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segunda-feira, 31 de maio de 2010
DESVENDANDO O MISTÉRIO DA VIDA
FREI FERNANDO, VIDA, FÉ E POESIA by Frei Fernando,OFMConv. is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Compartilhamento pela mesma Licença 2.5 Brasil License.
domingo, 30 de maio de 2010
O terço católico e as materialidades da devoção
Entrevista especial com Paola Lins de Oliveira
Surgido no século XIII, o terço católico ainda é um costume entre os fiéis do século XXI, tendo passado por algumas transformações ao longo do tempo, mas mantendo sempre a sua estrutura de repetição de invocações a Jesus e à Virgem Maria.
Acompanhando e meditando os “mistérios”, episódios das vidas de Jesus e Maria – inclusão que ocorreu apenas em torno de 1500 –, “a oração se torna o momento de atualizar em si mesmo as boas obras” vivenciadas por aqueles aos quais se dirige.
Hoje, porém, com a venda desse objeto devocional em grande escala – e utilizado nas mais diversas ocasiões, até como acessório de moda –, pode estar ocorrendo uma “destradicionalização religiosa”, o que acarreta uma ameaça à aura sagrada do objeto, assegura a socióloga e doutoranda em Antropologia, Paola Lins de Oliveira, em entrevista concedida, via email, à IHU On-Line.
Nesse sentido, defende Paola, “o terço pode se tornar 'um fim em si mesmo', seja como uma oração apartada da dimensão meditativa, ou mesmo como um símbolo com força sagrada intrínseca”. Sua difusão, especialmente por meio dos canais de televisão católicos, também “pode estar relacionada ao panorama mais geral do campo religioso brasileiro e à necessidade, por parte da Igreja Católica, de mobilizar uma reação diante da perda de fiéis”, como ocorreu desde as origens da oração, nascida dentro de esforços de evangelização católica e de conversão dos hereges.
Doutoranda em Antropologia no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS/UFRJ), Paola Lins de Oliveira possui graduação em Ciências Sociais e mestrado em Sociologia com concentração em Antropologia pela mesma instituição. É pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião (ISER) e secretária editorial da Revista Religião e Sociedade e do Boletim Plural, editados pelo ISER.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Como funciona o terço enquanto mediação entre o fiel e o sagrado? Qual o sentido atribuído à repetição de orações?
Paola Lins de Oliveira – “Terço” é um termo que designa tanto uma oração quanto o instrumento utilizado para realizá-la. Em sua dimensão material, o terço consiste em um colar com 50 contas para rezar ave-marias e cinco contas para pai-nosso. No contexto do ritual da oração, o terço corresponderia à terça parte da oração do rosário, que seria composta por 150 ave-marias e 15 pai-nosso, combinados com a meditação de episódios da vida de Jesus Cristo e Maria.
As narrativas tradicionais contam que o rosário foi entregue a São Domingos de Gusmão pela Virgem Maria, para que ele rezasse e divulgasse a “oração do rosário”. O período, no início do século XIII, foi marcado por inúmeras revoltas hereges no seio da cristandade europeia, e a oração, desde suas origens, aparece como instrumento para a evangelização. Fato é que com o passar do tempo, o rosário foi fracionado e perdeu popularidade para sua terça parte.
Enquanto oração, o “terço” atua como mediador, porque cria condições propícias para o contato entre aquele que ora e Jesus Cristo ou Maria, assim como o próprio objeto, em diversas circunstâncias, condensa os sentidos sagrados dessa relação.
IHU On-Line – Que aproximações e que distanciamentos você observa entre o uso entre fiéis e os aspectos do terço, valorizados pela hierarquia católica?
Paola Lins de Oliveira – Do ponto de vista das prescrições eclesiásticas, a oração media a relação entre os devotos, Maria e Jesus Cristo. A sucessão de preces combinadas à contemplação dos episódios da vida de Jesus e Maria teria forte potencial santificador. Reconhece-se o valor exemplar das trajetórias de Jesus e Maria, de modo que, para o devoto, a oração se torna o momento de atualizar em si mesmo as boas obras. Esses ensinamentos recomendam, portanto, a combinação entre a dimensão material (com a recitação das preces e manipulação do terço) e a dimensão espiritual (com a meditação dos mistérios) na composição da oração do rosário. Essa fusão não acontece sempre ou necessariamente no uso cotidiano dos fiéis. O terço pode se tornar “um fim em si mesmo”, seja como uma oração apartada da dimensão meditativa, ou mesmo como um símbolo com força sagrada intrínseca, atribuída em um processo de singularização de sua “biografia cultural”, conceito elaborado por Igor Kopytoff em seu texto The cultural biografy of things: commoditization as process (1986).
IHU On-Line – Atualmente, em que contextos sócio-religiosos se dá o uso do terço católico nas práticas de oração?
Paola Lins de Oliveira – Os terços católicos deslocam-se intensamente e cada vez mais das esferas da vida íntima e privada dos fiéis para os espaços públicos. Num plano, o objeto para a oração do rosário possui grande adesão entre fiéis católicos, principalmente mulheres, que realizam suas orações no âmbito privado e mesmo nas igrejas. Por ser uma oração fortemente associada à figura de Maria, o terço e o rosário são devoções muito difundidas tanto em contextos tradicionais quanto entre grupos ligados ao movimento carismático. Em outro plano, mas como consequência da crescente divulgação da oração, os terços passam a se afinar às lógicas mercadológicas de produção e difusão de bens, ocupando cada vez mais e frequentemente os espaços públicos, fato que se observa, por exemplo, nos adesivos de terços afixados nos automóveis que circulam nos centros urbanos brasileiros.
IHU On-Line – Quais os principais fatores que contribuem para essa sacralização?
Paola Lins de Oliveira – A sacralização dos terços não ocorre de uma forma unívoca. A partir da pesquisa realizada, observei que o objeto “terço” experimenta diferentes modalidades de “sacralização”, que, por sua vez, estão relacionadas sobretudo à sua dimensão material, cotidiana e íntima. Do ponto de vista do devoto ou da devota, o objeto pode se tornar sagrado através de um processo de uso sistemático e cotidiano ou de aproximação na vida mais íntima e familiar, quando consiste em uma herança materna, ou presente de algum parente ou amigo. A valorização do potencial santificador da oração e sua vinculação à mãe de Jesus são os principais vetores sacralizantes que aparecem nas narrativas da hierarquia católica. De qualquer forma, o que eu ressalto na pesquisa é que, diferentemente de um sentido sagrado “extraordinário” e “separado” da vida cotidiana, a sacralização desses objetos ocorre na dimensão mais ordinária da vida diária, no dia-a-dia.
IHU On-Line – Hoje, acompanhamos uma ampla difusão da reza do terço em redes católicas de televisão e por diferentes grupos e movimentos católicos. Que sentidos e intencionalidades estão subjacentes a essas práticas?
Paola Lins de Oliveira – Ainda que não tenha me detido especificamente sobre a difusão da oração em canais de comunicação, é possível considerar que isso faça parte do movimento mais geral de publicização da oração do terço e do rosário. Como a oração está ligada a esforços de evangelização católica desde suas origens, a crescente ocupação dos espaços dos canais televisivos pode estar relacionada ao panorama mais geral do campo religioso brasileiro e à necessidade, por parte da Igreja Católica, de mobilizar uma reação diante da perda de fiéis.
IHU On-Line – Que impactos tem para a sacralidade do terço a crescente produção e comercialização do objeto terço em espaços comerciais articulados em diferentes âmbitos de romarias religiosas?
Paola Lins de Oliveira – Quanto à produção, observa-se a adoção da lógica de mercado por parte das instâncias religiosas. Inúmeras pesquisas realizadas no âmbito das ciências sociais têm mostrado que o comércio de bens religiosos cresce com folga em todo o país, principalmente nos centros urbanos. São milhares de terços e rosários produzidos por fábricas de artigos religiosos espalhadas pelas grandes regiões metropolitanas brasileiras. Mas, ainda que essa produção ocorra em esferas seculares e profanas, o consumo desses objetos, em romarias e outras festas religiosas, atualiza a ideia de que o produto religioso é dirigido ao público daquela religião específica. A questão se transforma quando os produtos circulam em outras instâncias com públicos não religiosos.
IHU On-Line – Como está se dando as tensões entre catolicismo e espaços de comercialização e consumo de objetos religiosos? O que isso implica para a religiosidade expressada em torno do terço?
Paola Lins de Oliveira – Alguns pontos de vista sobre esse fenômeno têm defendido a perda do valor sagrado dos objetos religiosos nesse deslocamento dos espaços de produção e consumo estritamente religiosos para um espaço público mais amplo de comercialização e consumo profano. Essa leitura se baseia na ideia de que os objetos produzidos em instâncias religiosas teriam uma determinada “aura” tradicional, que teria se perdido com a adoção de regras e padrões mercadológicos. Seguindo essa linha, somos levados a estabelecer uma oposição irreconciliável entre a lógica de consumo, orientada pelos desejos dos indivíduos consumistas, e a lógica religiosa de produção de sentidos. Nesse caso, defender a imposição da lógica de consumo individual sobre a lógica de produção de sentidos e valores religiosos seria ignorar o papel ativo da Igreja Católica na defesa e na disseminação da devoção ao rosário, através da intensa divulgação de campanhas, realizadas por paróquias lideradas por simpatizantes do movimento carismático e por dominicanos, assim como as mobilizações do Papa João Paulo II em defesa da oração.
Por outro lado, não dá para negar que a relação de parceria entre catolicismo e amplo consumo de terços e rosários corresponda, de alguma maneira, a uma “destradicionalização religiosa”, acarretando uma ameaça à aura sagrada dos objetos. De acordo com Walter Benjamim, a aura de um objeto provém de sua autenticidade, ou seja, de sua capacidade de encarnar em si toda a tradição envolvida em sua produção. No contexto de intensa reprodução técnica, a “perda da aura” é um risco permanente, já que está inscrita na materialidade dos objetos. Entretanto, quando a reprodução é orquestrada e promovida pela própria tradição, que ampara o objeto reproduzido, ela é uma aposta na capacidade de ocupação dos espaços, em sua atualização cada vez mais ampla. Portanto, a divulgação da devoção à oração do rosário e do terço, dando-se com e a partir da vasta reprodução de terços e rosários, afina-se com o propósito mais geral de evangelização e participação do catolicismo nos espaços sociais, disputando, com outras religiões, possíveis adesões de fiéis.
IHU On-Line – Nas práticas atuais do terço, observa-se tanto uma prática do modelo tradicional quanto uma prática de modelos alternativos e até a substituição de orações. Como isso impacta na preservação e na continuidade dessa prática religiosa?
Paola Lins de Oliveira – No modelo “tradicional” de oração do rosário, os episódios da vida de Jesus e Maria, mentalizados em conjunto com a recitação das preces, são chamados de “mistérios”. Divididos tradicionalmente em “gozosos”, “dolorosos” e “gloriosos”, os mistérios passaram a ser quatro em 2002, quando o Papa João Paulo II adicionou os “luminosos” à lista, aumentando assim em mais 55 preces a oração do rosário. Em linhas gerais, os “mistérios” compõem-se de grupos de episódios que marcam as diferentes fases das trajetórias de Jesus Cristo e Maria desde a anunciação da vinda de Jesus pelo anjo Gabriel até a ressurreição de Jesus e a coroação de Maria. Ao acrescentar mais uma sequência de eventos para meditação dos fiéis, João Paulo II defendeu a importância de reforçar, na oração, os momentos da vida pública de Jesus, nos quais ele prega o evangelho e realiza obras e milagres.
Por mais que o modelo tradicional seja definido em torno dessa composição de recitação de preces e da meditação dos mistérios, encontramos diversas “receitas” alternativas para orações do terço e do rosário, praticadas por fiéis, mas, principalmente, sendo propostas por manuais de oração. Nas narrativas consultadas, os diferentes padrões de oração não parecem concorrentes. Frequentemente, surgem alusões ao fato de que a oração do rosário pode ter diversas inserções ou modificações, desde que o modelo mais tradicional tenha prioridade ou também seja praticado. É interessante notar, entretanto, que mesmo o modelo considerado tradicional possui variações quanto à adição de preces como Glória ao Pai ou Salve Rainha em seu começo ou término.
A oração do rosário e do terço, como outras práticas sociais, está sujeita a transformações em diferentes lugares e ao longo do tempo. Mesmo as instâncias autorizadas, personificadas na figura do Papa, atentam para esse fato, procurando atualizar e adaptar seu modelo a partir de novas interpretações sobre seus sentidos sociais e religiosos. Desse modo, observamos que a preservação de um padrão tradicional imutável não é garantia de continuidade da oração. Pelo contrário, as modificações são inerentes ao processo mais amplo de disseminação da oração. O mais interessante, portanto, é observar os limites dessas “adaptações” e mudanças tanto nos discursos eclesiásticos quanto nos usos cotidianos dos fiéis.
(Moisés Sbardelotto)
Extraído de http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=32925 acesso em 30 maio 2010.Foto: Rosari vecchi ed antichi di pregio / Ricce. 2008. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rosari_2.jpg acesso em 30 maio 2010.
sexta-feira, 28 de maio de 2010
A MÃE DE DEUS É TAMBÉM MÃE DA IGREJA
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quinta-feira, 27 de maio de 2010
Francisco e a falsa fogueira
O que realmente aconteceu no encontro entre Francisco de Assis e o sultão Malik-al-Kamil, no Egito? Que significado tem o suposto desafio proposto pelo santo de Assis de se jogar entre as chamas de uma fogueira pela conversão dos muçulmanos?
A análise é de Chiara Frugoni, professora de história medieval da Universidade de Pisa e de Roma II, em artigo para o jornal Corriere della Sera, 21-05-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o artigo.
Francisco queria uma aplicação radical do Evangelho e por isso pregou a paz e o amor pelo próximo, por todos, também por quem era de uma outra religião, como os muçulmanos. Durante a Quinta Cruzada, Francisco passou vários meses no Egito. Quando voltou à Itália, dedicou um capítulo da regra de 1221 – algo incrível para aqueles tempos de guerras contínuas – a como os seus frades deveriam viver entre os muçulmanos: sem divergências e sem disputas, em paz.
Bem diferentemente, ao contrário, foi representado o encontro do sultão em uma das cenas da Basílica Superior de Assis. O santo lançou um desafio e está pronto para entrar na fogueira: é um detalhe aqui representado pela primeira vez, que confirma como já em curso aquela que foi uma mera proposta verbal de Francisco, assim relatada por Boaventura na "Legenda Maior".
Segundo o biógrafo, os guardas muçulmanos haviam tratado Francisco muito mal, que, porém, ao chegar diante do sultão Malik-al-Kamil recebeu uma acolhida muito favorável. Malik-al-Kamil escutava de bom grado e admirava o santo e havia lhe oferecido dons diversas vezes. Ele pedia que ele permanecesse junto dele. Diante de tantas confirmações de estima, um dia, Francisco, "iluminado por um oráculo do céu, lhe disse: 'Se vós, com o vosso povo, vos converterdes a Cristo, eu ficarei de muito bom grado convosco. Se, ao contrário, hesitardes e abandonardes a fé de Maomé pela fé de Cristo, dai ordem de acender uma fogueira o maior possível: eu, com os vossos sacerdotes, entrarei no fogo, e assim, pelo menos, podereis conhecer qual fé, aos olhos da razão, deve ser considerada a mais certa e mais santa'".
Mas o sultão respondeu que considerava impossível que os desafiados acolhessem uma proposta semelhante. O santo se ofereceu, então, para entrar sozinho: se não fosse queimado e saísse ileso das chamas, o sultão e o seu povo deveriam se converter à fé de Cristo. Desta vez também, Malik-al-Kamil respondeu que não podia aceitar, porque temia uma revolta de todos os súditos. Não cessou, porém, de experimentar uma enorme devoção pelo santo, suplicando-lhe que aceitasse inumeráveis dons, sempre firmemente recusados. Depois, Francisco, pré-advertido por uma voz divina, vendo que não podia realizar o martírio e que não fazia progressos na conversão daquela gente, retornou aos países cristãos. Esse é o relato de Boaventura na "Legenda Maior", destinado a se tornar o ponto de referência para as versões pictóricas posteriores.
Boaventura não quis contar o que nós sabemos por meio de um outro frei, Jordano de Giano, isto é, que Francisco havia sido obrigado a interromper a sua missão e a retornar precipitadamente à Itália porque a jovem fraternidade estava por se desagregar ao meio por causa de tensões de todos os tipos. Esses particulares, de fato, jogariam uma sombra sobre a santidade de Francisco e sobre a própria ordem, dado que uma viagem como essa, por parte de um chefe que deixava os companheiros sem guia, podia ser julgada como irresponsável.
O biógrafo, por isso, tendo calado sobre as razões do retorno do santo, mascarou o que parecia ser um fracasso, a falha conversão dos muçulmanos, introduzindo o desafio lançado por Francisco, embora a ordália como prova judiciária [prova física para determinar a culpa ou a inocência de alguém] havia sido proibida desde 1215 no Concílio Lateranense IV.
No afresco, às chamas crepitantes que nunca foram acesas, se une a humilhação dos pávidos "sacerdotes" islâmicos em fuga, com uma escrita que confirma tanto a real existência da grande fogueira quanto a interpretação do encontro como uma disputa, um desafio vencido obviamente por Francisco com o escárnio e a derrota dos muçulmanos.
O encontro com os muçulmanos, no afresco de Assis, falseia duplamente a realidade: aquelas chamas crepitantes que nós vemos nunca foram acesas. Francisco não queria derrotar e humilhar, como a Igreja fazia naquele tempo com os hereges ou com aqueles que professam uma fé diferente, mas sim converter e persuadir com a força de uma conduta exemplar, com o exemplo, e em paz.
Extraído de http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=32764 acesso em 25 maio 2010.Ilustração: Saint Francis of Assisi with Al-Kamil. Séc. XV. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:SaintFrancisAssisiWithAlKamil15thCentury.JPG acesso em 25 maio 2010.
A mariologia franciscana no Marial de São Lourenço de Brindis.
A Virgem Maria sempre foi e será uma refêrencia para escola franciscana, um modelo de seguimento e inspiração para viver em união com o Jesus Cristo, em todas as épocas encontraremos frades devotos que a cantam os louvores de Nossa Senhora, e continuamente aprofundam a doutrina sobre a mãe de Deus.
Seguramente a Virgem tem um lugar privilegiado porque está mais próxima do Filho e ao mesmo tempo ligada a Igreja, logo é ela o modelo perfeito para nos inspirarmos para um discipulado autentico o mais próximo possivel a Cristo.
A tarefa de suma importância tange seu conteúdo teórico, é fundamental no que diz respeito ao testemunho de vida. A reforma capuchinha sempre se confiou a Nossa Senhora, os santos homens sempre foram apaixonados por Ela e a tomaram como modelo de vida e inspiração evangélica. Entre os nossos santos temos São Lourenço de Brindis (1559-1619)[1], sendo orfão, se transfere a Veneza, onde aos dezesseis anos entrou na Ordem dos Capuchinhos, recebendo o nome de Lourenço, cedo recebeu encargos, fazendo ministro provincial, e chegando a ser ministro geral de 1602 a 1605. Exerceu um grande trabalho como pregador, e principalmente defendendo o catolicismo contra o protestantismo nascente. Algo que contribuiu para divulgar sua fama de santidade foi o que aconteceu na batalha de 1601, contra os turcos em Albareale(Hungria) onde parte com o crucifixo em mãos, invocando os nomes de Jesus e Maria contra o inimigo. Nessa batalha os cristãos vencem e sua fama de santidade é difusa. Em 1619, morre provavelmente envenenado a Lisboa. Porém seus escritos nos deixam conhecer um pouco desse incansável pregador capuchinho que em 1959 será proclamado por João XIII, Doctor apostolicus.
Um dos seus escritos mais conhecidos é o chamado Marial de São Lourenço de Brindis, na mesma carta apostólica Celsitudo ex humilitate que o faz doutor da Igreja, o Papa João XIII comenta a importância do Marial.
O Marial na sua forma inicial não tem a intenção de ser um tratado de mariologia, escrito para esse fim, mas é uma coleção de 84 sermões sobre a Virgem. Porém a o seu esquema sistemático, no sentido acadêmico, que partem da realidade histórica, bíblica, e espiritual de Maria. O autor medita as narrações escriturísticas, no sentido literal e sobrenatural, e também depois parte da percepção do mistério da salvação na história e transcendência da sua missão de Maria como laço humano para a presença histórica do Verbo divino, com suas qualidades e dons. Aproveita as figuras femininas do Antigo e do Novo Testamento para trabalhar aspectos de Maria no sentido espiritual. Relaciona Maria com o mistério da Trindade, e também como morada de Deus entre os homens. São Lourenço já apresenta temas que serão tratados na mariologia renovada. No que toca ao diálogo com os irmão separados, o autor viveu na época do confronto entre protestantes e católicos por questões confessionais. Aqueles acusavam esses de idolátras: adoradores de Maria, e insistiam que o único mediador é Cristo, por isso, Lourenço defende a posição católica, até mesmo usando expressões violentas.
O Marial é tão completo sistemáticamente falando que o autor estabelece mesmo o primeiro principio como acontece com todas as outras ciencias. Sendo estabelecido que o primeiro princípio para a mariologia sistemática é a maternidade divina, sem esquecer outros de menor valor na hierarquia dos valores ou digamos não menos importante, mas que são classificados em um segundo plano, como a singularidade, a conveniência, eminência, a analogia e semelhança de Cristo. Todas as ciências tem um primeiro principio. A reflexão laurenciana estabelece o primeiro princípio para a mariologia sistemática , que é a maternidade divina, sem esquecer o que ele chama de principios secundários que estão ligados ao principio primário.A singularidade afirma que não existe ninguém igual a Maria. Ela é uma pessoa de tudo singular realmente um milagre de Deus. Pela sua pessoa, pelo que Deus realizou nela e pela lugar que ocupa. Maria é o “Capolavoro di Dio”[2]
O principio de conviniência segundo qual Deus escolhe uma pessoa para uma missão e chama e dipõe as coisa de acordo que o chamado seja digno de sua eleição. Deus enriquece Maria de dons particulares compativeis com o seu chamado de ser Mãe do Verbo e esposa de Deus e usa esse principio para sustentar temas como a Imaculada Conceição.
A eminência com esse princípio mostra a nobreza de Maria . Lourenço nos faz entender a grandeza de Maria usa a mulher do apocalipse para ilustrar esse principio e afirma que Maria é menor que Cristo, como a lua é menor que o Sol, porém brilha mais que todos os outros astros e outras criaturas, assim é Maria.
A semelhança e analogia com Cristo através desse principio afirma que Maria é semelhante a Cristo em tudo. Cristo está direita de Deus e Maria está direita de Cristo. Também os santos são semelhantes a Cristo, porém Maria de modo singular, não igual, semelhante. Resumindo o Marial apresenta uma completa elaboração da doutrina sobre a Virgem que segundo Frei Bernardino de Armellada, se queremos traduzir um conceito o Marial, a palavra mais perfeita para descrevê-lo seria “plenitude”. O conjunto de sermões contidos no Marial apresenta Maria como a plena de graça, a Virgem em plenitude.[3]
Embora o pensamento mariológico laurenciano não é sistematizado, mas num dos seus sermões sugere que a mariologia deve haver um primeiro princípio[4] como as outras ciências. São Lourenço é considerado o maior mariológo do seu tempo.[5]
Contudo devemos nos lembrar que o autor deve ser lido na sua época, não tinhamos certos avanços da exegese e da antropologia, que hoje apronfundar e ajudam a ver com outra perspectiva temas abordados pelo autor. Ele usa como fonte principal as escrituras, mas lendo-as no sentido literal.
Que a ciência desenvolvida pelo nosso doutor capuchinho nos ajude a aprofundar a nossa devoção a Virgem Santa e a seu exemplo viver uma profunda relação com o Senhor vivendo plenamente embuido do mistério de Deus.
Bibliografia.
de armellada B., Por una Mariologia ni excluyente ni excluida. Mirada ecumenica desde el piensamiento franciscano, in Laurentianum 44, 2003, p. 271-297.
________________., Introducción, in Mariale di San Lorenzo da Brindis,p.12-33.
________________., “Amor esponsal de Dios-Trinidad a la Virgem Maria en el Mariale de San Lorenzo de Brindis”, en Negotium Fidei. Miscellanea offferta a Mariano D’Alatri nel suo 80° compleanno, Istituto Istorico dei Cappuccini, Roma, 2001, p.287-311.
________________., “Le vie della belezza verso Maria nel Mariale di San Lorenzo da Brindisi”: Collectanea Franciscana72(2002)p. 231-249.
De Fiores, S. Maria nella teologia contemporanea, Roma, 1987.
Roschini, G., La mariologia di S. Lorenzo da Brindisi, Padova, 1951
[1] Cfr.De armellada B., Introducción, in Mariale di San Lorenzo da Brindisi, p.31-33.
[2] ROSCHINI, G. P. 27. Maria é a obra prima de Deus.
[3] de armellada, Introducción, in Mariale di San Lorenzo da Brindis,p.30.
[4] Cfr. De Fiores, Maria nella teologia contemporanea,p. 32. A maternidade divina de Maria é colocada como o princípio mariológico. Cfr. B de armellada, Por una Mariologia ni excluyente ni excluida. Mirada ecumenica desde el piensamiento franciscano, p. 292. Lorenzo parece haver sido el primer teólogo que pone de relieve lo que puede considerarse el principio primario de la mariología: la maternidade divina.
[5] Cfr. g. Roschini, La mariologia di S. Lorenzo da Brindisi, Padova, 1951. p. 16 Segundo esse autor São Lourenço o maior mariologo do seu tempo, reunindo em sí todas as caracteristicas de vários outros autores.
Frei Emerson Aparecido Rodrigues, OFmcap.
email: freiemersoncapuchinho@hotmail.com
Ilustração: St. Lawrence of Brindisi's engraved portrait. Séc. XVII. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Slorenzo5.jpg acesso em 27 maio 2010.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
COMO ACONTECERÁ ISSO, SE NÃO CONHEÇO HOMEM?
FREI FERNANDO, VIDA, FÉ E POESIA by Frei Fernando,OFMConv. is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Compartilhamento pela mesma Licença 2.5 Brasil License.
segunda-feira, 24 de maio de 2010
Em Nome do Senhor Começa a Vida e a Regra Franciscana
Frei Dorvalino Fassini, OFM
Ao deparar-nos com os textos da diversas versões da Regra Franciscana em todas elas encontramos como início fórmulas como Em nome do Senhor ou Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Com essa invocação, na abertura da Regra, Francisco, certamente, atem-se a um dos mais queridos e apreciados costumes do povo cristão, principalmente na Idade Média: começar todo e qualquer obra ou trabalho em nome do Senhor! Diferentemente de textos ou documentos de caráter meramente humano, nos quais, geralmente, em seu início, com a gravação do nome dos autores, explicita-se com clareza e insistência sua origem ou autoria, o texto da nossa Regra começa pura e simplesmente: Em nome do Senhor. Essa maneira de iniciar a Regra, porém, parece dizer que sua origem não está em Francisco ou Clara nem em quem quer que seja, mas sim no mistério mais significativo e originário de todas as criaturas e de toda a vida cristã: o Senhor. À semelhança da chave musical que, já desde o início, dá o tom que vai perpassar, conduzir e orientar a melodia de toda uma partitura musical, ou, melhor ainda, semelhantemente ao prólogo do Evangelho de São João, no qual, já de saída, se anuncia o princípio originário de toda a Boa Nova, isto é, o Verbo que se faz Carne, a expressão Em nome do Senhor evocada, aqui, na abertura do texto, torna-se como que a entoação de toda a Vida e de toda a Regra franciscana, ou seja: que nossa Vida e nossa Regra – nossa formação - em todos os seus capítulos, sempre nasce, cresce, amadurece e termina em nome do Senhor. Mas o que significa começar, crescer e concluir a Vida e a Regra franciscana Em nome do Senhor!? Vale observar, logo de saída, que o nome está sempre ligado ao fenômeno do som e da linguagem. Pois, o nome não é outra coisa senão o som próprio produzido pela ação da força que move constitui e distingue cada criatura em sua identidade. Em verdade, originariamente, o nome não é outra coisa senão o som do ser de cada coisa, captado pelo espírito do homem? Por isso, a pronunciação de um nome é, sempre e também, de certa forma, um ato evocador e criador dos seres. Assim, no Paraíso, ao ser incumbido de dar nome às criaturas, Adão foi constituído por Deus não em mero etiquetador, mas, acima de tudo, um seu co-criador e senhor do universo. Por isso, pronunciar o nome de alguém, antes de mero sinal ou etiqueta de identificação, é tornar presente a própria pessoa, com sua identidade misteriosa e seu vigor edênico. Ora, se esse é o poder criativo na evocação de todo e qualquer nome, o que não dizer da evocação do nome do próprio Senhor de cada criatura, Daquele que é sua raiz, sua força originária, dAquele sem o qual nem eu e nenhuma outra criatura seríamos? Assim, começar a Vida e a Regra Em nome do Senhor, como o fazem Francisco e Clara, é fazer ressoar o advento e a presença retraída do vigor do mistério de sua própria origem e da origem de todas as criaturas e de todos os eventos[1]. Em, no latim in, indica movimento para o interior, o dentro, o âmago de... Assim, iniciar a Vida franciscana em nome do Senhor indica, antes de mais nada, a disposição de sempre e em todos os momentos da vida, deixar-se “im-portar” para, instruir e orientar pelo âmago da Autoridade do retraimento do mistério do próprio Deus que tocou Francisco, Clara e todo nós vocacionados à Vida franciscana. Assim, iniciar a leitura da Regra na dinâmica do em nome do Senhor significa dispor-se a deixar-se conduzir como servo para o dentro, para o interior da esfera e da dimensão do encontro com a origem de nossa vocação. Nessa dinâmica, ler e estudar a Regra, em nome de quem ela foi escrita, será sempre exercício de disponibilidade, humilde e graciosa, para bem ouvir e bem acolher o toque desse mistério insondável com todas as suas exigências, colocando-se, benevolamente, em condições de bem segui-lo, imitá-lo e “copiá-lo”; é fazer ecoar, sempre de novo, o vigor da afeição originária que transforma os vocacionados a esta vida, de estranhos em amigos e irmãos, de indiferentes em discípulos e seguidores do próprio Senhor, seu único e verdadeiro mestre. A importância de se estar em nome do Senhor, tanto na leitura da Regra bem como em todo o empenho de nossa formação aparece se recordarmos o significado originário de senhor. Hoje em certos ambientes é fora de moda e por isso tido como cafona chamar alguém de senhor ou senhora. Acabou-se o tempo em que uma das primeiras coisas que se aprendia tratar reverentemente os pais, padrinhos e parentes e mesmo estranhos com a nobreza da palavra senhor, senhora. Na Sagrada Escritura senhor é, certamente, a palavra mais empregada. Porém, mais significativo que constatar a profusão de sua presença é perceber a dinâmica de seu emprego, ou seja, verificar o como, o por que, a causa que leva alguém a referir-se ou relacionar-se com outra pessoa chamando-a de senhor. Quase sempre senhor é palavra que irrompe da dinâmica do encantamento do encontro. É do vigor dessa dinâmica que Maria ao ser visitada pelo Anjo é levada a exclamar: Eis aqui a serva do Senhor. O mesmo se dá com cada um dos Apóstolos e, de uma ou de outra forma, com todos os vocacionados, como, por exemplo, com Francisco que, no famoso sonho de Espoleto, ao ser visitado em forma de sonho por uma pessoa misteriosa irrompe numa jubilosa, graciosa e benevolente exclamação: Senhor que queres que eu faça? Senhor, é portanto, palavra que nasce da profunda experiência de ser amado, querido, eleito sem nenhum merecimento pessoal, mas por pura iniciativa daquele que nos amou por primeiro. Longe, portanto, dessa palavra, pelo menos em sua pureza originária, todo e qualquer conotação de poderio, prepotência, status, dominação, mando e desmando. A riqueza da expressão em nome do senhor aparece, também, quando olhamos a palavra latina dominus que deu origem a palavra senhor. Dominus, contém a palavra domus que significa casa. Dominus, Senhor, portanto, indica o modo de ser de quem está em casa, isto é, na dinâmica do pai de família que, a exemplo de Adão, cuida para que cada membro ou criatura disponha de tudo o que precisa para vir-a-ser e crescer em sua identidade. Nesse sentido dominus ou senhor tem o mesmo modo de ser de servo, como muito bem explicita Jesus na Última Ceia. O cuidado pelos seus familiares ou súditos é que levava os povos antigos a estabelecerem tronos para seus governantes, reis e soberanos. Assentados em níveis mais elevados tinham, esses, condições privilegiadas para melhor perceber e sentir as necessidades dos súditos e servos. Compreende-se, também, agora, porque a imagem de Jesus Cristo crucificado em nossas igrejas é sempre posta lugar elevado. Ele é o Senhor e ao mesmo tempo o servo bom e fiel colocado pelo Pai, à frente de seus para dar a cada um, a seu tempo, o alimento necessário. A experiência do encontro, evocada aqui na Regra pelo em nome do Senhor, desperta no discípulo a dinâmica da obra do bem-fazer, prenhe de humildade graciosa e de gratuidade humilde, comprometida com o bem agir da própria origem, o Senhor-servo. A obra do servo, do discípulo ou filho, porém, não se dá, jamais, por mera decisão sua. Pois, agora, a modo de filho e servo, tudo o que empreende e realiza procede do vigor dessa afeição, da vontade e do ânimo do novo Senhor. Ora, o que se espera do discípulo e servo é apenas fidelidade; que, esteja onde estiver, faça o que fizer, jamais deixe de estar e de fazer no nome, isto é no vigor do seu Mestre e Senhor. A reverência de Francisco e Clara ao mistério do em Senhor, revela, acima de tudo, a experiência de servos e discípulos. Por isso, aqui, como na Sagrada Escritura, Pai ou Senhor não tem nenhum significado de “criador”, “chefe”, “prior”, “superior”, ou “líder”. Não tem, portanto, conotação com dominação ou imposição, no estilo de senhor-escravo, patrão-empregado, superior-súdito, chefe-funcionário. Na Sagrada Escritura, Senhor é palavra chave do relacionamento e da reverência que vem de uma profunda e inefável intimidade originada do Mistério do Encontro no Amor. Conseqüentemente, quem não demonstra nenhuma forma de sensibilidade e reverência para com o mistério da vida, pulsante nos seus próximos, consangüíneos e demais criaturas, dificilmente vai entender o que significa, com precisão, estar na Vida e na Regra franciscana em nome do Senhor. Em nome do Senhor em forma exclamativa não é, portanto, mera e piedosa lembrança ou descrição jornalística de nossa origem franciscana, mas evocação que brota da pertença ao princípio originário de nossa existência e participação “umbilical” do Mistério mais profundo do sentido da vida e de toda a humanidade, trazido a este mundo por Jesus Cristo, o Senhor dos senhores: sermos, com Ele e no seu Espírito, nós também, filhos queridos do Pai nosso que está nos céus. Assim, o núcleo central e real da Vida franciscana, a Regra com a qual sempre as Irmãs haverão de se medir, a inspiração que sempre deve iluminar os passos das seguidoras de Clara e Francisco será, tão só e unicamente, Jesus Cristo que, de mil e uma forma, em caminhos inefáveis, sempre de novo e de forma nova, se oferece aos seus eleitos para torná-los familiares e domésticos seus. Ao escrever na abertura da Regra em nome do Senhor Francisco e Clara fazem ecoar o que já estava soando no mais profundo de seu coração, como fonte e origem de sua nova vida. Assim, o Senhor, compreendido como a suma Pobreza, revelação do mistério mais íntimo e profundo do próprio Deus, é quem vai iluminar e animar todas as dimensões da Vida franciscana apresentadas e desenvolvidas ao longo dos diversos capítulos da Regra. Colocar o Senhor como princípio e fonte originária da Vida franciscana implica em determinar que todos os nossos afazeres diários não estão aí, soltos, ao deus dará, nem se movendo ao ritmo de qualquer outra melodia, Vida ou Regra, mas ligados e dançando sempre ao ritmo e ao sabor do amor, da luz e do vigor que emergem da pessoa de Jesus Cristo, o Senhor dos senhores. Em nome do Senhor, enfim, indica que somos todos da mesma estirpe divina. Nesse sentido nossa Regra segue o princípio da grande tradição do Povo de Deus que, em vez de entender a História da Salvação como uma seqüência de fatos, considera-a, antes como História do Amor que nos amou por primeiro. Assim, ler nossa Vida e nossa Regra não é outra coisa senão beber do manancial de água viva da nossa origem; é entrar no processo de conhecimento (leia-se: co-nascimento) e de proclamação do nome do Senhor em nossa vida; é tornar-se participante do novo céu e da nova terra, impregnados e conduzidos pelo Espírito do Senhor e seu santo modo de operar. [1] Entre os diversos sentidos de mistério deve-se destacar: obra, operação, plano, desígnio e história ou aventura divina.
Extraído de: Em Nome do Senhor Começa a Vida e a Regra Franciscana / Dorvalino Fassini. In: Fraternidade N. Sª dos Anjos da Porciúncula [blog], 19 maio 2010. disponível em http://ofsporciuncula.blogspot.com/2010/05/em-nome-do-senhor-comeca-vida-e-regra.html acesso em 20 maio 2010.Ilustração: Saint Francis of Assisi Gave the Canon to Franciscan Orders / Niccolò Antonio Colantonio. Entre 1440-1470. Napoli : Museo di Capodimonte. Disponível em
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Colantonio_002.jpg acesso em 19 maio 2010.