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quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

FELIZ ANO NOVO!

PREPAREMO-NOS PARA O NOVO

Preparemo-nos, pois, para o Novo que se aproxima, o Senhor é fiel e sempre cumpre o que diz. Esperamos novos céus e uma nova terra onde reine a justiça, onde o Amor é, de fato, o alicerce da vida e todo ser o conhecerá plenamente porque o Próprio Amor permanecerá no meio de nós, sem o véu espesso do Mistério.

“Somos o templo de Deus vivo, como o próprio Deus disse: Eu habitarei e andarei entre eles, e serei o seu Deus e eles serão o meu povo (Lv 26,11s)”. (2Cor 6,16). Pois para isto foi que nascemos, para sermos santos como o nosso Pai do céu é Santo. “E todo aquele que nele tem esta esperança torna-se puro, como ele é puro”. (1Jo 3,3).

“Então o que está assentado no trono disse: Eis que eu renovo todas as coisas. Disse ainda: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras”. (Ap 21,5).

Então...Feliz Ano Novo! Feliz 2009!

Porque feliz mesmo és tu que disseste sim a Deus!

Ao Deus Único que é
que era e que vem,
seja Toda Honra,
Toda Glória,
Todo Poder
e Todo Louvor!

Por Cristo Jesus nosso Senhor! Amém!

Paz e Bem!

Frei Fernado,OFMConv.

Ritos e desejos de Ano Novo

Marcelo Barros *

Adital -
Nesta noite de Ano Novo, muitas pessoas reúnem a família, abrem garrafas de champanhe e vinhos borbulhantes e se abraçam com os mais sinceros desejos de um feliz 2009. Muitos, guiados pela televisão, unem-se às multidões que acorrem a espetáculos especiais de luzes e esplendor. Quem acredita em presságios escuta oráculos predizerem a sorte. Em Copacabana e em outras praias, multidões oferecem flores a Iemanjá e muitos cristãos se reúnem em uma vigília pela paz do mundo.

Você pode viver o ano novo apenas como um dia que, hoje, o calendário traz e, dentro de poucos dias, terá passado. Mas, pode, ao contrário, assumir a mudança de ano como "tempo de graça" na sua vida. É uma oportunidade para rever o ano que passou e descobrir o apelo a uma vida nova.

A noite de ano novo lembra ritos dos tempos mais antigos da humanidade. As comunidades tradicionais entravam no espírito de renovação através de gestos simbólicos como jogar fora tudo o que pudesse significar o que está "envelhecido" na vida e no coração da gente (como o ano que acabou). Em algumas tribos, as pessoas jogam fora roupas velhas para significar o desejo de ser transformados. Outros grupos costumam peregrinar a uma alta montanha ou banhar-se no rio ou no mar, no primeiro momento do ano, para acolher o tempo novo dado por Deus.

Na tradição dos povos andinos, a noite de ano novo é em junho, quando no meio do inverno, o sol começa a renascer para tornar os dias novamente mais longos. Então, as comunidades se reúnem em redor do fogo, fazem uma saudação aos quatro pontos cardeais e realizam um ritual de ternura e reverência para com a Mãe Terra.

Desde os tempos bíblicos, as comunidades de Israel celebram o ano novo em setembro. Mas, por algum tempo, as antigas tribos de hebreus celebravam o ano novo na festa da Páscoa. Naquele tempo, o fermento que se tinha era o da massa de pão que, cada vez, ia se misturando com a massa nova. Por isso, o fermento era símbolo de corrupção e mentira. Até hoje, nos dias da Páscoa, as famílias judaicas eliminam das casas todo o fermento. Nas sinagogas antigas, o rabino sugeria o que Paulo escreveu: "Joguem fora de suas vidas o fermento da malícia e da corrupção para serem uma massa nova, como pão ázimo (não fermentado) na sinceridade e na verdade" (1 Cor. 5, 7).

Quando o povo vivia em tendas e a sociedade se organizava por clãs, o rito mais importante da noite de ano novo era um sorteio. Através desse rito, as terras eram novamente repartidas entre as famílias que sofreram perdas de guerra ou dívidas. Por uma "reforma agrária", a cada ano revista, o povo saudava o ano novo como momento de refazer a justiça e a igualdade de todos.

Hoje, é importante que os ritos do ano novo sejam marcados pelo amor e pela solidariedade e não pelo consumismo que reforça a desigualdade social e as injustiças. Se nossos ritos de ano novo consistirem apenas em comilanças e bebedeiras, que esperança podemos ter de um ano novo de paz e felicidade para a terra e os que nela habitam?

A partir deste 1º de janeiro, a imensa maioria dos municípios brasileiros terá uma nova administração na prefeitura e na Câmara Municipal. Mesmo se o prefeito tiver sido reeleito, a esperança é de uma gestão nova e mais generosa. Entretanto, isso dependerá de todos os cidadãos e nós temos, cada vez mais de lutar pacificamente por uma política participativa. Nada de votar nos candidatos e voltar a encontrá-los daqui a quatro anos. Temos de controlá-los e recordá-los a todo momento que foram eleitos para nos representar e não para nos substituir. Que na cidade, como em nossa casa, organizemos a vida a partir da solidariedade. Se fizermos isso, vamos experimentar o que diz o Novo Testamento: "Há mais alegria em dar do que em receber". A maioria festejará a vida e a paz que virão através da justiça. Assim, nesta noite de ano novo, cada pessoa poderá dizer ao seu vizinho uma antiga bênção irlandesa: "Que o caminho seja brando a teus pés. O vento sopre leve em teus ombros. Que o sol brilhe cálido sobre tua face, as chuvas caiam serenas em teus campos. E até que, de novo, eu te veja, que Deus te guarde na palma da sua mão".
* Monge beneditino e escritor
Extraído de http://www.adital.com.be/noticia.asp?lang=PT&cod=36684 acesso em 31 Dez. 2008.
Ilustração: SEMNOZ. Fogos de artifício da Festas do Lago Annecy (França) 2005. Ago. 2005.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

OS SINAIS DOS TEMPOS



OS SINAIS DOS TEMPOS

"Sabeis distinguir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos?" Mt 16,4

O tempo nos dar sinais em toda parte deste nosso planeta, são sinais tão perceptíveis que é impossível não percebê-los, uma vez que esses sinais afetam diretamente cada ser humano na face da terra. Assim, vemos esses Sinais na Natureza: poluição dos rios, destruição das matas, aquecimento global, degelo glacial, tsunamis, chuvas torrenciais, enchentes desproporcionais, secas devastadoras, terremotos tremendos, erupções vulcânicas, etc.

Sinais na Sociedade: crise econômica mundial, corrupção nos organismos governamentais e não governamentais como nunca visto antes; imposição de ditaduras de governos ou de maus costumes, perseguições políticas, terrorismo, domínios das sociedades secretas: maçonaria, Iluminatis, Rosa Cruz, ordem Skull and Bones ( caveira e ossos), Bilderberg = grupo secreto de banqueiros internacionais, etc.; domínio da mídia demoníaca; violência desenfreada, prostituição, homossexualismo masculino e feminino, pedofilia; indústria dos abortos, indústria da jogatina, indústria da pornografia; indústria de armas, industria das drogas, etc.

Sinais da decadência da fé: aumento do secularismo, ocultismo, ateísmo, indiferentismo, hedonismo, decadência dos valores morais, corrupção dos costumes; multiplicação das seitas satânicas, das religiões espiritualistas; arrefecimento da fé católica; aumento das seitas protestantes, etc.

Sinais nos costumes: música demoníaca tipo rock satânico; tatuagens, piercings; aumento dos vícios de toda espécie: alcoolismo, jogos de azar, jogos de computadores, violência na TV, fanatismo futebolístico, idolatria de pessoas famosas; corrupção dos valores religiosos; aumento dos divórcios; adoração televisiva, cinematográfica, etc.

Nunca se viu na história da humanidade um domínio do mal em tão grande proporção, seja nos meios de comunicação social, nos governos, nas indústrias, no comércio, nas organizações não governamentais, com raras exceções; nos sistemas educacionais e nos grandes conglomerados bancários e industriais.

Ao que parece, o dinheiro, a fama e o prazer tem sido a trilogia que o Mal tem usado para angariar seus adoradores neste mundo. “Porque a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro. Acossados pela cobiça, alguns se desviaram da fé e se enredaram em muitas aflições”. (1Tim 6,10).

Daí resulta a tragicidade das guerras, das drogas, de produtos pirateados, da roubalheira desenfreada, etc. Nunca em tempo algum os mandamentos de Deus foram tão desrespeitados quanto em nosso tempo. Realmente esse nosso tempo dá sinais de uma decadência tal que é quase insuportável a sobrevivência humana, dada a insegurança que vivemos; o resultado é o aumento da fome, das doenças incuráveis ou não; do número de suicídios, encarcerados, depressivos, loucos, etc.

Qual a lição que podemos tirar de tudo isso? Esse mundo é uma nau à deriva próximo de um naufrágio terrível; e caso os homens não parem de pecar e não se convertam, essa nossa terra será exterminada pelo fogo anunciado pelas Profecias bíblicas (Is 13,8;26,11;50,11; Jer 4,4; Jl3,3; Mt3,12;13,40;25,41; Apo 9,18;20,9;21,8); que há de punir todos os culpados por essa tragédia que se abate sobre nossa humanidade, pois deixarem a lei de Deus e aderirem à lei da maldade e de seu representante, o demônio.

E é Por isso que o caos se estabeleceu entre nós e o único meio de detê-lo é a conversão em massa a Deus ou a purificação pelo fogo que há de consumir tudo o que existe (Cf. 2Ped 3); a terceira guerra mundial que o diga, pois com o arsenal atômico que as nações poderosas possuem, podem destruir esse nosso mundo muitas e muitas vezes e o estopim para isso já está sendo aceso, a guerra no Oriente Médio.

Então, mais do que nunca é tempo de conversão, é tempo de penitência e oração, pois a vida sem Deus é um inferno e muitos já o experimentam por terem abandonado o Senhor, para trilharem o caminho do mal, fazendo deste mundo um mundo tenebroso onde se multiplica cada vez mais as blasfêmias, as discórdias e todo tipo de corrupção, violência e morte.

Deus tem sido muito paciente com essa nossa humanidade pecadora; creio que sua misericórdia não tem limites, mas para que não nos percamos todos, o Senhor permitirá que soframos o dilúvio de fogo para purificação e libertação de todos os males que foi implantado nesse nosso mundo pela desobediência e impenitência dos ímpios que, como joio, no meio do pequeno resto de justos, serão arrancados, pois a seara já está madura.

Estamos perto do fim de todas as injustiças e dos injustos que as cometeram e as cometem e mais perto ainda da Justiça Divina que há de se cumprir para a salvação de todos os que esperam a segunda vinda do Salvador Jesus Cristo, pois “Em nenhum outro há salvação, porque debaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos”. (At 4,12). E esse dia está prestes a chegar.

“Aquele que atesta estas coisas diz: Sim! Eu venho depressa! Amém.

Vem, Senhor Jesus!

A graça do Senhor Jesus esteja com todos”. (Apo 22,20-21).

PAZ E BEM!

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

O QUE É O VERDADEIRO NATAL!


O QUE É O VERDADEIRO NATAL?

Natal é o Eterno que nasce no tempo...
Por que nasce no tempo?
Porque tem Todo Poder
inclusive de nascer no tempo...
O tempo só existe porque Ele o quer...
O tempo só existe em função Dele...

E como nasce?
Por efeito de Sua Ação Divina – Teofania...
E Tudo Nele é Revelação – Teologia...
Visto que sem Ele nada há...

E Deus se fez homem no seio de Maria...
A natureza humana que acolhe a divina...
E que agora divinizada
se eternizou,
deixou o tempo ainda no tempo
por meio da Encarnação do Verbo
que infinitamente a amou e a ama...

Muitos e muitos...
não quiseram receber seu Natal
Por isso permanecem na morte ainda...
Vivendo e agindo no tempo...
Esperando o final desse tempo que lhes foi dado...
E por causa do pecado
não se convertem do mal que praticam...

É por isso que propagam no Natal
o não Natal...
E falam de tudo no natal,
menos do Natal verdadeiro...
Não seguem a Lei de Deus,
mas seguem a lei do mal...
e a divulgam amplamente...

Assim falam de presentes
para si e para os outros...
Mas não falam de Jesus
como o Presente de Deus Pai para nós...
E falam de papai Noel,
mas quem é ele?
E falam de ceia, comida;
mas não falam de Jesus
como o Pão da Vida Eterna...

E falam de duendes, magia...
introduzindo o ocultismo,
a presença do mal onde não devia...
E fazem festa, mas pra quem?
E bebem muito além...
Tragédia fatal...

E no final
ficam sem Jesus
e sem Natal algum...


“Muitas vezes e de diversos modos
outrora falou Deus aos nossos pais pelos profetas.
Ultimamente nos falou por seu Filho,
que constituiu herdeiro universal,
pelo qual criou todas as coisas”.

“Esplendor da glória (de Deus) e imagem do seu ser,
sustenta o universo com o poder da sua palavra.
Depois de ter realizado a purificação dos pecados,
está sentado à direita da Majestade
no mais alto dos céus,
tão superior aos anjos
quanto excede o deles
o nome que herdou”. (Heb 1,1-4).

“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós,
e vimos sua glória,
a glória que o Filho único recebe do seu Pai,
cheio de graça e de verdade”. (Jo 1,14).

Eis o Verdadeiro Natal!

Feliz Natal !


Do sol nascente ao poente
Cantai, fiéis, neste dia,
Ao Cristo Rei que, por nós,
Nasceu da Virgem Maria.

Autor feliz deste mundo,
Tomou um corpo mortal.
A nossa carne assumindo,
Livrou a carne do mal.

No seio puro da Virgem
Entrou a graça dos céus.
Em si carrega um segredo
Sabido apenas por Deus.

O casto seio da Virgem
Se faz o templo de Deus.
Gerou sem homem um Filho,
O Autor da terra e dos céus.

Nasceu da Virgem o Filho
Que Gabriel anunciou,
Em quem no seio materno
João, o Batista anunciou.

Não recusou o presépio,
Foi sobre o feno deitado;
Quem mesmo as aves sustenta
Com leite foi sustentado.

Do céu os coros se alegram,
Os anjos louvam a Deus.
Pastor se mostra aos pastores
Quem fez a terra e os céus.

Louvor a vós, ó Jesus,
Que duma Virgem nascestes.
Louvor ao Pai e ao Espírito
No azul dos espaços celestes.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

A Mensagem Franciscana do Presépio

Segundo a tradição, a primeira representação visualizada, teatralizada e celebrada de um presépio aconteceu no ano de 1223, num bosque próximo de Greccio, na Úmbria, região italiana. Quem tomou esta iniciativa foi Francisco de Assis, e ,com isso, ele passa a ser o primeiro a organizar de um modo plástico a cena da Encarnação do Filho de Deus.

Não é de se discutir se o fato é verídico ou legendário, pois Francisco de Assis foi um apaixonado pelo modo como Deus fez morada no mundo dos humanos, e certamente, mais do que palavras quis mostrar o maior evento de todos os tempos: na carne de um Menino, Deus está para sempre no meio de nós. Vejamos o texto das Fontes Franciscanas: “A mais sublime vontade, o principal desejo e supremo propósito dele era observar em tudo e por tudo o Santo Evangelho, seguir perfeitamente a doutrina, imitar e seguir os passos de Nosso Senhor Jesus Cristo com toda a vigilância, com todo o empenho, com todo o desejo da mente e com todo o fervor do coração.

Recordava-se em assídua meditação das palavras e com penetrante consideração rememorava as obras dele. Principalmente a humildade da encarnação e a caridade da paixão de tal modo ocupavam a sua memória que mal queria pensar outra coisa. Deve-se, por isso, recordar e cultivar em reverente memória o que ele fez no dia do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, no terceiro ano antes do dia de sua gloriosa morte, na aldeia que se chama Greccio. Havia naquela terra um homem de nome João, de boa fama, mas de vida melhor, a quem o bem-aventurado Francisco amava com especial afeição, porque, como fosse muito nobre e louvável em sua terra, tendo desprezado a nobreza da carne, seguiu a nobreza do espírito. E o bem-aventurado Francisco, como muitas vezes acontecia, quase quinze dias antes do Natal do Senhor, mandou que ele fosse chamado e disse-lhe: ‘Se desejas que celebremos, em Greccio, a presente festividade do Senhor, apressa-te e prepara diligentemente as coisas que te digo. Pois quero celebrar a memória daquele Menino que nasceu em Belém e ver de algum modo, com os olhos corporais, os apuros e necessidades da infância dele, como foi reclinado no presépio e como, estando presentes o boi e o burro, foi colocado sobre o feno’. O bom e fiel homem, ouvindo isto, correu mais apressadamente e preparou no predito lugar tudo o que o santo dissera.

E aproximou-se o dia da alegria, chegou o tempo da exultação. Os irmãos foram chamados de muitos lugares; homens e mulheres daquela terra, com ânimos exultantes, preparam, segundo suas possibilidades, velas e tochas para iluminar a noite que com o astro cintilante iluminou todos os dias e anos. Veio finalmente o santo de Deus e, encontrando tudo preparado, viu e alegrou-se. E, de fato, prepara-se o presépio, traz-se o feno, são conduzidos o boi e o burro. Ali se honra a simplicidade, se exalta a pobreza, se elogia a humildade; e de Greccio se fez com que uma nova Belém. Ilumina-se a noite como o dia e torna-se deliciosa para os homens e animais. As pessoas chegam ao novo mistério e alegram-se com novas alegrias. O bosque faz ressoar as vozes, e as rochas respondem aos que se rejubilam. Os irmãos cantam, rendendo os devidos louvores ao Senhor, e toda a noite dança de júbilo. O santo de Deus está de pé diante do presépio, cheio de suspiros, contrito de piedade e transbordante de admirável alegria.” (Cel 30,4).

Sob a inspiração deste fluo, baseando-se nas Fontes Franciscanas, toda a celebração de Natal ganha um novo vigor interpretativo e celebrativo em toda Itália, da Itália para a Europa e da Europa para o mundo. A cidade de Nápoles transforma a cena de Natal num movimento artístico, e a partir dali e dos anos 1700, o presépio é pura arte.

Unindo a Palavra de Deus, a representação artesanal e o folclore, os presépios vão destacando as típicas figuras regionais, e unem fé e beleza estética. As missões franciscanas levam o presépio para o mundo, e assim, cultura local e tradição cristã mostram o maior feito histórico da cristandade.

O presépio tem a forma dos momentos culturais: barroco, colonial, rococó, renascentista, moderno, vanguardista, arte popular, oriental, latino-americano, indiano e africano. O Deus Menino está no campo, na cidade, nas tendas, favelas e arranha-céu; está no centro urbano e na periferia. Une a força do sinal, do sacramental, do sagrado, da teologia da imagem, a fala da fé.

Nos presépios temos a harmonia das diferenças. O mundo do divino encontra-se com o mundo do humano. A grandeza, a onipotência de um Deus revela-se na fragilidade de uma criança. Ali o mundo animal, ovelhas, boi, burro, queda-se contemplativo abraçado pelo silêncio do mundo mineral: pedras e presentes. Há também o toque brilhante daquela Estrela Guia aproximando o mundo sideral.

As plantas formam o colorido arranjo do mundo vegetal. Anjos e pastores, um pai sonhador e uma mãe silente que guarda tudo no coração; afinal todos são conduzidos pelo mesmo mistério. O curioso e controlador mundo do poder representado pelos Reis Magos vem conferir. Fazer presépios é unir mundos! Aquele Menino fez-se Filho do Humano: veio experimentar a nossa cultura, o nosso jeito, a nossa consangüinidade.

Num presépio cabe todos os rostos! É o grande encontro dos simples, dos normais, dos marginais, dos ternos, fraternos, sofridos e excluídos. Quando o diferente se encontra temos a mais bela paisagem do mundo. Tudo se torna transparente na unidade das diferenças. Num presépio não existe preconceito, existe sim aquela silenciosa e calma contemplação da beleza de cada um, de cada uma. Encarnar-se é morar junto e respeitar o diferente! Paz na Terra aos Humanos de vontade boa e bem trabalhada! Isso é que encantou Francisco de Assis!

O presépio nos lembra que Deus não está no mercado das crenças, nem no apelo abusivo do comércio natalino que faz uma profanização deste universo de símbolos: pinheiros e estrelas, animais e pastores, presépios variados. Deus nem sempre está nas igrejas e nem nas bibliotecas; mas Ele está num coração que pulsa de Amor. Esta é a sacralidade inviolável do Natal: Deus está no seu grande projeto, que é Humanizar-se, fazer valer o Amor, Encarnar o Amor!

Deus não está na violência e nem onde se atenta contra a vida. Deus não está no orgulho dos poderosos nem entre os caçadores de privilégios hierárquicos. Mas Ele está na leveza deste Menino, Filho do Pai Eterno, a grande síntese das naturezas humana e divina.

Ele está aqui na mais bela doação do Sim de José e de Maria. Quando há disponibilidade, todo sonho é fecundo. Ele está onde se faz um presépio: lugar do Bem e da Beleza. É o grande momento de refletir este presente que ele nos dá. Isso é que encantou Francisco de Assis!

O Amor tem que ser Amado! A Verdade e a Beleza têm que ser apreciadas. Este é o lugar de Luz no meio das sombras humanas. A luz vale mais do que todas as trevas. Deus está ali com você e com Francisco diante do presépio, e abraçando você com silêncio, paz, harmonia, serenidade; acolhendo você e passando-lhe Onipresença, Onipotência eterna para a fragilidade da criatura. No presépio, Deus olha você, pessoa humana, contemplando a suprema humildade da Pessoa Divina.

Artigo A Mensagem Franciscana do Presépio, da Revista Franciscana, uma publicação da FFB, que pode ser adquirido na loja virtual www.lojafranciscanos.com.br

Por Frei Vitório Mazzuco Fº

Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/especiais/2008/presepio_122008/mensagemfranciscana.php
acesso em 23 Dez. 2008.


segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

O Natal do Menino Jesus


Nesta época do ano a maioria das pessoas se dedica a preparar a festa do Natal. Alguns gastam muito dinheiro em compras e viagens, visitam parentes, amigos, trocam presentes, preparam banquetes e tantas outras coisas. Mas, sinto que na hora da festa, muitos ainda deixam do lado de fora o próprio aniversariante. Ainda existem muitas casas que estão cheias de opulências e traições, de mentiras e vaidades, de ganâncias e espertezas, de luxos e futilidades... E de tão cheias do que não vale nada, já não sobra um lugar para o Deus Menino poder nascer. E existem muitos bons José e santas Maria, grávidas de vida, de amor, de justiça, de paz... procurando um lar, mas as portas se fecham. Há corações que não se abrem para o Deus Menino, porque Ele decidiu nascer na forma mais simples, pobre, sem terra e sem teto. E veio para resgatar os oprimidos e marginalizados, e restaurar a dignidade humana e a integridade da vida.

Talvez, para muitos, mesmo que tenham fé, seja tremendamente difícil celebrar o Natal na sua originalidade. Celebrar o nascimento do Filho de Deus nas feições das vítimas de um sistema opressor, com o rosto dos que são oprimidos e marginalizados, dos que sofrem com as catástrofes ambientais, doenças, guerras, crises. E celebrar o Natal, significa ativar nosso espírito de indignação, de amor e de solidariedade e nos comprometer com os que sofrem, lutar para amenizar suas dores e ajudar a transformar a realidade.

Para celebrarmos o Natal, precisamos sair do nosso comodismo, da nossa casa enfeitada, arrumada e ir ver a face do Menino Jesus de hoje. Ele que nasce tão pobre e desprotegido, clamando por dignidade e pedindo a conversão dos causadores da fome, da miséria, das guerras e da degradação ambiental. Para celebrar um bom Natal é preciso ir ao presépio e contemplar o Menino Deus, nascido de novo onde nascem e crescem, sofrem, morrem, vivem, sobrevivem, choram, gritam, cantam, rezam, lamentam, trabalham, lutam... os mais pobres deste mundo. Como os pastores, que passavam a noite vigilantes cuidando de seus rebanhos e os magos que seguiram o sinal e foram ao encontro do recém nascido na manjedoura, também somos desafiados a ir e ver o presépio, a pequena Belém de hoje, onde nasce, no meio dos últimos, para todos nós o Salvador, o Messias, o Cristo Filho de Deus.

É no compromisso com a promoção da justiça e da paz e com a defesa da vida que celebramos o verdadeiro Natal. Porque assim encontramos o Deus Menino, que buscou um aconchego para nascer junto aos pobres e excluídos. E é por isso que o Natal revigora nossa esperança. Deus optou pelos pobres e acreditou na humanidade. E no lugar dos últimos, Ele veio nos trazer a esperança e vida em plenitude.

Site das Franciscanas do Mártir São Jorge

No centro da nossa vida consagrada está a nossa união com o Sagrado Coração de Jesus, com as Irmãs da comunidade, e o empenho missionário em favor de pessoas necessitadas.

Na celebração diária da Santa Eucaristia a nossa vida comunitária atinge seu ponto mais alto, e com o cultivo da oração pessoal, se renova e aprofunda.

Quatro vezes por dia nos rezamos com a Igreja universal a Liturgia das Horas unindo-nos a Jesus na sua própria oração ao Pai por toda a humanidade.

Atenção: Novo Endereço:

A Encarnação do Verbo Eterno de Deus

Na noite luminosa do Natal celebra-se o mistério central da nossa fé: o Verbo eterno de Deus, “subsistindo na condição de Deus, não pretendeu reter para si ser igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo por solidariedade aos homens” (Fl 2,6-7). Esse hino sublinha o empenho pessoal do Filho de Deus que renuncia absolutamente a si mesmo e assume a condição de servo (natureza humana), embora subsistindo na condição divina.

O Verbo eterno (Lógos em grego), o Filho de Deus Pai, assume a natureza humana de Jesus, ao encarnar-se no seio da Virgem Maria. Não pode haver maior paradoxo à razão humana do que dizer que o Deus experimentado e vivido pelo cristianismo não é somente o Deus transcendente, eterno e infinito, mas é também o Deus que se autocomunica, por Sua livre graça, na pequenez e na fragilidade de uma criança. Como entender que este homem, criado no tempo, seja ao mesmo tempo Deus? Isso é um escândalo para os judeus e para todos os que adoram e veneram um Deus totalmente inobjetivável.

O Deus experimentado e vivido pelo cristianismo é, sim, santo, absoluto, eterno e infinito, mas bem porque Ele é o máximo que se pode pensar, tem o poder de revelar-se “para fora” de forma tão desconcertante e paradoxal. Ou será que não há nada de desconcertante na declaração joanina de que o Verbo eterno de Deus tornou-se “carne” (Jo 1,14)? A palavra “carne” indica, por um lado, a fragilidade e mortalidade próprias da pessoa humana e, por outro, indica a grandeza do abaixamento (kénôsis) de Deus. A alteza e profundidade do mistério quenótico, que se radicaliza na entrega de Jesus na cruz, transcende infinitamente ao máximo que se pode pensar. Por outras palavras, parafraseando Leonardo Boff, o Deus que em e por Jesus se revela é tão humano e o homem que em e por Jesus emerge é tão divino que a linguagem humana não pode dizer adequadamente.

O Verbo (Filho) eterno do Pai assumiu a natureza humana, conservando a Sua divindade. Isso quer dizer que Jesus Cristo, em pessoa, é humano e divino. Enquanto pessoa, Ele é essencialmente relação. A pessoa toma consciência de si e constrói sua individualidade no relacionamento de doação e de recepção da alteridade do outro. Ora, sabe-se da mútua implicação das três pessoas divinas e do quanto Jesus Cristo doou-se incondicional e gratuitamente a todos, bem como abraçou a cada um em seu amor ilimitado (Mc 2,13-17), inclusive aos inimigos (Mt 5,43-44). E devido ao Seu absoluto desprendimento e inominável receptividade, o eu humano de Jesus foi de tal maneira assumido pelo Lógos, a ponto de dizer, como Paulo: ”Já não sou eu que vivo, mas Cristo [o Lógos] vive em mim” (Gl 2,20). Jesus viveu uma relação tão íntima com Deus, invocado por Ele pelo termo “Abba” (Paizinho), que se igualou a nós em tudo, exceto no pecado.

Pensadores clássicos da Filosofia e da Teologia cristãs colocaram muitas questões acerca da criação do mundo e da encarnação do Filho de Deus. Destacamos primeiramente a seguinte: Por que Deus criou o universo? Entre as muitas respostas figurava a idéia de que Deus criou o mundo porque quis, por pura e absoluta gratuidade do amor, manifestar-se ad extra, isto é, para fora de si mesmo. O Sumo Bem cria o mundo contemplando o Verbo, pois é Nele que se encontram as razões ideais (rationes idealis) de todas as coisas criadas e criáveis no tempo. Assim, o Filho de Deus é o princípio; é o primogênito de toda a criatura porquanto todas as coisas visíveis e invisíveis são criadas à luz do Verbo: “Todas as coisas foram feitas por ele [Verbo] e sem ele nada se fez de tudo que foi feito” (Jo 1, 1-3).

Todavia, a suprema comunicação ad extra de Deus não se dá na criação, mas na encarnação do Seu próprio Filho. Poder-se-ia então pensar que Deus criou o cosmos para possibilitar a Sua encarnação em Jesus de Nazaré. Por isso, ao se colocar a questão da criação do mundo indaga-se também pelo motivo da encarnação do Verbo eterno. Onde se fundamenta a decisão divina de encarnar-se em Jesus Cristo? Teria o Verbo se encarnado simplesmente para resgatar a humanidade do pecado? Tradicionalmente afirma-se que a encarnação foi condicionada pelo pecado humano. Mas será que essa é uma resposta exaustiva à questão: Cur Deus homo? (Por que um Deus-homem?). Será que Deus poderia ter-se utilizado de outros meios para realizar a obra da redenção?

Para Santo Agostinho, Deus poderia, sem dúvida, ter-se utilizado de outros meios para realizar a obra da redenção. Porém, “não existia nenhum outro modo mais conveniente para remediar nossa miséria” (De Trinitate, XIII). Também Santo Anselmo e Santo Tomás de Aquino entendem que o motivo da encarnação é a redenção do pecado do homem. Conseqüentemente, sem o pecado, a encarnação não teria acontecido.

No entanto, para o pensador franciscano João Duns Scotus, a encarnação não é só um pressuposto para o sacrifício redentor, mas é um acontecimento que faz parte do plano de amor do Pai. Duns Scotus afirma que o Verbo seria encarnado, mesmo se o homem não tivesse pecado, visto ser a encarnação totalmente incondicionada. Ao encarnar-se, evidentemente quis a salvação de todos, pois, era conveniente que o fizesse por amor a cada pessoa na sua singularidade. Não se nega, portanto, que a encarnação do Verbo tem também a finalidade redentora. Sabiamente Scotus acentua que a segunda pessoa da Santíssima Trindade se encarnou, por Sua livre graça, para demonstrar o profundo amor salvífico de Deus pela humanidade pecadora e para conduzir a criação toda à sua plenitude. O Verbo encarnado é simultaneamente o princípio da criação e o fim último para o qual tende a pessoa humana, integrada ao cosmos.

Assim, acenamos para a imensidade do mistério do Natal de Jesus Cristo. A Igreja alerta-nos de que devemos nos preparar adequadamente para a celebração de tão grande mistério. O Deus revelado por Jesus Cristo encarnado é essencialmente um mistério transbordante de amor e, portanto, somente apreensível na experiência (ascese) da liberdade e do amor. E o esforço ascético que precede a solenidade do Natal do Senhor é liturgicamente denominado de “advento”. No advento a humanidade prepara-se para a vinda do Filho de Deus na carne humana de Jesus Cristo. No entanto, o Filho de Deus já veio; o Verbo já se encarnou. Qual é, então, o sentido do advento, se o tempo da espera e das trevas já passou e se o Esperado já veio?

É verdade que Deus veio de forma definitiva para dentro de nossa história, mas apesar disso, Ele é sempre aquele que ainda deve vir para cada um de nós. A natureza humana é assumida pelo Verbo não só por um momento, mas por meio de um ato que se realiza constantemente em cada filho e filha de Deus. O Verbo eterno quer encarnar-se em cada um de nós a ponto de também podermos dizer, como Paulo: ”Já não sou eu que vivo, mas Cristo [o Lógos] vive em mim” (Gl 2,20). No advento espera-se, portanto, que o amor de Deus se revele maximamente em cada criatura humana. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13).

Cada ser humano vive no desejo da redenção e na ânsia do Libertador. Porém, não somente os seres humanos, mas toda a criação espera pela chegada do Reino da Liberdade: “A criação toda geme e sofre em dores de parto até agora e nós também gememos em nosso íntimo esperando a libertação” (Rm 8, 22-23). De fato, o sonho de harmonia cósmica do profeta Isaías ainda não se realizou. O lobo ainda não é hóspede do cordeiro, a pantera não se deita ao pé do cabrito, nem o touro e o leão comem juntos; não é verdade ainda que a vaca e o urso se confraternizam e o leão come palha com o boi; não é ainda verdade que a criança brinca à toca da serpente e o menino mete a mão no buraco do escorpião (Is 11, 6-8). Em suma: a harmonia entre os seres humanos e entre estes e todos os seres da natureza, é ainda um sonho muito distante da realidade. No entanto, Jesus proclamou a grande novidade de que o Reino de Deus já chegou e atua nesta nossa história (Mt 12,28). O Reino de Deus, muito sutilmente, já “está no meio de vós” (Lc 17,21). Mas, enquanto Deus não for tudo em todas as coisas, enquanto não se restabelecer a paz entre todos os seres do universo, continuaremos na expectativa, suplicando como os primeiros cristãos: Vinde, Senhor Jesus!

Enfim, ressaltamos a especial ternura que nosso pai e irmão Francisco de Assis nutriu pela festa do nascimento do Filho de Deus (2Cel 199). Para ele, o Natal do Menino Jesus era a festa das festas porque nesse dia Deus revelou todo o Seu amor para com a humanidade, tornando-se criança pequenina, e porque no Filho encarnado encontramos um modelo para o nosso viver e o nosso agir segundo a vontade de Deus. O “Filho amado” do Pai convoca a todos os seus irmãos e irmãs a responderem amorosamente Àquele que tanto nos amou e a louvá-Lo com todas as criaturas. Então, sim, não será mais advento, mas NATAL.

Frei João Mannes, OFM
Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/especiais/2008/presepio_122008/mannes.php acesso em 22 Dez. 2008.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Santa Clara de Assis - A dama dos pobres

Sinopse: Santa Clara nasceu em Assis, Itália, no ano de 1193, e o interessante é que seu nome vem de uma inspiração dada à sua religiosa mãe, a qual haveria de ter uma filha que iluminaria o mundo. Pertencia a uma nobre família e era dotada de grande beleza. Destacou-se desde cedo pela sua caridade e respeito para com os pequenos, tanto que ao deparar-se com a pobreza evangélica vivida por Francisco de Assis, foi tomada pela irresistível tendência religiosa de segui-lo. Enfrentando a oposição da família, que pretendia arranjar-lhe um casamento vantajoso, aos dezoito anos, Clara abandonou seu lar para seguir Jesus mais radicalmente. Para isto foi ao encontro de São Francisco de Assis na Porciúncula e fundou o ramo feminino da Ordem Franciscana, também conhecido como das Damas Pobres ou Clarissas. Viveu na prática e no amor da mais estrita pobreza. Seu primeiro milagre foi em vida, demonstrando sua grande fé. Conta-se que uma das irmãs de sua congregação havia saído para pedir esmolas para os pobres que iam ao mosteiro. Como não conseguiu quase nada, voltou desanimada e foi consolada por Santa Clara que lhe disse: "Confia em Deus !" Quando a santa se afastou, a outra freira foi pegar o embrulho que trouxera e não agüentou mais levantá-lo. Tudo havia se multiplicado. Em outra ocasião, quando da invasão de Assis pelos sarracenos, Santa Clara apanhou o cálice com hóstias consagradas e enfrentou o chefe deles, dizendo que Jesus Cristo era mais forte que eles. Os agressores, tomados de repente por inexplicável pânico, fugiram. Por este milagre é que Santa Clara segura o cálice na mão. Um ano antes de sua morte em 1253, Santa Clara assistiu a Celebração da Eucaristia sem precisar sair de seu leito. Impossibilitada de participar de forma presencial, teve uma visão na parede do seu quarto do desenrolar da Liturgia tal qual se deu naquela noite. Neste sentido é aclamada como protetora da televisão. Através de uma Carta apostólica, de 21 de agosto de 1958, Santa Clara foi proclamada Padroeira da Televisão pelo papa Pio XII.

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segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

DE QUE LADO NÓS ESTAMOS?

Morrer não é o fim, mas o começo da verdadeira vida, pois, em seu amor de Pai, Deus nos criou dotados de uma alma eterna como Ele e com todas as possibilidades da salvação, contanto que correspondamos à sua bondade com nossa própria vida. Aqui o Senhor nos dispôs para vivermos em comunhão com Ele e entre nós e assim testemunharmos a unidade que revela sua atuação na obra da criação.

À medida que vivemos segundo os seus Mandamentos e as virtudes que nos deu, sentimos de imediato os efeitos da sua presença e com isso Ele nos convida a amarmos sem medidas porque o amor é a Virtude por excelência que nos identifica como seus filhos e filhas.

Deus é eterno e interage conosco no tempo por meio da fé e do amor que lhe devotamos. Desse modo o mandamento do amor a Ele acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmo é o que ainda sustenta essa nossa humanidade.

Mas chegará um tempo em que as criaturas por não mais amarem o seu Criador e não amarem a si mesmas e entre si, se autodestruirão; porque a única força criativa é o amor; enquanto que o ódio é um veneno espiritual mortal que cega as criaturas fazendo-as praticar toda espécie de maldades, tornado-as insuportáveis umas às outras.

Porém, aqueles que resistirem, por meio da piedade e santidade de vida, às forças do mal, tornar-se-ão mártires do Reino dos Céus pela fidelidade e obediência a Deus que os ama com eterno amor.

Vejamos como se dará a perseguição: “Tiranizemos o justo na sua pobreza, não poupemos a viúva, e não tenhamos consideração com os cabelos brancos do ancião! Que a nossa força seja o critério do direito, porque o fraco, em verdade, não serve para nada. Cerquemos o justo, porque ele nos incomoda; é contrário às nossas ações; ele nos censura por violar a lei e nos acusa de contrariar a nossa educação”.

“Ele se gaba de conhecer a Deus, e se chama a si mesmo filho do Senhor! Sua existência é uma censura às nossas idéias; basta sua vista para nos importunar. Sua vida, com efeito, não se parece com as outras, e os seus caminhos são muito diferentes. Ele nos tem por uma moeda de mau quilate, e afasta-se de nossos caminhos como de manchas. Julga feliz a morte do justo, e gloria-se de ter Deus por pai”.

“Vejamos, pois, se suas palavras são verdadeiras, e experimentemos o que acontecerá quando da sua morte, porque, se o justo é filho de Deus, Deus o defenderá, e o tirará das mãos dos seus adversários. Provemo-lo por ultrajes e torturas, a fim de conhecer a sua doçura e estarmos cientes de sua paciência. Condenemo-lo a uma morte infame. Porque, conforme ele, Deus deve intervir”.

“Eis o que pensam os ímpios, mas enganam-se, sua malícia os cega: eles desconhecem os segredos de Deus, não esperam que a santidade seja recompensada, e não acreditam na glorificação das almas puras. Ora, Deus criou o homem para a imortalidade, e o fez à imagem de sua própria natureza. É por inveja do demônio que a morte entrou no mundo, e os que pertencem ao demônio prová-la-ão”. (Sab 2,10-24).

“Mas as almas dos justos estão na mão de Deus, e nenhum tormento os tocará. Aparentemente estão mortos aos olhos dos insensatos: seu desenlace é julgado como uma desgraça. E sua morte como uma destruição, quando na verdade estão na paz”!

“Se aos olhos dos homens suportaram uma correção, a esperança deles era portadora de imortalidade, e por terem sofrido um pouco, receberão grandes bens, porque Deus, que os provou, achou-os dignos de si. Ele os provou como ouro na fornalha, e os acolheu como holocausto. No dia de sua visita, eles se reanimarão, e correrão como centelhas na palha”.

“Eles julgarão as nações e dominarão os povos, e o Senhor reinará sobre eles para sempre. Os que põem sua confiança nele compreenderão a verdade, e os que são fiéis habitarão com ele no amor: porque seus eleitos são dignos de favor e misericórdia”.

“Mas os ímpios terão o castigo que merecem seus pensamentos, uma vez que desprezaram o justo e se separaram do Senhor: e desgraçado é aquele que rejeita a sabedoria e a disciplina! A esperança deles é vã, seus sofrimentos sem proveito, e as obras deles inúteis. Suas mulheres são insensatas e seus filhos malvados; a raça deles é maldita.

“Feliz a mulher estéril, mas pura de toda a mancha, a que não manchou seu tálamo: ela carregará seu fruto no dia da retribuição das almas”.

“Feliz o eunuco cuja mão não cometeu o mal, que não concebeu iniqüidade contra o Senhor, porque ele receberá pela sua fidelidade uma graça de escol, e no templo do Senhor uma parte muito honrosa, porque é esplêndido o fruto de bons trabalhos, e a raiz da sabedoria é sempre fértil”.

“Quanto aos filhos dos adúlteros, a nada chegarão, e a raça que descende do pecado será aniquilada. Ainda que vivam muito tempo, serão tidos por nada e, finalmente, sua velhice será sem honra. Caso morram cedo, não terão esperança alguma, e no dia do julgamento não encontrarão nenhuma piedade: porque é lamentável o fim de uma raça injusta”. (Sab 3).

ORAÇÃO:

“Mas vós, Deus nosso, sois benfazejo e verdadeiro, vós sois paciente e tudo governais com misericórdia; com efeito, mesmo se pecamos, somos vossos, porque conhecemos vosso poder; mas não pecaremos, cientes de que somos considerados como vossos. Porque conhecer-vos é a perfeita justiça, e conhecer vosso poder é a raiz da imortalidade”. (Sab 15,1-3).

Paz e Bem!

Ciclo: O Renascimento do Século XII

O Ciclo de Debates O Renascimento do Século XII marca a estréia do escritor e pesquisador gaúcho Sérgio Luiz Gallina como conferencista de temas que remetem à reflexão da sociedade moderna. Contando sempre com a presença de outro intelectual, estabelecendo uma conversa franca sobre as relações entre o passado e o presente, entre temas que remetem à Idade Média, seus estudos, suas formações, sobre a história, a filosofia, a literatura e a religião e sobre as relações geopolíticas estabelecidas.

Os encontros tem a curadoria da maisQnada administração cultural e o apoio da Livraria Palavraria e da EST Edições.

16 de dezembro de 2008, terça-feira, 19h: o Ciclo recebe o Frei Rovílio Costa

- Patrono da Feira do Livro de Porto Alegre de 2005, licenciado em Filosofia, Pedagogia, Mestre em Educação, Livre-Docente em Antropologia Cultural. Foi professor da Faculdade de Educação da UFRGS, diretor e professor da Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, POA. Foi Vigário Paroquial em Ipê, Antônio Prado, Ipê, na paróquia Sagrada Família de Porto Alegre e atualmente é vigário paroquial da Igreja Maronita Nossa Senhora do Líbano de POA. Fundador e diretor de EST Edições. Integrante do Instituto Histórico de São Leopoldo; da Academia Rio-Grandense de Letras e da Academia Brasileira de Jornalismo; Cidadão Italiano, é Ufficiale dell'Ordine al Merito della Repubblica Italiana.

Na Palavraria – Livraria-Café

das 19 às 20 horas, às terças-feiras

EVENTO GRATUITO


Palavraria - Livraria-Café
Rua Vasco da Gama, 165 - Bom Fim
90420-111 - Porto Alegre
Telefone 051 32684260

domingo, 14 de dezembro de 2008

LA MORENITA

Ontem, dia 12 de dezembro, comemoramos o Dia de Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira do Continente Americano. A história de sua aparição, embora tenha algumas semelhanças com outras aparições da Virgem, ali no México tem suas peculiaridades. O que tem em comum com outras aparições e podemos refletir a respeito é o fato de que a Virgem Maria escolheu pessoas pobres, muitas vezes excluídas da sociedade na época em que o fato ocorreu, como é o fato do índio Juan Diego. Veja a seguir um resumo da história da Virgem de Guadalupe, também carinhosamente conhecida como a La Morenita entre os fiéis mexicanos.

Em 1531 uma "Senhora do Céu" apareceu a um pobre índio de Tepeyac, em uma montanha a noroeste da Cidade do México; Ela identificou-se como a Mãe do Verdadeiro Deus, instruiu-o a dizer ao Bispo que construísse um templo no lugar e deixou sua própria imagem impressa milagrosamente em seu tilma, um tecido de pouca qualidade (feito a partir do cacto), que deveria se deteriorar em 20 anos, mas não mostra sinais de deteriorização depois de 474 anos, desafiando qualquer explicação científica sobre sua origem. Aparentemente parece refletir em seus olhos o que estava à sua frente em 1531.

Anualmente, Ela é visitada por 10 milhões de fiéis, fazendo de sua basílica no México, o santuário católico mais popular do mundo depois do Vaticano. Sua Santidade João Paulo II visitou seu santuário por três vezes: Em sua primeira viagem como papa em 1979 e novamente em 1990 e 1999. Ele ajoelhou-se diante de Sua imagem, invocou sua assistência maternal e dirigiu-se a ela como a Mãe das Américas.

Frei James SSF

Publicado originalmente no meu blog: http://brjames.blogspot.com/

São Francisco de Assis: apenas um homem

Viviane de F. Magalhães

Quem foi São Francisco de Assis? Francisco de Assis foi nada mais que um homem de personalidade que tinha um ideal e o seguiu até o fim de seus dias.
[ . . . ]
O discurso de Francisco era ideal para a sociedade medieval do século XIII. As cidades ressurgem e com elas também a pobreza e a miséria, cada vez mais visíveis, assim como a riqueza. As diferenças sociais são cada vez visíveis e irreversíveis. O ideal franciscano é uma saída em meio ao caos, é por isso que o número de adeptos do franciscanismo cresce; e cresce também o interesse da igreja, já que esta busca firmar-se como religião dominante através da adesão popular. Apoiar o franciscanismo seria uma forma de aproximar-se da população. É a partir de então que a Ordem Franciscana se expande, com o apoio da igreja, e o ideal difunde-se entre as elites, uma prova disso é a entrada de homens letrados na Ordem.
[ . . . ]
Francisco frustrou-se com o rumo que a Ordem tomou? Podemos dizer que não. Francisco afastou-se da Ordem proque simplesmente percebeu que nunca quis fundar uma Ordem Religiosa , talvez pensasse que ele próprio estava se afastando de Deus. Ao afastar-se da Ordem é bem provável que pretendesse retornar ao ponto de partida, voltar a raiz do franciscanismo.
Leiam na íntegra em http://www.ifcs.ufrj.br/~frazao/Viviane.htm

Ilustração:
PORTINARI. São Francisco de Assis. [1941].
Pintura mural a têmpera
180 x 75cm

sábado, 13 de dezembro de 2008

Francisco de Assis - visão em perspectiva


Márcio Toledo

Em certo sentido Francisco de Assis é um Santo muito atual, que penetrou na história do Ocidente e continua lançando desafios ao nosso tempo, apesar de ter vivido no século XIII. Suas idéias e atitudes são provocativas e renovam o espírito de inquietação na medida em que travamos um diálogo com o Poverello, através das fontes disponíveis. O seu carisma exerce um enorme fascínio e penetra nos mais variados meios, de tal forma que impressionam até o mais cético dos homens. Muitos o admiraram e o seguiram, superando as barreiras e os obstáculos do preconceito. Foi nesse espírito que, quando na primeira década do século XVII freqüentava a Universidade de Coimbra, Lucas Wading viu-se assediado por inúmeras cartas de condiscípulos que lhe manifestavam a sua estranheza e perguntavam porque sendo ele um homem de tanta capacidade, se sacrificava mantendo-se numa Ordem de ignorantes, fundada por um ignorante e impenetrável a tudo o que hoje se chama valor de cultura. Semelhantes insinuações, em vez de lhe quebrarem o ânimo ou diminuírem o entusiasmo pela vocação franciscana, criaram nele um novo ímpeto que o levou a mostrar aos homens do século, que conheceu e amou Francisco, acima destes julgamentos.
[ . . . ]
Francisco nasceu num período de grande progresso no Ocidente Medieval, caracterizado por transformações demográficas e econômicas de um lado e, do outro, por inúmeras hesitações, contradições e ambiguidades. Os centros urbanos ganharam um novo impulso, uma renovada dinâmica e as Comunas se solidificaram como Instituição. As mudanças afetaram a vida das pessoas e também promoveram alterações na esfera religiosa. Como conseqüência, os leigos se destacaram pela crescente participação na vida religiosa, aumentando seu papel e sua presença nos domínios da igreja.
[ . . . ]
A Igreja, por seu lado, procurou corresponder a estas inovações, através da Reforma Gregoriana. Com ela, procurou empreender uma forte "cruzada" para combater as distorções e restaurar as origens. Entretanto, os ajustes estipulados não promoveram o resultado desejado e a Igreja permaneceu descompassada em relação ao seu tempo, fracassando em algumas de suas metas.
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Francisco se sentiu tocado pelo Evangelho e teve sua vida transformada. A menoridade e o despojamento se constituíram elementos fundamentais no seu seguimento a Jesus. A experiência de fraternidade foi um dos pontos centrais da sua mística religiosa e da dos seus primeiros irmãos. Por isso, o Santo tinha toda a legitimidade para temer alguns perigos, que podiam não só desviá-los da própria vocação, mas também resfriar-lhes o coração.
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Contudo, estas barreiras que se levantaram contra Francisco não o impediram de tomar conhecimento dos textos decisivos para a sua vida evangélica. Ele tinha o sentimento de ser capaz de chegar diretamente ao evangelho. Sua cultura, diferente da dos clérigos ou dos monges, estava bem distante das sutilezas alegóricas. Francisco, diferentemente dos teólogos de seu tempo, não queria interpretar o texto sagrado, nem cometer heresia, almejava essencialmente uma apreensão direta, literal e realista do que estava contido nas Sagradas Escrituras.
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A carta é breve, mas importante. O texto conciso é típico do Santo. Sem dúvida, foi ele quem tomou a decisão. Apesar de não tratar das particularidades técnicas, pois isto ele deixou ao encargo de Antônio, traçou uma importante linha diretriz de espiritualidade, atestando que ele não rejeitava a teologia, ainda que isso tenha sido afirmado por alguns autores e continue sendo afirmado. A carta fala claramente o oposto a isto. Entretanto, ela alerta sobre um ponto que aliás se destaca nos escritos do Poverello: ele rejeita o saber como fim em si mesmo e não deseja que seus irmãos adquirem honra e fama perante os homens por meio do saber.
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Com relação a vida de pobreza, a sua opção resultou do desejo de ser livre para seguir (diferente de imitar) o Mestre. Como produto desta escolha, desse casamento, brotou o propósito de preparar os pobres para receber a Boa-Nova, cuja revelação é reservada aos humildes, que são os herdeiros privilegiados. O Poverello de Assis identificou no pobre o próprio Jesus Cristo, de quem é a imagem, inteiramente fundamentado na atenção de Cristo pelos pobres. A pobreza foi dignificada e entendida como um estado de mérito, oferecida aos pobres e a seus benfeitores. Entretanto, nos parece que, neste ponto, Francisco não podia ser tão inovador, tendo permanecido, deste modo, inserido dentro dos modelos antigos de assistência aos pobres na concepção tradicional. A inovação de Francisco foi se unir aos pobres, se tornando ele próprio um, afirmando a dignidade da pobreza, sem romper os laços com a estrutura da Igreja.
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O desejo de martírio e a viagem ao Oriente também acarretaram mudanças na trajetória de Francisco. A viagem teve uma conotação extremamente importante e inovadora: foi um misto de martírio, enquanto vontade de alcançá-lo, e uma prática missionária renovada. Francisco não tratou o Sultão como seu inimigo e, ao contrário, procurou com ele dialogar e divulgar a sua fé. Dialogando com o Sultão, o Poverello assinalou novos caminhos para a vida missionária da Igreja e, provavelmente, reformulou o seu próprio conjunto doutrinário: uma prática não hostil e cheia de firmeza e convicção de fé.

Assim sendo, podemos dizer que o Santo foi um homem de seu tempo: ele sofreu a influência da cultura cavalheiresca e sua devoção a pobreza teve coLinkntornos corteses. Por outro lado, Francisco se distanciou de seu tempo a medida que dava um tratamento diferenciado aos rejeitados pelos membros da Comuna e pela Igreja. Enquanto estes, apoiados na nova legislação canônica, excluíam leprosos, homossexuais e hereges (muçulmanos), Francisco proclamou a presença de Deus em todas as criaturas e se transformou no trovador de uma nova alegria.

Leiam na íntegra em http://www.ifcs.ufrj.br/~frazao/marcio.htm
Ilustração:
PORTINARI. São Francisco Pregando aos Pássaros. [1940].
Pintura mural a afresco
137 x 227cm

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A Teologia que eu defendo

Marcelo Barros*

A polêmica entre teólogos amigos meus e companheiros de história e de missão me obriga a rever e aprofundar em que Deus acredito, como sigo Jesus e que tipo de teologia, defendo. Não quero dar mais munição a adversários da Teologia da Libertação. Penso que o alto nível deste debate, assim como a ética e a integridade de ambos os lados, garantem que, no final, espero, todos aprendam com todos. Se se tratasse de uma mera polêmica para vencer o outro, sem dúvida, seria inútil e anti-espiritual, como as antigas apologias que a Igreja fazia contra os considerados "hereges". Se, ao contrário, se trata da busca de um diálogo verdadeiro, a meta não é ver quem vence e sim como caminhar juntos para uma verdade que ultrapassa a todos. Pessoalmente, como monge, me sinto muito ligado à teologia patrística e oriental. Sempre me impressionou o fato de que a Igreja Oriental deu a um místico o título de "teólogo" (São Simeão, o Teólogo, monge grego do século X), não porque ele tivesse desenvolvido com muitos argumentos "o núcleo duro da Teologia", (não sei o que isso teria a ver com Deus e com a fé), mas porque soube penetrar nos mistérios mais altos da intimidade divina.

Ao me consagrar a uma Teologia Pluralista da Libertação, tenho muita dificuldade em lidar com a linguagem arrogante que fala do Cristo como fundamento primeiro da Teologia, desligando-o do sacramento do pobre. Sinto como se estivéssemos recuando ao tempo em que a Teologia ficava com a racionalidade ocidental e considerava a Espiritualidade um campo menos sério e pouco objetivo. Para mim, o mais importante é a palavra de Jesus no Evangelho: "Não é quem me diz ´Senhor!, Senhor!´ que entra no reino, mas quem faz a vontade do meu Pai que está no céu" (Mt 7, 21). E com relação aos pobres: "o que fizeste a um destes pequeninos, a mim o fizeste" (Mt 25, 40). Se ele mesmo propõe esta identificação tão forte, porque é preciso fazer uma Teologia para distinguir e separar?

Continuo convencido de que vale a pena ser discípulo de Jesus, mas não isolando o Cristo como objeto da fé e fundamento teórico da Teologia e sim como referência para o seguimento. Quero crer em Jesus, assumindo a fé de Jesus, fé no Abba, um paizinho que é como mãe de Amor, sua fé no mundo transformado e sua fé em nós como pessoas, às quais ele confia a missão de testemunhar o seu amor e o reino.

Em 1968, Pasolini começa o filme ‘Teorema’ com uma citação do Êxodo: "Deus não conduziu o seu povo da escravidão do Egito para a terra da liberdade por um caminho reto (a terra dos filisteus), mas o fez dar volta durante 40 anos, pelo deserto..." (Ex 13, 17- 18). A Teologia da Libertação está completando quLinkase seus 40 anos. Certamente, em seu caminho pelo deserto, ocorreram voltas e desvios que fazem parte desta busca. O importante é o que Jon Sobrino denominou "Princípio Misericórdia" e tem de ser nossa hermenêutica e nossa vida.

* Monge beneditino e escritor
Extraído de http://www.cebsuai.org.br/content/view/1512/36/ acesso em 12 Dez. 2008.

Carisma Franciscano


Quando se fala de Carisma, antes de qualquer outra coisa, deve-se necessariamente reportar a São Paulo (1Cor 12-13), a partir do qual se pode estabelecer que os carismas são dons do Espírito Santo conferidos aos eleitos, ou seja, aos batizados, para que a Igreja, ao longo dos tempos, possa eficazmente realizar a sua finalidade principal: levar os homens à salvação e ser uma presença clara e atuante de Jesus Cristo no mundo.
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Assim sendo, cada batizado possui a capacidade para ser transformado em instrumento do e pelo Espírito Santo, para cumprir uma tarefa específica na manifestação do Reino de Deus e edificação/ atualização da vida de sua Igreja, em tempos determinados, atendendo a necessidades determinadas do povo de Deus.
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Em certos momentos da história da humanidade, o Espírito suscita pessoas específicas para, por meio de uma profunda experiência com Deus, trazer vida nova para a sua Igreja e para o mundo, relembrando-os de algo esquecido ou chamando sua atenção para um aspecto novo ou negligenciado de sua caminhada.
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O convertido consegue fazer com que o grupo participe de seu carisma pessoal que, desde este momento, passou a ser meta e orientação para o próprio grupo. O convertido transforma-se em referencial para toda uma geração de seguidores, converte-se em fundador de toda uma maneira própria de ver o homem e o mundo.

É nesta dinâmica que se dá e que se deve procurar apreender a experiência pessoal de São Francisco de Assis, que culmina na gênese e na construção do Carisma Franciscano.

Frei Carlos Guimarães de Almeida, OFM Conv
Leiam na íntegra em http://santamariadosanjos.blogspot.com/2008/12/carisma-franciscano.html

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Quem foi Francisco de Assis?

Luiz Edmundo Tavares Júnior

Francisco de Assis nasceu em 26 de Setembro de 1182, na cidade de Assis , na Itália. Antes de entrarmos basicamente na questão, queria ressaltar que Francisco foi o mais querido santo que já passou pelo plano terrestre; sendo venerado por católicos, pelos protestantes e por outras filosofias.
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Francisco descobre sua vocação aos 24 anos de idade, quando, segundo as fontes, recebe uma revelação na Igreja de São Damião. A partir de então, abandona tudo e todos, e sai em busca de sua paz, ajudando doentes, confortando miseráveis e leprosos, amando todos como irmãos. Será chamado de louco pois dará tudo o que tem aos pobres, porém torna-se mais forte com as críticas que recebe.
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Ele pregava a humildade, a generosidade, o respeito a natureza e outros atributos extraídos dos ideais da cavalaria, já que ele também cresceu num ambiente em que os ideais de cavalaria eram consagrados como um estilo de vida. O amor cortês de Francisco derivava do amor pela esposa do Senhor, do mesmo modo que o cavaleiro bajulava a esposa do seu Senhor temporal. O poverello declarava o seu amor pela dama pobreza, esposa do seu senhor Jesus. Na medida em que notamos uma reordenação dos princípios e a aceitamos, podemos também admitir que Francisco foi um grande cavaleiro: o cavaleiro da dama pobreza.

A relação de Francisco com o seu tempo, parece-me uma relação ligada basicamente com a estrutura social e com os problemas aos quais seus contemporâneos enfrentavam. Estavam ocorrendo mudanças no âmbito econômico, e também havia um crescimento demográfico, as quais resultaram numa urbanização e numa maior aproximação da população com a religiosidade. Em suma a relação de Francisco com a pobreza , o trabalho, o progresso, etc..., revelam um Francisco afetado, pensando as questões postas por seu tempo; residindo seu traço inovador na forma como interpreta e lida com tais questões. A verdadeira inovação de Francisco foi se unir aos pobres, se tornando ele próprio um pobre.

Leiam na íntegra em http://www.ifcs.ufrj.br/%7Efrazao/Luiz.htm

Ilustração:
PORTINARI. São Francisco se Despojando das Vestes. 1945.
Pintura mural a têmpera
750 x 1060cm (aproximadas) (irregular)
Igreja de São Francisco de Assis da Pampulha, Belo Horizonte,MG

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Uma Visão Sobre Francisco de Assis

Jefferson Eduardo dos Santos Machado


1 - Introdução

Na verdade muitas pesquisas já foram feitas sobre Francisco de Assis. Como historiadores, nós nunca poderemos deixar de observar todo contexto histórico, que norteava sua época e sua região, pois o homem é fruto de seu tempo e sofre influência, em parte, pelos acontecimentos e, por outra, pelos movimentos que observa durante sua vida. Neste trabalho tentaremos mostrar um cidadão de Assis que vive a Idade Média como um momento cultural, social, religioso, mítico, arcaico, motivo de escândalo e de interesse.

2 - Francisco e seu tempo

Francisco inicia a sua caminhada espiritual com vinte anos em 1201-1202, um momento de grande expansão para a cristandade (séc. XI - séc. XIII). Este momento é época de grande desenvolvimento econômico e social, que faz crescer as oportunidades de trabalho e melhorar as técnicas de plantio. O campesinato recebe a liberdade por parte dos senhores e as atividades comerciais intensificam-se, culminando com o renascimento das cidades.
[ . . . ]
Este grupo social contesta as arbitrariedades senhoriais e vai arrancando vantagens para a garantia de suas atividades. Os vários grupos sociais buscam uma maneira de aumentar seu capital, o que ocasiona um distanciamento entre ricos e pobres.
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Francisco, filho de comerciante, cidadão de Assis, responde a estes anseios, desde o momento que começa a realizar seu trabalho apostólico na cidade. Seus contemporâneos vêem nele uma resposta aos seus desejos e suas rejeições. Com o aumento da pobreza ele tenta trazer a ela dignidade, vivendo o Cristo "nu" do Evangelho.
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Em seu apostolado ele sente a opressão exercida pelos nobres sobre os camponeses e artesãos, ao auxiliá-los em suas tarefas diárias.
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Francisco vive com radicalidade as palavras sagradas vendo nelas um forte chamado. Ele não vê isolamento como solução espiritual para os problemas da cristandade.
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Francisco, porém, não condena os ricos, e tenta transformá-los através de seus exemplos, isto é, coloca-se como modelo ao qual todos devem mirar para ver a pobreza como algo belo e acessível.

3 - Francisco e a Igreja

Na Idade Média, a sociedade como um conjunto de povos unidos pela fé, se sobrepunha as particularidades e divisões em nações e reinos, isto é, o "mundo" cristão.
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Nestes séculos surgem também a época clássica das ciências sagradas, cujo pilar fundamental era o desenvolvimento da teologia "Escolástica".
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Neste contexto o homem passa a ser conhecido pela sua fé e por sua grande participação numa estrutura de inspiração. Participar da Igreja era adquirir um comportamento típico, trabalhando um modo de ser. Francisco participa desta estrutura e assume os sacrifícios necessários para cumprir suas metas.
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Francisco ao contrário de outros grupos, com propostas semelhantes as suas, não entra em choque com a Santa Sé. Estes grupos combatem as práticas do clero, a detenção do monopólio da leitura e interpretação do Evangelho e são considerados heréticos, isto é, traidores da fé cristã que criticam os dogmas da Igreja. Francisco adota um caráter humilde e uma visão de um mundo e um Deus maravilhosos.

4 - Conclusão

Muitas pesquisas, como já dissemos, foram realizadas sobre Francisco. Muitos autores apresentaram suas visões sobre o tema.
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Observamos que nestes textos o autor coloca Francisco como criador de algo novo, que supri as ansiedades dos seus contemporâneos. Ele vive as dúvidas e problemáticas de seu tempo e assume em sua missão o papel de tentar respondê-las.
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Já Desbonnets afirma que o "Evangelho marca o ritmo de sua vida" (5). Ele "tinha o sentimento de ser capaz de chegar diretamente ao Evangelho" (6). Francisco tem uma posição discordante em alguns casos, assemelhando-se às vezes à sua classe anterior que não concorda com a necessidade de intermediários entre eles e a Bíblia. Francisco como homem medieval é evangélico, colocando sempre o Evangelho como caminho para o seu apostolado.
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Todos estes autores analisando aspectos diferentes de Francisco chegam a mesma conclusão, Francisco viveu seu tempo e foi agente transformador de sua sociedade.

Como não poderíamos deixar de observar, através das pesquisas aqui descritas, que ele soube catalisar a sua realidade e criar um ideário próprio, que era baseado também no Evangelho. Porém com a entrada de muitos membros e da intervenção da Igreja muito desse ideal foi esquecido, pois com a entrada de letrados, deixou-se de valorizar o exemplo e as experiências vividas para se valorizar a oratória e a vida monástica.

Notas:

1 - Le Goff, Jacques "Francisco de Assis Entre as Inovações e a Morosidade do Mundo Feudal", Concilium, Petrópolis, n.169, 1981.
2- Idem .
3 - Mollat, M. "A pobreza de Francisco: Opção Cristã e Social", Concilium, Petrópolis, n.169, 1981.
4 - Idem.
5 - Desbonnets, T. "A leitura Franciscana da Escritura", Concilium, Petrópolis, n.169, 1981.
6 - Idem.
7 - Mazzuco, Vitório. Francisco de Assis e o Modelo do Amor Cortês - Cavalheiresco. Petrópolis: Vozes, 1994.

Leia na íntegra em http://www.ifcs.ufrj.br/~frazao/Jefferson.htm

Ilustração: PORTINARI. São Francisco. 1941.
Pintura a óleo/tela.
73 x 60cm

Filme: O Anel de Tucum


Anel de Tocum: Símbolo da Solidariedade.



É um símbolo de solidariedade que está nas mãos de muita gente de norte a sul do nosso país e também nas mãos de várias pessoas de nossa América Latina e da Europa, que lutam pela justiça e se engajam em pastorais sociais (das igrejas cristãs especialmente), entidades, movimentos sociais e ong´s que lutam a favor dos que são explorados pelo capitalismo selvagem.Na época do Império, quando o ouro era usado em grande escala entre os opressores, principalmente nos anéis, os negros e os índios não tendo acesso ao ouro, inventaram o ANEL DE TUCUM como símbolo de pacto matrimonial, símbolo de amizade entre si e também de resistência na luta por libertação. Era símbolo clandestino cuja linguagem somente eles sabiam. O anel de tucum agregava os oprimidos, em busca de vida, mesmo no meio de tanta opressão é um símbolo de solidariedade que está nas mãos de muita gente de norte a sul do nosso país e também nas mãos de várias pessoas de nossa América Latina e da Europa, que lutam pela justiça e se engajam em pastorais sociais (das igrejas cristãs especialmente), entidades, movimentos sociais e ong´s que lutam a favor dos que são explorados pelo capitalismo selvagem.Na época do Império, quando o ouro era usado em grande escala entre os opressores, principalmente nos anéis, os negros e os índios não tendo acesso ao ouro, inventaram o ANEL DE TUCUM como símbolo de pacto matrimonial, símbolo de amizade entre si e também de resistência na luta por libertação. Era símbolo clandestino cuja linguagem somente eles sabiam. O anel de tucum agregava os oprimidos, em busca de vida, mesmo no meio de tanta opressão

Filme-Documentário
Ano: 1994
Duração: 106min
País: Brasil
Diretor: Conrado Berning
Agora (13 out. 2012) no Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=rH38btWiMgw&feature=bf_prev&list=PLE8371F93441FC493

Vida e obra de Francisco de Assis

Gika Simão
gika@pcshop.com.br

Procurei ler a biografia deste santo para compreender melhor a importância e as etapas da vida dele, para a Igreja Católica. Trata-se de Francisco de Assis antes e depois da sua conversão. É bom lembrar que há inúmeras biografias impressas sobre este santo, e todas devem ser respeitadas, mas pelo fato de divergirem muitas vezes entre si, coloquei aqui o que achei mais convincente, ou seja, o que realmente acredito dentro de cada obra lida durante o curso.
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Francisco Bernadone foi filho de um rico comerciante de tecidos da era medieval, teve uma juventude frívola e descuidada em companhia de outros jovens boêmios.
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Tomou no sentido literal as palavras que ouvira e vendeu mercadorias da loja de seu pai para reformar essa igreja.
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Deu-se, assim, o início da Ordem dos Frades Menores, que tinha como sede a Capela Porciúncula de Santa Maria dos Anjos, perto de Assis. O número de candidatos à ordem era muito grande e, sendo assim, foi aberto outro convento, em Bolonha; porém, por toda a Itália, os irmãos conclamavam o povo, de classe baixa ou alta, à fé e à penitência. Recusavam posses, conhecimentos humanos e mesmo promoção eclesiástica; poucos dentre eles tomaram as ordens sacras. O próprio Francisco de Assis nunca foi sacerdote.
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Já em 1217, o movimento franciscano começara a desenvolver-se como uma ordem religiosa. Dado ao grande número de aderentes, a ordem foi crescendo de tal forma, que foi necessária a criação de províncias; grupos de frades foram encaminhados para elas e para fora da Itália, inclusive para a Inglaterra.
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Em 1224, enquanto Francisco pregava no Monte Alverne, nos Apeninos, apareceram-lhe no corpo cicatrizes correspondentes às cinco chagas do Cristo crucificado, fenômeno chamado de "estigmatização". Os estigmas permaneceram e constituíram uma das fontes de sua fraqueza e dos sofrimentos físicos, que aumentaram, progressivamente, até que, dois anos depois, ele acolheu a "Irmã Morte".
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Em 1979 o Papa João Paulo II proclamou-o santo patrono dos ecologistas, como era um grande admirador da natureza na época em que viveu. (In: Dicionário Festividades Religiosas)

Com estas palavras terminamos este trabalho de um personagem da História da Igreja. Por tudo quando ele realizou em nome da religiosidade, podemos ver que ele era um homem da sua época e tudo o que ele viveu está relacionado com a sociedade medieval. Resumindo: ele foi fruto da sua época mas que, nos parece, inovou em algumas coisas, como no próprio conceito de pobreza.

Leiam na íntegra em http://www.ifcs.ufrj.br/%7Efrazao/Gika.htm

Ilustração: PORTINARI. São Francisco. ca.1962.
Pintura a guache/papelão.
23 x 24cm.
Nota: Maquete para biombo ou tríptico; não executado.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Francisco de Assis, o mais católico dos cristãos

Anderson dos Santos Moura

Francisco nasceu em 1182; portanto, em fins do século XII; época dos profundos questionamentos sociais que iniciaram-se em meados do século XI. Esses questionamentos deram-se, sobretudo, no campo religioso. Enaltecia-se o ideal de pureza dos cristãos primitivos, numa espécie de "volta às fontes".
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Seu exemplo atraiu homens que quiseram seguí-lo e viver como ele - pelo menos os primeiros - e inspirados nele.

Permaneceu leigo, sem ostentar a honra de ser clérigo. Desprezo e desapego por honrarias que apresentou, também, ao rejeitar os estudos para si e para os seus; talvez por ter observado o quanto eram gananciosos e afastados de Deus, os comerciantes e contadores que trabalhavam com seu pai; ou, também, por achar que a intelectualidade levava a sobreposição de classes.
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Acredito que uma genialidade não pode ser forjada a esse ponto; contudo, não posso deixar de crer no "poder de mídia" que a Igreja tinha na época, que com certeza foi fator fundamental para a gestação do grandioso mito que se formou no imaginário popular.
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Francisco não foi inovador nos seguintes aspectos: o modo cortês, do ideal da cavalaria; eremitismo e peregrinação (antes de sua conversão); ideal de pobreza; preferência à vida laica; a volta ao ideal cristão primitivo; a pregação do Evangelho.
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Francisco, no início de sua conversão, por volta de seus vinte anos de idade, pôs-se em peregrinação, um costume comum de sua época; depois optou pelo eremitismo, bem como o ideal de pobreza. Ora, estas experiências religiosas começaram a tomar força em meados do século XI, quase dois séculos antes do nascimento de Francisco, quando no Ocidente abria-se caminho a exigência de aprofundamento do campo religioso, e se observava um grande número de experiências que caracterizavam-se pela vontade de voltar à pureza original do cristianismo; porém, muitos desses grupos que se formavam como os Cátaros, Valdenses e Humilhados, não caminhavam conforme a orientação da Igreja; no exemplo dos Valdenses que, não respeitavam a proibição aos leigos de pregar e, por isso, foram considerados heréticos.
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Ao contrário dos primeiros grupos e, creio eu, consciente dos erros e insucessos destes, procurou executar sua missão apostólica com o aval da Igreja. Missão apostólica esta que realizou no meio urbano, onde estava se formando uma considerável população. Enquanto outros grupos de penitentes viviam isolados no meio rural, ele optou por viver em contato com as cidades, nos subúrbios que se formavam, atendendo assim às novas aspirações, espirituais e demográficas.
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Francisco foi, por orientação da Igreja, levado a preparar uma Regra para sua recém-fundada Ordem; mas não achava necessária uma Regra, pois o Evangelho por si só já bastava, porém, teve que ceder para se adaptar às imposições da Igreja. Francisco, bem como o seu movimento, foi absorvido pela Igreja sim. Deixou-se influenciar, mas também influenciou. Francisco no seu caminho de adaptação à essas normas e consequente institucionalização da ordem; e a Igreja no seu projeto de adaptação e abertura ao laicato, tornaram-se intrínsecos. Os dois lados tiveram que ceder.
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Francisco, no meu ver, representa uma opção particular do seguimento de Cristo; foi o mais católico dos cristãos. O rumo que sua ordem de seguidores tomou, fugindo assim dos seus ideais mais particulares, pode tê-lo enchido de desgosto, mas isso aconteceu porque esses ideais começaram a receber influências externas a ele; e passar, de um plano pessoal, para um plano coletivo. Afinal, uma ordem não se faz de um homem só; por mais "santo" e inspirador que ele seja.
Leiam na íntegra em http://www.ifcs.ufrj.br/~frazao/andersonmoura.htm

Ilustração: PORTINARI. São Francisco de Assis. 1942.
Pintura a têmpera/madeira
140 x 35cm (aproximadas)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

São Francisco de Assis e o Cântico das Criaturas

Pedro Garcez Ghirardi
(Livre-Docente FFLCHUSP)
Laudato sie, mi Signore, cum tucte le tue criature
(São Francisco de Assis)

As reflexões aqui apresentadas destinam-se a uma palestra com jovens universitários. e nada mais pretendem que ser um convite à leitura do Cantico delle Creature (Cântico das Criaturas). Texto literário que, expressando a experiência espiritual de São Francisco de Assis, é o primeiro grande exemplo da poesia italiana.

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Ainda nesses últimos anos é que Francisco, mais uma vez, se volta para a poesia. Mais uma vez, porque ele desde jovem gostava de recitar e cantar os poemas dos rimadores provençais, cuja língua bem conhecia. E sua grande fonte de inspiração, durante a vida toda, foram as poesias da Escritura Sagrada, sobretudo os salmos e o Cântico dos Cânticos. Seu amor à poesia é que o tornou conhecido como jogral de Deus, giullare di Dio.

Não é de estranhar, portanto, que no momento em que se preparava para partir, Francisco voltasse a buscar na poesia a expressão de toda a sua experiência espiritual. Nascem, assim, os versos do Cântico das Criaturas. Vale a pena reproduzi--los:

Altissimo, onnipotente, bon Signore,

tue so' le laude, la gloria e l' honore et onne benedictione.

Ad te solo , Altissimo, se confano

e nullu homo ène dignu te mentovare.

Laudato sie, mi' Signore, cum tucte le tue criature,

spetialmente messer lo frate sole,

lo qual' è iorno, et allumini noi per lui

Et ellu è bellu e radiante cum grande splendore:

de te, Altissimo, porta significatione.

Laudato si', mi' Signore, per sora luna e le stelle:

in celu l' ài formate clarite e pretiose e belle.

Laudato si', mi' Signore, per frate vento

e per aere nubilo e sereno et onne tempo,

per lo quale a le tue creature dài sostentamento.

Laudato si', mi' Signore, per sor' acqua,

la quale è molto utile et humile et pretiosa et casta.

Laudato si', mi' Signore, per frate focu,

per lo quale ennallumini la nocte:

et ello è bello et iocondo e robustoso e forte.

Laudato si', mi' Signore, per sora nostra madre terra,

la quale ne sustenta et governa,

e produce diversi frutti con coloriti fiori et herba.

Laudato si', mi' Signore, per quelli ke perdonano per lo tuo amore

e sostengono infirmitate e tribulatione.

Beati quelli ke'l sosterranno in pace

ca da te, Altissimo, sirano incoronati.

Laudato si', mi' Signore, per sora nostra morte corporale

da la quale nullu homo vivente po' scappare:

guai a quelli ke morrano ne le peccata mortali;

beati quelli ke trovarà ne le tue sanctissime voluntati,

ca la morte secunda no 'l farà male.

Laudate et benedicete mi' Signore et rengratiate

e serviateli cum grande humilitate.

Estes versos de Francisco são a primeira grande expressão poética de uma língua ainda sem nome, pois estava nascendo. Era conhecida como língua vulgar, isto é, língua do povo, em contraposição ao latim dos eruditos e dos teólogos. Francisco eleva seu Cântico na mesma língua em que falava e rezava o povo simples de Assis e de Greccio, na mesma língua quotidiana da comunidade de irmãs que o hospedava. Sim, pois o Cântico de Francisco foi composto numa cabana próxima do conventinho de São Damião, onde moravam Clara de Assis e as primeiras seguidoras do ideal franciscano. É na língua dos pobres e das mulheres que nasce a poesia franciscana. Estavam abertos os caminhos daquela que, um século mais tarde, seria a língua de Dante. E na Divina Comédia a figura de Francisco haveria de inspirar um dos cantos mais belos do Paraíso.

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Altissimo, onnipotente: com estas palavras, que manifestam toda a grandeza da divindade, abre-se o Cântico do poeta. O Senhor é altíssimo e onipotente, epítetos que enchem de temor reverencial perante o "solus Sanctus" da liturgia cristã e que parecem antecipar o "temor e tremor", de que fala Kierkegaard. Mas o poeta logo acrescenta que o Senhor é bon. É sobretudo a bondade do Criador que se vai manifestar ao longo da poesia de Francisco, pois é sobretudo a bondade o que fala ao coração dos pobres e dos pequenos. Para descrever a grandeza divina o poeta emprega adjetivos longos, solenes, tirados do latim litúrgico e da linguagem teológica erudita: altissimo, onnipotente. Mas para descrever a divina benevolência, o poeta usa um adjetivo breve, coloquial, familiar, o mesmo que se usa para falar do pão saboroso ou do tempo sereno: bon. É este o adjetivo que Francisco põe mais perto do nome do Senhor.

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Laudato sie, mi Signore, cum tucte le tue criature: este verso, que dá início à série de louvores do Cântico, é talvez a expressão mais acabada da espiritualidade de Francisco. Para louvar o Senhor, o poeta evoca todas as suas criaturas. Todas, sem exclusão. Todas devem entrar no louvor divino. São essas criaturas que nos revelam a face do bon Signor, pois toda criação é boa: "E Deus viu que tudo era bom", dizem as Escrituras (Gên. I, 31). Longe das tendências pessimistas de algumas correntes ascéticas, Francisco não foge da criação para buscar a divindade. Pelo contrário: faz da criação o caminho para o canto jubiloso do encontro com o divino. E o texto original tem uma força particular. Isto porque em italiano antigo, como ainda no italiano de hoje, criature é palavra que tem significado filial. Significa não só criaturas, em geral, mas significa também filhos, crianças. Ao falar em criaturas, o poeta eleva um canto à divindade como fonte de vida. Por isso o louvor deste Cântico das criaturas é um louvor filial de toda a natureza a quem, sendo imensamente poderoso e sublime, é principalmente bondade que cria a vida: altissimo, onnipotente, bon Signor.

[ . . . ]

Mas ao abraçar a fraterna pobreza de quem reconhece que nada possui, que tudo é do Senhor, Francisco descobre um tesouro que o deixa inesperadamente rico, pois o bon Signor é também "meu Senhor", mi' Signore. "Solo Dios basta", exclamará mais tarde em uma de suas poesias a grande Santa Teresa. "Meu Deus e meu tudo" repetia Francisco, poeta e santo. Deus meus et omnia é ainda hoje o lema da família franciscana.

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Laudato sie, mi Signore, cum tucte le tue criature: todas as criaturas, sem exclusão daquelas que nos trazem infirmitate e tribulatione, sem mesmo excluir sora nostra morte corporale. As criaturas que levam o ser humano à mais radical das pobrezas: à perda dos bens mais preciosos, a saúde, a própria vida. O cântico de louvor se ergue mesmo quando o a pobreza é extrema, quando o despojamento é radical. Os estigmas não poderiam estar ausentes da poesia de Francisco. "Quem ama sua vida perdê-la-á..." "Felizes os que choram...": é assumindo em cheio a loucura das bem-aventuranças evangélicas que o poeta nos surpreende. Desta loucura é que nasce o louvor deste Cântico. Dela nascerá também a poesia sublime de outro grande místico franciscano, o bem-aventurado Jacopone, poeta admirável, que ficou conhecido como o "louco de Deus".

[ . . . ]

Mas se a experiência mística de Francisco o leva a louvar mi Signore, cum tucte le tue criature, é preciso lembrar algo que deve aqui receber especial atenção: este é um canto de louvor, é louvor que se manifesta em poesia. Francisco não é somente místico, é também poeta. Na beleza da palavra poética encontra um caminho para o bon Signor. Sim, porque, para Francisco de Assis, a beleza das criaturas é grande manifestação da beleza divina.

[ . . . ]

E da beleza o poeta continua a falar na estrofe seguinte: Laudato sie, mi Signore, per sora luna e le stelle, / in celu l' ài formate clarite e pretiose e belle. Se no sol o poeta vê a beleza como serviço indispensável à sobrevivência de todos: allumini noi per lui, na lua e nas estrelas surge a beleza aparentemente sem proveito, a beleza que não serve senão de fonte de prazer, a beleza gratuita: in celu l'ài formate clarite pretiose e belle. Esta é beleza da arte, a beleza da poesia, que aparentemente não servem para nada, mas que expressam, como neste Cântico, o sentido mais alto da existência humana.

[ . . . ]

A contemplação da beleza das criaturas, dos irmãos e irmãs, como manifestação do Criador é o que leva Francisco a expressar em poesia sua grande experiência mística. A expressão poética torna-se inseparável dessa experiência. E o poeta Francisco não hesita em buscar a beleza de suas estrofes e de seus versos, como artista cuidadoso. Uma análise minuciosa desses versos seria fascinante, mas iria além dos limites destas reflexões. Basta lembrar que já se falou, por exemplo, na personificação do sol, da lua e das estrelas, e assim também da água, do fogo, do vento, da terra, da criação toda, que se humaniza no universo poético de Francisco. Convém talvez acrescentar que o poeta-jogral, poeta-músico que canta nestes versos, cuida com esmero da sonoridade dos versos. Vejam-se as rimas: Signore/honore (rima interna), stelle/belle, vento/sostentamento, rengratiate/humilitate. Notem-se as inúmeras assonâncias, entre as quais: sole/splendore, acqua/casta, terra/governa /herba. Oberve-se o efeito da insistência em algumas tônicas como na descrição de frate fOcu...iocOndo, robustOso e fOrte... Nesse adjetivo iocondo, que fala de serviço e de alegria (iuvare, iucundus, diziam os latinos), transborda a "perfetta letizia" dos Fioretti franciscanos e de todo este Cântico de louvor... Observe-se o contraste das tônicas - de um lado, U, O (que em italiano arcaico freqüentemente se confundem) e, de outro, A - como expressão da modéstia serviçal e da pureza cristalina da irmã água: Utile, Umile, pretiOsa e cAsta... Nem se pode esquecer a musicalidade que deriva da anáfora constante: Laudato sii.. laudato sii... Lembrem-se também as imagens plásticas, como as que evocam a variedade das frutas, diversi frutti, ou o colorido das flores e dos prados: coloriti fiori et herba...

Mas falar da arte do poeta Francisco nos levaria longe e é preciso concluir. Vale então lembrar algumas palavras de um artista contemporâneo, que, como Francisco, foi também poeta e homem de oração. Falo de David Maria Turoldo (1916-1992). Em um de seus últimos escritos, sobre a poesia e a fé, dizia ele (vou traduzindo do italiano):

"Não há nada de mais gratuito que a poesia. A poesia não tem mais finalidade que cantar. [...] Este é o estado de graça de Francisco e dele é que brotou o famoso 'Cântico das criaturas'. [...]. Cantar somente a beleza: ousar compor continuamente seu poema, sem que ninguém tenha a ilusão de o ter conseguido. A última expressão do mundo e da linguagem é a beleza e a criação é sua epifania Não há criatura que não esconda um raio da Beleza Suprema" ("Poesia e poesia religiosa" in Arte e Fede Cristiana, número temático de Credereoggi, 36/1986, p. 27-30).

Turoldo morreu exatamente há dez anos e encerrar estas reflexões com suas palavras é trazer à lembrança alguém quem foi, como Francisco, um "jogral de Deus".

Leiam na íntegra em http://www.hottopos.com/seminario/sem2/pedro.htm

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