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sexta-feira, 29 de abril de 2011

ORAÇÃO A SANTA CLARA DE ASSIS











ORAÇÃO A SANTA CLARA DE ASSIS



D.:Santa Clara , nascida em Assis, contemporânea de Francisco, nasceu na família dos  Favarone.     Nobre,  casta e pura, sempre almejou estar com Nosso Senhor Jesus Cristo.



1. Plantinha do Seráfico de Assis , procurou segui-lo em suas pegadas, pegadas profundas , no domingo de Ramos de 1212, quando o Bispo Guido lhe entregou o ramo bento.



T.:Clara, que foste o espelho da perfeição, ensina-nos a refletir o Deus amor, ensina-nos a cativar o Cristo no nosso irmão.



2.  Tomou a decisão de seguir a Cristo do jeito de Francisco. À noite fugiu da casa paterna, saindo pela passagem dos “mortos” para encontrar-se com Francisco e seus frades.



3. Foi para Santa Maria do Anjos - Porciuncula , onde fez seus votos. Passou algum tempo no Mosteiro de São Paulo das beneditinas , onde enfrentou a fúria dos parentes, quando tomada do espirito do Senhor veementemente reafirmou sua Fé no Crucificado e com destreza disse não a seu tio, impulsionada pelo Cristo.



T.:Clara, que foste o espelho de perseverança no Amor, ensina-nos a viver o Deus amor e a cativar o Cristo no nosso irmão.



4.Tornou-se tão pesada quanto o chumbo, que seu tio desistiu. Passou a viver em oração e trabalho, no Mosteiro de São Damião, local que fora restaurado por Francisco.



T.:Clara, que foste o espelho de perseverança no Amor, ensina-nos a viver o Deus amor e a cativar o Cristo no nosso irmão.



5.Mesmo na clausura foi mais livre que os pássaros do céu , vivendo na conformidade do Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo; soube cativar a todos, às novas irmãs que chegaram ali e aos que estavam no mundo,  por sua  humildade, por sua luz.



T.:Clara, que foste  livre para seguir Nosso Senhor Jesus Cristo, ensina-nos a darmos o nosso sim, a cativar o Cristo no nosso irmão.



6. Quando Assis fora invadida pelos Sarracenos , não vacilou. Foi ao encontro do Esposo amado , Jesus Eucarístico, erguendo o Ostensório. Orou fervorosamente  para que nada de mal acontecesse as suas irmãs e ouviu o próprio Jesus lhe responder que nada de mal aconteceria a elas,  nem à cidade de Assis.



T.: Dai-nos  Clara, a mesma Luz e a mesma coragem para sermos luzes para nossos irmãos e irmãs .



7. Mesmo acamada no tempo de Natal, não podendo estar presente à Igreja assistiu a toda à missa e dois dias antes de morrer, recebeu a bula de confirmação da Regra,  do Santo Padre, para o privilégio da elevada pobreza.



8. E moribunda diz a sua alma para ir em paz, pois Aquele que a criou e acompanhou , sempre estaria com ela, pois iria em boa companhia.



T.: Dai-nos  Clara, a mesma Luz e a mesma coragem para sermos luzes para nossos irmãos e irmãs . Amém!



D.: Irmãos, Clara foi e é modelo de virtude , oração e obediência à vontade do Pai. Juntos rezemos a oração dos 800 anos do CARISMA CLARIANO.



T.:Ó Altíssimo Pai celestial, por vossa misericórdia e graça, iluminastes vossa serva Clara de Assis, com o esplendor do Cristo Ressuscitado, seu amado esposo, a fim de que, por uma vida vivida no amor, brilhasse como luz aos irmãos e irmãs de ontem e de hoje.

Ouvindo o vosso chamado, seguindo o exemplo de Francisco, Clara trocou a nobreza pela pobreza e, na penitência em São Damião, com jovial alegria, viveu no silêncio, na contemplação e na fraterna comunhão.

Bendito sejais, ó Altíssimo Pai, pelas mulheres e homens, que nestes oitocentos anos abraçaram o ideal de vida de Santa Clara. Por seu testemunho, iluminaram os caminhos da missão e da paz, radiantes de alegria e de esperança.

Concedei, Senhor, à Família Franciscana do Brasil, seguir o caminho da simplicidade, da humildade fraterna, da pobreza numa vida honesta e santa, alimentada pelo pão da Palavra e da Eucaristia, solidária com os pobres e excluídos.

Iluminados pela luz do vosso Espírito que em Clara de Assis brilhou como o sol, jamais percamos de vista, o ponto de partida, da íntima unidade com Jesus Cristo, o irmão pobre do presépio e da Eucaristia. Amém!

Nossa mãe Santa Clara e nosso pai São Francisco de Assis, rogai por nós!



D.: Irmãos e irmãs, peçamos ao Pai que nos ilumine e nos fortaleça para dizermos sempre sim à sua vontade:

Pai nosso...



Final: O Senhor os abençoe e guarde.

Mostre-lhes o seu rosto e tenha misericórdia de vocês.

            Volte a sua face para vocês e lhes dê a paz

O Senhor esteja sempre com vocês e

oxalá estejam vocês sempre com Ele.

Amém.
Créditos : Paulo Américo Piotto,OFS e Claudete Letz Martins,OFS - Fraternidade São Francisco de Assis de Vila Clementino - São Paulo-SP

terça-feira, 26 de abril de 2011

Alegria em servir

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Esperando os fiéis sairem da Missa da Ressurreição

Pelo segundo ano consecutivo, a fraternidade São Maximiliano Maria Kolbe de Porto Feliz/SP da OFS do Brasil, teve a alegria de poder organizar também o segundo café da manhã comunitário, após a Missa da Ressurreição.
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Padre Toninho
São tempos de alegria. A Paróquia iniciou em 2010, a procissão da Ressurreição, seguida de missa e o primeiro café da manhã comunitário. Foi uma experiência encantadora, linda e gratificante. Este dia choveu, o tempo não estava tão amistoso.

Neste domingo de páscoa, dia 24 de abril, o tempo estava agradavél, céu azul, sol generoso, temperatura estável. O número de fiéis aumentaram na procissão, na missa e no café da manhã. Foi além de nossas expectativas.
 
 

A fraternidade ajudou na procissão participou da caminhada orante, do encontro de N. Senhora e de Jesus Ressucitado. Com Nossa Senhora estavam as mães que perderam seus filhos, o encontro foi emocionante, as palavras que o pároco Padre Toninho disse foram certamente inspiradas pelo Espírito Santo. Com a humildade de São Francisco, tudo transcorreu na Paz, na Alegria, foram momentos sublimes.

Durante a Missa, o ofertório contou com a participação de irmãos fraternos. No Café da manhã, a comunidade prestigiou, o Pe. Toninho muito incentivou e participou conosco em comunhão. 

Momentos de boa conversa, muita risada e também de se alimentar. Deus estava conosco.

Paz e Bem






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Fotos: Rafael Correa/Pastoral da Comunicação;
Texto: Felipe Miranda/Fraternidade;

A bula “Quo elongati” e seu significado

[Frei Dorvalino Fassini, OFM]

Perguntaram-me os noviços, dias atrás, acerca do sentido da Bula “Quo elongati” (1230), do Papa Gregório IX, tanto no que diz respeito ao título quanto ao seu conteúdo. As considerações aqui expostas, talvez, sejam de interesse, também para outros franciscanos.


Como sói acontecer com textos emanados do Papa, o título é tirado de seu início (as duas primeiras palavras) que, em nosso caso, soam assim “Quo elongati” isto é, “Quanto mais afastados do mundo, alçar-vos-eis sobre vós mesmos e, quase, revestir-vos-eis com as asas da pomba no recolhimento (eremitério) da contemplação... ”

Quanto ao conteúdo, essa bula, famosa para alguns; famigerada, para outros, queremos ater-nos apenas, e de modo geral, ao seu significado no que diz respeito à busca de nossa espiritualidade e de suas repercussões [1]. A bula nasceu de um pedido da Ordem, mais precisamente dos Provinciais. Queriam que o Papa, como autoridade máxima da Igreja, interviesse acerca desta questão: “Como entender a fidelidade à Regra? O que significa, ou como interpretar, a promessa de ‘observar o santo Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo?”

O Papa, mui estranhamente, ou até contraditoramente, e sem nenhum constrangimento, até pelo contrário, com muita boa vontade, aceitou e assumiu imediatamente o pedido. Por que dizemos “estranha e contraditoriamente?” Porque, como ele mesmo afirma, tendo sido amigo próximo do santo e tendo-o ajudado na elaboração da Regra, devia saber, muito bem, o que Francisco pensava a respeito desse assunto: que, em vez de interpretações, deve-se ler, estudar e entender nossa vida e nossa regra de modo direto, imediato, corpo a corpo, sine glosas, sine glosas, como ele, Francisco e toda aquela primeira geração de Frades haviam procedido. Assim, em vez de uma interpretação devia ter-lhes devolvido a questão: que buscassem eles mesmos, na Regra, nos Escritos do santo, na memória dos primeiros Frades e das primeiras Clarissas, que ainda estavam viços, etc., a luz que precisavam. Não era ele, Francisco, a “Forma minorum”, o “Espelho da Perfeição”? E não estavam eles, Ministros provinciais, envoltos e movidos pelo vigor e pelo espírito do mesmo toque, do mesmo chamado?

Assim, pode-se e deve-se considerar essa Bula como o divisor de águas na história e na busca de nossa identidade. Falando um tanto simploriamente e para usar uma expressão vulgar, a Ordem acabava de “vender sua alma” ao Papa e à Cúria romana. Se, antes, eram os Papas que iam a Francisco a fim de buscar iluminação para sua missão de pastores e pontífices, agora inverte-se a situação: os Frades é que começam a recorrer aos Papas para que esses se tornem os orientadores, conselheiros e intérpretes da Vida e da Regra deles.

A chave de toda essa mudança passa a ser a “interpretação”, palavra profundamente detestada por Francisco, como se pode ver nessa passagem do seu Testamento: E ordeno firmemente, por obediência, a todos os meus irmãos, clérigos e leigos, que não façam glosas na regra nem nestas palavras, dizendo: Assim devem ser entendidas. (T 38).

Onde está o “X” da questão? Ou, então, por que Francisco tem medo das interpretações? A resposta é muito simples, tão simples que parece não atingir a questão da busca da compreensão do sentido da Vida e da Regra franciscana. Em outras palavras não vê que a interpretação procura entender a Regra e a vida franciscana a partir de fora, isto é, com outras luzes, alheias à inspiração originária.

Assim, com essa Bula começava a introduzir-se na Ordem a renúncia pelo entusiasmo originário, que outrora levara Francisco, Clara e toda aquela plêiade de seguidores do Evangelho a percorrer o duro e exigente caminho da experiência evangélica, recheada de leitura, estudo, reflexão, meditação e contemplação da inspiração originária que envolvia a todos. Começava a morrer, portanto, o espírito da liberdade evangélica, a sede pela busca livre do significado de nossa vocação a partir de dentro, da raiz, da origem, e começava a nascer uma avidez que enquadra, julga, canoniza, define. Começava a nascer o “franciscano”, o “Franciscanismo”.

O grave desse pecado é que se começou a tirar, indevidamente, do Frade o dever, a responsabilidade, a alegria, a glória e a honra de entrar em comunhão direta, imediata, corpo a corpo com a coisa, ela mesma, a inspiração originária, impedindo que bebesse, soubesse, aprendesse e experimentasse, ele mesmo, pessoalmente, da fonte dessa água viva. Seria o mesmo que o jovem namorado viesse a pedir ao amigo que fosse, namorar a namorada dele porque ele não tem tempo ou não saberia fazê-lo.

Nesse caso, isto é, na leitura interpretativa (ler fazendo glosas), esquece-se que a inspiração originária é fenômeno de encontro. No encontro é ofensa grave querer entender o outro, o amigo fora dele mesmo, procurando enquadrá-lo, fixá-lo, imobilizá-lo dentro de uma definição, de um conceito, conhecimento ou doutrina (Franciscanismo). Não diz o Evangelho que o Espírito não pode jamais ser aprisionado, pois não se sabe de onde vem e nem para onde vai?

Por isso, Francisco, em vez de interpretações, procura pôr os Frades na ordem da natureza da própria inspiração originária, assim como ela nasce e se tece: “simpliciter et pure”, isto é, “de modo simples e puro”. Em outras palavras, Francisco está pondo os Frades na ordem precisa, justa, adequada, necessária e correta na busca do sentido de nossa Vida e de nossa Regra. Está como que nos dizendo: “Por favor, não comecem a ´interpretar´, querendo entender nosso gênero de vida a partir de motivações alheias e estranhas à sagrada história de nossa vocação, nascida, pura e diretamente da dinâmica do encontro, da visita, da escolha de Jesus Cristo crucificado”.

É da natureza do encontro não admitir intermediários. Pois, toda a interpretação ou ponto de vista são meios, recursos, intermediações que, em vez de nos aproximar, nos afastam sempre mais Daquele que está vindo ao nosso encontro.

É dentro dessa mesma dinâmica ou razão que se deve entender a aversão de Francisco pelos estudos. Veja bem o leitor, o medo de Francisco é pelos “estudos”, jamais pelo estudo. Ou seja, Francisco receava que o Frade, indo atrás de estudos, se esquecesse de que seu único estudo, no latim “studium” (“empenho” na ou pela busca), era estudar o encontro com o Senhor, Jesus Crucificado, como sendo ou estando aí (o encontro com (do) JC crucificado), sua verdadeira e única identidade, a única “coisa” real e verdadeira que devia estudar, conhecer e amar. Essa “coisa” não é coisa, mas a pessoa de Jesus Cristo crucificado, o novo homem, o novo ser do ser do homem, o novo Adão que deve ser buscado, estudado, pesquisado, meditado, contemplado e sumamente amado e jamais interpretado.

Consequentemente, se, por de trás ou na raiz de tudo o que estudo, busco e faço não está o empenho, o estudo, de melhor conhecer, amar e servir meu Senhor, diz Francisco, não apenas, tudo isso não tem sentido, mas torna-se ocasião para entumecimento do coração que, por sua vez, impede de estar atento ao Espírito do Senhor e seu santo modo de operar. Por isso, dizia, também, ao noviço doido para ter um saltério: “Cuidado! Pois, a ciência incha! Só a caridade edifica”. (CAs 103,26)

Encerramos essas breves e pobres reflexões com a seguinte citação: Tudo isso quer dizer, por sua vez, que todo o seguimento de Jesus Cristo crucificado, vivido corpo a corpo, em todas as dimensões do ser, até a consumação de total identificação com o Crucificado, ou, numa palavra, “a vida de pobreza”, foi para Francisco seu único e grande empenho, isto é, “studium” (De estudo, anotações obsoletas, Frei Hermógenes Harada, IFAN-Vozes, 2009, 191). Ou seja, seguir Jesus Cristo e seu Evangelho é imitá-Lo, “copiá-Lo”, sem mais e nem menos, assim como Ele vem ao meu ou nosso encontro. Essa era a única ciência, ou estudo, que levou Francisco a se tornar “outro Jesus Cristo” e o mais perfeito dos humanos, depois do Mestre e de sua Mãe e, por isso, estimado por todos os homens, eleito um dos 10 homens mais significativos do último milênio.

Fica, hoje e então, uma grande questão: Como retornar ao espírito da busca originária que moveu Francisco e toda aquela primeira geração de Frades, Irmãs e seculares, com o peso de quase oitocentos anos de caminhos alheios e indevidos, iniciados por aquela Bula de Gregório IX? Ou seja, como fazer o êxodo da escravidão das interpretações, das glosas, para uma busca, um “studium”, verdadeiramente livre, acerca do sentido de nossa vida de seguidores de Jesus Cristo pobre e crucificado? Como impor-nos, livremente, obrigações que não vêm de fora, mas de dentro, de nós mesmos, do núcleo mais nobre, mais caro e melhor de nós, da vontade boa, forte e clarividente e generosa de querer buscar e amar de modo absoluto e infinito, sem nenhum por quê, nem para quê, mas tão somente como ato feliz e alegre de pura doação Àquele que, vindo ao nosso encontro, constitui-se o significado único e verdadeiro de toda a nossa existência? Daquele que, como diz o Apóstolo, nos amou por primeiro?

Em louvor de Cristo. Amém!
[1] Lázaro Iriarte resume em quatro os pontos principais dessa Bula:
  1. O Testamento carece de força obrigatória...;
  2. Os frades menores só estão obrigados aos conselhos evangélicos...;
  3. Declara-se estar em conformidade com cm a regra a instituição dos “núncios” como representantes dos benfeitores, como, também, depositar nas mãos dos “amigos espirituais” as esmolas em dinheiro para as necessidades imediatas;
  4. Os frades menores não possuem nada em particular, nem em comum;não tem nenhum direito sobre os imóveis, e apenas o “simples direito de uso sobre livros e utensílios; não podem dispor deles sem o consentimento do cardeal protetor.
(História Franciscana, Lázaro Iriarte, Vozes 1985, p. 66)

segunda-feira, 25 de abril de 2011

FELIZ PÁSCOA!

















FELIZ PÁSCOA!

A Páscoa de Jesus é o grande momento da Nova Criação, a partir de então, a humanidade conheceu pela ressurreição do Senhor, o porquê de sua existência, seu destino eterno em Cristo e aquilo que Deus reserva como herança para nós, em seu infinito amor.

A grande graça que a ressurreição do Filho de Deus nos traz, é a garantia de que não haverá mais morte além dessa que naturalmente nos acompanha, e que para nós é páscoa, ou seja, encontro definitivo com Deus Pai, como realização de seu plano para a nossa salvação. Com efeito, por sua paixão, morte e ressurreição, Jesus nos abriu as portas do Paraíso, antes fechadas pelo nosso pecado, agora, porém, abertas para sempre pela graça do perdão e reconciliação que nos concedeu em seu sacrifício de amor.

Bem profetizou a esse respeito Isaías no Cântico do Servo sofredor: “Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado. Mas ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniquidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele; fomos curados graças às suas chagas.” (Is 53,4-5).

Ora, a vitória de Cristo sobre o pecado, sobre o pai da mentira e sobre a morte é o grande triunfo dos filhos e filhas de Deus. Pela sua obediência incondicional e total imolação, fomos capacitados para toda boa obra e conduzidos à comunhão perfeita em seu Corpo Místico, a Igreja, pelo Seu Espírito que derramou sobre nós profusamente em torrentes de graças e santidade por meio de nosso batismo, nos dando conhecer o que Deus nos prodigalizou.

Portanto, viver a dimensão de ressuscitados com Cristo é autenticar o que Deus fez por nós em seu Filho amado, testemunhando essa verdade em cada ação de nossa existência temporal a caminho de Sua Glória Eterna no Reino dos Céus.

Feliz Páscoa!

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.


Blog Textos de Eduardo Hoornaert


Textos do teólogo e historiador do cristianismo Eduardo Hoornaert,
um dos fundadores da Comissão de Estudos da História da Igreja na américa Latina (CEHILA).

sexta-feira, 22 de abril de 2011

ENTÃO, O QUE ESTAMOS ESPERANDO?

















ENTÃO, O QUE ESTAMOS ESPERANDO?

A experiência humana da vida nos leva a desejar que ela seja sempre jovial e permaneça assim eternamente; em sã consciência ninguém quer a morte e se alguém a procura é porque estragou a vida com um viver infrutífero, sem nexo, sem fundamento algum. Ora, nas condições de desobediência em que se encontra atualmente mergulhada a humanidade, o que podemos esperar? De fato, a proteção divina tem nos dado tempo para a conversão, mas não é o que estamos vendo da parte dos homens, pelo contrário, constatamos um aumento exacerbado de toda espécie de vícios e pecados; logo, este estado de desequilíbrio e morte que estamos vivenciando nada mais é do que os efeitos dessa desobediência aos santos mandamentos da Lei de Deus, isto se constitui um verdadeiro abuso contra a misericórdia divina.

Nenhuma criatura naturalmente é detentora da vida em definitivo, nós a temos como um dom, como uma graça que nos aponta para a plenitude dela mesma em Deus. Sabemos por experiência que tudo o que plantamos colhemos de acordo com o cuidado que damos à plantação. Com efeito, a vida também é assim, nós a estamos plantando no terreno fértil ou não da nossa existência e certamente haveremos de colher os frutos de nossos atos em definitivo, isto é, quando chegar o dia eterno da colheita que é a morte temporal. Ai sim, “... cada um receberá de Deus o louvor que merece”. (1Cor 4,5b). É como nos ensinou são Paulo: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba. O que o homem semeia, isso mesmo colherá. Quem semeia na carne, da carne colherá a corrupção; quem semeia no Espírito, do Espírito colherá a vida eterna. Não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo colheremos, se não relaxarmos. Por isso, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos os homens, mas particularmente aos irmãos na fé”. (Gal 6,7-10).

Por pura graça de Deus temos a revelação do seu plano para a nossa salvação: “Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto do céu nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo, e nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante de seus olhos. No seu amor nos predestinou para sermos adotados como filhos seus por Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua livre vontade, para fazer resplandecer a sua maravilhosa graça, que nos foi concedida por ele no Bem-amado”.

“Nesse Filho, pelo seu sangue, temos a Redenção, a remissão dos pecados, segundo as riquezas da sua graça que derramou profusamente sobre nós, em torrentes de sabedoria e de prudência. Ele nos manifestou o misterioso desígnio de sua vontade, que em sua benevolência formara desde sempre, para realizá-lo na plenitude dos tempos - desígnio de reunir em Cristo todas as coisas, as que estão nos céus e as que estão na terra. Nele é que fomos escolhidos, predestinados segundo o desígnio daquele que tudo realiza por um ato deliberado de sua vontade, para servirmos à celebração de sua glória, nós que desde o começo voltamos nossas esperanças para Cristo.” (Ef 1,3-12).

Por isso, “De agora em diante, pois, já não há nenhuma condenação para aqueles que estão em Jesus Cristo. A lei do Espírito de Vida me libertou, em Jesus Cristo, da lei do pecado e da morte. O que era impossível à lei, visto que a carne a tornava impotente, Deus o fez. Enviando, por causa do pecado, o seu próprio Filho numa carne semelhante à do pecado, condenou o pecado na carne, a fim de que a justiça, prescrita pela lei, fosse realizada em nós, que vivemos não segundo a carne, mas segundo o espírito. Os que vivem segundo a carne gostam do que é carnal; os que vivem segundo o espírito apreciam as coisas que são do espírito.

Ora, a aspiração da carne é a morte, enquanto a aspiração do espírito é a vida e a paz. Porque o desejo da carne é hostil a Deus, pois a carne não se submete à lei de Deus, e nem o pode. Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito, se realmente o espírito de Deus habita em vós. Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é dele.       
Ora, se Cristo está em vós, o corpo, em verdade, está morto pelo pecado, mas o Espírito vive pela justificação. Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vós, ele, que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos, também dará a vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós.

Portanto, irmãos, não somos devedores da carne, para que vivamos segundo a carne. De fato, se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras da carne, vivereis, pois todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Porquanto não recebestes um espírito de escravidão para viverdes ainda no temor, mas recebestes o espírito de adoção pelo qual clamamos: Aba! Pai! O Espírito mesmo dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus.      E, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, contanto que soframos com ele, para que também com ele sejamos glorificados”. (Rom 8,1-17).

Então, o que estamos esperando? “Nós, porém, segundo sua promessa, esperamos novos céus e uma nova terra, nos quais habitará a justiça”. (2Ped 3,13). Conforme nos relatou são João: “Vi, então, um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra desapareceram e o mar já não existia.        Eu vi descer do céu, de junto de Deus, a Cidade Santa, a nova Jerusalém, como uma esposa ornada para o esposo. Ao mesmo tempo, ouvi do trono uma grande voz que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens. Habitará com eles e serão o seu povo, e Deus mesmo estará com eles. Enxugará toda lágrima de seus olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque passou a primeira condição. Então o que está assentado no trono disse: Eis que eu renovo todas as coisas. Disse ainda: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras.” (Ap 21,1-5).

“Portanto, caríssimos, esperando estas coisas, esforçai-vos em ser por ele achados sem mácula e irrepreensíveis na paz”. (2Ped 3,14).

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.


quarta-feira, 20 de abril de 2011

Feliz Páscoa !


Paz, bem e feliz Páscoa!

Que Deus nos ajude
a percebermos Sua mensagem de vida
(e vida em abundância) para todos,
mesmo quando o mensageiro, a mensageira,
é alguém que não esperamos
que traga este tipo de mensagem.

E que não desanimemos
quando nós formos os mensageiros, as mensageiras,
e não acreditarem no que anunciamos.

                       Eugenio, OFS

Iustração:
Cristo e as duas Marias / William Holman Hunt. ca. 1897. Adelaide : Art Gallery of South Australia. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:William_Holman_Hunt_-_Christ_And_The_Two_Marys.jpg acesso em 20 abr. 2011.

terça-feira, 19 de abril de 2011

O DEMÔNIO EXISTE REALMENTE, COMO DEMONSTRÁ-LO?












O DEMÔNIO EXISTE REALMENTE, COMO DEMONSTRÁ-LO?

O termo “demônio” provém do grego “dai,mwn”, que é de raiz incerta; por outro lado “diabo”, em grego “dia,boloj”, provém da palavra “diaba,llw”, que significa “acuso, calunio”; seu sentido é, pois, o de “caluniador, acusador”; “satã”, por outro lado provém do hebreu, com o significado de “insidiador, perseguidor”.

A existência do demônio aparece mais que suficientemente testemunhada na Revelação, na Tradição e no Magistério da Igreja. Na realidade, quase todas as religiões afirmaram a existência de seres maus; mas é na Revelação judeu-cristã onde se mostram sob seu verdadeiro aspecto.

Já no livro do Gênesis aparece sob a figura da serpente tentadora (cf. Gn 3), e já caracterizado por seu espírito mentiroso e homicida (cf. Ap 12,9; Jo 8,44). Durante as tentações de Jesus no deserto se mostra em sua atitude insidiadora para com os homens (cf. Mt 4,3-11).

Os primeiros cristãos não tiveram dificuldade em aceitar a doutrina contida na Sagrada Escritura, razão pela qual nem os Padres da Igreja e nem o Magistério fizeram muita insistência neste tema. Mas a partir do século IV a Igreja se viu obrigada a tomar posição contra a tese do maniqueísmo que fazia do demônio um princípio divino mau, posto à igual condição e combatendo ao Deus revelado (princípio bom); os textos dos autores eclesiásticos são, a este respeito, mais que abundantes e claros[1]. A doutrina era, pois, comum e firme.

No século XII e XIII, a aparição dos Cátaros (rebrote maniqueu na França meridional) exigiu da Igreja declarar uma vez mais a doutrina correta. O fez no IV Concílio de Latrão: “Diabolus enim et alii daemones a Deo quidem natura creati sunt boni, sed ipsi per se facti sunt mali (O diabo e os outros demônios foram criados por Deus com uma natureza boa, mas eles se fizeram a si mesmos maus)”[2].

Portanto, deve-se dizer que a existência dos demônios (anjos caídos) é de fé divina e católica. E se demonstra pelos testemunhos bíblicos, patrísticos, litúrgicos e magisteriais. Resumindo todos estes argumentos, o Concílio Vaticano II, na Constituição Gaudium et spes disse que nossa história “é uma dura batalha contra o poder das trevas, que, iniciada nas origens do mundo, durará, como diz o Senhor, até o dia final”[3]. E a Constituição Lumen gentium, retomando as palavras de São Paulo, recorda que “devemos lutar contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos malignos”[4].

Os pontos fundamentais da doutrina católica sobre o diabo podem resumir-se nos seguintes:

1º) Deus criou os Anjos que são bons por natureza, mas muitos deles pecaram e se fizeram maus deliberadamente. Diz o Catecismo: “A Escritura fala de um pecado desses anjos. Esta ‘queda’ consiste na opção livre desses espíritos criados, que rejeitaram radical e irrevogavelmente a Deus e seu Reino. Temos um reflexo desta rebelião nas palavras do Tentador ditas a nossos primeiros pais: ‘E vós sereis como deuses’ (Gn 3,5). O diabo é ‘pecador desde o princípio’ (1Jo 3,8), ‘pai da mentira’ (Jo 8,44)”[5]

2º) Não foi o diabo quem criou a matéria e os corpos (como ensinou o maniqueísmo), mas sim Deus.

3º) Satanás e seus sequazes foram castigados por Deus com o inferno, de onde põem armadilhas, tentam e perseguem aos homens na medida em que Deus permite.

4º) Os demônios, como todos os Anjos, são espíritos puros, dotados de entendimento e vontade.

5º) Os anjos caídos pelo pecado de soberba se perderam irremediavelmente, porque em virtude de sua natureza espiritual sua livre eleição entre o bem e o mal fica imutável uma vez feita e, portanto, sem possibilidade de arrependimento. Diz o Catecismo: “É o caráter irrevogável de sua opção, e não uma deficiência da infinita misericórdia divina, que faz com que o pecado dos anjos não possa ser perdoado. ‘Não existe arrependimento para eles depois da queda, como não existe para os homens após a morte’ (São João Damasceno)” [6].

6º) O demônio perdeu com seu pecado os dons sobrenaturais, mas conserva sua natureza espiritual ricamente dotada de inteligência e de tenaz vontade (agora inclinada ao mal).

7º) Os demônios odeiam os homens; Seus motivos embora óbvios são explicados pelos padres da Igreja. O Demônio atingindo ao homem, obra prima e amada de Deus atinge diretamente o próprio Deus. Enfatizam ainda alguns Padres da Igreja, que estes assim o fazem, por terem sido estes destinados a substituí-los na Glória. Consequência disto é a instigação ao mal que exercitam sobre os homens em geral. “A Escritura –diz o Catecismo– atesta a influência nefasta daquele que Jesus chama de ‘o homicida desde o princípio’ (Jo 8,44) e que até chegou a tentar desviar Jesus da missão recebida do Pai. Para isto é que o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do diabo (1Jo 3,8).

A mais grave dessas obras, devido às suas consequências, foi a sedução mentirosa que induziu o homem a desobedecer a Deus. Contudo, o poder de Satanás não é infinito. Ele não passa de uma criatura, poderosa pelo fato de ser puro espírito, mas sempre criatura: não é capaz de impedir a edificação do Reino de Deus. Satanás, embora atue no mundo por ódio contra Deus e seu Reino em Jesus Cristo, e embora a sua ação cause graves danos –de natureza espiritual e, indiretamente, até de natureza física– para cada homem e para a sociedade, esta ação é permitida pela Divina Providência, que com vigor e doçura dirige a história do homem e do mundo. A permissão Divina da atividade diabólica é um grande mistério, mas “sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são os eleitos, segundo os seus desígnios”. (Rom 8,28)”[7].

 Por todos estes motivos o Papa Paulo VI, falando desta terrível realidade misteriosa e tremenda, afirmou com autoridade: “Sai do quadro do ensinamento bíblico e eclesiástico quem se nega a reconhecer sua existência; ou quem faz dela um princípio que existe por si e que não tem, como qualquer outra criatura, sua origem em Deus; ou a explica como uma pseudo-realidade, uma personificação conceitual e fantástica das causas desconhecidas de nossas desgraças”[8]. E o citado documento da Congregação para a Doutrina da Fé acrescenta a estas palavras: “Nem os exegetas, nem os teólogos deveriam esquecer esta advertência”[9].

Charles Baudelaire, em seu poema “O Jogador generoso”, escreve: “O diabo chegou a confessar-me que não tinha temido por seu próprio poder mais que uma só vez, no dia em que ouviu dizer desde o púlpito um pregador mais preparado que seus confrades: Queridos irmãos, não esqueçais... que a mais perfeita astúcia do diabo está em lhes persuadir de que não existe”.

Paz e Bem!

BIBLIOGRAFIA:

[1] Os textos dos principais Padres da Igreja podem ser lidos no Documento da Congregação para a Doutrina da Fé, Fé cristã e demonologia, 26 de junho de 1975, Enchiridion Vaticanum, volume 5.

[2] Denzinger-Hüneremann, 800.

[3] Gaudium et spes, n. 37 b.

[4] Lumen gentiun, n. 35 a; 43 d.

[5] Catecismo da Igreja Católica, n. 392.

[6] Catecismo da Igreja Católica, n. 393.

[7] Catecismo da Igreja Católica, n. 394-395.

[8] Paulo VI, Alocução na Audiência geral de 15 de novembro de 1972; Ensinamentos do Povo de Deus, 1972, pp. 183-188.

[9] Congregação para a Doutrina da Fé, Fé cristã e demonologia, conclusão.

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Fonte: http://goo.gl/HdO6o   -  2011-04-18

domingo, 17 de abril de 2011

SOBRE CASTIDADE


SOBRE CASTIDADE

A castidade é um tesouro inesgotável para quem a vive, porque saboreia o prazer do verdadeiro amor. Uma alma casta é uma alma pura, livre da corrupção e da malícia, porque a castidade é um valor eterno; ela deve ser vivida também pelos cônjuges, pois, para eles a castidade não significa abstinência sexual, mas a vivência da sexualidade como um dom, como graça de Deus que os santifica.

A castidade é um dos frutos do Espírito Santo na alma humana, por isso, ela pode ser vivida tranquilamente por solteiros e casados, porque a força do Espírito mesmo nos impele a degustar esse fruto admirável de sabor inigualável, visto que vem de Deus como uma benção antecipada de Seu Reino.

“Os que vivem segundo a carne gostam do que é carnal; os que vivem segundo o espírito apreciam as coisas que são do espírito. Ora, a aspiração da carne é a morte, enquanto a aspiração do espírito é a vida e a paz. Porque o desejo da carne é hostil a Deus, pois a carne não se submete à lei de Deus, e nem o pode. Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito, se realmente o espírito de Deus habita em vós. Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é dele”. (Rm 8,5-9).

Toda criatura humana já nasce consagrada a Deus por sua virgindade; esta é uma marca registrada com a qual o Altíssimo nos autentica como seus filhos e filhas. Ocorre que por tentar viver uma pretensa liberdade, muitos se desviam dos desígnios do Senhor, pecando contra o próprio corpo, templo do Espírito Santo, e com isso atraem sobre si toda espécie de impureza, malícia, perversão, traição, maledicência, hedonismo.

A ninguém Deus deu permissão ter acesso ao próprio corpo ou ao dos outros sem sua benção. Logo, ser abençoados por Deus nos dons naturais que Dele recebemos é fundamental para vivermos verdadeiramente de acordo com a sua vontade neste mundo. Por sermos obra do Senhor, precisamos viver a dimensão sexual em conformidade com os seus desígnios expressos no sexto e nono mandamentos: não pecar contra a castidade e não desejar o cônjuge alheio.

Isso significa que precisamos viver nossa sexualidade como consagrados de Deus, ou seja, para os cônjuges viver a vocação à santidade como expressão da união sacramental e espiritual e para os leigos e religiosos como antecipação do que seremos na glória eterna no Reino dos Céus.

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Lectionautas Brasil


Numa parceria entre a CNBB e a Sociedade Bíblica do Brasil acaba de ser lançado o site Lectionautas Brasil, que procura disponibilizar aos jovens de nosso país subsídios para a Leitura Orante (Lectio Divina). O endereço do site é:

terça-feira, 12 de abril de 2011

A visão ecológica de São Francisco de Assis - 2/2

O Poverello anunciou ao mundo que somos todos filhos do mesmo Pai, todos gerados no Sumo e Eterno Bem, Àquele que por amor pintou o mundo com toque sublimes. O Homem de Assis, não chegou subitamente a compreender a co-pertencer na Fraternidade Cósmica, para tal entendimento, ele percorreu um caminho espiritual árduo, repleto de purificações.


“Totalmente absorto no amor de Deus, São Francisco vislumbra perfeitamente a bondade de Deus não só na sua alma, já ornada com toda a perfeição das virtudes, mas também em qualquer criatura” (Espelho da Perfeição 113,1).

Ao intuir esta grande fraternidade, Francisco grita a todo mundo a misericórdia divina e conclama todos a entoarem, juntos, o hino de louvor ao Criador.

Outro luzeiro que o Homem de Assis apresenta em sua vida é a ‘condição do amor’. O que Francisco entendia por isso? Como o entendia? A condição básica para alguém amar é a liberdade, aqui, liberdade deve ser entendida num modo lato, isto é, na liberdade de espírito, a qual era vista pelo Poverello como a ‘Pobreza’. Pobreza não reside só em não possuir coisas materiais, mas a pobreza essencialmente é um modo de ser pelo qual renuncia-se dominar as coisas, a submetê-las a serem objeto da vontade de poder humano. Consequentemente pode-se afirmar que é a Pobreza o fator responsável pelo entranhado amor de Francisco a tudo e a todos.

São Francisco, dois anos antes de sua morte, compôs um hino de Louvor a Deus, intitulado “O Cântico das Criaturas”, no qual revela a completa abertura reconciliar do pobrezinho de Assis com o céu e a terra, com a vida e a morte, com o universo e Deus. Neste cântico pode ser percebido a afável combinação do masculino com o feminino, através dos elementos da criação: sol-lua, vento-água, fogo-terra.

Francisco, um pouco antes de sua passagem para os braços do Pai, completa seu cântico louvando a Deus pela morte, que por ele é braçada como a irmã morte, portadora de uma vida mais ampla e imortal.

No hino se cruzam as duas linhas, horizontal e vertical. O movimento inicial se dirige inicialmente para Deus: “Altíssimo, onipotente e bom Senhor”. Mas Francisco logo se dá conta de que não consegue cantar Deus porque “nenhum homem é digno de sequer te mencionar”. Volta-se então a dimensão horizontal onde estão todas as criaturas, pois elas falam de Deus: “Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas”. Abre-se então à fraternidade horizontal e universal, canta as criaturas “porque de ti, Altíssimo, são sinal”. (Frei João Mannes, OFM.)

São Francisco de Assis conclamou, e ainda conclama na contemporaneidade, os seres humanos a perceberem que fazem parte de uma grande família, uma fraternidade universal, uma vez que toda a criação está inter-relacionada entre si, a qual habita a Terra e não a detém.

“O que fere a terra fere também os filhos e filhas da terra. Não foi o homem que teceu a trama da vida: ele é um fio dela. Tudo o que fizer à trama, a si mesmo fará” (Frei João Mannes, OFM.).

Portanto, é de estrema importância re-aprender a ver o mundo, e assim conviver fraternalmente a partir das razões advindas do coração. “É necessário a destruição de todos os ídolos: libertar-se da desregrada vontade de ter, de poder e de saber. Pois, os apegos impedem de ver a realidade na sua totalidade e à mercê do sopro (espírito) criativo de Deus que “enche a terra e reúne tudo.” (Sb 1,7; Is 34,16)”. (Frei João Mannes, OFM.)

Segundo uma antiga legenda, um dia disse Francisco ao Senhor, entre lágrimas.
Eu amo o sol e as estrelas,
Amo Clara e suas irmãs,
Amo os corações dos homens
E todas as coisas belas,
Senhor, perdoa-me
Porque só a ti eu deveria amar.
Sorrindo o Senhor respondeu:
Eu amo o sol e as estrelas
Amo Clara e suas irmãs,
Amo os corações dos homens
E todas as coisas belas.
Meu caro Francisco,
Não precisas chorar
Que tudo isso eu amo também.
(fonte: apostila do professor João Mannes).

Frei Osvaldo Maffei, OFM.


* Este artigo foi escrito a partir das aulas e idéias do Professor Frei João Mannes, OFM, da disciplina História do Pensamento Franciscano, do curso de Filosofia do Instituto de Filosofia São Boaventura / UNIFAE.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A Igreja secreta e os clérigos clandestinos da Europa comunista

Ao longo dos 41 anos do regime comunista no antigo país do bloco do Leste, uma rede subterrânea de grupos e indivíduos manteve viva a fé católica, chegando ao ponto de ordenar homens casados e mulheres. Na semana passada, suas conquistas foram tardiamente homenageadas.

A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada na revista inglesa The Tablet, 08-04-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Foi em uma comovente cerimônia na Igreja da cidade das Nações Unidas, Viena, no sábado da semana passada, 21 anos após a queda da Cortina de Ferro, que o maior e mais conhecido grupo subterrâneo da antiga Tchecoslováquia – chamado de "Koinótés" e fundado pelo falecido bispo Felix Maria Davidek (foto) – recebeu o Prêmio pela Liberdade na Igreja da Fundação Herbert-Haag, concedido anualmente a pessoas e instituições "por ações corajosas dentro da cristandade".

Embora sendo uma figura controversa e polêmica, o carisma de Felix Maria Davidek e seus extraordinários dons já foram reconhecidos por muitos homens da Igreja Católica, incluindo bispos e cardeais. Davidek reconheceu os sinais dos tempos, e sua resposta foi profética.

Situações desesperadoras – neste caso, a severa perseguição por um dos regimes ateus mais implacáveis – merecem remédios desesperados, e Davidek ordenou homens casados e mulheres ao sacerdócio católico. As estratégias de sobrevivência que ele tomou iluminam o potencial da Igreja para a reforma, que nunca acaba com a morte dos reformadores.

Já antes da invasão comunista em 1948, Davidek ficou fascinado com a ideia de Teilhard de Chardin de uma progressão evolutiva rumo a uma consciência cada vez maior. Ele estava convencido de que, além de estudar filosofia e teologia, os seminaristas deveriam ter uma formação universitária ampla e também estudar as humanidades e as ciências.

Enquanto ele era seminarista na Tchecoslováquia sob a ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial, ele sonhava em fundar uma universidade católica. Após a ordenação, em 1945, Davidek continuou seus estudos universitários. Ele fez medicina e, finalmente, obteve um doutorado em psicologia. Ao mesmo tempo, ele fundou o "Atheneum", um curso preparatório para jovens católicos, homens e mulheres, que não haviam sido autorizados a participar das escolas secundárias durante a ocupação alemã, com o objetivo de prepará-los para a matrícula e permitindo-lhes assim estudar teologia.

Em 1948, entretanto, os comunistas tomaram o poder. Davidek continuou com seus cursos no Atheneum em segredo, mas logo ficou sob a vigilância da polícia e foi preso. Seus companheiros presos disseram que ele era um prisioneiro particularmente audacioso que frequentemente se rebelava e, consequentemente, passou longos períodos em isolamento. Durante seus 14 anos de encarceramento, ele anotou em pedaços de papel higiênico seus planos meticulosos para a sobrevivência da Igreja em uma ditadura comunista e ateia.

Perseguição

Os anos 1950 foram o pior período da perseguição à Igreja na Tchecoslováquia. As faculdades de teologia das universidades foram fechadas. Apenas dois seminários católicos foram autorizados a permanecer abertos, e ambos foram colocados sob controle estatal. Os bispos haviam proibido os seminaristas de frequentar esses seminários controlados pelo Estado, e logo muitos deles foram presos. Uma sede depois da outra acabou ficando abandonada, e a polícia secreta observava de perto todas as atividades da Igreja.
Quando foi libertado em 1964, Davidek imediatamente começou a colocar seus planos em ação. Ele logo foi capaz de reunir muitos católicos comprometidos em torno dele. Eles chamaram seu grupo de "Koinótés" (derivado de “koinonia”, palavra grega que significa comunidade) e reuniam-se regularmente em segredo à noite e nos fins de semana, já que era obrigatório ter um emprego durante o dia.

Davidek ensinou uma grande variedade de temas e, secretamente, convidou clérigos proeminentes como oradores convidados. Graças a amigos que as haviam trazido às escondidas do exterior, ele também foi capaz de estudar as conclusões do Concílio Vaticano II e as obras de Karl Rahner, Yves Congar, Henri de Lubac e outros teólogos muito conhecidos da época junto com seus alunos.

O maior desafio era garantir um número suficiente de sacerdotes fidedignos nos quais pudesse confiar que não iriam colaborar com o regime. Até 1967, os candidatos foram enviados ao exterior para serem ordenados clandestinamente na Alemanha ou na Polônia. Tanto o arcebispo de Cracóvia, Karol Wojtyla, que mais tarde viria a ser o Papa João Paulo II, e o cardeal Joachim Meisner, de Colônia, então bispo de Berlim, ordenaram sacerdotes tchecoslovacos clandestinamente nessa época.

Davidek sabia que nunca iria obter permissão para deixar o país. Por isso, ele enviou Jan Blaha, um jovem químico que participava de conferências no exterior e era membro do Koinótés, a Augsburg, onde foi ordenado sacerdote clandestinamente pelo bispo Josef Stimpfle. Poucos meses depois, em Praga, em outubro de 1967, Blaha foi sagrado bispo por Dom Peter Dubovsky, um jesuíta eslovaco, que também havia sido ordenado clandestinamente. Dom Blaha, então, consagrou Felix Davidek. Todas essas ordenações e consagrações foram, desde então, devidamente reconhecidas e declaradas como válidas pelo Vaticano.

A partir de então, o Koinótés se tornou o núcleo de uma rede clandestina de grupos católicos comprometidos da Tchecoslováquia. Davidek estava convencido de que a Igreja só poderia sobreviver e cumprir seu mandato em pequenas entidades e que, como na Igreja primitiva, cada grupo deveria ter seu próprio bispo. Por isso, ele logo ordenou um número considerável deles.

Depois que os tanques soviéticos destruíram a efêmera Primavera de Praga de 1968, Davidek vivia com medo de que os comunistas pudessem, a qualquer momento, tentar liquidar completamente a Igreja toda, deportando todos os clérigos para a Sibéria. Por isso, ele consagrou bispos de apoio, de "reserva", para assumir caso tal situação se verificasse.

Ele também ordenou homens casados, em primeiro lugar para o rito greco-católico, onde isso é costume. A Igreja greco-católica tinha sido dissolvida pelos comunistas e incorporada à força à Igreja Ortodoxa, e todos os seus bispos haviam sido presos. Muitos dos seus membros tornaram-se mártires, mas alguns escaparam e foram para a clandestinidade. O Koinótés trabalhou em estreita colaboração com eles.
Mais tarde, Davidek também ordenou homens casados de rito latino como sacerdotes "birrituais", que eram autorizados a celebrar em ambos os ritos. Ele consagrou até um bispo casado. Uma das principais razões para essas iniciativas era que as autoridades muito improvavelmente suspeitariam que homens casados fossem padres na católica Morávia de rito latino.

Ordenação de mulheres

Davidek também chegou a ordenar um pequeno número de mulheres. Há já algum tempo, ele vinha discutindo o papel das mulheres na Igreja, nos encontros do Koinótés. Ele estava convencido de que, como as mulheres eram batizadas, distribuíam a Comunhão aos doentes e tiveram o seu lugar como diaconisas na hierarquia da Igreja do primeiro milênio, elas apenas estavam excluídas do sacerdócio por razões históricas e não dogmáticas. Sua principal razão para a ordenar mulheres era pastoral. As mulheres nas prisões femininas – especialmente as religiosas que estavam presas em grande escala e eram muitas vezes expostas a terríveis torturas sexuais – não tinham ninguém para cuidar de suas necessidades espirituais, enquanto que, nas prisões masculinas, geralmente havia vários padres entre os prisioneiros homens.

Em dezembro de 1970, ele convocou um "sínodo pastoral" especial para discutir o papel das mulheres na Igreja, mas, quando ele colocou a ordenação feminina em votação, a metade dos membros do Koinótés que compareceram votaram contra. A questão dividiu a comunidade e se tornou um marco na sua história. Poucos dias depois, no entanto, Davidek ordenou Ludmila Javorová (foto), um membro proeminente do Koinótés, e mais tarde fez dela o seu vigário-geral, cargo no qual ela permaneceu até a sua morte em 1988.

Eu me lembro que discuti a respeito de Dom Davidek e de sua ordenação de homens casados e de mulheres com o arcebispo John Bukovsky, em Viena, no final dos anos 1990. Bukovsky, que hoje está aposentado, me disse que o Vaticano havia lhe enviado a uma missão de investigação na Tchecoslováquia, no verão de 1977. Ele conseguiu falar com Dom Davidek por várias horas, disse ele, e sabia que Davidek havia ordenado homens e mulheres casados. "Fiquei muito surpreso ao ser recebido pela sua vigária-geral, vestida de branco e trajando uma cruz", acrescentou. As ordenações eram ilícitas mas válidas, ele destacou naquele tempo, e disse que Roma havia sido totalmente informada.

As "reordenações"

Quando a Cortina de Ferro caiu em 1989, muitos sacerdotes e bispos ordenados clandestinamente, especialmente os do Koinótés, tinham primeiro grandes esperanças de que Roma lhes permitiria formar uma prelatura pessoal especial, de forma que pudessem continuar seu trabalho. Demorou anos para resolver o seu status de ordenação, já que as ordenações clandestinas raramente eram estabelecidas por escrito. A maior parte deles teve que concordar em ser condicionalmente reordenado, no caso de suas ordenações não serem válidas. Um certo número de padres casados foram depois assumidos pela reestabelecida Igreja greco-católica.

Em 1992, aqueles que se recusaram a ser reordenados foram proibidos de praticar seu ministério sacerdotal sob a ameaça de excomunhão. E em todo esse tempo, é claro, Ludmila Javorová e suas colegas foram completamente ignoradas. Na cerimônia de premiação, ela disse: "O trabalho foi iniciado. Outros devem continuar. Mesmo que o Vaticano considere o assunto encerrado, é minha firme convicção que, em algum momento no futuro, esse dossiê será reaberto".

Durante muitos anos depois de 1989, sempre que eu me encontrava com qualquer um desses padres clandestinos – algo que eu fazia e continuo fazendo regularmente –, eles ainda esperavam contra toda a esperança que Roma mudaria de opinião. Eles me pediam para não publicar entrevistas e se recusavam a criticar os poderes de Roma de qualquer forma que isso pudesse prejudicar a sua causa. Gradualmente, à medida que os mais velhos morriam e seus números diminuíam, eles perceberam que haviam sido entregues à sua sorte. E mesmo assim eles continuaram sendo o que eram desde o início – católicos comprometidos, humildes e fiéis.

Na cerimônia de entrega do prêmio em Viena, o Koinótés de Dom Davidek foi pela primeira vez reconhecido publicamente por aquilo que foi – um valente esforço para assegurar a sobrevivência da Igreja sob perseguição. No seu “laudatio”, o teólogo suíço Hans Küng, professor da Universidade de Tübingen, o professor Hans Jorissen, ex-professor de dogmática da Universidade de Bonn e provavelmente o principal especialista em Igreja clandestina fora da antiga Tchecoslováquia, e o professor Walter Kirchschläger, da Universidade de Lucerna, lamentaram o potencial que se perdera. Como o professor Jorissen disse, "o conceito de uma re-evangelização missionária da República Tcheca, que hoje é um dos países mais secularizados da Europa, poderia ter usado as experiências da Igreja clandestina, que foi, e ainda poderia ser hoje, um modelo para a re-evangelização".

Essa mensagem é repetida em um novo livro sobre a Igreja clandestina da então Tchecoslováquia, Die verratene Prophetie (A profecia traída), editado por Erwin Koller, pelo professor Küng e por Peter Krizan, e publicado em alemão pela editora Exodus, de Lucerna.

Dom Dusan Spiner, que também foi vigário-geral de Davidek, disse na cerimônia de premiação: "O mundo secular não é um continente de bárbaros e pagãos, a quem devemos levar a mensagem do evangelho. Ele é o nosso mundo e a nossa herança, e é nesse mundo que devemos viver com coragem, como uma comunidade da Igreja".

Dom Spiner e Ludmila Javorová foram a Viena para receber o Prêmio da Fundação Herbert-Haag em nome do Koinótés. Eles foram aplaudidos de pé, especialmente quando anunciaram que iriam usar o dinheiro para as comemorações do aniversário de Dom Davidek, que completaria 90 anos em setembro.

Para ler mais:
Extraído de http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=42265 acesso em 11 abr. 2011.

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