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domingo, 28 de setembro de 2008

Site das Franciscanas da Penitência e Caridade Cristã

Nossa missão é anunciar Jesus Cristo através da educação, serviço social, saúde, inserção em meios populares, catequese e missão além fronteira.

http://www.irmasfranciscanas.com

Site das Franciscanas de Nossa Senhora Aparecida


O Carisma recebido por Madre Clara Maria, a Fundadora, e suas primeiras Companheiras, de viver o Evangelho de Jesus Cristo ao modo de São Francisco e Santa Clara de Assis e a missão de “viverem e atuarem no meio do povo, servindo aos mais abandonados, nos porões da humanidade, onde ninguém se acotovela” vem recebendo crescente cuidado em toda a formação, tanto inicial como permanente. As Irmãs seguem buscando na vida e prática diária a experiência de Betânia, “sendo Martas pela ação sem deixar de ser Marias pelo recolhimento e união com Deus”, na vivência da Caridade, recomendações fundamentais de Madre Clara e Frei Pacífico.

http://www.cifa.org.br

Site das Franciscanas Missionárias de Maria Auxiliadora


A Congregação das Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria Auxiliadora é uma congregação de Irmãs consagradas a Deus, que vivem em fraternidade, partilham a vida, testemunham o amor misericordioso de Deus Uno e Trino, como operárias do Reino, na prática das obras de misericórdia, atentas às necessidades dos irmãos e irmãs a exemplo de São Francisco de Assis e da fundadora, a Bem-aventurada Maria Bernarda Bütler (que será canonisada em 12 out. próximo).

http://www.assecfranciscanas.org.br

Oração a São Miguel


Paz e bem!

Amanhã é a festa de São Miguel Arcanjo
e como Francisco tinha grande devoção por ele
posto esta oração
que é um poco diferente
da que normalmente encontramos por aí:

São Miguel Arcanjo,
protegei-nos no combate;
cobri-nos com vosso escudo
contra as ciladas do maligno.
Subjugue-o Deus,
instantemente o pedimos.

E vós,
príncipe da milícia celeste,
pelo divino poder,
acompanhai-nos,
sede nosso refúgio e proteção,
defendei-nos
de todos os espíritos maus.

São Miguel Arcanjo,
intercedei por nós ao Senhor
para que o bem triunfe no mundo
e todos os seres humanos
alcancem a salvação
em Cristo.
Amém!

Sacratíssimo Coração de Jesus,
tende piedade de nós.
(três vezes)

São Miguel Arcanjo,
rogai por nós.

Nossa Senhora Mãe de Deus,
rogai por nós.

Fonte:
LEMBRANÇA da festa em louvor do glorioso padroeiro da Irmandade do Arcanjo São Miguel e Almas. Porto Alegre, 28 set. 2008.

sábado, 27 de setembro de 2008

Site das Franciscanas de Allegany

As Irmãs Franciscanas de Allegany estão presentes nos Estados Unidos da América, Bolivia, Peru e Brasil.

No Brasil estão atuando nos Estados de Goiás, Tocantins e Bahia. As Irmãs estão atentas às necessidades da Igreja e do povo de Deus, se colocando a serviço especialmente daqueles que mais necessitam.

Desempenham trabalhos significativos na Pastoral Paroquial, Saúde, Educação e Ministérios internos.

http://www.franciscanasgo.org.br

Site das Franciscanas do Coração de Maria


O carisma das Irmãs Franciscanas do Coração de Maria é “ser presença do Coração materno de Maria”, em todos os lugares e situações onde a vida está ameaçada. Assim a Irmã Franciscana do Coração de Maria se dedica em levar à humanidade sofredora a ternura do Coração de Maria numa presença franciscana, com amor materno, no cuidado e educação de crianças, adolescentes e jovens, no cuidado e amparo de velhinhos e abandonados; no cuidado e dedicação aos doentes e sofredores, no cuidado que evangeliza anunciando a Boa Nova, nas Paróquias e Casas de Missão.

http://www.fcmaria.org.br

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Quando se ama apaixonadamente

Frei Almir Ribeiro Guimarães,OFM (*)
1. A paixão é cega e cega os que se deixam dominar por ela. Temos, até certo ponto, medo dos apaixonados. Nem sempre as ditas pessoas apaixonadas dão provas de um certo equilíbrio. Há mesmo muitos crimes passionais. Com muita facilidade se pode passar do amor paixão ao ódio visceral. O amor-paixão pode ser perigoso. Pode destruir e não construir.

2. E, no entanto, não pode haver amor morno para Cristo e para o Evangelho. Há uma palavra dura do Apocalipse que sempre nos questiona. A testemunha fiel, o Amém, assim se dirige ao anjo da Igreja de Laodicéia: “Conheço as tuas obras. Oxalá, fosses frio ou quente. Mas porque és morno, nem frio nem quente, estou para vomitar-te de minha boca” (Ap 3,14-15). Nos últimos tempos temos ouvido e lido muito a respeito da expressão “ardor”, “novo ardor”. Quem fala em ardor pensa naquilo que queima, que é quente. Não podemos elogiar um cristão frio, indiferente, rotineiro, “fazedor de rezas e de tarefas”.

3. Ora, Francisco de Assis foi uma pessoa fervorosa. Podemos dizer que apaixonou-se por Cristo, isto é, teve os mesmos sentimentos de Cristo. Encantou-se com seu nascimento singelo, com sua mãezinha pobre, com o fato de não ter ele tido uma pedra para reclinar a cabeça. Francisco viveu interiormente a solidão e o abandono de Cristo em sua via sacra até o alto do trono pobre e duro da cruz. Compreendeu que Deus amava tornando-se simples, despojado, pobre. Encantava-se com o Senhor pobre e despojado nas frágeis aparências do pão.

4. Há, no coração de Francisco, o desejo de amar aquele que não é amado. Famosa a formulação franciscana: O amor não é amado. Se o amor não é amado será preciso tornar-se arauto e divulgador desse amor. Isso se chama zelo missionário ou apostólico. Os franciscanos seculares têm consciência aguda dessa necessidade.

5. “Devotava a Cristo um amor tão fervente, e seu bem amado lhe correspondia com uma ternura tão familiar que o servo de Deus pensava ter diante dos olhos a presença quase contínua do Salvador. Ele mesmo contou isso confidencialmente, várias vezes, a seus companheiros” (São Boaventura IX,2).

6. Omer Englebert tentando compreender o que se passou no coração de Francisco no momento de sua conversão, assim escreve: “O que se pode dizer é que, nesse momento, Francisco é um homem que encontrou o amor e que se sente iluminado do alto. E como tal agirá doravante, consentindo em passar por visionário aos olhos dos cegos que andam nas trevas, e cumprindo atos tidos por loucos por parte dos que nunca amaram. Pode-se acrescentar que nele sobreviverão, no que tem de melhor, seus entusiasmos e ambições juvenis. Como um artista que não muda de estilo ao mudar a inspiração, ele não perderá a originalidade nem tampouco sua nobreza. Ele tinha sonhado ser cavaleiro e cavaleiros permanecerá até à morte” (Vida de São Francisco de Assis, EST Edições, Porto Alegre, 2004, p.51).

7. Pensar em Francisco é pensar em alguém abrasado de amor. Ele foi designado de santo seráfico, por ser semelhante aos serafins, que vivem perto do fogo que é Deus.

8. Temos que prestar atenção para que nosso amor não seja paixão cega. De outro lado, o que seria um amor por Cristo sem um apaixonado e apaixonante testemunho? Há os que amam Cristo fria e cerebralmente. Há outros que o amam zelosa e apaixonadamente.

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM,
é Assistente Nacional da OFS pela OFM
e Assistente Regional da OFM na Região Sudeste II.
Email: freialmir@hotmail.com

Extraído de http://www.franciscanos.org.br/noticias/noticias_especiais/2008/almir_070808/artigos_07.php acesso em 26 set. 2008.

Ilustração de Amaniero (aka Seldon).

Site das Franciscanas Alcantarinas

Franciscanas porque a primeira jovem, Maria Luiza Russo, a quem foi confiada a responsabilidade do grupo inicial, era consagrada Terciária Franciscana, ou seja, trazia em seu “currículo oculto”, em sua maneira de ser e de viver a vida cristã, a espiritualidade proposta por São Francisco de Assis que é o Evangelho vivido integralmente, aceitando de modo especial a vida fraterna, humilde, pobre, “sem nada de próprio”.

Alcantarinas porque a Congregação tem um referencial forte em São Pedro de Alcântara, uma vez que o primeiro grupo recebeu o acompanhamento espiritual dos Frades Menores Alcantarinos. São Pedro de Alcântara foi um franciscano que se distinguiu pelo amor fervoroso à Paixão e buscou sua perfeição na pessoa de Cristo Crucificado.

http://www.franciscanasalcantarinas.org.br

Site das Franciscanas da Imaculada Conceição

"Fiéis a herança da Madre Fundadora, pretendemos viver no meio do povo, procurando, contudo, sempre a constante união com Deus"

http://www.irmasfranciscanas-fic.com.br

Site das Franciscanas do Sagrado Coração de Jesus

A Congregação das Irmãs Franciscanas do Sagrado Coração de Jesus, tem na Igreja como espiritualidade e carisma: o louvor, adoração e reparação ao Sagrado Coração de Jesus, presente na Eucaristia; o seguimento de Cristo pobre, humilde e crucificado, no serviço aos mais necessitados, vivendo a pobreza de São Francisco de Assis.

http://www.franciscanascj.com.br

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A Mensagem de Jesus tem de ser encarnada

Neste ano, em que nasceu o movimento franciscano há 800 anos, lembramos das características fundamentais do carisma franciscano as quais, há 26 anos, foram enumeradas durante o congresso internacional da Família Franciscana de Mattli. Foi a primeira tentativa de reler a herança franciscana desde a óptica do chamado Terceiro Mundo traduzindo-a para o nosso mundo de hoje. Neste processo, aprendemos que, sobretudo, os irmãos e as irmãs do “Primeiro Mundo” têm de mudar consideravelmente de idéias. Este processo de aprendizagem continua sendo muito atual hoje em dia.

O cristianismo espalhou-se por todo o mundo seguindo a história européia do descobrimento e da colonização. A expansão da civilização européia e do cristianismo europeu realizaram-se paralelamente. E isto, numa simbiose tão unida que não se distinguiu entre o que foi realmente o Evangelho, e o que foi a cristandade européia. Ainda não era conhecido o termo de inculturação. Também a Família Franciscana, que nos últimos 500 anos, teve uma grande participação na obra missionária da Igreja, não foi capaz de se opor a esta tendência. Seguiu as regras da Igreja Romana transplantando as formas e os modos de viver da sua comunidade para as outras culturas. Isto vale para os trajes, para o estilo de construção dos seus conventos, para o modo de viver e os costumes duma comunidade bem como para a determinação do âmbito de tarefas. A missão foi um transplante da Alemanha, da Holanda, da Itália, da Espanha, de Portugal, dos Estados Unidos etc. E se realizou de tal modo que, ainda hoje, é possível determinar a origem nacional de cada comunidade.

É verdade, que a mensagem do Evangelho só pode ser transmitida com os instrumentos duma cultura, mas tem de ser fundamentada e enraizada de novo em cada cultura. Por isso, os próprios critérios e valores culturais não devem ser simplesmente transferidos. Isto vale para a liturgia, a teologia, os ministérios e âmbitos de atividades na mesma medida. A mensagem de Jesus tem de ser “encarnada” em cada cultura, isto é, converter-se em criação nova. É uma mensagem em muitos rostos, marcados pelos problemas e modos de viver socio-culturais próprios dum país ou dum continente.

Francisco, seguramente, não conheceu o termo de “inculturação”. Mas como tinha uma visão genial adivinhou o que era o mais importante. A sua indicação na Regra de 1223 aponta para este fato: “Os irmãos devem vestir-se conforme o lugar e o tempo e regiões frias” (Reg 1 4). Deviam tomar atenção “ao modo de viver” ou conforme outros usos e costumes determinados pelo clima e pelo meio. Não foi só um conselho sábio mas sim algo como uma exortação à inculturação. O fato de ele ser uma pessoa extraordinariamente aberta e livre é demonstrado também pelo fato de que se deixava impressionar pela piedade dos muçulmanos e das suas formas de expressão, isto é, da sua cultura.

E, marcado por esta impressão, dá regras claras para os irmãos que queiram ir para a missão. A primeira coisa que têm de fazer é o seguinte: “que não comecem nem colaborem em brigas e disputas, mas sim sejam, por amor de Deus, súbditos a cada criatura humana e confessem que são cristãos” (Reg 2 16,6). O testemunho da vida é o primeiro e mais importante sermão. Numa época na qual havia guerras religiosas ferozes entre cristãos e muçulmanos e todos queriam ter razão, esta atitude foi uma sensação. Enquanto que a Igreja oficial fez guerras em nome de Cristo e por causa do Evangelho, Francisco pregou o “ser súbdito” como a primeira e mais importante maneira de missão. Só deviam pregar quando notarem que é do agrado do Senhor. Esta é a pura inculturação.

Desta maneira Francisco vive o Evangelho de Deus, do Pai e Criador, e de Cristo, o Salvador. O que valem todas as palavras bonitas sobre o amor paternal de Deus, o que valem todos os louvores sobre a alteza do Criador, se dividirmos os homens em pobres e ricos, em senhores e servos, em bons e maus; e se utilizarmos a Criação como um armazém explorando a terra desertificando-a? A mensagem libertadora de Reino vindouro de Deus só é aceite se for vivida sem querer impô-la. E toda a riqueza desta mensagem se torna visível se se puder desenvolver nas muitas culturas desta humanidade única. Isto é o que as pessoas franciscanas deveriam fazer notar no ano do Jubileu de 2008.


Andreas Müller OFM
Extraído de http://www.ccfmc.net/wPortugues/cbcmf/cbcmf-news/2008/2008_09_News.shtml acesso em 25 set. 2008.

Site das Servas Franciscanas Reparadoras de Jesus Sacramentado


A característica principal da nossa Congregação no seio da Igreja, está expressa no seu lema: "ADOREMUS IN AETERNUM SANCTISSIMUM SACRAMENTUM", que há-de caracterizar-se no amor, adoração e reparação a Jesus Sacramentado, de preferência nos sacrários pobres e abandonados das aldeias.

http://www.sfrjs.org

Site das Franciscanas de Nossa Senhora do Amparo


Nosso Carisma é SER AMPARO. Com Maria, aprendemos a amparar e a servir aos mais necessitados.

A Irmã do Amparo é aquela que, à semelhança de Maria, ajuda Deus a amparar as pessoas e a cuidar das coisas. Para estarmos inseridas no Carisma do Amparo, temos que buscar e adquirir o mesmo jeito de amparar, de cuidar que Nossa Senhora teve. Este jeito é todo um dinamismo que está entregue à Providência Divina.

http://www.franciscanasdoamparo.org.br

Site das Franciscanas de Dillingen

"Inspiradas em São Francisco de Assis, seguir Jesus Cristo, o servo de Deus, pobre, crucificado e ressuscitado, vivendo a contemplação na ação, atentas às necessidades dos tempos e aos apelos da Igreja” é o nosso carisma, como Franciscanas de Dillingen.

http://www.dillingenfranciscanas.com.br

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Site das Franciscanas Evangelizadoras de Nossa Senhora da Esperança

A Fraternidade Franciscana Evangelizadora de Nossa Senhora da Esperança foi fundada em 1985 e viria a ser canonicamente aprovada em 1988. Despontou na pequena aldeia de Azinhaga do Ribatejo no Distrito de Santarém, onde esteve sediada até 2001. A partir desta data a sede foi transferida para Santarém.

http://www.ifense.com

Site das Franciscanas de Ingolstadt


Somos Franciscanas de Ingolstadt, Irmãs do Gnadenthal, fonte de graças e bênçãos por onde passamos. Queremos ser missionárias, educadoras, cuidando da formação humana, espiritual e profissional das Irmãs para promover e restaurar a Vida nos diversos campos de atividades atendendo às necessidades do tempo e lugar.

http://www.franciscanas.org.br

Site das Franciscanas Missionárias do Coração Imaculado de Maria


“A nossa forma de vida, segundo o carisma-espiritualidade da Fundadora, é viver em fraternidade o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, “Esposo crucificado nu, e abandonado”, e nele ser enviadas para “fatigar-se pela conversão de povos de além-mar”, na fidelidade à Mãe Igreja, nas pegadas de São Francisco, verdadeiro amigo e imitador de Cristo” (Const. Art. 2).

http://www.irmasfranciscanas.org.br

Site das Irmãs Franciscanas de São José

A exemplo de São Francisco de Assis as Irmãs Franciscanas de São José buscam "ter o Espírito do Senhor e o seu santo modo de operar" nas diferentes situações do complexo mundo de hoje, buscando ser fiéis discípulas de Jesus Cristo, realizando a missão deixada pela fundadora, Madre Alphonsa Kuborn:

"Difundir no universo o Deus da misericórdia".

http://www.cifsj.org.br

Site das Irmãs Franciscanas da Santíssima Trindade

As Irmãs Franciscanas da Santíssima Trindade são chamadas, hoje, para ser presença do Amor Trinitário, servindo a Cristo nos mais necessitados.

http://www.franciscanas.com.br

Site das Irmãs Franciscanas da Providência de Deus


"Nós, as Irmãs Franciscanas da Providência de Deus, inspiradas em São Francisco de Assis a seguir Jesus Cristo em total disponibilidade à Providência de Deus: abraçamos a Vida Evangélica em Comunidade, buscando viver a pobreza de Jesus Cristo a anunciar a paz, na alegria do Espírito".

http://www.irfranprovdeus.org.br

Site da União Missionária Franciscana


A UMF é um movimento eclesial, para ajudar a conhecer, a amar o apostolado missionário e auxiliar os Missionários Fransciscanos, sobretudo pela oração, promoção de vocações missionárias, apoio moral e material.

http://www.uniao-missionaria-franciscana.org

Família Bernardone: Pedro, Pica, Francisco e Ângelo


Pedro Bernardone tinha loja em Assis e se dedicava não à produção de tecidos de lã, mas ao comércio de tecidos de luxo. Mesmo que ignoremos os aspectos específicos e particulares desta atividade, o fato de Pedro Bernardone viajar para a França nos indica a importância dela: era importador de tecidos de luxo que, depois, os revendia com larga margens de lucro. Ao que parece, foi um respeitável homem de negócios, aquele que iniciou a fortuna da família, e que foi perpetuada mesmo após sua morte, já que Ângelo, seu outro filho, atestado por documentos do século XIII, e depois os seus netos, tiveram larga disponibilidade financeira e várias casas.

A riqueza material era acompanhada pelo pai do santo por intenso amor ao dinheiro, por uma atividade intensa que chamamos análoga, senão idêntica, em outros comerciantes de seu tempo. É precisamente esta mentalidade que, no confronto entre pai e filho, causará desprezo a Pedro Bernardone, com acusações de dureza de coração, de incompreensão, de malvadez. O que sabemos dele, considerando a indicação documentada, se apóia nos biógrafos do santo, homens da igreja que continuam a tradição segundo a qual a atividade mercantil está associada ao pecado.

Esta mentalidade capitalista devia incluir a capacidade de ler, escrever e fazer contas, acompanhada de um conhecimento, embora elementar, de latim: era costume que os escrivões escrevessem em latim, pois na segunda metade do século XII as conclusões de negócios, compras e vendas eram redigidas em latim. As viagens de negócios devem te-lo forçado a aprender francês e, com ele, deve te-lo aprendido o filho Francisco, que – como nos dizem com absoluta concordância de todas as fontes – gostava de cantar em francês.

Sabe-se menos ainda sobre sua mãe. O nome Pica aparece bastante tarde e, em todo caso, nunca nas fontes mais dignas de fé em questões relativas a Assis, como a Legenda trium sociorum. Ainda mais tardia é a informação que possua origem provençal, assim como outra que diz ser proveniente de Lucca. Todos esses dados que fogem à capacidade atual de qualquer demonstração objetiva e inequívoca, enquanto outros, como o cuidado com a saúde frágil de seu filho e sua demonstração de afeto, parecem condizer com os fatos. Pica é quase sempre representada positivamente pelos biógrafos - nesse ponto, somente Tomás de Celano faria surgir algumas dúvidas, cujos limites, já delimitamos no que diz respeito ao seu juízo à família de Francisco.

Os biógrafos apresentam-nos, ainda, o irmão Ângelo, mas apenas para dizer-nos de sua avidez e seu desejo de recuperar o que Francisco, em seu louco desejo de doar, parecia dilapidar.



MANSELLI, Raoul. São Francisco. Editora Vozes: Petrópolis, 1997.

domingo, 21 de setembro de 2008

800 Anos de Ternura e Resistência

"800 Anos de Ternura e Resistência" é um vídeo em homenagem aos 800 Anos do Nascimento do Carisma Franciscano (1208-2008).

Em outubro de 2008, toda a Família Franciscana na América Latina se reunirá em Brasília/DF, para celebrar esse momento tão especial, com o tema: "Reviver o Sonho de Francisco e Clara de Assis no Chão da América Latina e Caribe"

Paz e Bem à todos e todas!

Francisco o Irmão Universal

Este filme apresenta a família Franciscana espalhada pelo mundo, a partir do sonho de Francisco de Assis.
Venha participar deste sonho!

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Boaventura



No seu pensamento Boaventura é acentuadamente conservador: "Assim como no primeiro livro me ative às Sentenças e às opiniões comuns dos mestres, principalmente do Mestre e Pai de respeitosa memória, do Frei Alexandre, assim também nos livros seguintes, … pois não tenho a intenção de oferecer novas concepções, mas a de conservar e valorizar as tradicionais." Sob este aspecto é tido como o representante clássico da velha tradição agostiniana. Já a conhecemos e por isso vamos nos limitar aos traços capitais da imagem onde ela, com Boaventura, se espalha.


Deus

Como para Agostinho, também para Boaventura Deus é a pedra angular da sua filosofia. Ao passo que para Tomás o ser é a idéia mais geral e o que primeiro conhecemos, para Boaventura o primum cognitum é Deus. Descobrimo-lo em nossa alma e por isso logo nela o reconhecemos, pois nela está ele mais presente que alhures: Ergo inseria est ipsi animae notitia Dei sui. Em particular, ele é a verdade, que nos deixa descobrir Deus em nós mesmos, e a verdade na sua imutabilidade. O mesmo se diga da experiência do bem, que sempre pressupõe um bem supremo onde Deus se revela. Boaventura também aceita a prova anselmiana de Deus; mas também a prova aposteriori que, da natureza, conclui Deus. Mas da sua preferência é o conhecimento intuitivo apriori de Deus na experiência que a alma tem de si mesmo e dos seus atos. A natureza de Deus é o ser, vida, poder, verdade, plenitude de idéias eternas.


O mundo

De Deus procede também o mundo; Deus o cria, mas não por una criação eterna, esta parecendo a Boaventura contraditória em si mesma. Sempre e naturalmente a criatura é sombra, imagem e vestígio de Deus (exem-plarismus). Todo ser criado é por força composto de essência e existência, matéria e forma. Na terminologia dessa doutrina Boaventura é claramente influenciado por Avencebrol, embora se exprima como um agostiniano. Boaventura admite a pluralidade de formas num mesmo ser. Há, certo, para cada ser particular uma forma completa; mas com essa forma totalizante coexistem outras formas inferiores tanto no homem como em geral no reino orgânico e no inorgânico. A idéia de matéria-prima não significa para Boaventura total indeterminação e simples possibilidade, mas encerra as virtudes germinativas (rationes seminales), que implicam numa certa causalidade interna. E assim tudo o que procede da matéria não deve atribuir-se somente à ação de uma causalidade externa e da forma. A forma da corporeidade Boaventura a encontra na luz. Serve-se ele aqui também da terminologia aristotélica, entendendo-a porém no sentido da metafísica da luz, como já o vimos com Grosseteste.


A alma

Também na doutrina da alma sente-se a influencia de Aristóteles.


O conhecimento

Na questão do conhecimento do mundo material, Boa ventura concede que nós haurimos a ciência por abstração da experiência sensível. Isso, é claro, só imediatamente e, por assim dizer, no concernente ao ponto de partida; pois o espírito precisa unir-se com as idéias eternas, quando se trata de apreender verdades puras e, em todo caso, no atinente à metafísica de Deus e da alma bem como as verdades puras da experiência da natureza. "Pois as cousas — diz ele — têm tríplice ser: o existente no espírito que conhece, na sua própria realidade e no espírito eterno. Por isso não basta à nossa alma, para ter uma ciência certa, a verdade das cousas em si mesmas, nem a verdade destas na sua realidade própria, porque em ambos os casos essa verdade é sempre mutável. Daí vem o precisar buscar ele o seu fundamento na ciência divina" (De scientia Christi, q. 4; concl.: Opera omnia, V, pg. 23 Quaracchi). Vemos assim imediatamente a conexão deste modo de pensar com a doutrina da iluminação agostiniana. Mas não está bem claro se Boaventura pensa numa influência funcional do ato do conhecimento por parte de Deus, ou se quer simplesmente dizer que qualquer verdade certa, exatamente pelo que o seu conteúdo tem de verdadeiro, última e imediatamente, em virtude de uma intuição da essência, surge luminosa para o espírito por uma espécie de análise. Seja como for, em cada caso particular a verdade, para Boaventura, se apóia em fundamentos apriori, pois a sensibilidade é apenas o ponto de partida do conhecimento. Assim o exige também o seu exemplarismo. O verdadeiro mundo, assim para Boaventura, como para Agostinho e Platão, é o mundo das idéias primeiras e eternas.

Faculdades da alma

Na questão das relações entre as faculdades da alma e a substância da mesma, Boaventura é prudente. Não aceita a distinção real dos tomistas; mas também não se pronuncia por uma identidade formal, mas vê nelas algo como um constitutivo formal.


Corpo e alma

Na questão das relações entre o corpo e a alma gravita Boaventura na direção de uma maior auto-subsistência e independência da alma. Não é pela doutrina tomista da unio substantialis; o corpo tem sua forma própria (a luz), mas o homem é susceptível além disso de uma série de formas e a alma mesmo é composta de matéria e forma. Contudo a alma age para com o corpo como uma determinante que superforma e totaliza tudo.

Giovanni Lotario di Segni, Papa Inocêncio III


Papa italiano da igreja apostólica romana (1198-1216), nascido no castelo de Gavignano, em Anagni, Frosinone, perto de Roma, considerado um dos mais importantes da Idade Média, que promoveu as violentas quarta cruzada (1202-1204), que saqueou Constantinopla, e a frustrada cruzada contra os hereges cátaros ou albigenses do sul da França, que preferiram morrer na fogueira a abjurar sua fé.

De família nobre de origem germânica, aparentada com as principais famílias da aristocracia romana, era filho do Conde Trasimund de Segni e sobrinho do papa Clemente III, estudou teologia e direito canônico em Roma, completou os estudos de teologia na universidade de Paris e os de jurisprudência em Bolonha. Destacou-se logo por seus dotes de estudioso, a grande energia, as altas qualidades morais e a intuição política, tornando-se um importante teólogo e um dos grandes juristas de sua época. Após a morte de Alexandre III (1181) voltou à Roma e exerceu vários cargos eclesiásticos durante os curtos reinados de Lúcio III (1181-1185), Urbano III (1185-1187), Gregório VIII (1187), por quem foi ordenado subdiácono, e Clemente III (1187-1191), que o tornou Cardeal-Diácono de Saint George, em Velabro, e Saints Sergius e Bacchus (1190) e depois Cardeal-Pároco de St. Pudentiana (1190). Durante o pontificado de Celestino III (1191-1198), membro da Casa de Orsini e inimigo da Corte dos Segni, retirou-se para Anagni, dedicando-se a meditação e a literatura. Com a morte de Celestino III em 8 de janeiro (1198), embora este tenha indicado em vida ao Colégio de Cardeais, Giovanni di Colonna como seu sucessor, contrariando seu antecessor foi eleito papa em 22 de fevereiro (1198) e adotou o nome de Inocêncio III (1198), com apenas 37 anos de idade.

Consagrado dedicou o seu pontificado à reforma moral da Igreja, à luta contra os heréticos e os infiéis, à afirmação dos ideais teocráticos já expressos por Nicolau I, Gregório VII e Alexandre III, que ele desejou ratificar com maior autoridade e firmeza. Baseava-se em princípios do direito canônico e da escolástica para defender a supremacia papal sobre todos os que reinavam na terra, uma vez que considerava o papa, vigário de Cristo, o detentor de ambos os poderes, espiritual e temporal. Dobrou o poder de algumas grandes famílias da aristocracia romana e obteve o juramento de fidelidade do prefeito de Roma e do Senado (1198), enfraquecido após a morte do imperador Henrique VI (1197), cujo filho mais velho, Frederico II, rei da Sicília, tinha apenas 4 anos de idade, e impôs a soberania de Roma aos principais reinos europeus, aproveitando-se da vacância do trono. Nos anos seguintes, ainda foi forçado a abandonar Roma várias vezes nos confrontos com a aristocracia rebelde, até que chegou a um acordo (1205).

Politicamente defendeu os direitos materiais da igreja como a anexação de Spoleto, Ancona e Ravena aos Estados Pontifícios. Realizou a reforma da cúria romana e dos mosteiros, favoreceu a criação de ordens mendicantes, como franciscanos e dominicanos Convocada pelo pontífice no início de seu reinado, a quarta cruzada (1202-1204), chefiada por Balduíno de Flandres, Bonifácio de Montferrato e pelo doge veneziano Henrique Dândolo, encerrou-se com a conquista e o saque de Constantinopla e a fundação do Império Latino do Oriente, que foi obrigado a ratificar, contra a vontade. Esta cruzada assinalou uma interrupção dos ideais que haviam inspirado as cruzadas anteriores, deixando de ser um empreendimento coletivo de todo o mundo ocidental para se transformar em uma expedição de soberanos isolados ou de nações isoladas, levando ao enfraquecimento do entusiasmo pela reconquista da cidade santa, o que fatalmente contribuiu para o fracasso dos diversos movimentos cruzados posteriores.

Convocou o Concílio IV de Latrão (1215), 12º Concílio Ecumênico, que consolidou a autoridade papal e realizou notáveis reformas eclesiásticas. Papa de número 177, morreu 16 de julho (1216), em Perugia, e foi sucedido por Honório III (1216-1227).



Fonte: www.dec.ufcg.edu.br

NOS CAMINHOS DO SENHOR

“Todos os caminhos do Senhor são graça e fidelidade, para aqueles que guardam sua aliança e seus preceitos”. (Sl 24,10).

É muito bom saber que não há outro caminho para o encontro definitivo com Deus Pai senão o caminho da obediência em Cristo Jesus. Aqui nesse nosso mundo natural, trilham-se vários caminhos, mas todos esses caminhos trilhados não passam de veredas que dão a lugar nenhum; assim, os homens trilham os seus próprios caminhos sem se darem conta que são caminhos de morte, e isso sabemos pelo resultado desses caminhos; pois, se conhece a árvore pelos frutos que dá.

Para nós que seguimos o caminho da perfeição em Cristo Jesus, sabemos que tudo concorre para o bem daqueles que amam o Senhor e não hesitam em segui-lo fielmente, carregando com Ele a cruz que para nós é certeza de ressurreição; pois, a cruz é a porta estreita da salvação e por ela nos exercitamos na mais profunda das experiências humanas que é o amar a Deus acima de todas as coisas, com todas as nossas forças, com todo o nosso ser e entendimento.

Quem, em nosso meio, nunca passou por alguma dificuldade seja ela qual for? Quem nunca chorou as perdas que comumente acontece em meio às provações deste mundo? Sofrimentos são tantos e todos os dias, mas mesmo nos sofrimentos temos lampejos de alentos, de alegria que amenizam nossa dor; temos o conforto da fé e do amor de Deus que nos aponta para o alto da cruz nos dizendo, que é preciso a perseverança porque após a tempestade vem sempre a bonança.

“Considerai que é suma alegria, meus irmãos, quando passais por diversas provações, sabendo que a prova da vossa fé produz a paciência. Mas é preciso que a paciência efetue a sua obra, a fim de serdes perfeitos e íntegros, sem fraqueza alguma”. (Tg 1,2-4). “Estais sendo provados para a vossa correção: é Deus que vos trata como filhos. Ora, qual é o filho a quem seu pai não corrige? Mas se permanecêsseis sem a correção que é comum a todos, seríeis bastardos e não filhos legítimos”. (Heb 12,7-8).

“É verdade que toda correção parece, de momento, antes motivo de pesar que de alegria. Mais tarde, porém, granjeia aos que por ela se exercitaram o melhor fruto de justiça e de paz. Levantai, pois, vossas mãos fatigadas e vossos joelhos trêmulos (Is 35,3). Dirigi os vossos passos pelo caminho certo. Os que claudicam tornem ao bom caminho e não se desviem. Procurai a paz com todos e ao mesmo tempo a santidade, sem a qual ninguém pode ver o Senhor”. (Heb 12,11-14).

Porque “Não vos sobreveio tentação alguma que ultrapassasse as forças humanas. Deus é fiel: não permitirá que sejais tentados além das vossas forças, mas com a tentação ele vos dará os meios de suportá-la e sairdes dela”. (1Cor 10,13). Pois, é impossível amar e servir ao Senhor e não experimentar a sua graça e consolação em toda sua plenitude; é impossível alguém ser fiel a Deus e não viver debaixo do seu divino amparo.

Portanto, quando Jesus nos diz: “Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me”. (Mt 16,24). É porque Ele nos dar a garantia que nos conduzirá à morada eterna, lugar definitivo da consolação dos justos, da felicidade dos eleitos; daqueles que sofreram com Ele as angustias dos inocentes e permaneceram fiéis a toda prova e desafio de fé, na certeza de que o que prevalece para sempre é o amor à verdade e à vontade de Deus que nos criou para a Sua Glória.

Paz e Bem!

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Legenda dos Três Companheiros


1. O livro que conhecemos

Um dos documentos biográficos mais importantes sobre São Francisco chama-se Legenda dos Três Companheiros. Recebeu esse nome porque os manuscritos conhecidos começam com uma Carta escrita em Grécio aos 11 de agosto de 1246 e dirigida ao Ministro Geral apresentando as notas biográficas de Francisco dadas por três de seus primeiros companheiros: Frei Leão, Frei Rufino e Frei Ângelo. Mas a própria Carta parece mostrar que a biografia que a segue não é dos companheiros de Francisco, pois diz: "Não vamos escrever estas coisas como uma legenda... Antes, como se estivéssemos em um agradável jardim, escolhemos algumas flores que nos pareceram mais bonitas, sem seguir o fio da história e deixamos de propósito muitas coisas que já estão escritas nas referidas legendas...". Fica claro que os "três companheiros" a-presentaram um florilégio, isto é, um conjunto de casos mais ou menos agrupados por temas. Para explicar como a carta foi parar no começo da Legenda que conhecemos como "dos Três Companheiros", foram levantadas as mais variadas hipóteses. Vamos falar disso mais adiante. O importante é que temos em mãos um precioso documento, certamente nascido no sec. XIII, com uma vida de São Francisco pedagogicamente muito bem elaborada, que apresenta o processo de santificação de Francisco e também o processo de evolução da Ordem dentro da Igreja. Colocamos, adiante, um quadro com o desenvolvimento geral para dar uma visão de conjunto.


2. História da LTC

A Legenda dos Três Companheiros já era conhecida por L. Wadding, quando escreveu os Annales Minorum, no sec. XVII. A primeira edição impressa, foi feita em 1798 pelo bolandista C. Suyskens, que lhe deu o título de "Apêndice inédito à Vida Primeira, elaborado por três companheiros do próprio São Francisco". Era a transcrição de um códice dos franciscanos recoletos de Lovaina. Desde essa data, a LTC com a carta introdutória foram consideradas fontes autênticas. No sec. XIX prosperaram edições baseadas no cod. Vaticano 7339 e numa vulgarização italiana transcrita em 1577 pelo oratoriano Muzio Achillei. O cod. 7339 tem um enorme acréscimo no começo (em relação ao texto que conhecemos hoje). Foi publicado a primeira vez em 1831 por Frei Estêvão Rinaldi e uma segunda vez em 1880 por L. Amoni. A vulgarização italiana, por sua vez, tem um grande acréscimo no final. No fim do sec. XIX havia três publicações: Suyskens, a vulgarização italiana e Rinaldi-Amoni. No começo de seus estudos, Sabatier dizia que a LTC era o melhor texto sobre São Francisco, embora acreditasse que as autoridades da Ordem tinham mutilado o texto. Depois que achou o Espelho de Perfeição, deixou um pouco de lado a LTC. Acreditava que a Legenda dos Três Companheiros fora escrita em 1246 e o Espelho da Perfeição em 1227. Em 1898, Faloci Pulignani editou um códice que estava com os capuchinhos de Foligno (agora na cúria provincial). Em 1917, F. Delorme publicou o texto do Friburgense 23 J 60 (só trechos). Baseados na idéia de Sabatier, de que o texto do bolandistas e o italiano eram anteriores a uma parte dos cortes feitos pelas autoridades, Marcelino de Civezza e T. Menichelli publicaram em 1899 uma edição que tentava recuperar o texto íntegro que, para eles, era fundamentalmente o italiano. Refizeram um texto latino usando o Espelho de Perfeição. Saiu uma tradução desse trabalho pela Vozes em 1954. Em 1900, o bolandista Van Ortroy sus-tentou que o texto da LTC dos bolandis-tas era íntegro e por isso não tinham cabimento nem as dúvidas de Sabatier nem a edição Civezza-Menichelli. Mas disse que, embora íntegro, o texto não era autêntico: era obra de algum hábil autor posterior, que se fez passar pelos primeiros discípulos. Salvatore Minocchi separou a carta da LTC e disse que o texto que acompanhou a carta era uma primeira versão do Espelho de Perfeição. Para ele, o texto que conhecemos como LTC era o Quasi stella matutina de João de Ceprano (ou Celano), que acham que está perdido. Argumentava que um prólogo reproduzido pelo códice Vaticano 7339 começava assim: "Praefulgidus ut lucifer et quasi stella matutina...". Depois disso, vários autores tentaram fazer recomposições, especialmente na base da Compilação de Assis (Legenda Perusina). Em 1939, J. Abate publicou o Códice de Sarnano (E60 da biblioteca dessa cidade), tido como mais antigo, pois pode datar do fim do sec. XIII ou começo do XIV. Para Abate, a LTC não poderia ser colocada antes dos anos 70 do sec. XIII, porque depende até da Legenda Maior. Depois disso, tanto Desbonnets (1972) quanto Sofrônio Clasen acabaram defendendo que uma primeira versão da LTC é mesmo de 1246, na base de com-parações com os outros escritos. Mas para Lorenzo de Fonzo, a LTC buscou seu material no Florilégio dos companheiros e no Anônimo Perusino. Para Pierre Beguin, a LTC não representa a totalidade do material enviado pelos Companheiros, nem é uma parte dele, mas foi escrita antes da Vida II de Celano, e aproveitando o Anônimo Perusino. Para Desbonnets, a Carta dos Companheiros enviou junto com as "Flores" as primeiras versões do que conhecemos hoje como Compilação de Assis e Anônimo Perusino. Em 1980, Raoul Manselli sugeriu que se desse à LTC o nome de “Legenda de Assis” pois dá muita atenção a detalhes de Assis, fazendo 34 referências à cidade.


3. O Autor da LTC

Como o livro que estamos apresentando é uma verdadeira Legenda, que narra em ordem a vida de Francisco, não deve ter sido escrito pelos três companheiros do santo que escreveram a Carta de Grécio. Além disso, o autor não parece ser um frade retirado em um eremitério, como era Grécio. Tem acesso a livros que de-viam ser raros e redige como um escrivão público. E parece estar vivendo em Assis, pelas observações constantes que faz sobre a cidade. Aliás, morando em Assis e escrevendo como um profissional da caneta, provavelmente foi um frade do Sacro Convento, com acesso à biblioteca que, provavelmente, era a melhor da Ordem. Por tudo isso, não é sem cabimento a suposição de Minochi de que o autor fosse João de Ceprano ou de Celano. Mas não dá para provar nada. Na realidade, o autor juntou material recolhido da Primeira Vida de Celano, da Biografia escrita por Juliano de Spira e do Anônimo Perusino (quase a metade da LTC é formada por 96% do AP), acrescentando pouca coisa de próprio, por exemplo, nos números 9-10 e 14-15. Mas o autor da LTC foi alguém muito capacitado, que deu outra alma a seu livro, apresentando um São Francisco muito mais místico que o do Anônimo Perusino.


4. Indicações cronológicas

Há alguns elementos que nos ajudam a situar a LTC no tempo. Como ela junta ao nome de Gregório IX um "de saudosa memória" (24) e diz que ele foi benfeitor e defensor dos irmãos "até o fim de sua vida" (67), deve ter sido escrita depois de 22 de agosto de 1241, quando esse papa morreu. Para comparar, o Anônimo Perusino chama Gregório IX de "o venerável senhor e pai" (47) e só diz que foi eleito papa (45). Semelhantemente, o AP apresenta Frei Bernardo de Quintavalle sempre como vivo (10, 11, 12, 14, 21, 31), enquanto a LTC diz que ele era de "santa recordação" (27 e 39). Sabemos que Bernardo morreu entre 1241 e 1246. Por outro lado, se, como sustentam alguns estudiosos, a LTC serviu de fonte para a Segunda Vida de Celano depois de pronta e não quando ainda tinha apenas a forma de "flores" dos companheiros, tem que ter sido escrita até 1246, porque a 2Cel saiu em 1247. Também é interessante aproveitar as indicações cronológicas que estão dentro do texto da Legenda: No n. 27: "transcorridos dois anos de sua conversão... certos homens... uniram-se a eles". No n. 62: "Onze anos haviam decorrido desde o início da Ordem... foram escolhidos ministros". No 66: “No capítulo seguinte (depois na Regra bulada) Francisco concedeu licença aos ministros para receberem frades...". No 68: "Vinte anos após... (1226) apresentou-se diante do Senhor". No 69: "...dois anos antes de sua morte... lhe apareceu um serafim". No 71: Foi canonizado "no ano do Senhor de 1228...". No 72: "Dois anos após a canonização... o corpo foi trasladado".


5. Indicações ambientais – Assis

A nossa Legenda faz contínuas referências a Assis, a seus cidadãos e aos seus arredores, sem falar nas referências à Porciúncula. Em geral, coloca numa luz favorável os conterrâneos de Francisco.


6. Circunstâncias históricas

O autor do livro que conhecemos como Legenda dos Três Companheiros parece não tomar conhecimento dos fatos históricos que sacudiam a Ordem e a Igreja no seu tempo. Mas não podemos pensar que fosse imune ao que se passava e, se de fato cremos que o livro foi escrito por volta de 1246, é interessante recordar alguns dos principais fatos do tempo. Em 1240, o Papa e o Imperador estavam em guerra. As tropas imperiais assediaram Assis. Nessa ocasião, entraram os sarracenos em São Damião. Em 1241, voltaram a cercar Rieti e Assis. Nesse ano, deve ter morrido Frei Bernardo de Quintavalle, no Sacro Convento de Assis. Em 1243, sendo ministro geral Haimo de Faversham, a Ordem estabeleceu normas litúrgicas. Posteriormente foram publicados um missal e um breviário franciscanos que serviram de modelo para toda a Igreja. Foi em junho desse ano que, após uma vacância de dois anos, foi eleito papa o cardeal Sinibaldo Fieschi, com o nome de Inocêncio IV. - É provável que João Fidanza tenha entrado na Ordem nesse ano, em Paris, tomando o nome de Frei Boaventura. Em 1244, com a morte de Haymo de Faversham, o capítulo elegeu como geral Frei Crescêncio de Iesi, que mandou recolher tudo que os frades sabiam sobre Sào Francisco. No fim desse ano, fugindo do imperador, o Papa se refugiou em Lião, na França. Em 1245, Inocêncio IV convocou um concílio para condenar o imperador. Também impôs aos frades que assumissem a responsabilidade por todos os mosteiros das clarissas. Em novembro, escreveu a bula "Ordinem vestrum", em que a Santa Sé assume como seus todos os bens usados pelos frades, e lhes permite que tenham não só o necessário mas também o que for cômodo. Em 1246, Frederico II atacou todos os que apoiavam o Papa, inclusive os frades. Muitos foram mortos ou, pelo menos, expulsos ou encarcerados. No dia 11 de agosto, Frei Leão, Frei Rufino e Frei Ângelo escreveram em Grécio a carta com que apresentaram ao ministro geral tudo que puderam recolher sobre São Francisco: as "flores" que foram passadas para Celano e talvez o Anônimo Perusino e a Compilação de Assis (Legenda Perusina). Em 1247, o capítulo geral de Lião (13 de junho) elegeu Frei João de Parma co-mo ministro geral. Ficaria até 1257. Em agosto, o Papa emite outra bula, a "Quanto studiosius" a respeito da pobreza dos franciscanos: institui os "síndicos apostólicos", encarregados de agir em nome do papa para atender às necessidades dos frades. O geral rejeita a bula. Mas Inocêncio IV também escreve uma nova regra para as clarissas, em que acaba com a sua isenção da propriedade. É o que vai acabar levando Clara a fazer a sua Regra. Assis e Perusa estão em guerra com as tropas do imperador.


7. Francisco místico na LTC

Na Legenda dos Três Companheiros, Francisco já aparece como um santo desde o começo: antes da conversão já punha remendos ordinários em trajes de fazenda caríssima (2), e já achava que ia ser um santo venerado (4). Foi visitado pelo Senhor quando ainda pensava em ser militar (5) e teve êxtases passeando com os companheiros na noite de Assis (7). Subtraía-se do mundo para guardar Jesus Cristo em seu interior (8). Começou a ter a experiência dos leprosos (11) num dia em que estava "a orar com mais fervor". Nessa perspectiva estão a oração numa caverna e em outros lugares afastados (12), o encontro com o Crucificado em São Damião (13), e todo seu amor pela paixão de Jesus (14-15). Seu confronto com o pai (17-19) acon-tece dentro de um profundo espírito religioso, e sua pobreza está intimamente ligada à experiência de Deus (22 e 24). São experiências místicas sua missão evangélica (25), seu encontro com o Papa me Roma (51), como também a visão da árvore (53), a da Porciúncula como centro de luz (56), e mesmo os seus sonhos como o da galinha choca (63). A morte (68) e os estigmas (69-70) são o coroamento de sua experiência mística.


8. A experiência da Igreja

Nosso quadro mostra que há um verdadeiro esquema sobre a Igreja, do número 46 ao 67. Todo o conjunto mostra muito bem porque Francisco escreveu em sua Saudação à Mãe de Deus: "Salve, Virgem feita Igreja!". Isso é demonstrado especialmente quando se fala dos capítulos gerais e, de uma maneira destacada quando se apresenta o papel da Porciúncula. Nada substitui uma boa leitura do texto, mas chamamos a atenção para o n. 46, quando Francisco diz: "Vamos, pois, à nossa Mãe a Santa Igreja Romana..." e para o n. 56, quando se apresenta a visão que um frade teve: "todos os homens deste mundo estavam cegos e ajoelhados em torno de Santa Maria da Porciúncula...", o lugar "predileto da Virgem gloriosa, entre todos os lugares e igrejas deste mundo". Como conclusão, o cardeal protetor - elo de comunhão com a Igreja - assistia aos capítulos todos os anos.


9. Uma conclusão

Se os famosos três companheiros mandaram ao ministro geral as suas "flores" e mais os textos que nos deram o Anônimo Perusino e a Compilação de Assis (Legenda Perusina), é porque esses escritos, não oficiais, só tinham cópias particulares, quando alguém se interessava por eles. É diferente o caso das Legendas de Celano, copiadas por ordem da Santa Sé ou da Ordem e presentes praticamente em todos os conventos, ou também o da Legenda Maior, que já foi apresentada com 43 exemplares justamente destinados à multiplicação. Por isso se compreende como esse tipo de escrito teve uma história difícil de ser recuperada e com uma abundância de variantes. O estudo dos próximos livros nos ajudará a entender melhor toda essa complicada questão editorial. A LTC tem 18 capítulos e 73 parágrafos numerados. Dividimos o tema pelos parágrafos, sem levar em consideração os capítulos com seus títulos.

Extraído de http://www.procasp.org.br/capitulo.php?cCapitulo=20 acesso em 18 set. 2008

Do Evangelho à vida e da vida ao Evangelho

30 anos da nova Regra da OFS

Por Anderson Moura, OFS/JUFRA (*)
Festejamos o presente aniversário da Regra da OFS. Ela que foi firmada em 26 de julho de 1978 - pelo papa Paulo VI, onze dias antes de seu falecimento - mas que foi datada oficialmente em 24 de junho, alguns dias antes.
Comemorações por todo o mundo são legítimas, pois tal Regra traduz a vitória dos leigos franciscanos seculares, que almejaram por muito tempo uma regra que fosse um verdadeiro projeto espiritual de vida apostólica e evangélica, e não uma mera lista de deveres e proibições; capaz mesmo de conquistar a juventude, já que é aceita pela JUFRA como documento de inspiração para o crescimento da própria vocação cristã e franciscana (CC.GG. 96.2).

Os primeiros indícios de uma norma da Ordem Franciscana Secular vêm de 1221, através do papa Honório III, mas que só foi disposta em forma de regra, através do "Memoriale Propositi" (Memorial do propósito dos irmãos e irmãs da Penitência, vivendo em suas casas...), em 1228, pelo papa Gregório IX. Tal norma apenas reproduzia práticas exteriores dos comuns movimentos leigos de "penitência" que pululavam na Idade Média, de como exercer a pobreza, a caridade, a oração, etc.; acrescentando de novo, apenas, normas para o noviciado e profissão. Os movimentos penitenciais de leigos (os casados, principalmente) que queriam seguir o exemplo de S. Francisco - que ficaram conhecidos como os Penitentes de São Francisco, certamente assumiram o "Memoriale" como Regra (BÉDRUNE, 1983). Elaborada pela hierarquia da Igreja, preocupada com os excessos heréticos dos leigos, faltava no "Memoriale" a espiritualidade vinda diretamente de Francisco; por isso os Penitentes recorriam também à Carta aos Fiéis, esta cheia da espiritualidade do Seráfico Pai.

As fraternidades locais eram submetidas aos bispos e pelos visitadores nomeados por eles, e com o tempo muitas se recusaram a receber os visitadores e adotavam até mesmo características heréticas. Esse foi o principal motivo para que o papa Nicolau IV desse uma Regra ao movimento penitencial franciscano, para assegurar sua estabilidade (ZUDAIRE, 1979). A Regra apresentada por Nicolau IV - o primeiro papa franciscano - em 18 de agosto de 1289, através da promulgação da Carta Apostólica "Supra Montem" (Sobre a montanha da fé católica...), apenas reorganizou os artigos do "Memoriale Propositi", acrescentando a afirmação de que a Ordem fora fundada por Francisco, e ressaltando o vínculo da Ordem como a Igreja, instituindo que os visitadores da Ordem deveriam ser frades franciscanos. Em geral, mantinha a característica de deveres e proibições do "Memoriale" e os terceiros franciscanos deviam, inclusive, absterem-se de bailes e comédias.

A segunda Regra foi apresentada pelo papa Leão XIII (ele mesmo franciscano secular) em 30 de maio de 1883, através da Carta Apostólica "Misericors Dei Filius" (O misericordioso filho de Deus fez a Igreja herdeira...). Essa Regra também foi apenas a adaptação da Regra de Nicolau IV aos tempos “modernos”. Em fins do século XIX, Leão XIII queria na Ordem Terceira o apoio para a almejada reforma social. Na intenção de atrair mais os católicos para a Ordem, ele resumiu e diminuiu o rigor da antiga Regra; no entanto, mesmo assim, mantinham-se as reservas contra danças e espetáculos, e indicava-se confissão mensal e prática do jejum às sextas-feiras e a abstinência nas quartas (PRANGENBERG, 1996: 45).

A Ordem foi mudando depressa no século XX: após 1940 observou-se que as fraternidades foram ficando idosas, por causa da alta média de idade de seus integrantes; época em que começou a tomar força a ideia da Juventude Franciscana (JUFRA), sempre a esperança de renovação da OFS. Também foi quando começou-se a insistir no termo "secular", e os Padres Diretores (hoje Assistentes Espirituais) foram perdendo aos poucos seus poderes de influência sobre a direção da Ordem. Depois da Segunda Guerra, diante da miséria, a Ordem começava a se alertar para as questões sociais e políticas.

O Congresso Internacional, acontecido em Roma, no ano de 1950, até mesmo sugeriu o acréscimo de frases ao texto de Leão XIII; o que resultou não na alteração da Regra, mas na elaboração da primeira edição das Constituições Gerais, em 1957.

Mas isso ainda não era o bastante! De 1962 a 1965 aconteceu o Concílio do Vaticano II. Este inaugurou uma eclesiologia católica que buscou a recuperação da dignidade e participação ativa dos leigos na Igreja, e que possibilitou a renovação da Ordem, já que no ano seguinte (1966) os Conselho Nacionais começaram a discutir os pontos de uma nova Regra. Um trabalho de doze anos (desta vez com a participação de leigos) que resultou na atual Regra, apresentada pelo papa Paulo VI através do Breve Apostólico "Seraphicus Patriarcha" (O Seráfico Patriarca São Francisco de Assis...), da qual comemoramos, hoje, seus 30 anos.

Anunciada no Brasil - com todo entusiasmo - pelo frei Egberto Prangenberg (OFM), na primeira edição de 1979 da revista PAZ E BEM, a nova Regra insiste não na devoção a S. Francisco, mas no seguimento de Cristo; e trocou a denominação Ordem Terceira Franciscana para Ordem Franciscana Secular, na intenção de não permitir interpretações errôneas de que seria uma ordem de franciscanos de terceira categoria, à sombra da primeira e segunda ordem, mas de uma espiritualidade específica, de caráter secular, de leigos engajados no mundo, franciscanos autênticos. Um verdadeiro projeto de vida espiritual, que não se resume a uma lista de deveres e proibições. Diferentemente das versões que a antecederam, a ainda nova Regra faz referências diretas a Jesus e ao Evangelho. Uma exortação direta (um dever, digamos assim) é para que os franciscanos seculares sejam assíduos leitores do Evangelho. Nosso "ponto de referência da vida cotidiana", como disse o papa João Paulo II no Capítulo Geral da OFS de 2002, a Regra é dom do Espírito que conduz ao Pai. Festejemos, anunciando pelo mundo a Paz e o Bem!

* Adaptação do próprio autor, de seu artigo publicado originariamente no jornal Partilhando (Boletim da Paróquia N. S. da Conceição), Nilópolis, n. 12, p. 7, jun. 2003; por ocasião dos 25 anos da Regra.

(*)
Anderson Moura é jufrista e franciscano secular professo. Serve atualmente como Conselheiro Internacional da JUFRA para a América do Sul e Coordenador de Comunicação do Regional Sudeste 2 (RJ e ES) da OFS.

Extraído de http://www.franciscanos.org.br/noticias/noticias_especiais/2008/30anos_240608/ acesso em 18 set. 2008.


quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Blog da OFS Regional SE2

Paz e bem!

Na seção Links OFS
incluido o blog Regional SE2 - RJ, ES:
http://ofssudeste2.blogspot.com

Se souberem de outros links mandem recado.

Site Irmãs Catequistas Franciscanas

Paz e bem!

Inaugurada a seção de Links congregações franciscanas
com o link para as Irmãs Catequistas Franciscanas:
http://www.cicaf.org.br/

Se souberem de outros sites façam um comentário com o link.

Uma relíquia viva descia da montanha


Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

Desde a infância muitos de nós fomos aprendendo a gostar desse Francisco. Francisco das coisas pequenas, simples, irmão do sol, das estrelas, da água, do leproso e de frei Leão, Francisco, cheio de carinho para com o Menino das Palhas e o Jesus bondoso e pobre que morre na cruz, esse Jesus que é o amor que precisa ser amado.

São Boaventura escreve: “Francisco, servo verdadeiramente fiel e ministro de Cristo, dois anos antes de devolver o espírito ao céu, como tivesse começado num lugar alto, à parte que se chama Monte Alverne e, um jejum quaresmal em honra do Arcanjo São Miguel, inundado mais profusamente pela suavidade da contemplação do alto e abrasado pela chama mais ardente dos desejos celestes, começou a sentir mais copiosamente os dons da ação do alto. Então, enquanto se elevava a Deus pelos seráficos ardores e o afeto se transformava em compassiva ternura para com aquele que por caridade excessiva quis ser crucificado, numa manhã, pela festa da Exaltação da Santa Cruz, rezando na parte lateral do monte, ele viu como que a figura de um Serafim que tinha seis asas tão fúlgidas, tão inflamadas a descer da sublimidade dos céus, o qual chegando com um vôo rapidíssimo num lugar próximo ao homem de Deus, apareceu não somente alado, mas também crucificado, tendo as mãos e os pés estendidos, e pregados à cruz e as asas de modo tão maravilhoso dispostas de uma e outra parte que elevava duas sobre a cabeça, estendia duas para voar e com as outras duas velava o corpo, envolvendo-o todo (...). Depois de um certo colóquio secreto e familiar, ao desaparecer, a visão inflamou-lhe interiormente o espírito com ardor seráfico e marcou-lhe exteriormente a carne com a imagem do Crucificado, como se ao poder prévio de derreter o fogo seguisse uma impressão do selo” ( Legenda Menor – Os sagrados estigmas, n.1).

Dois anos antes de morrer, Francisco vai ao Monte Alverne. O santo vinha do Oriente, cansado, doente, vendo que, talvez seus irmãos, numerosos, estavam perdendo o ardor dos começos. Francisco, sem amargura, sente vontade de tomar certa distância dos fatos e dos acontecimentos. O Santo se dava conta que estava no final de sua caminhada. Tinha dores em todo o corpo. Estava tomado por estas febres loucas e enxergava mal. Não podia mais suportar a luminosidade do Irmão Sol. Era o tempo da festa da Exaltação da Santa Cruz. Quer fazer a quaresma de São Miguel no silêncio, na meditação, ao lado de seu Frei Leão. Quer estar mais perto de seu Senhor.

Toda sua vida fora busca de Cristo. Um dia ele teria formulado uma oração no seguinte teor: “Senhor, gostaria de ser digno de receber duas graças de vossa parte: experimentar em meu coração o amor que tiveste para com os homens e sentir a dor de tua acerbíssima paixão”. Esta súplica foi sento atendida pelo Senhor ao longo do tempo da vida de seu servo Francisco. Durante anos e anos, depois de sua conversão, ele sempre buscar entrar na intimidade do Senhor Jesus na grutas, nos caminhos, contemplando o rosto dos leprosos. Aos poucos esse Francesco foi “tendo os mesmos sentimentos de Cristo Jesus”. Foi se abrasando no amor de Cristo. Cristo é o Vivo que queima e arde. Estamos diante da mística. Do amado que seduz a amada. Francisco e Cristo se tornam uma unidade. Há uma identificação mística. Francisco continua Francisco e Cristo continua Cristo. Nasce no coração do assisiense o desejo de viver também as dores e os sofrimentos de Cristo.

Eloi Leclerc tenta descrever esse momento: “... a alma de Francisco se rasgava e sentimentos contraditórios se debatiam dentro dele. A inefável beleza do serafim e seu olhar benevolente e cheio de graça o fascinavam e o enchiam de alegria. Ao mesmo tempo, no entanto, o sofrimento do crucificado o aterrorizava. Perguntava-se, então: Como um espírito glorioso, imortal e tão belo podia sofrer a mais cruel agonia? Não sabia o que pensar. A agonia estava junto com o êxtase. A Paixão e a Glória, associadas de maneira estranha, pareciam cair sobre ele como um pássaro de rapina” ( in Francisco de Assis. O retorno ao Evangelho, p. 108).

Francisco não é mais dono de si. Aos poucos, ao longo dos anos da vida, ele foi se despedindo de si, se despojando, esvaziando-se de si mesmo e no espaço do vazio veio o êxtase. O amado ganha a força do amor do Amante. Quem puder compreender, que compreenda. Talvez esse Francisco pudesse dizer com Paulo: Não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim!

Paul Claudel, tentando penetrar no Francisco que desce do monte, escreve: “Francisco tinha dado sua alma de tal forma que nem mesmo seu corpo conserva mais. Quando se lhe pede uma explicação, nada tem a nos dizer. Ele é propriedade de alguém que não explica, mas plenifica. É todo inteiro doação, como um esposo ou um recém-nascido. Caminha ao olhar de todos os homens como alguém que está inebriado, como um esposo que geme e que sorri, cambaleante e ferido de uma glória da qual ele é o inexplicável consorte. Quem desce trôpego do Alverne e mostra chaga e cicatriz secretamente a Clara é Jesus Cristo com Francisco, fazendo uma única realidade viva, sofredora e redentora” (cf. E.Leclerc, op. cit. p. 109).

A partir desse momento Francisco tem o selo do Amado gravado em seu coração e em sua carne. Agora era uma relíquia viva descendo a montanha. Nós, filhos de Francisco das chagas e das transfigurações, nos recolhemos no silêncio e tentamos pedir a Deus que pela intercessão do Francisco das Chagas nos leva ao Cristo iluminado, transfigurado e ressuscitado.

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM,
é Assistente Nacional da OFS pela OFM
e Assistente Regional da OFM na Região Sudeste II.
Email: freialmir@hotmail.com

Extraído de http://www.franciscanos.org.br/noticias/noticias_especiais/2008/chagas_130908/02.php acesso em 17 set. 2008.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Ordens Mendicantes: Contextualização


Exatamente quando a Igreja aparecia no auge de seu esplendor e o poder papal atingia sua maior extensão, na Europa se intensifica e multiplica o surgimento de heresias, de movimentos religiosos contestadores.

Suas características: serem contra o sacerdócio, negarem os sacramentos e o sacrifício eucarístico. Afirmavam também a inutilidade das obras exteriores.

Tinham aversão aos poderes religiosos e sacramentais dos sacerdotes e afirmavam uma comunidade cristã igualitária, sem organização hierárquica e sem diferença entre clérigos e leigos.

A uma vida religiosa, fundamentada mecanicamente nos sacramentos, afirmavam que “só a vida salva”.

Contra uma Igreja triunfante, rica, política, propõem uma Igreja fundada exclusivamente no Evangelho da pobreza e da oração. No fundo, o que anima o coração do herege não é a maldade e o erro, mas o desejo de uma Igreja pura. O herege, apesar de todas as suas contradições, não quer destruir a Igreja: quer reformá-la.

Para estudarmos a situação, citaremos três modalidades de anseio religioso:

- os cátaros ou albigenses (dualistas);
- os valdenses evangélicos anti-sacramentais;
- as ordens mendicantes, dominicanos e franciscanos.

As duas primeiras se opõem à Igreja, enquanto os mendicantes reformam a vida cristã permanecendo dentro dela.


OS CÁTAROS OU ALBIGENSES

A heresia dos cátaros (= puros) parece ter origem nos Balcãs (Bulgária), e é um resíduo do antigo maniqueísmo, que via tudo em chave dualista: espírito-matéria, bem-mal.

O catarismo era estranho a toda evolução da sociedade européia e previa sua dissolução, pois negava o trabalho manual, o exército, o matrimônio, a hierarquia civil e eclesiástica e a propriedade privada.

Condenando a matéria como má, se opunha a todos os sacramentos, especialmente à Eucaristia; negavam a encarnação, a ressurreição e opunham o Antigo ao Novo Testamento. Seu único sacramento era o Consolamentum: imposição das mãos por um membro mais perfeito.

Os cátaros possuíam uma sólida organização interna, com verdadeira e própria hierarquia. Pelo ano 1150, tinham-se difundido largamente no sul da França. Suas doutrinas, apesar de estranhas, exerciam um certo fascínio pela sua pobreza e modéstia, sendo uma crítica feroz à riqueza e poder da Igreja e à mundanização de certos bispos e sacerdotes.

A Igreja os combateu duramente, organizando contra eles expedições militares e enviando-lhes pregadores. Não eram esses os meios adequados para combatê-los, mas foram destruídos, restando apenas alguns representantes no século XIV.


VALDENSES OU POBRES DE LIÃO

Pedro de Vaux, rico comerciante de Lião, querendo atingir o estado de perfeição cristã, em 1173 distribuiu seus bens aos pobres e propôs-se, como ideal de vida, peregrinar pregando a penitência e levando uma vida de pobreza apostólica (cf. Mt 10,9ss). Em vista disso, reuniu homens e mulheres levados pelo mesmo ideal e enviou-os dois a dois a pregar a penitência. Objetivo: retornar à Igreja apostólica pobre, seguindo sempre a Escritura.

Eram os pobres de Lião, que se sentiam como ovelhas entre lobos. Mas, este estilo de vida e pregação era um desafio silencioso ao mundo cristão e, em primeiro lugar, à hierarquia e às abadias. Infelizmente, faltava-lhes uma instrução maior para a pregação que, aliás, estava proibida aos leigos pelo Concílio de 1179. Surge o desencontro entre os representantes da “vida apostólica” e os representantes do ministério apostólico. Cada um assume posições mais duras e o desencontro é fatal.

Os valdenses passam a admitir apenas os sacramentos do batismo, da ceia e da penitência. Rejeitam o ministério ordenado. Sua eclesiologia é mais carismática do que institucional, mas se sentiam ligados aos Apóstolos. Não havendo acordo, são excomungados em 1184 pelo papa Lúcio III, muitos deles sofrendo a morte pela fogueira. O movimento de Pedro de Vaux mostra, pela primeira vez na Idade Média, o desejo de uma Igreja com laicato participante, combatendo o vitorioso clericalismo.

AS ORDENS MENDICANTES:
FRANCISCANOS E DOMINICANOS


O século XII, ao mesmo tempo em que assiste ao surgimento de movimentos heréticos, vê crescer no seio eclesial novas e renovadas ordens religiosas. As ordens mendicantes representam algo totalmente novo na série das ordens religiosas. Elas obrigam os frades e os conventos a uma severíssima pobreza, limitando-lhes as posses ao mínimo necessário. Devem receber o sustento através do trabalho manual e nunca ter contato com o dinheiro.

Dedicavam-se à penitência e à pregação, especialmente ao confessionário. Permaneciam no mundo e nele agiam. Numa época de clero rico, descomprometido, retomando a imitação de Cristo, os mendicantes injetam novas correntes vitais na cristandade. A Ordem Terceira representa uma característica importante entre as ordens mendicantes, já que a espiritualidade mendicante é levada à vida matrimonial e profissional.

Esses irmãos da penitência permaneciam na família, mas vivendo sob certas regras, algumas revolucionando a sociedade: não podiam levar armas nem fazer guerra, quem tivesse riqueza ou terra roubadas deveria devolvê-las, manter uma caixa de socorro aos pobres, etc. Era a vida religiosa fermentando vigorosamente a sociedade medieval. Os franciscanos formam a primeira grande ordem mendicante.

Francisco de Assis (+1226) é o representante mais célebre do ideal da imitação de Jesus na vivência da pobreza. Sua espiritualidade está atenta à pessoa de Jesus, também nos sofrimentos. Vivendo a pobreza, critica a riqueza, mas não a Igreja, tanto que recebe a aprovação papal. Centros de sua vivência espiritual são o mistério da encarnação (cf. o presépio de Grécio,1223) e a Eucaristia. Francisco é o cantor da criação, o cantor de todas as criaturas. Tudo lhe revela a presença e a glória de Deus. É um irmão universal.

Em 1300, os franciscanos constituíam 1400 comunidades e 35 mil membros. Clara de Assis (+1253) trouxe a vida franciscana para o mundo feminino, fundando a Ordem das Clarissas, que vivem o ideal da pobreza na vida contemplativa.
Domingos de Gusmão. Se Francisco quis ser seguido por irmãos de penitência, pregadores sem muita formação, Domingos de Gusmão (+1221) funda uma nova ordem mendicante, os dominicanos, mas constituída de pregadores, homens preparados para converter hereges.

Na comunidade dominicana o estudo tem importância fundamental.Em 1300, existiam 600 comunidades e mais de 12 mil membros. Além dessas ordens, devemos citar as dos carmelitas, agostinianos, cônegos regulares, premonstratenses, cistercienses.... Na grande crise espiritual por que passa a Igreja, o espírito da renovação vem de um novo estilo de vida religiosa.


MENDICANTES E INQUISIÇÃO

A Inquisição veio combater todas as formas de heresia e de contestação institucional. Mas conseguiu pouco. A grande obra de conversão foi realizada pelos mendicantes: eles viviam na Igreja o ideal da simplicidade, da pobreza e da piedade evangélicas e o colocavam ao alcance de todos.



Pe. José Artulino Besen
Prof. de História no ITESC

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O perfeito amor de São Francisco ao Crucificado

Frei João Mannes, OFM

No dia 17 de setembro celebra-se a festa da impressão das chagas de São Francisco de Assis. Os estigmas que Francisco recebeu em 1224, no Monte Alverne, após uma visão do Cristo crucificado em forma de Serafim alado, são sinais visíveis de sua semelhança à humanidade de Cristo, nos seus três modos: na vida, na paixão e na ressurreição.

Francisco encontrou-se pela primeira vez com o Crucificado na pequena Igreja de São Damião. Num certo dia, conduzido pelo Espírito, entrou nessa Igreja e prostrou-se diante da imagem do Cristo crucificado que, movendo de forma inaudita os seus lábios, disse: “Francisco, vai e restaura minha casa que, como vês, está toda destruída” (2Cel 10,5). E, conta-nos Celano, que Francisco sentiu desde então uma inefável mudança em si mesmo, pois são impressos mais profundamente no seu coração, embora ainda não na carne, os estigmas da venerável paixão.

No entanto, foi ao ouvir o Evangelho acerca da missão dos apóstolos (Mt 10, 7-13), que Francisco compreendeu o real significado da voz do Crucificado, e imediatamente exclamou: “É isto que eu quero, é isto que eu procuro, é isto que eu desejo fazer do íntimo do coração” (1Cel 8,22). Assim, sob o toque ou o apelo de uma afeição, começou devotadamente a colocar em prática o que ouvira, isto é, distribuiu aos pobres todos os seus bens materiais, bem como renegou-se a si mesmo para que, exterior e interiormente livre, pudesse ir pelo mundo e anunciar aos homens a paz, a penitência e, enfim, o amor não amado de Deus.

O amor que é Deus realizou-se na sua profundeza, largura e altitude na pessoa de Jesus Cristo. A encarnação, o estábulo, o lava-pés e a Eucaristia são expressões concretas do modo de amar como só o Deus de Jesus Cristo pode e sabe amar. Porém, foi especialmente ao entregar incondicional e gratuitamente a sua vida na Cruz, que o Filho de Deus revelou à humanidade que Deus é essencialmente caridade perfeita.

Francisco, por inspiração divina, abraçou pobre e humildemente a cruz de Jesus e deixou-se impregnar, arrebatar e transformar totalmente pelo espírito de abnegação divina. Isso quer dizer que a imitação de Cristo, por parte de Francisco, não é mera repetição mecânica dos gestos exteriores de Jesus, mas é manifestação de sua profunda sintonia com a experiência originária de Jesus Cristo: o Reino de Deus. Somente quem possui o Espírito do Senhor pode observar “com simplicidade e pureza” a Regra e o Testamento de São Francisco e realizar em si mesmo as santas operações do Senhor.

Na Terceira consideração dos sacrossantos estigmas considera-se que, aproximando-se a festa da Santa Cruz no mês de setembro, o pai Francisco, na hora do alvorecer, se pôs em oração, diante da saída de sua cela, e entre lágrimas orava desta forma: “Ó Senhor meu Jesus Cristo, duas graças te peço que me faças antes que eu morra: a primeira é que em vida eu sinta na alma e no corpo, quanto for possível, aquelas dores que tu, doce Jesus, suportaste na hora da tua acerbíssima paixão; a segunda é que eu sinta no meu coração, quanto for possível, aquele excessivo amor do qual tu, Filho de Deus, estavas inflamado para voluntariamente suportar uma tal paixão por nós pecadores”(I Fioretti)). E, relata Boaventura que, enquanto Francisco rezava, “viu um Serafim que tinha seis asas (cf. Is 6,2) tão inflamadas quão esplêndidas a descer da sublimidade dos céus. E [...] apareceu entre as asas a imagem de um homem crucificado que tinha as mãos em forma de cruz e os pés estendidos e pregados na cruz. [...] Imediatamente começaram a aparecer nas mãos e nos pés dele os sinais dos cravos” (LM 13,3). Assim, Francisco transformara-se todo na semelhança de Cristo crucificado (cf LM 13,5). Pois, de fato, trazia Jesus no coração, na boca, nos ouvidos, nos olhos, nas mãos, nos sentimentos e em todos os demais membros (cf. I Cel 9,115), e conseqüentemente podia exclamar com o apóstolo Paulo: “Eu vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).

O Pobre de Assis, no seguimento de Jesus Cristo, perdeu a sua própria vida, mas recuperou-a inteiramente em Deus, de acordo com a palavra do Evangelho: “Quem perder a sua vida por causa de mim vai encontrá-la” (Mt 12,25). Todavia, Francisco não somente reencontrou a si mesmo em Deus, como filho de Deus, mas a todos os seres do universo. O Cântico das Criaturas, que compôs pouco antes de sua morte corporal, é expressão jubilosa dessa intensa experiência eco-espiritual: “Louvado sejas meu Senhor, com todas as tuas criaturas”.

O pai Francisco tornou-se assim um mestre na sequella Iesu. De imediato despertou o fascínio de muitas pessoas e atraiu muitos discípulos e discípulas, entre as quais, Santa Clara. Clara e suas Irmãs, a exemplo de Francisco, também querem chegar ao cimo da montanha da perfeição do amor. A propósito subscrevemos parte do VII capítulo (Do perfeito amor de Deus) de um interessantíssimo opúsculo que Boaventura escreveu à abadessa das Irmãs, do convento de Assis, sobre A perfeição da vida:
“Não é possível excogitar um meio mais apto e mais fácil para mortificar os vícios, para progredir na graça, para atingir o auge de todas as virtudes do que a caridade. Por isso diz Próspero, no seu livro Sobre a vida Contemplativa: “A caridade é a vida das virtudes e a morte dos vícios”. Como a cera se derrete diante do fogo, assim os vícios perecem diante da caridade. Porque a caridade possui tanto poder que só ela fecha o inferno, só ela abre o céu, só ela dá a esperança da salvação, só ela nos torna dignos do amor de Deus. Tal poder possui a caridade que entre todas as virtudes só ela é chamada propriamente virtude. Quem a possui é rico, tem abundância, é feliz. [...] E diz Santo Agostinho: “Se a virtude conduz a uma vida bem-aventurada, eu quisera afirmar em absoluto que nada é propriamente virtude senão o sumo amor de Deus”. Sendo, por conseguinte, o amor de Deus uma virtude tão elevada, cumpre insistir em alcançá-lo acima de todas as demais virtudes; porém, não um amor qualquer, mas só aquele com que Deus é amado sobre todas as coisas e o próximo por amor de Deus.

O modo de amar a teu Criador ensina-o o teu esposo no evangelho: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma e de todo o teu espírito. Repara bem, caríssima serva de Jesus Cristo, que amor o teu dileto esposo exige de ti. Quer o teu amado que ao seu amor dediques todo o teu coração, toda a tua alma, todo o teu espírito, de sorte que absolutamente ninguém em todo o teu coração, em toda a tua alma, em todo o teu espírito, tenha parte com ele. Que, pois, fará para amares o Senhor teu Deus realmente de todo o coração? Que quer dizer: de todo o coração? Vê como São João Crisóstomo ensina: “Amar a Deus de todo o coração significa não estar o teu coração inclinado a nenhuma outra coisa mais do que ao amor de Deus; não te comprazeres nas coisas desse mundo mais do que em Deus, nem nas honras, nem mesmo nos pais. Se, todavia, o teu coração se ocupar em alguma destas coisas, já não o amas de todo o coração”. Peço-te, serva de Cristo, não te iludas. Fica sabendo que, se amas alguma coisa, e não a amas em Deus e por Deus, já não o amas de todo o coração. Por isso diz Santo Agostinho: “Senhor, menos te ama quem ama alguma coisa contigo”. Se amas alguma coisa que não te faz progredir no amor de Deus, não o amas de todo coração. E se, por amor de alguma coisa, negligencias aquilo que deves a Cristo, já não o amas de todo o coração. Ama, pois, o Senhor teu Deus de todo o coração.

Não somente de todo o coração, mas também de toda a alma devemos amar a Jesus Cristo, nosso Deus e Senhor. Que significa: de toda a alma? Vai dizê-lo Santo Agostinho: “Amar a Deus de toda a alma é amá-lo com toda a vontade, sem restrições”. Amarás, certamente, de toda a alma, se sem contradição e de boa vontade fizeres não o que tu queres, nem o que aconselha o mundo, nem o que te inspira a carne, mas aquilo que reconheceres como sendo a vontade de Deus. Amarás, de fato, a Deus de toda a tua alma quando por amor de Jesus Cristo entregares de boa vontade tua vida à morte, sendo necessário. Se nisto, porém, faltares, já não amas de toda a alma. Ama, pois, ao Senhor teu Deus de toda a tua alma, isto é, faze a tua vontade sempre em conformidade com a vontade divina.

Entretanto, não só de todo o coração, não só de toda a alma, deves amar o teu esposo, Jesus Cristo. Ama-o também de todo o teu espírito. Que quer dizer: de todo o teu espírito? Di-lo novamente Santo Agostinho: “Amar a Deus de todo o espírito, é amá-lo com toda a memória, sem esquecimento”. (in: Obras Escolhidas. Porto Alegre: EST, 1983, p. 433-435).
Extraído de http://www.franciscanos.org.br/noticias/noticias_especiais/2008/chagas_130908/01.php acesso em 15 set. 2008.

sábado, 13 de setembro de 2008

Escoto: Platão ao Alcance da Escola Franciscana

Ao lado do aristotelismo de Alberto, Tomás e suas escolas, sobrevive ainda a velha tradição agostiniana, com o seu pensamento próprio. Antes como depois, são sempre os franciscanos os seus representantes principais.

a) De Boaventura a Escoto

Até Duns Escoto, que simboliza uma nova culminância, a velha herança é transmitida por Mateus de Aquasparta (+ 1302), cuja epistemologia é particularmente digna de consideração; Guilherme de la Mare (+ 1298), cujo escrito anti-tomista já mencionamos: Ricardo de Mediavilla (+ após 1300); Rogério Marston (+ 1303) no qual claramente já se mostra a tentativa, típica em Oxônia, de fundir aristotelismo e agostinismo; Pedro João Olivi (+ 1298), que introduz três formas na alma humana — a vegetativa, a sensitiva e a intelectiva, das quais só as duas primeiras seriam formas substanciais do corpo, teoria expressamente rejeitada pelo concilio de Viena em 1312. Franciscano foi também Raimundo Lulo (+ 1316) que, com a sua Ars generalis et ultima (1308) quis constituir uma espécie de mecânica de idéias que permitisse calcular artificialmente todas as suas possíveis combinações, tentativa retomada por Leibniz na sua Ars combinatoria.

b) Duns Escoto

O fundador da mais recente escola franciscana é Duns Escoto (1266-1308). Pertence indubitavelmente aos primeiros espíritos da escolástica, embora seja algo excessivo dizer-se que criou uma nova síntese. Mas em toda parte é um espírito adiantado. Suas idéias são mais agudas, suas distinções mais exatas, suas provas mais coerentes, sua problemática mais rica que até então. Quem quiser filosofar com Tomás faria bem, por ocasião de cada questão, retomar os pensamentos de Escoto e explorá-los. Cabeça crítica, bem mereceu o cognome de doctor subtilis. Não critica porém por criticar, mas sempre procura, criticando, elucidar melhor as verdades já estabelecidas. De orientação fundamentalmente agostiniana, conhece ainda Aristóteles muito bem, mas sem aderir a ele. O seu esforço é para ser um mediador entre as oposições do agostinismo e do aristotelismo. Sabe entender-se com independência relativamente à tradição científica, sobretudo com Tomás.

Vida e Obras

Escoto foi Professor em Oxônia, Cambridge e Paris. Em 1308 foi chamado para Colônia onde morreu com 42 anos de idade. O volume de sua obra literária é espantoso dada a curteza da sua vida. Os mais importantes dos seus escritos são: as Quaestiones subtilissimas in metaphysicam Aristotelis (autênticos só os primeiros nove livros); Quaestiones ao De anima- de Aristóteles (provavelmente autêntico); o Tractatus de primo principio (edição crítica de M. Müller, 1941); Opus Oxoniense; Reportata Parisiensia; Quodlibeta. Nova edição crítica das obras de Duns Escoto sob a direção de P. C. Balic, em curso de publicação (1950 ss.)

Bibliografia

E. Longpré, La philosophie de B. J. Duns Scotus (1942). R. Messner, Schauendes und begriffliches Erkennen Duns Scotus (1942). E. Gilson, Jean Duns Scot (1952). Schäfer O., Bibtiographia de Vita Operibus et Doctrina Joh. D. S. Saéc. XIX — XX (1955).

Vamos expor as idéias fundamentais com as quais DUNS ESCOTO enriqueceu e desenvolveu a problemática do seu tempo.

α) Saber e crer
, — A orientação agostiniaua revela-se logo em Duns Escoto se lhe observarmos a posição relativamente
à problemática tradicional, no atinente à ciência e à crença. O conhecimento filosófico de Deus se lhe limita à existência; e as mais importantes elucidações a respeito dele pertencem à fé. O objeto da metafísica não é Deus, como o pensava Averróis, mas o ser como tal, conforme o tinha dito Avicena. A ciência certa é só a que se funda na percepção sensível. O conhecimento das causas supra-sensíveis nos escapa; são-nos acessíveis por argumentos indiretos, sempre débeis e muito gerais. Por isso um conhecimento adequado da essência divina p. ex., escapa à razão natural. Dizemos, certo, que Deus é o ser supremo, primeiro e infinito; mas esses são sempre "conceitos confusos". Na realidade Deus é ainda onipotente, imenso, onipresente, verdadeiro, justo, misericordioso, onisciente. Mas tudo isto só podemos sabê-lo pela fé e a teologia. Pelo contrário, é possível uma "metafísica cristã". Esta realiza e examina filosòficamente a fundo as verdades sobre Deus e a imortalidade, depois de nos terem sido reveladas pela fé, conforme já Anselmo o tinha feito. É isso mesmo que Escoto agora pretende fazer no seu Tractatus de primo principio. O quanto Escoto delimita o domínio da razão natural em matéria de metafísica, particularmente o vemos pela sua posição em face da lei moral natural. Enquanto Tomás lhe considera todo o conteúdo como racionalmente compreensível e demonstrável, Escoto afirma que isso é possível só quanto às disposições dos três primeiros mandamentos do Decálogo, mas não quanto aos outros. Assim, p. ex., podíamos conceber uma ordem do mundo onde fosse lícito o homicídio, a poligamia e não existisse nenhuma propriedade privada. Tomás considerava todos os mandamentos do Decálogo, por causa da sua necessidade, racional, como imutáveis; Escoto considerava tais só os três primeiros, porque a sua alteração implicaria numa contradição interna, o que não se dá com os outros. Por isso estes últimos preceitos morais são disposições dependentes da vontade divina e não têm, como para Tomás, nenhum conteúdo racional. Escoto não é tão crente na razão; espírito crítico, torna mais estreitas as fronteiras da razão. Talvez também quisesse assim encerrar em apertados limites as pretensões filosóficas totalizantes dos averroístas.

β) Primado da vontade. — Compreendemos agora como Escoto chegou à doutrina do primado da vontade. Mas com isso não quis ceder a um irracionalismo, nem afirmar que a vontade pura, por si mesma e só, já possa ser prática. Também Escoto vê na vontade em si uma "faculdade cega", como sempre diz Tomás; e sabe que só pode ser querido o fim previamente proposto pelo intelecto. Mas Escoto atribui à vontade humana maior valor que ao conhecimento, porque o amor nos une mais intimamente com Deus do que a fé, e isso se vê logo do fato de ser o ódio a Deus pior que a ignorância dele. Demais, a vontade deve ser livre em todas as circunstâncias. Segundo Esgoto, nada pode determiná-la, mesmo o supremo bem. Só ela ê a causa das suas ações. A singular valorização da vontade, característica do escotismo, também se transfere para Deus. Assim, é a vontade divina a que positivamente cria a multidão das idéias particulares, de acordo com as (piais Deus formou o mundo, Se Deus conhece as cousas nas suas essências próprias, é que ele encerra em si de toda a eternidade os modelos delas. Mas elas não são produzidas arbitrariamente, como não o são as leis morais positivas, pois a vontade divina cria o que a sabedoria divina preconcebeu. E também aqui, de novo, a possibilidade ou não de uma idéia é a essência de Deus quem a decide e isto sob a égide do princípio de contradição. Também Escoto introduz no seu sistema o platonismo cristão. O seu pensamento faz eco ao αποβλετειν προς τι (as Idéias com que Platão estereotipicamente explica a criação do mundo pelo demiurgo) tão claramente como em Agostinho, Tomás ou Boaventura.

γ) Individuação
. — Conexa com esta valorização da vontade e a sua, em cada caso, decisão positiva, é a posição de Escoto relativamente ao problema da individuação. Também o individual é uma entidade positiva e tem como tal uma haecceitas. O conhecimento do individual é o perfeitíssimo dos conhecimentos. Assim, em face do primado do universal em Platão, Aristóteles e Tomás, se afirma uma nova concepção que fará escola e ainda mais se fortalecerá com o aproximar-se dos tempos modernos. Embora o termo haecceitas somente formule o problema, sem o resolver, já nele se manifesta tipicamente e pela primeira vez o que virá a ser uma afirmação capital na filosofia moderna — o individualismo.

δ) O conhecimento
. — Escoto é conseqüente consigo mesmo, na sua teoria do conhecimento, quando admite como cognoscível na sua totalidade as cousas concretas individuais. Não há nenhum resíduo irracional, nem nenhuma necessidade de nos aproximarmos do individual, passando pelo desvio do universal. Numa intuição intelectual-sensível captamos imediatamente a cousa existente. Mas o conhecimento não se limita só a isso; também Escoto sobe aos conceitos universais. Estes são abstraídos e, de novo, é o intelecto agente o que faz essa operação. Mas ensina ele, que a natura communis é um meio termo entre o individual e o universal. É só por esta que apreendemos a species intelligilis, a idéia universal, de que deve servir-se todo conhecimento científico. A atividade do intellectus agens no processo cognitivo Escoto particularmente o realça. Em face dele a intuição é causa simplesmente parcial; mas ele é ex se causa integra factiva obiecti in intellectu possibili, A sua função consiste em estabelecer uma certa e constante relação entre os nossos modos de conhecer e o objeto do conhecimento. E assim Escoto assinala a lei própria do conhecimento humano, melhor que Tomás, que também aceita o princípio — tudo o, conhecido o é ao modo do conheceu te. O aspecto subjetivo "do conhecimento vai ainda mais longe. Para Escoto a verdade já não é, conforme à. ingênua teoria da imagem, simplesmente uma adequação; mas "é verdade o que é comensurado com a sua proporção". Isto manifesta clara a sua visão crítica. Escoto também sabe que a experiência sensível enuncia somente juízos de fato. Mas os princípios só podem ser conhecidos pelo intelecto e sua capacidade apreensiva de relações, mesmo quando interpretamos erroneamente os dados da experiência sensível, pois os sentidos não exercem nenhuma causalidade eficiente sobre o intelecto (intellectus non habet sensus pro causa, sed tantum pro occasione). Quando Escoto assim o diz e quando, com o auxílio dos princípios do intelecto, decide em última instância sobre a verdade e o erro dos nossos juízos, aqui reaparece — como, demais disso, na doutrina da natureza comum, que não passa de um universal disfarçado — o velho conceito do ειδοζ. E assim em Escoto a relação entre a sensibilidade e o intelecto fica tão obscura como na escolástica coeva. Só a filosofia inglesa contemporânea é que tomou a sério a questão da sensibilidade. Mas já vemos por Escoto, e ainda mais por Ockham, o aproximar-se lento e vagaroso a essa evolução, mas enfim o aproximar-se. E estas observações nos fazem conhecer como o pensamento moderno é uma continuação do medieval e não surgiu repentinamente, como Minerva da cabeça de Zeus, novidade totalmente nova e diversa.

ε) Conceito unívoco do ser
. — Escoto fez falar muito de si pela sua doutrina da universalidade do conceito de ser, a propósito das predicações que fazemos a Deus. Não quer com isso estabelecer nenhumas categorias de sentido unívoco atribuível a Deus e ao mundo ao mesmo tempo. Neste ponto segue a velha teoria da predicação analógica. Mas àquele ser generalíssimo manifesto em tudo quanto existe, seja o que for que conheçamos e a que façamos predicações, embora as cousas se distingam umas das outras, deve corresponder um nome e um conceito próprios, dado que há um sentido quando se fala do ser. Em toda analogia deve sempre haver algo de comum e de igual. É este um pensamento que os antigos não exprimiram assim. Esse ser generalíssimo é o maxime scibile e, como tal, para Escoto objeto da metafísica. É um transcendental, mais determinado pelos atributos de infinito–finito, necessário-possível e semelhantes modalidades. Nestas modalidades entram as distinções que, antes de Escoto, se faziam mediante os conceitos de ser superessencial, por participação, necessário e contingente. Assim se salva a existência da problemática e ao mesmo tempo da noção de analogia. Pois, uma comparação só é possível com um ser comum e já conhecido, seja esse uma idéia ou um ser modalmente conjugarei de espécie mais universal, o que também significa o mesmo.

ξ) Provas de Deus
. — Toda a agudeza do seu espírito Escoto a aplicou ao problema das provas de Deus. Desde cedo rejeita a prova aristotélica do movimento, por ter o princípio do movimento muitas exceções. Mas aceita a prova tirada da causa eficiente, a da finalidade e a dos graus de perfeição. A explicação filosófica do conceito de causa, em geral e do princípio de causalidade em particular, e da impossibilidade de um regressus in infinitum, que Escoto aqui empreende, devia incluir-se em qualquer exposição sistemática das provas de Deus. (Para mais minúcias cf. a penetrante análise em Gilson-Bóhner). Neste conjunto também Escoto retoma a prova anselmiana, ampliando-a pela prova da possibilidade da idéia de um ser infinito e é assim precursor do pensamento de Leibniz.

c) Escola escotista

Escoto exerceu uma influência nos séculos seguintes. Contam-se entre os seus discípulos Antônio Andreae (+ 1320), o autor da Expositio in Metaphysicam por muito tempo atribuída a Escoto; Francisco de Mayronis (+ 1325); Gualtério Burleu (+ após 1343); Tomás Bradwardine (+ 1349), típico para a tradição matemática oxoniense; Pedro Tartareto, em 1490 Reitor da Universidade Parisiense; Francisco Liqueto (+ 1520); Maurício a Portu (+ 1520) etc.

Fonte:
HIRSCHBERGER, Johannes. A escola franciscana mais recente: doutrinas antigas e novas. In: _____. História da Filosofia da idade média. Disponível em <http://www.consciencia.org/filosofia_medieval21_escola_franciscana.shtml> acesso em 13 set. 2008.

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