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terça-feira, 29 de abril de 2008

As Admoestações de São Francisco de Assis - 6

AS ADMOESTAÇÕES DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS - VI


6. Admoestação: Da imitação de Cristo.

“Consideremos todos, meus irmãos, o Bom Pastor que, por suas ovelhas, sofreu a paixão da cruz. As ovelhas do Senhor seguiram-no na tribulação, na perseguição, no opróbrio, na fome, na sede, na enfermidade, na tentação e em todo o mais, e receberam, por isso do Senhor, a vida eterna. É pois uma grande vergonha para nós outros servos de Deus, terem os santos praticado tais obras, e nós querermos receber honra e glória somente por contar e pregar o que eles fizeram.” (Escritos de S. Francisco).

Caríssimos irmãos e irmãs, quem experimenta as coisas de Deus dá testemunho delas. A fé, mais do que um dom, é uma graça do Espírito Santo que nos leva a testemunhar as graças recebidas ou ainda, ela é a comprovação de que estamos unidos a Deus e por Ele conduzidos e que nossas ações são feitas em Deus, por Deus e para Deus. Testemunhar é, pois, um ato de quem vive em Deus as virtudes concedidas por Ele para que comprovemos os frutos do seu amor: “Porque é gratuitamente que fostes salvos mediante a fé. Isto não provém de vossos méritos, mas é puro dom de Deus. Não provém das obras, para que ninguém se glorie. Somos obra sua, criados em Jesus Cristo para as boas ações, que Deus de antemão preparou para que nós as praticássemos”. (Ef. 2,8-10).

E ainda, quem ressuscitou com Cristo dá o testemunho dessa ressurreição: “Assim reunidos, eles o interrogavam: Senhor é porventura agora que ides instaurar o reino de Israel? Respondeu-lhes ele: Não vos pertence a vós saber os tempos nem os momentos que o Pai fixou em seu poder, mas descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força; e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria e até os confins do mundo”. (At. 1,8-10).

Quando São Francisco diz: “É uma grande vergonha para nós outros servos de Deus, terem os santos praticado tais obras, e nós querermos receber honra e glória somente por contar e pregar o que eles fizeram”, ele se refere ao testemunho que cada um de nós temos para dar e não damos e assim deixamos de cumprir a nossa missão de conviver com Deus e no seio da humanidade sendo transparência dessa sua presença divina em nós, pois uma vez que somos seus filhos e filhas, somos também testemunhas fiéis do que Deus opera no meio de nós.

“Assim, meus caríssimos, vós que sempre fostes obedientes, trabalhai na vossa salvação com temor e tremor, não só como quando eu estava entre vós, mas muito mais agora na minha ausência. Porque é Deus quem, segundo o seu beneplácito, realiza em vós o querer e o executar. Fazei todas as coisas sem murmurações nem críticas, a fim de serdes irrepreensíveis e inocentes, filhos de Deus íntegros no meio de uma sociedade depravada e maliciosa, onde brilhais como luzeiros no mundo, a ostentar a palavra da vida”. (Fl 2,12-16a).

Portanto, imitar Jesus segundo esta admoestação é fazer o que Ele fez conforme Ele mesmo nos ensinou: "Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas, porque vou para junto do Pai". (Jo 14,12) ou ainda conforme São João: "aquele que afirma permanecer nele (em Cristo) deve também viver como ele viveu". (1Jo 2,6).

Que o Deus da esperança que vos cumula de toda graça e paz em vossa fé, esteja sempre convosco. Amém! Assim seja!

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Bíblia, Juventude e Ecologia => Parte II

E NO TERCEIRO DIA...

No encontro anterior vimos que:

=> A Juventude é o Presente.
=> A Bíblia está intimamente ligada à Vida.
=> E a Terra é um Ser Vivo, em Comunhão com seus habitantes (nós entre eles) e o Universo.

Vimos também que estas definições não são as mais tradicionais, mas as que melhor expressam uma Ecologia pensada por cristãos ecófilos.

A bem da verdade, dentro de um cristianismo autêntico, o termo “ecófilo” soa redundante. Isto porque Deus ama toda a Criação: a Natureza, inclusive.

É o que nos relata a poética narrativa do primeiro capítulo da Bíblia. Aliás, a Fé num Deus Criador está muito bem representada no livro com o sugestivo nome de Gênesis.

Que a Criação implica Vida, não há dúvida! E que, pela Ressurreição de Cristo, a Vida venceu definitivamente a Morte, também não! Mas o que uma coisa tem a ver com a outra?

Bom... Cristo venceu a Morte em três dias... não é!?! E isso nos relatam os Evangelhos... Certo!?! Sim... Mas não só eles!!! A Bíblia já começa com Deus vencendo a Morte em três dias! Como??? Vejamos:

No princípio, Deus criou o céu e a terra. Ora, a terra estava vazia e vaga, as trevas cobriam o abismo, e um sopro de Deus agitava a superfície das águas.” (Gn 1,1-2)

Antes dos dias, Deus cria o céu e a terra, mas a situação é de caos. São 3 os símbolos da Morte:

=> Terra vazia => Em algumas traduções, diz-se que a terra estava vazia e sem forma (estou utilizando a tradução da Bíblia Jerusalém). Estando vaga, vazia ou sem forma, de qualquer jeito ela está deserta, ou seja: sem vida.
=> Trevas => O mais tradicional símbolo da Morte.
=> Águas agitadas => Embora seja um tradicional símbolo da Vida, a água (ainda que habitada pelo Espírito, ou sopro de Deus) aqui vai ser sinal de Morte.

Ainda falando sobre as águas... A redação do texto -- e isso veremos adiante -- data do fim, ou do recente pós-Exílio na Babilônia. Todos nos lembramos do Sl 137(136),1:

À beira dos canais de Babilônia nos sentamos, e choramos com saudades de Sião.

O povo chorava à beira do rio, vendo aquela fartura de água, mas lembrando da liberdade que gozava em Sião.

Seguindo a narrativa:

Deus disse: ‘Haja luz’, e houve luz. Deus viu que a luz era boa, e Deus separou a luz e as trevas. Deus chamou à luz “dia” e às trevas “noite”. Houve uma tarde e uma manhã: primeiro dia.” (Gn 1,3-5)

No primeiro dia, Deus vence as trevas, o mais tradicional símbolo da Morte.

Deus disse: ‘Haja um firmamento no meio das águas e que ele separe as águas das águas’, e assim se fez. Deus fez o firmamento, que separou as águas que estão sob o firmamento das águas que estão acima do firmamento, e Deus chamou ao firmamento ‘céu’. Houve uma tarde e uma manhã: segundo dia.” (Gn 1,6-8)

Aqui vemos que a água envolvia toda a terra, imagem que será retomada na cena do Dilúvio, também uma cena onde as águas significam Morte.

Na imaginação de então, o céu era uma imensa redoma contenedora de águas. Claro... Olhavam para o céu e ele era azul como o mar. Além disso, de vez em quando chovia água do céu.

Era uma visão de mundo própria da época. Mas o importante aqui é ver que, ao criar o firmamento, Deus impõe limites à força opressora das águas. O Deus Criador é também um Deus Libertador, que vence a Morte e o regime opressor.

Deus disse: ‘Que as águas que estão sob o céu se reúnam num só lugar e que apareça o continente’, e assim se fez... Deus disse: ‘Que a terra verdeje de verdura: ervas que dêem semente e árvores frutíferas que dêem sobre a terra, segundo sua espécie, frutos contendo sua semente’, e assim se fez... e Deus viu que isso era bom. Houve uma tarde e uma manhã: terceiro dia.” (Gn 1,9-13)

Que a terra verdeje... Deus faz aparecer os continentes (dá forma à terra) e eles verdejam de verdura. Ou seja: o deserto é vencido pela força criadora de Deus, que transforma o terreno hostil em fonte de vida.

Aliás, falando em transformação... Deus transforma os sinais da Morte em sinais de Vida. Mesmo as trevas, sendo limitadas pela luz, tornam-se fonte de descanso e reposição de energia, tão necessárias à nossa sobrevivência.

Ou seja... Da Morte, Deus tira a Vida. Não é isso que cremos? Que é morrendo que se vive para a vida eterna?

Pois bem... E é isso que veremos, no próximo capítulo: a partir do quarto dia, a Vida terá plenas condições de acontecer!

Até lá!!!

José Luiz Possato Junior.
São Leopoldo-RS

domingo, 27 de abril de 2008

Para ser da OFS

"4. A Regra e a vida dos franciscanos seculares é esta: observar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo o exemplo de São Francisco de Assis, que fez do Cristo o inspirador e o centro da sua vida com Deus e com os homens."
Regra da Ordem Franciscana Secular
Isto posto entendo que para pertencer à OFS é necessário continuamente subir uma escada de três degraus:
  1. Observar o Evangelho.
  2. Conhecer como São Francisco de Assis observou e seguiu o Evangelho.
  3. Conhecer como a OFS observa e segue o Evangelho conforme Francisco de Assis.
Os dois primeiros degraus estão explícitos no item supra citado da Regra da OFS: É preciso observar o Evangelho, pois ele é o centro da vida cristã e nenhum franciscano secular deve deixar de lado o coração de nossa fé. Porém muitos outros cristão observaram e observam o Evangelho e nem por isto são franciscanos (há carmelitas, dominicanos, servitas etc.); entra aí o segundo passo precisamos estudar a vida de Francisco, nos debruçar sobre as fontes e trazer para os dias de hoje o conteúdo da obra do nosso Pai Seráfico.

O terceiro degrau é o conhecimento e vivência da cultura franciscana secular, o modo secular de reviver o sonho de Francisco e Clara de Assis neste século XXI. Esta cultura inclui também a forma que os franciscanos seculares se organizam, estudam e atuam no dia-a-dia.

Igualmente é importante a reflexão sobre este modo e esta forma de ser, pois por muito tempo as fraternidades eram conformadas de acordo com a ordem religiosa dos assistentes espirituais e assim havia nas fraternidades uma cultura leiga capuchinha, cultura leiga conventual etc. E resgatar e atualizar a cultura franciscana secular é uma necessidade que se impõe à cada irmão da OFS e cabe aos irmãos dirigentes fomentar esta reflexão.


O outro lado do papel

Por Frei Pilato Pereira

Quando apanhamos um papel para ler ou escrever, seja um jornal, um livrou ou uma folha qualquer, dificilmente refletimos sobre o impacto ambiental e social que o consumo de um simples papel pode causar. Se fossemos agir desta forma, diante de qualquer produto que utilizamos, seríamos consumidores conscientes, atendendo a uma obrigatória exigência do nosso tempo. Já que precisamos consumir, pelo menos, poderíamos agir de forma mais consciente e responsável.


Estamos tão acostumados com a face limpa e bela do papel, seja ele branco ou colorido. E esquecemos de ver o seu outro lado, a face suja do papel que destrói a beleza da vida e explora as pessoas e a natureza. Como diz o ditado, "o papel aceita tudo". Mentiras e verdades são impressas no papel do jornal, da revista e do livro. Até podemos ler as mentiras, mas não devemos deixar de querer conhecer as verdades, por mais inconvenientes e adversas que sejam. E são muitas as verdades que estão para serem lidas no outro lado, no verso do papel. O lado escondido da produção e do consumo do papel.


A matéria-prima básica da indústria do papel, a celulose é um material fibroso presente na madeira. Em seu processo de fabricação, depois de descascada e picada em lascas, a madeira passa a ser cozida com produtos químicos, para separar a celulose da lignina e demais componentes vegetais. A etapa posterior, o branqueamento da celulose, é um processo que envolve várias lavagens para retirar impurezas e clarear a pasta que vai ser utilizada para fazer o papel.


Esses compostos, classificados pela EPA, a agência ambiental norte-americana, como os mais potentes cancerígenos já testados em laboratórios, também estão associados a várias doenças do sistema endócrino, reprodutivo, nervoso e imunológico. Mesmo com o tratamento de efluentes na fábrica, as dioxinas permanecem e são lançadas nos rios, contaminando a água, o solo e conseqüentemente a vegetação e os animais, inclusive os que são usados para consumo humano. No organismo dos animais e do ser humano, as dioxinas têm efeito cumulativo, ou seja, não são eliminadas e vão se armazenando nos tecidos gordurosos do corpo.


A Europa já aboliu completamente o cloro na fabricação do papel e o branqueamento é feito com oxigênio, peróxido de hidrogênio e ozônio. Mas nos Estados Unidos e no Brasil, e em favor de interesses da indústria, o dióxido de cloro continua sendo usado. É importante lembrar também que três grandes empresas de celulose estão se instalando no Rio Grande do Sul, onde pretendem plantar um milhão de hectares de arvores exóticas para a indústria de papel, da qual exportarão mais de 95% do produto. Isto significa que os restos tóxicos e os tocos das árvores ficarão por aqui causando irreparáveis impactos socioambientais.


O monocultivo de eucaliptos e outras plantas exóticas que alimentam a indústria de celulose e papel, além de causar sérios problemas ambientais, também aumentam a concentração da terra, expulsando agricultores e comunidades nativas, o que resulta em vazios populacionais. Esta atividade dificulta o processo de Reforma Agrária, não gera emprego e diminui postos de trabalho. E depois de duas safras de eucaliptos, por exemplo, após 14 anos, estas empresas nos deixarão de herança um Pampa devastado e sem vida, virado em tocos, sem rios, sem fauna e flora nativas.


Desde o plantio de árvores para a matéria-prima, até o fim de seu processo industrial, o papel segue um caminho causador de degradação socioambiental. O papel parece ser um produto indispensável. Nossa civilização não saberia viver sem papel. Mas podemos escrever e ler em papel ecológico. Temos o papel não embranquecido, aquele que não passou pelo processo de branqueamento e por isso poluiu muito menos e o papel reciclado que não precisou de mais uma árvore para ser produzido. Também podemos utilizar menos papel, nos re-educando para sair da cultura do descartável. Enfim, é preciso consumir o mínimo necessário e usar papel ecológico. A natureza e as gerações futuras desde já nos agradecem.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

As Admoestações de São Francisco de Assis - 5

5. Admoestação: Que ninguém se ensoberbeça, mas antes se glorie na cruz do Senhor.

“Considera, ó homem, a que excelência te elevou o Senhor, criando-te e formando-te segundo o corpo à imagem do seu dileto Filho e, segundo o espírito, à sua própria semelhança. Entretanto, as criaturas todas que estão debaixo do céu, a seu modo, servem e conhecem e obedecem ao seu Criador melhor que tu. Não foram tampouco os espíritos malignos que o crucificaram, mas tu em aliança com eles o crucificaste e o crucificas ainda, quando te deleitas em vícios e pecados.

De que, então, podes gloriar-te? Mesmo que fosses tão arguto e sábio a ponto de possuíres toda a ciência, saberes interpretar toda espécie de línguas e perscrutares engenhosamente as coisas celestes, nunca deverias gabar-te de tudo isso, porquanto um só demônio conhece mais as coisas da terra que todos os homens juntos, a não ser que alguém tenha recebido do Senhor um conhecimento especial da mais alta sabedoria.

Do mesmo modo, se fosses mais belo e mais rico que todos, e até operasses maravilhas e afugentasses os demônios, tudo isso seria estranho a ti nem te pertenceria nem disto te poderias desvanecer. Mas numa só coisa podemos ‘gloriar-nos: de nossas fraquezas’ (2Cor 12,5), carregando dia a dia a dia a santa cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo”. (E. de S. Francisco).

Com certeza São Francisco aprendeu muito de São Paulo, pois esse apóstolo assim se expressava: “Importa que me glorie? Na verdade, não convém! Passarei, entretanto, às visões e revelações do Senhor. Conheço um homem em Cristo que há catorze anos foi arrebatado até o terceiro céu. Se foi no corpo, não sei. Se fora do corpo, também não sei; Deus o sabe. E sei que esse homem - se no corpo ou se fora do corpo, não sei; Deus o sabe-foi arrebatado ao paraíso e lá ouviu palavras inefáveis, que não é permitido a um homem repetir.

Desse homem eu me gloriarei, mas de mim mesmo não me gloriarei, a não ser das minhas fraquezas. Pois, ainda que me quisesse gloriar, não seria insensato, porque diria a verdade. Mas abstenho-me, para que ninguém me tenha em conta de mais do que vê em mim ou ouve dizer de mim. Demais, para que a grandeza das revelações não me levasse ao orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás para me esbofetear e me livrar do perigo da vaidade.

Três vezes roguei ao Senhor que o apartasse de mim. Mas ele me disse: Basta-te minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força. Portanto, prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo. Eis por que sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo. Porque quando me sinto fraco, então é que sou forte”. (2Cor 12,1-10).

A única glória verdadeira é a glória da Cruz do Senhor, ninguém chega à vida eterna sem passar pela cruz: "Em seguida, convocando a multidão juntamente com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém me quer seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me". (Mc 8,34). "Pois, quem não carrega a sua cruz e me segue, não pode ser meu discípulo". (Lc 14,27).


"Quanto a mim, não pretendo, jamais, gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo". (Gl 6,14). Por isso: “Uma só coisa peço ao Senhor e a peço incessantemente: é habitar na casa do Senhor todos os dias de minha vida, para admirar aí a beleza do Altíssimo e contemplar o seu santuário”.

Glorificado sejas meu Senhor, agora e por toda eternidade! Amém!

Paz e Bem!

Frei Fernando, OFMConv.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Bíblia, Juventude e Ecologia => Parte I

Olá, pessoas!!!

É com aquela (perfeita) alegria franciscana que, a partir de hoje, integro-me ao rol de colaboradores deste espaço. Até então, eu utilizava apenas o blog que partilho com minha esposa: osperegrinos.

Estou assessor do CEBI-RS (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos - Região de Rio Grande do Sul) e sinto-me honrado pelo convite.

Para iniciar, escolhi uma série de reflexões desenvolvidas para um curso a ser ministrado em Ijuí-RS, cujo tema era: BÍBLIA, JUVENTUDE e ECOLOGIA.

Creio que primeiramente convém dizer o que entendo por Bíblia, Juventude e Ecologia. E por isso chamo o primeiro texto de: AFINANDO CONCEITOS.

Pois bem... Há uma definição oficial, comum, que não permite nenhuma ligação entre estes 3 termos. E outra, que não só permite, como os considera inseparáveis. Vejamos:

BÍBLIA => É o Livro da Lei... Certo??? Bom... De certa forma, sim!!! Mas não nos esqueçamos das palavras de Paulo: “A letra mata; o espírito vivifica” (2Cor 3,6), baseadas nestas outras, de Cristo: “O espírito é que vivifica... As palavras que vos tenho dito são espírito e vida” (Jo 6,63). Não é por acaso que a Bíblia começa com a narrativa da Criação (Gn 1). Em seu primeiro relato, a Bíblia já deixa claro o seu objetivo, como explica Cristo, quando afirma a que veio: “Eu vim para que as ovelhas tenham vida; e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Diante disso, mais que ser da Lei, podemos afirmar que A BÍBLIA É O LIVRO DA VIDA.

JUVENTUDE => É o futuro!!! Bem... Com certeza, é!!! Afinal, o(a) jovem tem muita vida ainda. Vai passar mais uns 20 ou 30 anos e os(as) jovens de hoje ainda terão a capacidade de tomar e executar as decisões que conduzirão o mundo. Mas eles(as) já têm essa capacidade hoje. Talvez falte experiência... Ou talvez falte espaço. O fato é que a Juventude é alvo da mídia, da moda e das prateleiras de supermercado. E isso por quê??? Porque os(as) jovens são a maioria da população. Ora, tudo o que conduz o nosso cotidiano é voltado para a juventude; falta aos adultos é vontade de admitir isso e dizer ao(à) jovem que ele(a) tem força sim de mudar o rumo da nossa história. Se a Juventude é capaz de determinar o que vende e o que não vende (vale lembrar que as leis regentes da sociedade atual são as do Mercado Internacional), então ela é que tem o Poder nas mãos. Só não descobriu isso ainda... Portanto, mesmo que por enquanto seja de uma forma potencial, A JUVENTUDE É O PRESENTE!!!

ECOLOGIA => É a ciência que estuda o cuidado com a nossa “casa” (eco = oykos = casa), que é o meio ambiente. Well... Aqui não se trata de discutir definições. Afinal, contra a etimologia (= origem das palavras) não há argumentos. O que devemos discutir aqui é a defesa da Ecologia como solução para os problemas do nosso meio ambiente. A ciência estuda, fala, orienta... Mas não é, em última instância, quem age. Precisamos aliar à Ecologia uma atitude, uma ECOFILIA. Filia = phylia = amor, amizade. Precisamos redescobrir o nosso papel na Natureza. Graças a uma interpretação antropológica de mundo, fruto do Humanismo ("O Homem é a medida de todas as coisas"), até a Bíblia é usada como justificativa para explorarmos a Terra, em vez de cuidar e dela tirar o sustento. Exemplo: O que nos vem à mente, ao ler: “enchei a terra e submetei-a” (Gn 1,28)? Esta frase, solta, descontextualizada, o que tem a nos dizer hoje? Sem entender o sentido original do texto -- e lendo-o à luz da cultura atual --, fica muito fácil usar a Bíblia para justificar o agronegócio, as monoculturas, o hidronegócio etc. Mas quem ama a Terra, o ecófilo, não explora a Terra; antes, com ela se integra, pois sabe muito bem que, diante do Universo, a humanidade e a Mãe Terra formam um único CORPO, um SER VIVO em órbita, transitando pelo espaço sideral, a bordo da Via Láctea.

Enfim... Sobre estes 3 termos era isso... A partir da próxima postagem, vamos entrar no tema propriamente dito. Para tanto, utilizarei o recorte proposto pelo CEBI, ano passado, em suas reflexões sobre Ecologia; a saber: Gênesis 1 a 12.

Aproveito para reiterar meu agradecimento pela oportunidade de escrever neste espaço, com o qual me identifico, graças ao carisma franciscano.

Paz & Bem!!!

José Luiz Possato Junior.
São Leopoldo-RS

terça-feira, 22 de abril de 2008

"O pão nosso de cada dia nos dai hoje"

"Eu sou o Pão de vida: aquele que vem a mim não terá fome, e aquele que crê em mim jamais terá sede". (Jo. 6,35).

O ser humano em sua naturalidade está sempre dependendo; assim sendo, dependemos do ar que respiramos, da comida que comemos e da água que bebemos; a isso chamamos de necessidades naturais; porém, a nossa dependência vai além das necessidades naturais; logo que nascemos somos um dos únicos seres que dependemos em tudo de nossos pais de forma que, com isso, temos uma forte ligação psíquica emocional com nossos genitores e isso demonstra a nossa fragilidade e ao mesmo tempo a nossa fortaleza, pois se dependemos em tudo também somos amados e defendidos por aqueles que nos deram a vida. E mesmo se um pai ou mãe abandona sua prole, Deus jamais nos abandonará: "Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não ter ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que ela o esquecesse, eu não te esqueceria nunca". (Is 49,15).

Ora, refletindo sobre essa nossa realidade humana, nos perguntamos: como pode ser de filhos de Deus vivendo nestas condições? Se vemos tanta miséria na face da terra, isso se dá porque não assumimos que somos filhos de Deus e irmãos uns dos outros. Daí o desastre nas relações humanas; as divisões e guerras de toda espécie devido à ganância que ocupa os corações daqueles que buscam egoisticamente construir seus impérios às custas da infelicidade dos menos favorecidos.

Viver a condição de filhos e filhas de Deus é deixar-nos conduzir pelo Espírito Santo no seguimento de Jesus Cristo o Filho de Deus por excelência. Quando dizemos: "Dai-nos", isto implica dizer que "é bela a confiança dos filhos e filhas que tudo esperam de seu Pai. Pois "Ele faz nascer o seu sol igualmente sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos" (Mt 5,45) e dá a todos os seres vivos "o alimento a seu tempo" (Sl 104,27). Jesus nos ensina a fazer este pedido, que glorifica efetivamente nosso Pai, porque reconhece como Ele é bom para além de toda bondade.

"Dai-nos" é ainda expressão da Aliança: pertencemos a Ele e Ele pertence a nós e age em nosso favor. Mas esse "nós" significa reconhecê-lo também como o Pai de todos os homens, por isso, lhe pedimos por todos eles, em solidariedade com suas necessidades e sofrimentos.

"O pão nosso". O Pai, que nos dá a vida, não pode deixar de nos dar alimento necessário à vida, todos os bens "úteis" matérias e espirituais. No Sermão da Montanha, Jesus insiste nesta confiança filial que coopera com a Providência de nosso Pai (Cf. Mt 6,25-34). Não nos exorta a nenhuma passividade (Cf. 2Ts 3,6-13), mas quer libertar-nos de toda inquietação e de toda preocupação. É esse o abandono filial dos filhos de Deus: "Aos que procuram o Reino e a justiça de Deus, Ele promete dar tudo por acréscimo. Com efeito, tudo pertence a Deus: a quem possui Deus, nada lhe falta, se ele próprio não falta a Deus" (São Cipriano, Dom. orat. 21: PL 4,534)".

Caríssimos irmãos e irmãs é louvável a iniciativa do nosso Presidente da República começar seu governo atacando um dos males que mais envergonha a nossa sociedade que é a fome e a miséria em que se encontra a grande maioria de nossa população menos favorecida.

Peçamos a Deus que lhe dê sabedoria e discernimento para que esse princípio de justiça de seus atos de governo seja alento para a população que será assistida pelos órgãos governamentais e que o Senhor todo poderoso o ilumine e oriente para que seja um instrumento de fraternidade e solidariedade na solução dos nossos problemas sociais.

Vem, Senhor Jesus! Aqui estamos e te esperamos na certeza de que o Reino de Deus e sua Justiça, que se faz presente no meio de nós, chegará em toda sua Plenitude com a tua segunda vinda.

Paz e Bem!

Frei Fernando, OFMConv.

sábado, 19 de abril de 2008

As Admoestações de São Francisco de Assis - 4

4. Admoestação: Quem ninguém considere como propriedade sua o cargo de prelado.

“Não vim para ser servido, mas para servir” (Mt 20,28), diz o Senhor. Os que estão constituídos sobre os outros não se vangloriem dessa superioridade mais do que se estivessem encarregados de lavar os pés aos irmãos. E se a privação do cargo de superior os perturba mais que a privação do encargo de lavar os pés, amontoam para si tanto mais riquezas com perigo para sua existência. (Escritos de S. Francisco).

Caríssimos irmãos e irmãs, nada temos que seja nosso, todo dom pertence a Deus; tudo o que Dele recebemos, recebemos para a nossa salvação e para o bem do próximo. Nenhum cargo nos é concedido para nos gloriarmos, mas para servirmos o Senhor. Precisamos aprender muito com Jesus, que “veio para fazer a vontade D’aquele que lhe enviou”.

A respeito desse assunto eis o que encontramos no Evangelho de São Marcos: “Jesus chamou os discípulos e deu-lhes esta lição: Sabeis que os que são considerados chefes das nações dominam sobre elas e os seus intendentes exercem poder sobre elas. Entre vós, porém, não será assim: todo o que quiser tornar-se grande entre vós, seja o vosso servo; e todo o que entre vós quiser ser o primeiro, seja escravo de todos.

Porque o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em redenção por muitos”. (Mc 10, 42-45).
São Paulo bem aprendeu a lição de seu Mestre Jesus Cristo e assim se expressou: “Embora livre de sujeição de qualquer pessoa, eu me fiz servo de todos para ganhar o maior número possível. Para os judeus fiz-me judeu, a fim de ganhar os judeus. Para os que estão debaixo da lei, fiz-me como se eu estivesse debaixo da lei, embora o não esteja, a fim de ganhar aqueles que estão debaixo da lei.

Para os que não têm lei, fiz-me como se eu não tivesse lei, ainda que eu não esteja isento da lei de Deus - porquanto estou sob a lei de Cristo -, a fim de ganhar os que não têm lei. Fiz-me fraco com os fracos, a fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, a fim de salvar a todos. E tudo isso faço por causa do Evangelho, para dele me fazer participante”. (1Cor 9,1923).

Isto quer dizer que quando damos sentido ao nosso serviço ele torna-se meio de salvação para muitos, pois aquele que serve é mais importante do que aquele que manda; Deus não quer líderes, mas servidores do Seu Reino; Deus não quer mandatários, mas servos humildes: “Vede, irmãos, o vosso grupo de eleitos: não há entre vós muitos sábios, humanamente falando, nem muitos poderosos, nem muitos nobres.

O que é estulto no mundo, Deus o escolheu para confundir os sábios; e o que é fraco no mundo, Deus o escolheu para confundir os fortes; e o que é vil e desprezível no mundo, Deus o escolheu, como também aquelas coisas que nada são, para destruir as que são. Assim, nenhuma criatura se vangloriará diante de Deus. É por sua graça que estais em Jesus Cristo, que, da parte de Deus, se tornou para nós sabedoria, justiça, santificação e redenção, para que, como está escrito: quem se gloria, glorie-se no Senhor”. (Jr. 9,23). (1Cor 2,26-31).

Prezados irmãos, servir é amar e quem ama é plenamente feliz porque o amor é o próprio Deus. Quando tudo estiver consumado, quando a glória eterna do Senhor se fizer em toda a sua plenitude, haveremos de gozar as alegrias daquilo que plantamos em nossa fé para que essa glória divina resplandecesse nos corações: “Caríssimos, desde agora somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. Sabemos que, quando isto se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porquanto o veremos como ele é”. (1Jo 3,2).

Amém! Assim seja! Vem Senhor Jesus!

Paz e Bem!

Frei Fernando, OFMConv.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

“Seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu”.

“É Vontade de nosso Pai que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,3-4).

Essa oração que pede ou suplica a Vontade de Deus leva-nos a compreender o nosso desligamento dessa Santa Vontade pelo pecado, que infiltrado em nossas entranhas, nos faz reféns de nós mesmos e dos nossos caprichos. Antes do pecado o ser humano tinha total acesso à Vontade de Deus, gozava dos Seus frutos e se entretinha com o seu Criador face a face. Esse deleite humano foi perdido com a pretensão de querer ser como deuses, conhecedores do bem e do mal (Cf. Gn 3,1-4). Isso fez com que nossos primeiros pais e nós hoje experimentássemos a infelicidade e a morte como fruto de nossa desobediência. A desordem da criação que vemos atualmente nada mais é do que a desarmonia humana pela não adesão ao querer e ao agir do Senhor nosso Deus.

Querer a Vontade Divina novamente é voltar à originalidade daquela comunhão perdida no Éden, é mergulhar no mistério da vida e gozar mais um vez da felicidade dos filhos de Deus. Mas o que é ou quem é mesmo a Vontade de Deus? Vejamos o que São Paulo escreve na Carta aos Efésios: “Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto do céu nos abençoou com toda a benção espiritual em Cristo, e nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante de seus olhos.

No seu amor, nos predestinou para sermos adotados como filhos seus por Jesus Cristo, segundo o beneplácito (consentimento) de sua livre Vontade, para fazer resplandecer a sua maravilhosa graça, que nos foi concedida por ele no Bem Amado. Nesse Filho, pelo seu sangue, temos a redenção, a remissão dos pecados, segundo as riquezas da sua graça que derramou profusamente sobre nós, em torrentes de sabedoria e de prudência”. (Ef. 1,3-8).

“Ele nos manifestou o misterioso desígnio de sua Vontade, que em sua benevolência formara desde sempre, para realizá-lo na plenitude dos tempos – desígnio de reunir em Cristo todas as coisas, as que estão nos céus e as que estão na terra. Nele é que fomos escolhidos, predestinados segundo o desígnio daquele que tudo realiza por um ato deliberado de sua Vontade, para servimos à celebração de sua glória”. (Ef. 1,9-12 a).

Constatado, pois, qual seja a Vontade do Senhor nosso Deus, ou seja, nossa adesão a Jesus Cristo, o seu Filho amado. O que fazer? “Eu vos exorto, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, a oferecerdes vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus: é este o vosso culto espiritual. Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a Vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito”. (Rm 12,1-2). “Aderindo a Cristo, podemos tornar-nos um só espírito com ele, e com isso realizar sua Vontade; dessa forma ela será cumprida perfeitamente na terra como no céu”. (Orígenes, Or. 26).

Vem, Senhor Jesus! MARANA THA!

Paz e Bem!

Frei Fernando, OFMConv.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

As Admoestações de São Francisco de Assis - 3

3. Admoestação: Da Obediência Perfeita

“Diz o Senhor no Evangelho: ‘Quem não renuncia a tudo o que possui não pode ser meu discípulo’ (Lc 14,33), e: ‘Quem quiser salvar sua alma, perdê-la-á’ (Mt 16,25)”. Abandona tudo quanto possui e perde o seu corpo aquele que a si mesmo abandona inteiramente à obediência nas mãos do seu prelado. E tudo o que faz e diz, sabendo que não contraria a vontade dele, e sendo bom o que faz, é obediência verdadeira. E se acaso o súdito vê algo melhor e mais útil à sua alma do que aquilo que o prelado ordena, sacrifique a Deus o seu conhecimento voluntariamente, e se aplique com firmeza a cumprir as ordens do prelado, pois nisto é que consiste a verdadeira obediência feita por amor, que satisfaz a Deus e ao bem do próximo.

Entretanto, se o prelado der ao súdito alguma ordem contrária à alma, este todavia não se separe dele, mas não é lícito obedecer-lhe. E se por esse motivo tiver de suportar perseguições da parte de alguém, que então o ame ainda mais por amor de Deus. Pois aquele que prefere aturar perseguições a querer ficar separado de seus irmãos, permanece verdadeiramente na perfeita obediência, porque “dá a sua vida pelos irmãos”. (Jo 15,13).

Há efetivamente muito religiosos que, sob o colorido de verem coisas preferíveis às que os prelados ordenam, “olham para trás” (Lc 9,62) e “voltam a vômito de sua vontade própria” (Pr 26,11). Esses tais são homicidas e, por seus maus exemplos causam a perdição de muitas almas. (Escritos de S. Francisco).

Prezados irmãos e irmãs, só obedece quem é livre; quem é escravo do que faz fora da graça de Deus, torna-se preso ao seu fazer pecaminoso e com isso enche-se de revolta e dor, jamais conhecera a misericórdia e a verdade. “E Jesus dizia aos judeus que nele creram: Se permanecerdes na minha palavra, sereis meus verdadeiros discípulos; conhecereis a verdade e a verdade vos livrará. Replicaram-lhe: Somos descendentes de Abraão e jamais fomos escravos de alguém. Como dizes tu: Sereis livres? Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo homem que se entrega ao pecado é seu escravo. Ora, o escravo não fica na casa para sempre, mas o filho sim, fica para sempre. Se, portanto, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres”. (Jo 8,31-36).

O Padroeiro de nossa Província, São Maximiliano Maria Kolbe dizia: “Caso o meu prelado em algum momento me diga um ‘sim’ eu digo sim com ele; caso noutro me diga um ‘não’, também acolho o não em obediência a ele e não digo que errei, pois na obediência livre está a mão de Deus”.

Portanto, caríssimos irmãos e irmãs, a glória de Deus só é alcançada quando exercitamos com empenho essa virtude do Espírito Santo; pois, o próprio Senhor a exerceu até o fim de sua vida terrena como bem o disse São Paulo: "Embora fosse Filho de Deus, aprendeu a obediência por meio dos sofrimentos que teve". (Hb 5,8). E ainda: “Dedicai-vos mutuamente a estima que se deve em Cristo Jesus. Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz”. (Fl. 2,5-8).

Que venha o Reino, que venha a glória, aqui estamos Senhor à tua espera. Amém! Assim seja!

Paz e Bem!
Frei Fernando,OFMConv.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

"Venha a Nós o Vosso Reino"

“VENHA A NÓS O VOSSO REINO”.
“Buscai em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça e todas as coisas vos serão dadas em acréscimo”. (Mt 6,33).

Não há dúvida que o Reino de Deus e sua vinda formam o tema central da pregação de Jesus. Para Jesus o Reino de Deus é Deus mesmo, agindo no mundo de forma decisiva, manifestando-se a Si mesmo e ordenando sua criação por meio Dele que é o seu Filho amado. É por isso, que Jesus inclui o “Venha a nós o vosso Reino” na oração do Pai nosso, pois para Jesus a oração é o poder de Deus em nossa vida que libera as graças necessárias para a nossa salvação e, o Reino de Deus é a verdadeira salvação, lugar comum dos filhos e filhas do Altíssimo, morada eterna onde a verdadeira justiça se faz presente em todos os sentidos.

Caríssimos irmãos e irmãs vivemos num mundo onde a nossa liberdade é influenciada pela ação do mistério da iniqüidade de tal forma que a desarmonia e a desordem advinda do pecado torna a vida humana sobre a terra um verdadeiro inferno. Vivemos em meio a toda espécie de malícia, perversidade, cobiça, maldade; inveja, homicídio, contenda, engano e malignidade, e mesmo assim cultivamos a esperança de uma vida melhor, onde haja a igualdade, onde o amor reine em toda a sua plenitude e onde Deus seja tudo em todos. Ora irmãos e irmãs, esse desejo do Reino dos Céus não é uma utopia (algo inatingível), é a vontade de Deus expressa por Jesus para todos aqueles que servem a Deus “em santidade e justiça, em sua presença, todos os dias de sua vida”.

Escrevendo às primeiras comunidades São João assim se Expressa: “Considerai com que amor nos amou o Pai, para que sejamos chamados filhos de Deus. E nós o somos de fato. Por isso o mundo não nos conhece, porque não o conheceu. Caríssimos, desde agora somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. Sabemos que, quando isto se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porquanto o veremos como ele é. E todo aquele que nele tem esta esperança torna-se puro, como ele é puro”. (1Jo 3,1-3). Com isto, São João anunciava o Reino de Deus que consiste nessa comunhão perfeita de amor, pois “Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele”.

Por outro lado, a vinda do Reino de Deus também significa o cumprimento da Justiça Divina, isto é, o julgamento de todos os homens e mulheres desde o princípio da criação. São João Batista pensava o Reino de Deus como julgamento divino que estava para acontecer em breve e por isso anunciava o batismo e a conversão como única forma de salvação. Jesus, porém, começa sua missão salvífica anunciando: “Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: fazei penitência e crede no Evangelho”. (Mc 1,15). Portanto, é urgente a nossa adesão ao plano de salvação que o Senhor nos propõe, pois sua vinda é iminente (está próxima).

“Venha a nós o vosso Reino”, essa expressão da Oração do Senhor, trata de seu retorno, de sua vinda gloriosa no fim dos tempos. Por isso, “considerai qual deve ser a santidade de vossa vida e de vossa piedade, enquanto esperais e apressais o dia de Deus, esse dia em que se hão de dissolver os céus inflamados e se hão de fundir os elementos abrasados! Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e um nova terra, nos quais habitará a justiça. Portanto, caríssimos, esperando estas coisas, esforçai-vos em ser por ele achados sem mácula e irrepreensíveis na paz”. (2Pd 3,11b-13).

“Vem, Senhor Jesus!” MARANA THA!

Paz e Bem!

Frei Fernando, OFMConv.

sábado, 12 de abril de 2008

"Santificado seja o vosso nome"

“SANTIFICADO SEJA O VOSSO NOME”.
“Santo, santo, santo é o Senhor Deus do universo! A terra inteira proclama a sua glória!”
(Is 6,3).

“Depois de nos ter posto na presença de Deus, nosso Pai, para adorá-lo, amá-lo e bendizê-lo, o Espírito filial faz subir de nossos corações sete pedidos, sete bênçãos. Os três primeiros nos atraem para a Glória do Pai; os quatros últimos, como caminhos para Ele, oferecem nossa miséria à sua Graça. “Um abismo grita a outro abismo” (Sl 42,8).

A primeira série de pedidos nos leva em direção a Ele, para Ele: vosso Nome, vosso Reino, vossa Vontade! É próprio do amor pensar primeiro naquele que amamos. Em cada um destes três pedidos não nos mencionamos, mas o que se apodera de nós é “o desejo ardente”, “a angústia” até, do Filho bem-amado para a Glória de seu Pai. “Seja santificado... Venha... Seja feita...”: essa três súplicas já foram atendidas pelo Sacrifício do Cristo Salvador, mas se elevam doravante, na esperança, para seu cumprimento final, enquanto Deus ainda não é tudo em todos”. (CIC).

“Santificado seja o vosso nome”, é um fato que nos liga diretamente a Deus por meio do nosso batismo; é no batismo que nos tornamos filhas e filhos prediletos do Senhor e por esse motivo temos a obrigação moral de santificar o nome de Deus que está em cada um de nós. O reino de Deus é um reino de santos, pois a santidade é um atributo divino porque é próprio de Deus ser Santo; por isso, não temos outra missão aqui na terra a não ser a de nos santificarmos pelas graças recebidas do Senhor de nossas vidas. Vejamos o que São Paulo escreveu a esse respeito: Na água do Batismo fomos “lavados, santificados, justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus” (1Cor 6,11).

Ainda na Carta aos Éfésios: “Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto do céu nos abençoou com toda benção espiritual em Cristo, e no escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante de seus olhos. No seu amor, nos predestinou para sermos adotados como filhos seus por Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua livre vontade, para fazer resplandecer a sua maravilhosa graça, que nos foi concedida por ele no Bem Amado. Nesse Filho, pelo seu sangue, temos a redenção, a remissão dos pecados, segundo as riquezas da sua graça que derramou profusamente sobre nós, em torrentes de sabedoria e prudência”. (Ef 1,3-8).

“Durante toda nossa vida, nosso Pai ´nos chama à santidade` (1Ts 4,7). E, já que é ´por ele que vós sois em Cristo Jesus, que se tornou para nós santificação` (1Cor 1,30), contribui para a sua Glória e para nossa vida o fato de seu nome ser santificado em nós e por nós. Essa é a urgência de nosso primeiro pedido”. (CIC).

“Quem poderia santificar a Deus, já que é Ele mesmo quem santifica? Mas, inspirando-nos nesta palavra: ´Sede santos porque eu sou Santo` (Lv 11,44), nós pedimos que, santificados pelo Batismo, perseveremos naquilo que começamos a ser. E pedimo-lo todos os dias, porque cometemos faltas todos os dias e devemos purificar-nos de nosso pecados por uma santificação retomada sem cessar... Recorremos, portanto, à oração para que esta santidade permaneça em nós”. (São Cipriano).

Senhor Pai Santo, Justo, Misericordioso e Bom tende piedade de nós pecadores e lavai as nossas culpas com o Sangue de vosso Filho Jesus Cristo e mantenhais em nós a vossa santidade eterna. Amém! Assim seja!

Paz e Bem!

Frei Fernando, OFMConv.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

“Pai nosso que estais no céu"

“Porquanto não recebeste um espírito de escravidão, para viverdes ainda no temor, mas recebestes o espírito de adoção pelo qual clamamos: Aba! Pai! (Rm 8,15)”.

Jesus Cristo o Filho de Deus vivo nos ensinou que o nosso Deus não é um Deus desconhecido, mas um Pai extremamente Bom do qual podemos nos aproximar sem medo. Ele nos ensina também que somos pertença desse Pai e por isso ousamos com toda segurança chamá-lo como tal. Essa assertiva do Senhor levou São Pedro Crisólogo afirmar: “A consciência que temos de nossa situação de escravos nos faria desaparecer debaixo da terra, nossa condição terrestre se reduziria a pó, se a autoridade de nosso Pai e o Espírito de seu Filho não nos levasse a clamar: “Abba, Pai!” Quando ousaria a fraqueza humana de um mortal chamar a Deus seu Pai, senão apenas quando o íntimo do homem é animado pela força do alto?”

“Esta força do Espírito que nos introduz na Oração do Senhor traduz-se nas liturgias do Oriente e do Ocidente pela bela expressão tipicamente cristã: “parrhesia” , simplicidade sem rodeios, confiança filial, jovial segurança, audácia humilde, certeza de ser amado”. (CIC). No momento que abro meu coração, minha vida e todo o meu ser para chamar a Deus de Pai como Jesus nos revelou, o faço com a convicção de que não só estou sendo ouvido, mas também atendido em minha ousadia filial e ainda mais participo da comunhão dos eleitos, da família Sagrada do Autor de toda criação. Com isso também experimento no mais íntimo do meu ser que não estou só, que nasci para a glória, para a verdadeira felicidade e que minha estadia neste mundo é apenas um ato temporal provido do testemunho desta comunhão com o meu Pai que me fez para o eterno.

Quando digo: “Pai nosso”, sinto que tenho uma multidão de irmãos e isso me faz ver que pertenço a Família de Deus, terrena e celeste, onde Deus é nosso Pai, Maria nossa mãe, Jesus o Primogênito e o Espírito Santo é o amor que nos torna UM, com os anjos e santos e com todos os homens e mulheres redimidos.

Quando digo: “Que estás no céu”, não me refiro a um lugar no espaço, “mas a majestade de Deus e sua presença no coração dos justos”. Santa Tereza dizia: “Onde Deus está ai está o céu”. Logo, o Céu é a eternidade dos filhos e filhas de Deus em Deus. É a Casa do Pai, verdadeira pátria dos eleitos e eleitas do Senhor. Como disse Jesus: “O Reino de Deus já está no meio de vós”. Alegremo-nos e exultemos irmãos e irmãs, a eternidade já foi inaugurada por Jesus em nossa vida, por isso, tudo o que fizermos o façamos para a maior glória de Deus que nos faz participantes do seu eterno Amor. Quais filhos pródigos deixemo-nos abraçar e beijar pela ternura do Pai de nossa salvação a fim de que vivamos na herança eterna que está reservada para todos aqueles que perseverarem no caminho da justiça e do seguimento de Nosso Senhor e Salvador, Jesus de Nazaré.

Rezar o “Pai e nosso que estás no céu” é permanecer em sintonia com a vontade de Deus, é assimilar seu plano para a nossa vida, é depositarmos Nele tudo o que somos e vivemos, é deixarmos que o seu Espírito nos conduza pelo Caminho que é Cristo Jesus, anunciando a Verdade libertadora de Sua redenção, acolhendo a Vida eterna prometida. Assim seja! Vem, Senhor Jesus!

Paz e Bem!

Frei Fernando, OFMConv.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

As Admoestações de São Francisco de Assis - 2

2. Admoestação: Do mau da própria vontade (Eu).

“Disse o Senhor a Adão: ‘Podes comer (apropriar-se) do fruto de todas as árvores (existência) do jardim; mas não comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal’ (Gn 2,16-17). Podia, pois, Adão comer de toda árvore do paraíso e, enquanto nada fazia contra a obediência, não pecava. Come, porém, da árvore da ciência do bem aquele que se apropria de sua vontade como propriedade sua e se exalta dos bens que o Senhor diz e opera nele. Assim, atendendo às sugestões do diabo e transgredindo o mandamento, foi-lhe dado o fruto da ciência do mal. Donde é necessário suportar a pena”. (E. de S. Francisco).

Caros irmãos e irmãs, o Mistério da Iniqüidade está presente em todo e qualquer lugar do nosso tempo; é preciso que pela fé entendamos também esse Mistério para sabermos combate-lo com o poder que Deus dispõe a nosso favor afim de que vençamos a nós mesmos e a todo o mal que se apresenta das mais diversas formas. Escrevendo sobre o mistério da iniqüidade assim se expressa São Paulo: “Ninguém de modo algum vos engane. Porque primeiro deve vir a apostasia, e deve manifestar-se o homem da iniqüidade, o filho da perdição, o adversário, aquele que se levanta contra tudo o que é divino e sagrado, a ponto de tomar lugar no templo de Deus, e apresentar-se como se fosse Deus.

Agora, sabeis perfeitamente que algo o detém, de modo que ele só se manifestará a seu tempo. Porque o mistério da iniqüidade já está em ação, apenas esperando o desaparecimento daquele que o detém. Então o tal ímpio se manifestará. Mas o Senhor Jesus o destruirá com o sopro de sua boca e o aniquilará com o resplendor da sua vinda. A manifestação do ímpio será acompanhada, graças ao poder de Satanás, de toda a sorte de portentos, sinais e prodígios enganadores. Ele usará de todas as seduções do mal com aqueles que se perdem, por não terem cultivado o amor à verdade que os teria podido salvar.

Por isso, Deus lhes enviará um poder que os enganará e os induzirá a acreditar no erro. Desse modo, serão julgados e condenados todos os que não deram crédito à verdade, mas consentiram no mal. Nós, porém, sentimo-nos na obrigação de incessantemente dar graças a Deus a respeito de vós, irmãos queridos de Deus, porque desde o princípio vos escolheu Deus para vos dar a salvação, pela santificação do Espírito e pela fé na verdade. Assim, pois, irmãos, ficai firmes e conservai os ensinamentos que de nós aprendestes.

Nosso Senhor Jesus Cristo e Deus, nosso Pai, que nos amou e nos deu consolação eterna e boa esperança pela sua graça, consolem os vossos corações e os confirmem para toda boa obra e palavra!” (2Ts 2).

Filhos e filhas de Deus muito amado, que cultivemos a graça que recebemos do Senhor no batismo vivendo neste mundo como testemunhas fiéis do Seu Reino de amor e de justiça; como dizia São João Batista: “Convém que o Senhor cresça e que eu diminua”. Bem aventurado é todo aquele que consente que se realize em sua vida a vontade de Deus expressa nos Mandamentos e, como filhos da luz, possamos viver como São Paulo nos ensinou: “Fazei todas as coisas sem murmurações nem críticas, a fim de serdes irrepreensíveis e inocentes, filhos de Deus íntegros no meio de uma sociedade depravada e maliciosa, onde brilhais como luzeiros no mundo, a ostentar a palavra da vida”. (Fl. 2,14s).

A graça e a paz de Deus nosso Pai esteja com todos nós! Amém!

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Ecologia, a arte da reconciliação

Nossos antepassados viveram nas florestas e, certamente, sentiam medo da sua complexidade. As florestas representavam perigo aos seres humanos, como a todos os animais. Para fugir das florestas, as comunidades humanas foram se agl

omerando, primeiro com trabalho agrícola, depois veio a indústria, até chegarmos ao mais moderno e complexo mundo urbano que hoje conhecemos. E as cidades são tão complexas quanto as floretas. Assim como as florestas causavam medo e perplexidade, hoje são as cidades que amedrontam constantemente. Ninguém estaria seguro numa floresta, como também não se pode dizer que alguém esteja plenamente seguro numa cidade. Podemos dizer que, ao fugir da floresta, o ser humano criou a cidade à imagem e semelhança da sua primeira habitação.

O medo de ser agredido levou o ser humano a criar técnicas de proteção. E sempre impulsionado pelo medo, chegou ao ponto de desenvolver uma altamente moderna e eficaz indústria de guerra. Com medo da fome, e tendo que migrar para locais afastados dos recursos naturais, a espécie humana se esforçou em implementar técnicas e estratégicas capazes de garantir a subsistência. Mas, o medo da morte virou violência e o medo da fome virou ganância. Violentos e gananciosos por causa do medo, os seres humanos agridem, não apenas as outras espécies, mas constantemente vivem ferindo e explorando uns aos outros. É assim que vemos a humanidade, com muitos sinais de amor e fraternidade, mas profundamente marcada pela ganância, violência, pelo ódio e o egoísmo. E, infelizmente, ainda somos uma civilização do medo e da incerteza, sentindo impotência diante dos problemas que nós mesmos criamos.

A ecologia que é o estudo da casa onde habitamos, é também a arte da reconciliação, é a ciência que nos faz pensar e mudar a forma de como nos relacionamos com tudo o que existe. Hoje, a ecologia nos convida à reconciliação. No início, os seres humanos quiseram fugir das florestas e ainda hoje fugimos das nossas cidades que construímos para viver. Fugimos do caos, da degradação, da poluição e fugimos uns dos outros. Mas agora, a ecologia nos interpela: se fugir, que seja do medo, da ganância, do ódio e da maldade, para então, nos re-encontramos na convivialidade fraterna, na solidariedade, no amor, na bondade. Temos que nos re-encontrarmos como humanidade, nos reconciliarmos com nossa condição humana, com os seres humanos, com outros seres e as outras formas de vida e com Deus criador da vida. Precisamos reatar nossa amizade com a natureza, que é fonte de vida e não simplesmente um perigo ou ameaça. A nossa sobrevivência e a continuidade real de vida no planeta depende da nossa reconciliação com a natureza.

Frei Pilato Pereira

As Admoestações de São Francisco de Assis - 1

“Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Estas são as palavras de santa exortação de nosso reverendo pai São Francisco a todos os irmãos.” (Escritos de S. Francisco).

“As exortações ocupam um lugar de destaque entre os escritos de São Francisco, pois representam, no verdadeiro sentido da palavra, um espelho de perfeição para todo aquele que se sentir chamado para a forma franciscana de vida cristã, pois nelas Francisco retraça muitos aspectos particulares do conceito que forma o cristão ideal. Suas frases são simples, mas cheias de profunda sabedoria da vida, representam marcos inconfundíveis para uma doutrina franciscana sobre a virtude ou para uma ascética no espírito de São Francisco, além de fornecer-nos sempre novas facetas, de surpreendente profundeza, de vida espiritual deste homem de Deus.” (Escritos de S. Francisco).

I Admoestação: Do Corpo do Senhor.

“Deus Pai habita numa luz inacessível” (1Tm 6.16), e: “Deus é espírito” (Jo 4,24) e “ninguém jamais viu a Deus” (Jo 1,18). Ora, se Deus é espírito, só em espírito pode ser visto e adorado (Cf. Jo 4,23); pois, “o espírito é que dá vida, a carne de nada serve” (Jo 6,63). Também o Filho, sendo igual ao Pai, não pode ser visto por alguém de modo diferente que o Pai e o Espírito Santo. Por isso sofrem danos todos aqueles que viram o Senhor Jesus Cristo em sua humanidade sem enxergá-lo segundo o espírito e a divindade e sem crer que Ele é o verdadeiro Filho de Deus.

De igual modo sofrem danos todos aqueles que - embora vendo o sacramento do corpo de Cristo que, pelas palavras do Senhor, se torna santamente presente sobre o altar, sob as espécies de pão e vinho, nas mãos do sacerdote – não olham segundo o espírito e a divindade, nem crêem que se trata verdadeiramente do corpo e do sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Atesta-o pessoalmente o Altíssimo quando diz: “Este é o meu corpo e o sangue da nova Aliança” (Cf. Mc 14,22); e: “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue terá a vida eterna”.

Por isso é o Espírito do Senhor, que habita nos seus fiéis, quem recebe o santíssimo corpo e sangue do Senhor (Cf. Jo 6,62). Todos aqueles que não participam desse espírito e no entanto ousam comungar, “comem e bebem a sua condenação” (1Cor 11,29). Portanto, “ó filhos dos homens, até quando tereis o coração duro?” (Sl 4,3). Por que não reconheceis a verdade “nem credes no Filho de Deus” (Jo 9,35)? Eis que Ele se humilha todos os dias (Fl 2,8); tal como na hora em que, “descendo do seu trono real” (Sb 18,5) para o seio da Virgem, vem diariamente a nós sob aparência humilde; todos os dias desce do seio do Pai sobre o altar, nas mãos do sacerdote. E como apareceu aos santos apóstolos em verdadeira carne, também a nós se nos mostra hoje no pão sagrado.

E do mesmo modo que eles, enxergando sua carne, não viam senão sua carne, contemplando-o contudo com seus olhos espirituais creram nele como no seu Senhor e Deus (Cf. Jo 20, 28), assim também nós, vendo o pão e o vinho com os nossos olhos corporais, olhemos e creiamos firmemente que está presente o santíssimo corpo e sangue vivo e verdadeiro. E desse modo o Senhor está sempre com os seus fiéis, conforme Ele mesmo diz: “Eis que estou convosco até a consumação dos séculos”. (Mt 28,20). (Escritos de S. Francisco de Assis).

Caríssimos irmãos e irmãs, crer no Corpo e Sangue do Senhor Jesus é participar do maior milagre de amor que se pode ter neste mundo, porque crer é pertencer, é amar Àquele que nos amou primeiro e que nos ama por toda a eternidade. Amém. Assim seja!

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.

domingo, 6 de abril de 2008

A Páscoa

A Páscoa do Senhor é a mais feliz passagem que um ser humano pôde fazer nessa nossa história natural. Em todas as outras ninguém teve, por si mesmo, uma esperança mais segura, a não ser a esperança das promessas, porque somente Cristo é a resposta para todos os porquês de nossa contingência.

A Ressurreição é a realidade eterna onde apoiamos nossa vida temporal na certeza de que mesmo condenados nesse vale de lágrimas, alimentamos a convicção de que em Cristo Jesus, somos eternos; mergulhamos neste Mistério de Amor para sempre, experimentando a delícia de sermos resgatados pelo próprio Filho de Deus.

Então, temos milhões de motivos para darmos glória a Deus pelo seu beneplácito amor para conosco; somos verdadeiramente prediletos porque amados até a última gota do Sangue de Jesus, Seu Filho amado; é verdade que ainda somos imaturos na fé, fragilizados por nossas inclinações para as fraquezas de nossa vontade própria, contudo, jamais prevalecerá o pecado porque a misericórdia do Senhor ultrapassa em tudo a finitude de nossa miséria.

Paz e Bem!

sábado, 5 de abril de 2008

Quando os homens não entendem

QUANDO OS HOMENS NÃO ENTENDEM

(Evangelho de São João 6,52-59).

Somos contingentes, isto é, limitados vivendo num mundo que para nós tem limites, mas não atingimos a essência das coisas em si mesmas e por nós mesmos; e quando isso acontece ou procuramos uma resposta mágica ou descartamos o que não cabe no nosso entendimento. Com isso, muitas vezes nos tornamos céticos e menosprezamos o essencial objeto da fé.

Dessa forma quando Cristo diz com o pão sagrado: “Isto é o meu corpo”, não depende do nosso crer para ser sua presença eucarística; só dependo do nosso crer os efeitos desse alimento eterno que nos faz permanecer em Cristo para que tenhamos a vida.

Só entendemos a Deus quando falamos a sua linguagem expressa no cumprimento dos seus mandamentos. Viver o eterno no tempo é gozar da intimidade de Jesus que é o Pão da Vida que alimenta os que caminham para o seu reino de glória e salvação, os quais permanecem nele pela fé, com escreve São João: “Quem diz que crê em Cristo deve viver como ele viveu” (1Jo. 2,6).

Portanto, “... o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus: pois para ele são loucuras (‘Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna...’). Nem as pode compreender, porque é pelo Espírito que se devem ponderar (ajuizar)”. Creio sim Senhor, que eu seja sempre teu!!!

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Existem católicos e católicos

Deu no Correio da Cidadania:
Escrito por Gabriel Perissé
01-Abr-2008
Divulgou-se recentemente o atual número de católicos no mundo: algo em torno de 1,13 bilhão, o que corresponde a cerca de 17% da população mundial. Sabemos, contudo, que há católicos e católicos. Arrisco a classificação de pelo menos quatro tipos.

Primeiramente, o famoso católico não-praticante. Milhões de pessoas batizadas, sem grande contato com a religião. Não têm vida sacramental estável, não são contra nem a favor das regras do jogo, porque as desconhecem. Católicos para quem as epístolas foram as irmãs dos apóstolos... Não-praticante do catolicismo, este católico pratica um pouco de tudo, e vai levando. Sua vulnerabilidade espiritual pode levá-lo a aderir a qualquer coisa, até mesmo a movimentos católicos...

Temos o não-católico praticante. Aquele que pratica a caridade sem saber que é virtude teologal. Que acredita em Deus sem saber que no Deus Uno e Trino acredita. Atira onde não vê e acerta onde não espera: tem na esperança outra virtude oculta. O não-católico pode seguir outras religiões, pode considerar-se adversário do catolicismo. Talvez seja até melhor, para ele, não saber que é canonizável. Está a salvo da vaidade de querer ser santo. A prática longe da instituição, longe da Igreja, mas perto de Deus.

O praticante não-católico é uma aberração interessante. Missa diária, terço diário, confissão semanal, mortificação, Bíblia, conhecimentos teológicos, apologética, liturgia, proselitismo, mas esquecimento do essencial. É capaz de humilhar o irmão, achando que recebeu do Pai autorização para tanto. Beija a mão do papa... e depois abraça o demônio. Despreza o não-praticante, o agnóstico, e fica imaginando como pode Deus ser tão descuidado, deixando hereges e ateus soltos por aí.

E há o católico por um triz, desconfiado de sua própria catolicidade. Pratica o que manda a consciência, mantendo um olho no padre e outro na missa. Procura ser menos papa do que o Papa. Basta um. Quer separar o joio do trigo, mesmo que digam ser tudo trigo. Quer descobrir o trigo no meio do joio, mesmo que digam ser tudo joio. Os sacramentos o alimentam, mas está sempre com fome. Reza sabendo que Deus sabe mais.

Não sei como o Vaticano vai lidar com esses e outros tipos de católicos. Os números escondem a realidade. Cristo disse: "Sou o caminho". Mas não se tratava de uma rodovia. O caminho no meio do deserto não tem muretas nem semáforos.
Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor Web Site: http://www.perisse.com.br
Extraído de
http://www.correiocidadania.com.br/content/view/1626/53/ acesso em 01 abr. 2008.

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