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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

PENSANDO EM DEUS E NAS COISAS QUE DIZEM RESPEITO À NOSSA SALVAÇÃO

















PENSANDO EM DEUS E NAS COISAS QUE DIZEM RESPEITO À NOSSA SALVAÇÃO

Ø  Aqui entre nós nem tudo é perfeito, mas como estamos numa escola de santidade, precisamos aprender as lições de humildade do amor de Deus para sermos santos como o Senhor é Santo...

Ø  Todo o amor verdadeiro requer correspondência para criar raízes e crescer e dar frutos em abundância; sem a correspondência de nossa parte não há amor nem fruto algum que cresça... Portanto, amar a Deus sobre todas as coisas é o único meio da vida permanecer plena de amor e bons frutos...

Ø  Os homens com sua ciência querem provar que o universo surgiu sem que um autor o tivesse criado; por isso, inventaram a teoria evolucionista e a do “Big Bang”, com o intuito de negar o autor da criação; ora, mesmo as coisas mais elementares tem em seu autor a origem que as faz existir e mesmo a ciência humana tem no homem sua origem e permanência; logo, não há razão de ser para negar a Deus como autor da criação...

Ø  Querer negar a verdade que fala e revela qual seja sua divina vontade é negar seus desígnios de amor para conosco com interpretações subjetivistas... Ora, essa negação não passa de opiniões pessoais cheias de conjecturas e palavreado figurado, na tentativa de enganar os incautos...

Ø  A realidade divina difere da nossa, pois Deus é Santo e nos ama perfeitamente, por isso, precisamos amá-lo com entrega total e esse amor, resgatará nossa humanidade e a elevará à perfeição do Seu divino amor...

Ø  Senhor, a nossa miséria não pode ser curada por nós mesmos; é de Ti que necessitamos para nos reerguermos...

Ø  À Deus tudo é possível; à nós cabe gozar desse privilégio santo...

Ø  A Igreja Católica é a parte visível do Reino de Deus neste mundo, por isso, ela é conduzida pelo Espírito Santo na Pessoa do Santo Padre, queiram os homens ou não...

Ø  Simplesmente linda, é a alma tomada pelo amor de Deus... E também simplesmente eterna, como Eterno é Aquele que nos fez...

Ø  A oração, o diálogo com Deus, é um bem incomparável, porque nos põe em comunhão íntima com o Senhor, e faz sua vontade acontecer em nossa vida...

Ø  Quando comungares, procura experimentar interiormente Aquele que comungas e ouvi-lo atentamente, pois o Senhor no momento de nossa comunhão age profundamente em nossas almas, santificando-nos de tal forma que o menor esforço para ouvi-lo já é graça infinita...

Ø  Lembra sempre, quem comunga Jesus nunca está só, porque o Senhor não deixa, visto que sem Ele nada podemos fazer (Cf. Jo 15,5)...

Ø  Em Jesus temos o mais perfeito prazer que a alma pode sentir aqui e por toda a eternidade... Nada neste mundo se compara com o prazer de comungar o Corpo e Sangue, a Alma e a Divindade de nosso Senhor Jesus Cristo, e Senhor de toda vida...

Ø  A vida eterna é o que devemos levar sempre em conta, pois nada é por acaso e a vida eterna consiste em viver em comunhão com Deus aqui e por toda a eternidade...

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv. 


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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Operação Gutiérrez

Extraído de http://www.ihu.unisinos.br/noticias/505277-operacao-gutierrez acesso em 22 dez. 2011.
O "pai nobre" da Teologia da Libertação foi valorizado por ocasião de uma apresentação oficial do livro doPapa Ratzinger sobre Jesus. Exatamente enquanto o seu nome é utilizado instrumentalmente nas manobras em torno da nomeação do próximo prefeito do ex-Santo Ofício.

A reportagem é de Gianni Valente, publicada no sítioVatican Insider, 20-12-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Ao arcebispo de OristanoIgnazio Sanna, estimado por muitos pela liberdade e pela clarividência do seu olhar pastoral sobre as coisas da Igreja e do mundo, também deve ser reconhecida uma dose de coragem incomum. Foi possível ver isso durante a última etapa do ciclo de apresentações universitárias do livro Jesus de Nazaré, de Joseph Ratzinger-Bento XVI, coordenado pela Livraria Editora Vaticana e pelo professor Pierluca Azzaro (Università Cattolica del Sacro Cuore), que concluiu na Universidade de Sassari no dia 9 de dezembro passado.

Nessa ocasião, no seu rico discurso dedicado à obra ratzingeriana, o bispo da Sardenha também falou em termos de admiração e de reconhecimento sobre o teólogo peruano Gustavo Gutiérrez, por ele definido como "o pai nobre da Teologia da Libertação".

Em uma passagem da sua fala – que não foi retomada pelas notícias do L'Osservatore Romano nem pela síntese do relatório publicado no site da diocese de Oristano –, Dom Sanna repropôs a conexão captada por Gutiérrez entre os relatos evangélicos da Última Ceia e o lava-pés. No Evangelho de JoãoJesus pede aos seus que repitam esse gesto de acolhida e de humildade – do qual se faz memória em todas as paróquias durante a missa da Quinta Feira Santa – com palavras semelhantes às por ele usadas nos Evangelhos sinóticos com relação à instituição da Eucaristia. "Servir o pobre", acrescentou Sanna, concordando com a sugestão de Gutiérrez, é "um modo de fazer memória de Cristo".
Nestes tempos, até mesmo o simples consenso tributado às reflexões exegéticas de Gustavo Gutiérrez assume um caráter emblemático. Nas últimas semanas, o nome do teólogo peruano foi utilizado como arma contundente nas manobras em curso em torno da iminente nomeação do novo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.

Entre os possíveis sucessores do cardeal norte-americano William Joseph Levada, atualmente à frente do ex-Santo Ofício, o jogo de previsões de nomeações tinha inserido também o bispo de RegensburgGerhard Ludwig Müller, curador daOpera Omnia de Joseph Ratzinger. Os não entusiastas dessa hipótese, na tentativa de sabotar a candidatura do bispo-teólogo alemão, estão usando como principal argumento impeditivo a sua amizade e a sua jamais escondida proximidade comGustavo Gutiérrez, que também foi professor de Müller.

Em particular, como certificado de não idoneidade ao papel de guardião da doutrina católica, é lembrada a conferência pública proferida por Müller em Lima, em 2008, durante a cerimônia de entrega do doutorado honoris causa a ele concedida pelaPontifícia Universidade Católica do Peru. Nessa ocasião, o bispo de Regensburg havia definido como plenamente ortodoxa a teologia do seu mestre e amigo peruano.
A 40 anos da publicação do seu livro, Teología de la Liberación, que inaugurou a própria definição da conhecida corrente teológica latino-americana, o padre Gutiérrez – que entrou para a ordem dominicana em 1999 – poderia ser tentado por orgulho profissional a ver que ainda hoje a aproximação do seu nome é central para a seleção do novo guardião da ortodoxia católica. Na realidade, mais do que documentar a contínua influência do teólogo de 83 anos que foi aluno de gigantes do calibre de Henri de Lubac Yves Congar, a "operação Gutiérrez" em curso nos palácios do outro lado do Tibre diz muito sobre os mecanismos que influenciam a cooptação de novos dirigentes nos dicastérios do Vaticano.

As obras de Gutiérrez foram avaliadas durante anos pelo exame rigoroso da Congregação para a Doutrina da Fé na sua longa fase ratzingeriana, sem jamais sofrer qualquer condenação. O longo discernimento visava sobretudo a obter do autor um distanciamento público de algumas interpretações errôneas da sua reflexão teológica – jamais posta em causa enquanto tal – e de alguns abusos pastorais que nela se diziam inspirar.

O longo discernimento, que durou de 1995 a 2004, também envolveu o episcopado peruano e se concretizou na escrita de um ensaio – intitulado La Koinonía eclesial –  longamente retocado pelo próprioGutiérrez, em linha com as observações provenientes de Roma e publicado na sua versão final na revistaAngelicum em 2004. O próprio Ratzinger, no dia 17 de dezembro daquele ano, escreveu uma carta ao dominicano argentino Carlos Alfonso Azpiroz Costa – naquele tempo Mestre Geral da Ordem dos Pregadores – em que dava "graças ao Todo-Poderoso pela satisfatória conclusão deste caminho de esclarecimento e de aprofundamento".

As garantias certificadas pessoalmente por Joseph Ratzinger sobre a ortodoxia católica de Gutiérrez deveriam ser suficientes para tranquilizar aqueles que se mostram mais ansiosos com o destino da reta doutrina. A própria trajetória do teólogo peruano, com a sua constante disposição de fidelidade com relação ao magistério eclesial, poderia fornecer um ponto de referência concreto para reconhecer as válidas intuições que estiveram na origem da Teologia da Libertação e favorecer uma reconciliação pacificadora da memória no interior do catolicismo latino-americano e de toda a Igreja universal, depois do tempo das guerrilhas teológicas e das campanhas de "normalização".

Mas talvez, para alguns amantes do xadrez dos organogramas vaticanos, é mais cômodo que o nome de Gutiérrez continue sendo um espantalho para ser agitado ao ritmo dos velhos clichês, quando convém.

sábado, 24 de dezembro de 2011

O Milagre de Natal na Vida de Clara de Assis

O Milagre de Natal na Vida de Clara de Assis

A Grande experiência de Clara com Deus foi em março de 1212. Na noite do domingo de Ramos, Clara di Favarone foge de casa e é recebida na Porciúncula por Francisco de Assis. Talvez em maio Clara fica alguns dias no mosteiro de São Paulo e algumas semanas no mosteiro beneditino de Panzo (perto de Assis) e por fim recolhe-se a São Damião, onde fica até a sua morte, em 1253.
Clara viveu uma vida de discipulado, oração e jejum. Foi um exemplo de discípula dedicada ao Ministério da Oração e Intercessão.
Certa vez Clara estava gravemente enferma. Por causa de sua enfermidade, não pode ir a igreja com as suas irmãs em Cristo.
Estava chegando o grande dia da solenidade do Natal de Cristo. Todas as irmãs foram ao Culto da Madrugada (Matinas);
Clara ficou sozinha no leito, triste por não poder ir ao Culto de Natal que simbolizava para ela uma consolação espiritual.
O Senhor Jesus Cristo não querendo deixá-la assim desconsolada, fê-la miraculosamente transportar à igreja e assistir a todo o ofício e o à missa da meia-noite; e além disto, receber a santa ceia e depois ser trazida ao leito. Foi um acontecimento espiritual.
Voltando as irmãs para junto de Clara, acabado o oficio na Igreja, disseram-lhe: "Ó nossa mãe, Clara, que grande consolação tivemos nesta noite de santa Natividade! Prouvesse a Deus que houvésseis estado conosco!"
Clara respondeu: "Graças e louvores rendo ao meu Senhor Cristo bendito, irmãs minhas e filhas caríssimas; porque a todas as solenidades desta santíssima noite e maiores do que as que assististes, assisti eu com muita consolação de minha alma; porque, estive presente na igreja; e com os meus ouvidos corporais e mentais ouvi o canto e o som dos órgãos que aí tocaram; e lá mesmo recebi a santa comunhão. E por tanta graça a mim concedida rejubilai-vos e agradecei a Nosso Senhor Jesus Cristo.
Clara participou do Culto de Natal na Igreja, mesmo não podendo estar presente opor causa das enfermidades.
É assim que Deus opera na vida da pessoa que crê em Jesus Cristo. Nada pode limitar nossa caminhada na fé, mesmo as maiores lutas e enfermidade.

Oração:
Senhor Jesus. Nesta santa noite de Natal desejamos reafirmar nossa fé perseverante no Senhor. Em ti transpomos barreiras e obstáculos. Com o Senhor conseguimos caminhar mesmo estando em lutas e aflições. O Senhor nasceu. Por causa do Seu nascimento, vida, morte e ressurreição, temos o perdão dos pecados e a vida eterna. Louvado seja o Pai, Filho e espírito Santo. Amém

Rev. Edson Cortasio Sardinha

Fonte Biográfica: OS FIORETTI DE S. FRANCISCO DE ASSIS: Capítulo 35. Como, estando enferma, S. Clara foi miraculosamente transportada, na noite de Natal, à igreja de S. Francisco e aí assistiu ao ofício.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A MANIFESTAÇÃO DO MISTÉRIO ESCONDIDO


                                       














MANIFESTAÇÃO DO MISTÉRIO ESCONDIDO

Único é o Deus que conhecemos, irmãos, e não por outra fonte que não seja a Sagrada Escritura. Devemos, pois, saber o que ela anuncia e compreender o que ensina. Creiamos no Pai como ele quer ser acreditado; glorifiquemos o Filho como ele quer ser glorificado; e recebamos o Espírito Santo como ele quer se dar a nós. Consideremos tudo isso, não segundo nosso próprio arbítrio e interpretação pessoal, nem fazendo violência aos dons de Deus, mas como ele próprio nos ensinou pelas santas Escrituras.

Quando só existia Deus, e não havia ainda nada que existisse com ele, decidiu criar o mundo. Criou-o por seu pensamento, sua vontade e sua palavra; e o mundo começou a existir como ele quis e realizou. Basta-nos apenas saber que nada coexistia com Deus. Não havia nada além dele, só ele existia e era perfeito em tudo. Nele estava a inteligência, a sabedoria, o poder e o conselho. Tudo estava nele e ele era tudo. E quando quis e como quis, no tempo que havia estabelecido, manifestou o seu Verbo, por quem fez todas as coisas.

Deus possuía o Verbo em si mesmo, e o Verbo era imperceptível para o mundo criado; mas fazendo ouvir sua voz, Deus tornou-o perceptível. Gerando-o como luz da luz, enviou como Senhor da criação aquele que é sua própria inteligência. E este Verbo, que no princípio era visível apenas para Deus e invisível para o mundo, tornou-se visível para que o mundo, vendo-o manifestar-se, pudesse ser salvo. O Verbo é verdadeiramente a inteligência de Deus que, ao entrar no mundo, se manifestou como o servo de Deus. Tudo foi feito por ele, mas ele procede unicamente do Pai. Foi ele quem deu a lei e os profetas; e ao fazê-lo, impulsionou os profetas a falarem sob a moção do Espírito Santo para que, recebendo a força da inspiração do Pai, anunciassem o seu desígnio e a sua vontade.

O Verbo, portanto, se tornou visível, como diz São João. Este repete em síntese o que os profetas haviam dito, demonstrando que aquele era o Verbo por quem tinham sido criadas todas as coisas: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus; e o Verbo era Deus. Tudo foi feito por ele e sem ele nada se fez (Jo 1,1.3). E, mais adiante, prossegue: O mundo foi feito por meio dele, mas o mundo não quis conhecê-lo. Veio para o que era seu, os seus, porém, não o acolheram (Jo 1,10-11).

Paz e Bem!

Fonte: Do Tratado contra a heresia de Noeto, de Santo Hipólito, presbítero. - (Cap. 9-12: PG 10, 815-919) (Séc. III).

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O princípio da contemplação em Clara e Francisco

[por Frei Dorvlino Fassini, OFM]



A programação dos festejos jubilares da conversão de Santa Clara escolheu alguns temas considerados fundamentais para o carisma não apenas de Santa Clara e das clarissas, mas também de São Francisco e de todos os franciscanos. Com isso, deseja-se fazer do ano jubilar dos 800 anos de Vida clariana um momento de retorno aos princípios originários de nossa espiritualidade. Entre esses princípios está a contemplação.


Essa escolha se justifica porque, de fato, não dá para imaginar um São Francisco ou Santa Clara, e, consequentemente, um franciscano, sem vida contemplativa. Parafraseando alguém que disse que o cristão de amanhã ou será místico ou não será nada, podemos, dizer, semelhantemente, para nós, que o franciscano de amanhã ou será contemplativo ou não será nada. Ou seja, se não se resgatar essa dimensão originária de nossa identidade seremos como sal que perdeu seu vigor e que, por conseguinte, não serviremos para mais nada senão sermos jogados fora, à margem da humanidade.


Devemos, então e primeiramente, perguntar-nos como foi a vida contemplativa de Francisco, de Clara e dos primeiros frades? Ou, o que e como vem a ser contemplação franciscana, ser contemplativo, tanto para as Irmãs clarissas que vivem essa dimensão, enclausuradas, como para nós frades e irmãs de vida ativa, ou franciscanos seculares que vivemos peregrinos no mundo? E, para ampliar mais ainda esse questionamento, como falar de vida contemplativa franciscana, quando nós, hoje, pastoralistas, ativistas, agentes e consumistas de todos os tipos e gostos, somos tão pouco contemplativos?


Diante dessa dificuldade não nos resta outro caminho senão tentar ouvir o testemunho deles mesmos, isto é, de Clara, Francisco e daqueles que presenciaram seus enlevos místicos.


Assim, para começar, olhemos uma passagem de Santa Clara:
Portanto, caríssima Irmã, mas senhora, muito veneranda, porque sois esposa, mãe e Irmã de meu Senhor Jesus Cristo, assinalada, com todo o esplendor, pelo estandarte de uma virgindade inviolável e da santíssima Pobreza, confortai-vos no santo serviço, iniciado pelo ardente desejo do Pobre Crucificado, que, por todos nós, suportou a Paixão da cruz, arrancando-nos do poder do príncipe das trevas, ao qual estávamos presos pela transgressão dos primeiros pais, reconciliando-nos com Deus Pai. (2CCL 11-13)

O que Clara diz, aqui, acerca da contemplação é muito pouco, mas é tudo porque nos remete para dentro da raiz, da fonte, sem a qual jamais haveria qualquer momento de contemplação ou de êxtase nem para Francisco, nem para Clara, nem para qualquer outro franciscano. Notemos que Santa Clara exorta sua Irmã a assentar seu santo serviço sobre o princípio do ardente desejo do Pobre crucificado. Santo serviço, na espiritualidade cristã medieval indicava, sem mais e nem menos, a Vida religiosa ou consagrada, como diríamos hoje. Portanto, diz Clara à sua Irmã, não esqueça jamais que sua experiência de esposa, mãe e irmã de Jesus Cristo não nasce de você, mas Daquele que é capaz de ir até a morte e morte de Cruz, só para merecer um pouquinho de sua atenção e de seu amor.


Foi esse mesmo ardente desejo do Pobre crucificado que, primeiramente, ferira o coração de Francisco em seu encontro com o Crucificado de São Damião e, posteriormente, o coração de todos os seus seguidores, mormente de Santa Clara. Só que nós, hoje, estamos tão acostumados a falar do “desejo ou da paixão de Cristo” que pouco ou quase nada mais repercute em nossa mente e coração. Quando olhamos, porém, para Clara e Francisco não podemos deixar de perceber que o atingimento que provem desse encontro tornara-se para eles uma questão de vida ou morte. Ou seja, no princípio de sua nova existência, de seu novo “ser cristão” não está uma decisão ética ou uma grande idéia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo de toda a humanidade (Hermógenes Harada).


Trata-se de uma novidade inaudita e humanamente inconcebível: Deus arde em desejo, em paixão pelo nosso humano, por cada um de nós. Um desejo, uma paixão tão “louca”, tão “vergonhosa” aos olhos do mundo, no dizer de São Paulo, que leva o Verbo eterno do Pai a abreviar-se, a apequenar-se tanto e de tal modo que no presépio não tinha outra feitura senão a de um pobre menino de Belém, nascido neste mundo e deste mundo, e depois, na Cruz, mais parecia um verme esmagado, um leproso carregado de pecados e ferido por Deus do que propriamente um homem (Cf. Is 53 e VD 12). Todas essas expressões, porém, não indicam uma figura retórica, mas uma experiência vivida, tão bem testemunhada em inúmeras passagens da vida de Clara e Francisco. Vamos mencionar apenas uma passagem de cada um desses nossos mestres.


São Boaventura falando do princípio originário da nova existência de Francisco assim se expressa: Enquanto, num dia, rezava, assim arrebatado e a abundância do fervor o absorvia todo em Deus, apareceu-lhe Cristo Jesus, como que pregado na cruz. Aquela visão desfaleceu-lhe a alma e a memória da Paixão de Cristo ficou tão profundamente gravada até a medula nas vísceras de seu coração que, desde aquela hora, quando a crucifixão de Cristo lhe vinha à mente, mal podia conter exteriormente as lágrimas e os gemidos, como ele próprio referiu, depois, aos mais íntimos, ao aproximar-se do fim. Com isto, pois, o homem de Deus compreendeu que se dirigiam para ele aquelas palavras do Evangelho: Se queres vir após mim, renuncia a ti mesmo, carrega tua cruz e segue-me (LM 1,5).


A mesma experiência ou vivência pode ser percebida em Clara, como muito bem aparece nessa passagem: Era-lhe familiar o clamor da Paixão do Senhor, a ela que, ora exauria das sagradas chagas afeições perfumadas de mirra, ora fugia aos gozos mais doces. Embriagavam-na veementemente as lágrimas de Cristo padecente, e a memória reproduzia com freqüência aquele que o amor lhe gravara fundo em seu coração. (LCL 30,1-2).


Não é de estranhar, então, se, posteriormente, Clara, como vimos, exorta sua Irmã Inês de Praga a que se fortaleça no santo serviço, iniciado pelo ardente desejo do Pobre crucificado, que por todos nós suportou a Paixão da Cruz (1CCL 13-14).


Francisco e Clara e todos aqueles nossos primitivos Irmãos e Irmãs mergulhavam tão profunda e “naturalmente” nesse mistério como os peixes nas águas de seus rios. Por isso, os vemos seguidamente conversando com o seu Senhor assim como nós costumamos conversar com nossos amigos e familiares. Por isso, também, para eles, os sofrimentos, as dores desapareciam como a neve sob os raios do sol ou a cera se derrete diante do calor da chama ardente do fogo.


Francisco, Clara e todas aquelas Irmãs e Irmãos estavam tão tocados e tomados pelo vigor da Paixão do Pobre crucificado que já não faziam contemplação porque essa Paixão havia feito neles sua habitação tornando-se carne de sua carne, osso de seus ossos, coração de seu coração, vida de sua vida. Assim de contemplativos haviam-se tornado a própria contemplação. Ou seja, a graça do ardente desejo, iniciado com e do encontro com Jesus Cristo crucificado tornara-se para eles não apenas um grande acontecimento, mas um “sacrum convivium”, celebrado a toda a hora nos diferentes acontecimentos de seu cotidiano. Consequentemente, Francisco não precisava de eremitério porque todo o lugar era lugar de contemplação, não precisava de um convento porque todo o mundo, isto é, todas as realidades do seu cotidiano, era seu templo, o lugar de encontrar-se com seu amado como se pode ver nessa passagem:

Francisco era muitas vezes arrebatado por tamanha doçura da contemplação que ficava fora de si, e a ninguém revelava as experiências sobre-humanas que então tivera.

Mas, por um fato, que uma vez chamou a atenção, podemos imaginar com que freqüência ficava absorto na doçura celestial. Certa vez estava sendo transportado num jumento, e precisou passar por Borgo San Sepolcro. Como quisesse descansar numa casa de leprosos, muita gente ficou sabendo da passagem do homem de Deus. De toda parte acorreram homens e mulheres para vê-lo, querendo tocá-lo com a costumeira devoção. E então? Apertavam-no, empurravam-no e lhe cortavam e repunham pedaços da túnica. Ele parecia insensível a tudo e, como um corpo morto, não tomou conhecimento de nada do que estavam fazendo. Afinal, chegaram ao lugar. Muito depois de terem passado por Borgo, o contemplador das coisas do Céu, como voltando de longe, perguntou solicitamente quando chegariam a Borgo ( 2C 98,8).

Também de Clara as fontes nos guardam memoriais admiráveis acerca de sua familiar participação no ardente desejo e fervorosa paixão do Pobre crucificado como a que aconteceu por ocasião da celebração da Sacratíssima Ceia, em que o Senhor amou os seus até o fim. Perto da tarde, aproximando-se a agonia do Senhor, Clara, entristecida e aflita, encerrou-se no secreto da cela. Como, ao acompanhar em oração o Senhor orante e a alma triste até a morte, absorvesse o afeto da tristeza dele, sua memória tornou-se ébria e inteiramente impregnada da captura e da zombaria, caiu na cama. Absorta, em toda aquela noite e no dia seguinte, permaneceu assim, tão fora de si que, com o olhar ausente, cravada sempre em sua visão única, parecia crucificada com Cristo, totalmente insensível. Uma filha, familiar, voltou diversas vezes a ela para ver se queria alguma coisa e encontrou-a sempre se comportando do mesmo jeito. Chegando a noite do sábado, a filha devota acendeu uma vela e lembrou a mãe, não com palavras, mas com sinal, a ordem de São Francisco. Pois, o Santo ordenara que não passasse um dia sequer sem comer. Assim, na presença da Irmã, Clara, como se estivesse voltando de outro lugar, pronunciou essas palavras: "Qual a necessidade de vela!? Por acaso não é dia?" Respondeu a outra: "Mãe, foi-se a noite, passou o dia e voltou outra noite". E Clara: "Bendito seja este sono, caríssima filha, porque, por muito tempo desejado, foi-me concedido. Mas, toma cuidado para não contares a quem quer que seja este sono, enquanto eu viver na carne"  (LCL 31).

Divagações

Na dinâmica ou lógica do amor a causa do enamoramento está sempre no outro. Assim, para nós, na origem de nossa afeição franciscana está a pessoa de Jesus Cristo com tudo o que veio e vem operando a fim de conquistar um pouco de nossa atenção e amor. Mas, se pudéssemos entrar em seu coração e lhe perguntássemos por que faz ou fez tudo isso dirá que os “culpados” somos nós; que nós é que O encantamos e nos tornamos sumamente preciosos, o único tesouro de toda a sua eternidade, o único amor de seu coração; que somos para Ele a “coisinha” mais linda, preciosa, santa e divina que existe.

Por isso, quem está no vigor do transbordamento da paixão ou do enamoramento nada mais verá, nada mais encontrará senão vestígios da pessoa amada em todas as pessoas, lampejos de seu amor em cada criatura ou acontecimento de sua vida. Consequentemente, é próprio do franciscano, a exemplo de seus mestres, divisar sempre, em cada pessoa, criatura ou acontecimento, o brilho do ardente desejo, o perfume da fama Daquele que nos amou por primeiro. Assim, para Francisco o sol não era mais e apenas um astro rei, mas uma presença real do próprio Senhor que criou o sol e todas as demais criaturas somente por causa dele, Francisco. Não existisse ele Deus jamais teria criado o sol e nenhuma de suas criaturas. Para quê? Não faria sentido. Por isso, o franciscano nelas, por elas e com elas saberá celebrar o encontro com Aquele que, profundamente enamorado de nós, quis despojar-se de sua divindade para fazer-se um de nós. Consequentemente, também, o ardente desejo do Pobre crucificado, vivamente admirado, pensado, estudado, recolhido, meditado, amado e contemplado no dia-a-dia da vida daqueles nossos Irmãos e Irmãs “produziu” o que “produziu”: almas ferventes da Paixão do seu Senhor. Não é de admirar, então que, escrevendo a mesma Inês, Clara exorta-a a que sempre se recorde desse princípio, dessa fonte, bem como de jamais abandonar sua decisão, seu propósito de segui-lo (Cf. 2CCL 11).


Na lógica da paixão aquilo que uma vez se crava em nosso coração jamais se desencravará. Não há como se fugir daquilo ou de quem se amou, mesmo que algum dia se venha a odiá-lo. Plasmam-se assim, no coração do discípulo impressões evangélicas ou crísticas tão indeléveis como aquelas que, por exemplo, se modelaram no coração de Maria Madalena, Zaqueu, os Apóstolos todos, São Francisco, Santa Clara e tantos outros. Aquela pequenina afeição originária, que no começo se assemelhava a um simples pavio a fumegar, vai se intensificando, crescendo e incendiando tudo o que está ao seu redor: sentimentos, vontade, razão, trabalhos, alegrias, sucessos, fracassos, enfim todo ser e fazer do vocacionado. Labaredas eternas vão se acendendo em seu coração a ponto de jamais poder esquecer o que um dia incendiou seu coração. Labaredas que podem se amainar com o vento ou tufão de outras afeições, mas jamais extinguir-se com a passagem de pseudos amores. O que passou não passou. A não ser que jamais se tenha passado. É o céu já aqui na terra, a vida eterna na vida terrestre, o divino no humano.


Quando nos entregamos a alguém que nos tocou profundamente com seu bem-querer, dele jamais haveremos de nos desvencilhar. Em outras palavras, tudo aquilo que, no começo, pareciam laços sem importância e desatados transformam-se em grilhões eternos. Tudo que nosso coração conquista ou por ele é conquistado, disso ele se torna para sempre prisioneiro. Não há jamais como fugir-se daquilo ou de quem se amou, mesmo que agora se o odeie. E é mortal que a gente se afaste de quem ou daquilo que se ama. Tolice o que, por vezes se ouve: só um outro amor pode substituir um grande amor (Paulo Santana). Nada há que desencrave o que se cravou uma vez no coração, mesmo que já se tenha desencravado. No coração plasmam-se impressões digitais indestrutíveis. Esqueça de esquecer o que um dia incendiou o seu coração (idem). É como um selo, uma tatuagem eterna gravados em nosso coração. É dessa experiência que já nos falava o Cântico dos Cânticos: o amor é forte como a morte e a paixão é implacável como a sepultura e sua chama é chama de fogo, verdadeira labareda do Senhor. Águas torrenciais não podem apagar o amor, nem os rios afogá-lo (Ct 8,6-7


Quem descreve bem esse processo é frei Hermógenes Harada quando diz que na origem de toda a contemplação franciscana está, pois a experiência do encontro. E a afeição de um encontro jamais vem de nós mesmos como o poder e o arbítrio da nossa própria vontade e do nosso intelecto. Ela já é dom do próprio encontro. No seguimento, Jesus Cristo já sempre nos amou primeiro. O gosto, a afeição do seguimento, a afeição desse caminho, nós recebemos de Jesus Cristo. É necessário, pois receber essa afeição, guardá-la e cultivá-la e fazer crescer, para uma emoção entranhada, dinâmica, para um sentimento profundo e forte, para uma cordialidade firme, constante, efetiva e fiel, enraizada na evidência da pura positividade da busca discipular. (Hermógenes Harada, De estudo, anotações obsoletas, p. 116).


E mais adiante o mesmo confrade conclui dizendo que todo esse processo de amadurecimento tem todas as características de maturação e perfeição que nasce de um encontro na história de amor, onde tudo é busca, doação, engajamento, conquista e risco, dom de um encontro todo especial, de uma aventura singular, perigosa e fascinante, única e absoluta da existência cristã, isto é do seguimento de Jesus Cristo (idem, p. 119).


Tudo isso condiz com o significado etimológico da palavra contemplação. Contemplação, no latim “contemplatio”, literalmente, significa o vigor, o fascínio, a ação que vem do templo ou melhor, de quem está no templo, isto é, na sede, na busca de Deus. Não é a toa que templo, na antiga Grécia e Roma, indicava o espaço delimitado, seccionado do acampamento militar, destinado ao adivinho que, posicionando-se no alto de uma torre, só tinha uma única coisa a fazer: ficar na observância, na escuta e acolhida do sentido do vôo do pássaro. Ou seja, sua função era única e tão somente de interpretar os sinais do tempo: tempo de atacar o inimigo ou de precaver-se de seus possíveis ataques.


Nesse sentido pode-se dizer que contemplar é pôr-se na escuta obediente e fiel dos sinais Daquele que se dispõe, desde toda a eternidade, a vir ao nosso encontro, como sentido da história e do ser do homem. E quando acontece o milagre dessa visita e desse encontro, o homem, incendiado pelo fervor desse toque, mesmo nas coisas mais insignificantes deste mundo, como o lavar panelas para Tereza d’Avila, o visitar doentes para o Crua d’Ars, será frequentemente arrebatado para os enleios celestes; ou como Clara, ver-se-á veementemente embriagado pelas lágrimas do Cristo padecente; verá em sua memória Aquele que o amor o gravara fundo em seu coração (Cf. LCL 30,2).


Esse modo, Clara descreve-o com muita reverência e comoção interior quando exorta sua Irmã Inês a que contemple, todos os dias, a pobreza, princípio desse Espelho, colocado no presépio e envolto em panos. Ó humildade admirável, ó pobreza estupenda! O Rei dos anjos, Senhor do Céu e da Terra, deitado num presépio! No meio do Espelho considera a humildade, ao menos a bem-aventurada pobreza, os inúmeros trabalhos e sofrimentos, que suportou pela redenção do gênero humano. No fim, porém, no mesmo Espelho, contempla a caridade inefável, com que quis sofrer na árvore da cruz e nela morrer todo gênero torpe de morte. Daí, o próprio Espelho, colocado no lenho da cruz, admoestava os transeuntes para considerar o que viam, dizendo: Ó vós todos, que passais pela estrada, escutai e vede se há uma dor, como a minha (4CCL 15-24). 

  • Foto: Monumento Francisco e Clara de Assis, Bairro Glória, cidade do Rio de Janeiro / Eugenio Hansen. 20110518.

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