e servo deles. E quem entre eles é o maior, faça-se como menor” (...) “E nenhum irmão faça ou fale mal do outro. Antes, pelo contrário, sirvam e obedeçam de boa vontade uns aos outros na caridade do espírito” (Regra não Bulada 5,12-17).

“E ninguém se chame prior mas, neste gênero de vida, todos se chamem irmãos menores. E um lave os pés dos outros”( Regra não Bulada 6,3).

3. Os relacionamentos fraternos entre os discípulos de Francisco situa-se na linha dos servidores. Na experiência do Poverello, em sua juventude, ele compreendeu que os relacionamentos humanos eram marcados pela dialética do padrão e do empregado, do forte e do fraco, do superior e do inferior. Sabemos que a mesmo impulso nos ronda: a grande tentação do poder, ser o maior, o mais inteligente, o mais brilhante, o mais forte, em resumo, o primeiro. Normal que as pessoas queiram avançar e progredir. Francisco compreendeu claramente que esse desejo fundamental de afirmar-se tem como perversão o desejo do domínio e da apropriação. Somos todos capazes de fazer uma lista de exemplos concretos disso no campo profissional, nos relacionamentos nacionais e internacionais e mesmo nos ambientes eclesiais. Nossa sociedade, baseada na competição e competitividade, é feita para os lobos e não para os fracos e débeis. No Evangelho, notamos a vontade de brilhar dos filhos de Zebedeu. Francisco quer construir sua nova fraternidade baseada na idéia do serviço. Para ele, converter-se à fraternidade significa passar gradualmente do dominador que dorme em cada um de nós ao servo dos irmãos.

4. Francisco fará do mútuo serviço, vivido em minoridade, na igualdade, na simplicidade, na humildade um dos fundamentos da fraternidade. Ele sabe que cada grupo humano precisa de pessoas responsáveis pelo seu andamento. Mas sua autoridade não pode ser um poder de domínio, mas um serviço. “Os ministros acolham os irmãos com caridade e benevolência. Tenham-lhes tanta familiaridade que os irmãos possam lhes falar e proceder como senhores para seus servos. Pois assim deve ser que os ministros sejam servos de todos os irmãos” (Regra Bulada 10,5-6).

5. Servir significa partilhar com confiança. Para Francisco ser irmão significa querer servir os outros. Isso pressupõe que conheçamos suas necessidades. Fraternidade é um lugar onde cada pessoa pode dar, pedir e receber. “Onde quer que estejam os irmãos, mostrem-se familiares uns com os outros. E cada um manifeste ao outro com confiança suas necessidades, porque como uma mãe nutre e ama seu filho carnal com mais cuidado não deve um amar e nutrir seu irmão espiritual? E se algum cair doente que os irmãos o sirvam como gostariam de ser eles mesmos servidos” (Regra Bulada 6,79). Francisco fala da pobreza e da fraternidade no mesmo texto. Não se pode dissociar fraternidade e pobreza. O pobre é alguém que se encontra na necessidade. Todos somos pobres de alguma coisa. Para cobrir esta pobreza, o Senhor nos dá irmãos e irmãos que nos complementam. Tornamo-nos como transmissores das atenções de Deus para com nossos irmãos e irmãs. O homem satisfeito consigo mesmo nunca será irmão. A fraternidade supõe pessoas que, ao mesmo tempo, dão e recebem. Se no casal, na sociedade e em nossos grupos apenas recebemos não existe fraternidade. O paternalismo gera seres infantis e assistidos e não irmãos e irmãs.

6.Francisco privilegia a imagem da mãe. Características do amor maternal: ternura vigilante, intuição, devotamento. Francisco fala do amor espiritual para significar que não estamos num ajuntamento qualquer, mas na força do Espírito que une e cimenta os relacionamentos.

7. A fraternidade é o primeiro lugar de nossa conversão. É no nível dos relacionamentos que se exercita e se verifica nossa vida de fé. Desde o momento do encontro com o leproso Francisco sabe que converter-se ao Evangelho é, antes de tudo, sair de si mesmo. Uma fraternidade com os mais simples... encontra-los, servi-los, viver com eles. Nesse dia, ele descobre a fraternidade. Mais tarde haverá de compreender que o Cristo fez a mesma opção, ou seja, viver a singeleza e pobreza do ser humano. Cristo sai de si mesmo. Cada manhã podemos fazer a escolha de sairmos de nós mesmos e caminhar na direção do Senhor e dos outros. A vida de fé é sempre uma saída de si, sempre um êxodo na busca de uma maior felicidade.

8. Os irmãos que o Senhor nos dá constituem um convite à conversão. Eles nos instigam a que nos superemos. Sua maneira de ser e a convivência com eles nos revelam quem somos nós. Os relacionamentos entre as pessoas são um lugar de prova, de verificação onde cada um faz a verdade. Não se pode trapacear com aqueles que vivem todo o tempo conosco. Os irmãos me fazem descobrir meu pecado: inveja, bloqueios, trevas, pobreza, incapacidade de amar de verdade sem dobrar-me sobre mim mesmo. Somente a pessoa que faz a verdade de si pode ser irmão.

9. Os que buscam uma fraternidade ideal (ou um casal ideal) é quem vive na ilusão e não na verdade. Sonha com uma fraternidade ideal e não a constrói cada dia. Um dos fundamentos da fraternidade é assumir as grandezas e as misérias dos outros. O mistério da cruz está plantado no seio das fraternidades e do casal. A vida fraterna será um sucesso se for uma vitória cotidiana, vitória do Espírito, sobre o caos do pecado.

10. A fraternidade evangélica não existe ainda. Está sendo construída. É uma história, uma utopia criativa, uma tensão fecunda. Cada um de nós não cessa de converter-se ao amor fraterno. Onde quer que homens e mulheres desejem viver a fraternidade evangélica sempre se erguerão forças caóticas para destruí-la. Podemos designá-los de diabo, trevas ou o simplesmente o mal. Não se vive a fraternidade “como reserva celeste”. Em todas as comunidades há doentes, velhos impotentes, pessoas difíceis... que constituem uma parte do povo que marcha na direção de Deus.

11. Não se vive a fraternidade como espaço idealizado. Francisco viveu a fraternidade como um lugar pascal. Nela encontrou suas maiores alegrias, mas também grandes sofrimentos. Ali, desta maneira, ele entrou na verdadeira pobreza evangélica.

Concluindo

Nossas fraternidades constituem nossa riqueza e nosso patrimônio.
Há nelas um pulular de talentos.
Quando se fecha uma fraternidade, via de regra, o motivo foi a negligência no campo do fraternismo.
Histórias aquecem histórias, histórias aquecem histórias.

Pontos práticos a respeito das reuniões e vida fraterna
1. Nossa riqueza são nossas fraternidades concretas: os talentos de tantos que não podem ser desconsiderados. Pobres são as fraternidades em que apenas alguns circulam pelos seus espaços.
2. Todos precisam participar da vida da fraternidade. É sinal de doença quando fraternidades não têm candidatos para os serviços necessários.
3. Atenção toda especial deve ser dada no sentido de que não haja faltas às reuniões e que os afastados sejam buscados. Os que faltam à reunião serão convidados a justificar a ausência com antecedência.
4. Sinal de fraternidade é a correponsabilidade na contribuição financeira.
5. Certamente será fundamental valorizar a reunião geral. Esta precisará de revestir de alguns elementos:
Realizá-la respeitando seus tempos: oração, estudo e confraternização. Nunca ela pode ser ocasião de tédio. Todos precisam ter vontade de voltar no mês seguinte.
Não durar nem demais, nem de menos.
Pedir pontualidade.
Realizá-la em lugar marcado por certa beleza…
Inventar mecanismos para que os irmãos se encontrem em outros momentos, sem obrigação e coação.
Fazer uma reunião opcional para estudo e oração.
Fazer de dois em dois ou mais os trabalhos pastorais.
Cuidar que algumas vezes a fraternidade tenha celebração eucarística própria.
Que o maior número de irmãos tenham tarefas na reunião mensal ou em outros momentos da vida da fraternidade. Ninguém se sinta aposentado.
6. Necessário preparar os irmãos para os cargos e serviços.
7. Fazer reuniões de tal modo que sejam convidados umas duas vezes por ano familiares, filhos, netos e amigos.
8. Quando as fraternidades são grandes há o costume de se dividir a mesma em grupos de vivência fraterna, orante e de estudo.
9. Cuidar carinhosamente da visita aos irmãos enfermos e idosos.

(*) Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM, Assistente Nacional pela OFM e Assistente Regional do Sudeste II

Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/almir/artigos/ofs/10.php acesso em 23 nov. 2009.

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