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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

PRECISAMOS SER CONDUZIDOS PELO ESPÍRITO SANTO...


PRECISAMOS APRENDER A SER CONDUZIDOS PELO ESPÍRITO SANTO...

Digo, pois: deixai-vos conduzir pelo Espírito, e não satisfareis os apetites da carne”. (Gl 5,16).

A vida natural nos leva ao encontro da morte todos os dias, mesmo que não queiramos; por outro lado, a fé vivida a cada instante nos leva em Cristo Jesus à vida eterna. Esse sempre foi e sempre será o desejo de todo ser vivente, que tem a liberdade de pensar e agir para que a vida seja sempre vida, e por isso, mantém sua fé viva no filho de Deus, que morreu e ressuscitou nos abrando as portas do Reino dos Céus. Ora, mesmo que não tenha fé, ninguém que vive neste mundo deseja a morte ou pensa nela a todo instante; ao contrário, todos, que creem em Deus ou não, desejamos uma vida de saúde, felicidade e paz; a não ser que tudo o que faz da vida o leva morbidamente ao fim.

Em sua carta aos Romanos (cf. Rm 8,1-17), são Paulo, escreve sobre a necessidade que temos de nos deixar conduzir pelo Espírito Santo de Deus, para atingirmos a perfeição desejada pelo Senhor, e que faz parte de seu plano para a nossa salvação. Mas, como podemos ser conduzidos pelo Espírito Santo de Deus, para obtermos tal salvação, nós que vivemos em meio a tantos pecados e tragédias advindas deles, que às vezes nos sentimos até incapazes de crer? Ora, ao longo da história da salvação, encontramos os patriarcas, os profetas, os reis e todos os santos fiéis que, por seguirem Cristo e se moldar à sua perfeita obediência se deixando conduzir pelo Espírito Santo, fizerem em tudo a sua vontade e desse modo nos revelaram como Deus age para realizar o seu plano salvífico em nossa vida, que significa nos levar ao convívio com Ele em sua glória por toda a eternidade. Vejamos por seus exemplos com Deus agiu, mostrando-lhes como deveriam se portar em sua presença desde já para obterem esse seu divino favor.

Em Abraão, Deus nos ensinou que a fé salvífica, nasce do encontro com Ele e da permanência Nele, por uma especial visita Dele à cada um de nós, como aconteceu com Abraão, nosso pai na fé. “A palavra do Senhor foi dirigida a Abrão, numa visão (um toque interior do Senhor), nestes termos: “Nada temas, Abrão! Eu sou o teu protetor; tua recompensa será muito grande”. Abrão confiou no Senhor, e o Senhor lho imputou para justiça”. (Gn 15,1.6). Ora, o Senhor é perfeitíssimo em todas as suas obras, ninguém escapa ao seu chamado, à sua visita, até mesmo aqueles que o negam (cf. Is, 40,26). Isto porque Deus “deseja que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade”. (1Tm 2,4). À Abraão e à sua posteridade na fé, Deus revelou que a sua salvação se estenderia sobre todas as nações e assim aconteceu (cf. Gn 17,1-6).

Em Moisés, Deus nos deu a lei perfeita da liberdade, o conhecimento da verdade escrita em tabuas de pedra e nos corações, e assim fez uma aliança de amor com todos fiéis de todos os tempos, e a selou com estes santos mandamentos, de tal modo que seguir os santos mandamentos é seguir o Senhor mesmo. Já em todos os profetas, Deus revelou a ação direta do Espírito Santo, como rezamos no credo: “Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida e procede do Pai e do Filho e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado, Ele que falou pelos profetas”. Por isso, as profecias se cumpriram e se cumprirão até o final dos tempos.
Em Maria, Mãe de Jesus, Deus fez-se cumprir todas as promessas e profecias que havia feito aos seus antepassados no Antigo Testamento; e o Espírito Santo, terceira Pessoa da Santíssima Trindade, foi esse regente eterno que realizou o Magnificat do Senhor em sua pobre serva, por isso, “todas as gerações a proclamarão bem-aventurada”, porque o Senhor lhe fez grandes coisas, como o anjo mesmo lhe disse: ”O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus”. (Lc 1,35). Pois, como o fez Abraão, ela também acreditou e Deus se fez Carne em seu ventre santo e habitou entre nós. (cf. Lc 1,26-38).

Por fim, Jesus atribuiu ao Espírito Santo todas as suas Palavras e ações e o chamou de dedo de Deus (cf. Lc 11,20; Mt 12,28;Ex 31,18). E ainda nos confidenciou: “Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas, porque vou para junto do Pai. E tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, vo-lo farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Qualquer coisa que me pedirdes em meu nome, vo-lo farei”. (Jo 14,12-14). Também disse, quando formos perseguidos por sua causa: ”Gravai bem no vosso espírito de não preparar vossa defesa, porque eu vos darei uma palavra cheia de sabedoria, à qual não poderão resistir nem contradizer os vossos adversários”. (Lc 21,15). Por sua vez, São Paulo, falando sobre nossas orações, escreveu: “Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza; porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis. E aquele que perscruta os corações sabe o que deseja o Espírito, o qual intercede pelos santos, segundo Deus”. (Rm 8,26-27).

Em suma, recebemos o Espírito Santo no Sacramento do Batismo (cf. Jo,3,3.7) para sermos conduzidos por Ele sempre (cf. Gl 5,16-17), por isso, precisamos aprender a ouvir o Espírito Santo em nós, como o ouviam os patriarcas, os profetas, Jesus e os apóstolos e todos os que seguem o Senhor no caminho da vida eterna (cf. At 5,32; Jo 15,26-27). Pois, de fato, se nos deixarmos conduzir pelo Espírito Santo de Deus, seremos herdeiros do Reino dos Céus, porque é para o Reino que Ele está nos conduzindo (cf. Rm 8,9-17). Pois o Espírito é a Verdade e nos ensina toda a verdade a respeito de Cristo que nos dá a vida eterna (cf. Jo 16,13-15; 3,16-21).

Paz e Bem!

Frei Fernando Maria,OFMConv.
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terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

QUANDO O QUE VIVEMOS É ENCONTRO COM CRISTO, A VIDA NÃO É MAIS A MESMA, PORQUE EM CRISTO A VIDA É ETERNA...


QUANDO O QUE VIVEMOS É ENCONTRO COM CRISTO, A VIDA NÃO É MAIS A MESMA, PORQUE EM CRISTO A VIDA É ETERNA...

Todas as criaturas são o que são, menos o ser humano, por causa de sua liberdade-racionalidade, que se traduz no poder de decidir seu querer e executar, e com isso definir o seu devir. Na obra da criação, existe uma divina sincronia-harmonia, tudo foi criado somente para o bem de todos; no entanto, quando não vivemos essa sincronia-harmonia como ela é, a realidade é transformada por nós para algo desarmonioso e perverso, e a nossa situação, por vezes, torna-se devastadora e até desafiadora da fé num Deus que é Senhor da criação e tem todo poder sobre o céu e sobre a terra. Ora, isso tudo constatamos em todas as camadas de nossa sociedade; chega a ser constrangedor o desequilíbrio social no qual estamos mergulhados, por falta da vivência dessa sincronia-harmonia que Deus nos dá por meio da fé e de sua presença no meio de nós.

Com efeito, na atual circunstância porque passa a humanidade, será que os homens não percebem a presença de um espírito maligno, que domina aqueles que praticam toda espécie de maldade? Eles ofendem a tudo e a todos, nos lançando em precipícios cada vez mais horrendos. De fato, precisamos urgentemente mudar esse situação; mas, será que conseguiremos do jeito que estamos vivendo? Creio que por nós mesmo seja impossível, dada à decadência de valores humanos e o esfriamento da fé. Todavia nem tudo está perdido, porém, só temos uma saída, o encontro com Jesus Cristo e a permanência nele, que é fundamental para vencermos o mal, que tenta espalhar sua maldade em nosso meio como uma epidemia sem controle.

No evangelho de São João, nós lemos o seguinte: “Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado; por que não crê no nome do Filho único de Deus. Ora, este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz, pois as suas obras eram más. Porquanto todo aquele que faz o mal odeia a luz e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas aquele que pratica a verdade, vem para a luz. Torna-se assim claro que as suas obras são feitas em Deus”. (Jo 3,16-21). Assim, depois de meditarmos estas palavras, o que mais podemos pensar ou dizer?

Na verdade, precisamos ouvi-las com a máxima atenção e pô-las em prática de imediato, pois, sem esse encontro com Cristo, não há nada de bom, porque somente no encontro e permanência em Cristo Jesus é que a vontade de Deus se realiza totalmente em nossa vida. De fato, Jesus assumiu todas as compreensões e condições humanas, até mesmo a sensação de abandono por parte do Pai, por isso, olhando o sofrimento, a morte e a ressurreição do Filho de Deus, ninguém pode dizer que Deus não nos ama ou que nos abandona, porque, na verdade, é Ele que sofre conosco o martírio temporal que sofremos em nossa carne, como sofreu com seu Filho Jesus Cristo, para nos dar o que há de mais precioso em seu amor, a vida eterna.

Logo, crer na vida eterna que Deus nos dá por meio do Filho Jesus Cristo, não é quimera, é a única verdade que nos liberta, a nós simples mortais. De que adianta ser o que somos, ter o que temos, viver o que vivemos, se tudo isso se resumir a uma cova rasa ou um pote de cinzas e nada além disso? A vida foi nos dada como prova de amor, mas ela só será tirada àqueles que não quiseram amar. Porque quem ama não morre, permanece em Deus que é Amor. Quando o que pensamos e fazemos é a vontade de Deus, expressa em seus mandamentos e nos ensinamentos de Jesus Cristo e de sua Igreja, isto é a verdade que nos salva e nos leva à mesma santidade do Filho de Deus. Mas, o que é a santidade? É a vontade de Deus para todos (cf. Mt 5,48); e mesmo que os homens não queiram uma vida de santidade, por suas obras más, esta permanece a vontade de Deus para todos, pois Deus é Santo e comunica a sua santidade à todos que lhe obedecem.

Destarte, o amor que brota do encontro com Cristo é um amor diligente, zeloso, que cuida e se doa totalmente, que compreende sempre sem nada exigir. É como escreveu, São Paulo: “O amor é paciente, o amor é bondoso. Não tem inveja. O amor não é orgulhoso. Não é arrogante. Nem escandaloso. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acabará”. (1Cor 13,4-8). Portanto, quem encontra Jesus Cristo e Nele permanece, tem a vida eterna desde já, para além de tudo o que há neste mundo.

Paz e Bem!

Frei Fernando Maria,OFMConv.
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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A CRUZ, NÃO SE ENTENDE, SE VIVE...


ATÉ AS ÚLTIMAS CONSEQUÊNCIAS...

Por seu Filho, Jesus Cristo, Deus fez uma profícua aliança de amor conosco; Ele se deu à nós totalmente, para também nós nos darmos a Ele totalmente e assim formamos uma só comunidade de amor, que comporta o seu plano de salvação para as suas criaturas. Ora, nesse encontro amoroso, o mistério divino começa a ser desvendado em nós, e assim nos tornamos para o Senhor agentes de transformação da obra da criação, e somos amados por Ele até a última gota do Sangue de Seu Filho, derramado para o perdão dos nossos pecados, até que atinjamos a perfeição desejada por Ele que assim nos amou primeiro.

Quando o Senhor nos diz: “Sede santos como o vosso Pai celeste é Santo”. (Mt 5,48); Ele está dizendo que, como “imagem e semelhança de Deus”, potencialmente, todos somos santos ao infinito; é como a semente que já traz nela potencialmente a plenitude de milhões de plantas, flores, frutos e grãos e a saciedade das necessidades da natureza à qual se destina, isto é, ela traz em si o propósito divino de perfeição que lhe cabe; mas para isto, é preciso que ela morra, pois: “se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto”. (Jo 12,24). Ou seja, a semente que não morre, não ressuscita, não tem vida, ela é só presença fútil; pelo contrário, a que morre produz fruto cem por um, porque plantada na terra boa da redenção.

A nossa experiência de Deus se fundamenta em sua visita, ou seja, em seu toque especial em nossa alma, como uma espécie de êxtase espiritual que nos envolve e cresce à medida que o cultivamos com o empenho de quem busca a verdadeira santidade de vida. Mas é preciso que queiramos receber esse toque especial do Senhor por meio da fé, que está impressa em nossa alma; assim como está impresso em nosso corpo o nosso código genético. E como se dá esse toque divino? Cada um o experimenta de acordo com a sua realidade, todavia, na maioria ele se dá pela cruz, que consiste em uma espécie de esvaziamento total, quando nos sentimos sós e a dor nos toma por demais, a exemplo de Cristo na cruz: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" (Mt 27,46). Ou seja, na cruz Jesus deixa Deus livre a ponto de sentir-se até abandonado por Ele; porém, não deixa de fazer o seu maior ato de amor e doação: "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito" (Lc 23,46). De fato, na cruz, Jesus não tem mais nada, tiraram-lhe tudo até mesmo a própria vida, mas não puderam tirar a sua dignidade, a sua liberdade de amar e dizer sim ao Pai. Então, o que é o amor? O amor é isso, deixar o outro livre para decidir amar ou não, mas nunca abrir mão de amar até as últimas consequências, ou seja, por meio da obediência incondicional.

Na vida Deus nos ama assim, até as últimas consequências e nos deixa livres para amá-lo ou não, porém, nos diz: “filho tu podes me amar ou se tornar um demônio, mas tu nunca poderás esquecer que eu te amo, e por isso te perdoou sempre, mesmo que não aceites o meu perdão e o meu amor, como o fazem os demônios”. Portanto, caríssimos, a cruz não se entende, se vive, mesmo que não queiramos; todavia, quer queira quer não, um dia este mundo será passado a limpo; felizes os filhos e filhas de Deus que nunca rejeitaram o seu amor. Pois: ”É como está escrito: Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (cf. Is 64,4), tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam”. (1Cor 2,9).

Paz Bem!

Frei Fernando Maria,OFMConv.
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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

ASSIM É A OBRA DO SENHOR EM NOSSA VIDA...



ASSIM É A OBRA DO SENHOR EM NOSSA VIDA...


Senhor, para quem te segue fielmente...
A graça maior é não se perder,
porque és o caminho da perfeição,
tão desejada por toda humana criatura...

Senhor,
quem ouve as tuas palavras e as põe em prática,
Sabe que se torna tua morada...
E morada do Pai que nos ama...
Como o disseste no Evangelho de São João (cf. Jo 14,23).

Senhor é tão maravilhoso te ouvir e te seguir...
Que quem assim o faz,
nunca deixa de ser feliz
nem de carregar a tua paz...

E o que dizer da consagração total a Ti?
E do devir que preparas
para os eleitos dessa tua jornada definitiva
como herança infinita porque te amaram e acreditaram em ti?

Ó Senhor, quão feliz é quem te ama...
Quem mantém acesa a chama do Espírito Santo
Em seus corações...
Esses não esmorecem, porque se deixam conduzir...
Por teu Espírito e o seu santo modo de agir...

Ora, o Espírito Santo unge,
quem não se sente abrasado?
O Espírito Santo age,
quem não vê as obras de Deus?
O Espírito Santo inspira,
quem não há de falar?

A vida em Deus é assim...
Toda escuta...
Toda obediência...
Toda amor...
Assim é a obra do Senhor em nossa vida...
Para a nossa salvação...

Paz e Bem!

Frei Fernando Maria,OFMConv.

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LA MIA ANIMA CANTA

''A Igreja está distante demais dos fiéis, mas os inovadores são maioria''. Entrevista com Hans Küng

''A Igreja está distante demais dos fiéis, mas os inovadores são maioria''. Entrevista com Hans Küng

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

A LÓGICA DO AMOR...


A LÓGICA DO AMOR...

“Deus é amor”. (1Jo 4,8).

O amor ama mesmo quando não é amado, porque o amor é o próprio Deus; creio que atualmente poucas pessoas têm esse entendimento sobre o amor; isto porque para muitos o amor é apenas um sentimento, quando na verdade ele é a essência da vida, e tudo o que não é movido por ele, não perdura por muito tempo. Ora, não há felicidade onde o amor não é amado, onde o amor não é vivenciado ou cultivado pelas almas apaixonadas, que desapegadas das coisas que passam, abraçam fervorosamente as que não passam.

Quem ama de verdade só ama porque experimenta o amor de Deus; não existe amor onde Deus não se faz presente; mas, onde Deus não se faz presente? No coração daqueles que o negam com suas palavras e/ou suas atitudes e obras. Uma alma que nega Deus jaz na morte, porque quem não ama a Deus, não o conhece e nem se deixa amar por Ele que é Vida Eterna. Certa feita, uma pessoa de quem não fiz sua vontade carnal me insultou, dizendo: eu te odeio. Ao que lhe respondi: já sei por que és infeliz, porque não amas. Ela então me disse: eu não amo você, mas amo outras pessoas. Novamente lhe respondi: não pode uma mesma fonte jorrar água podre e água pura; o amor é água cristalina; o ódio é lama pútrida que envenena a alma e mata todos os desejos de felicidade que se almeja nesta vida. E novamente me disse ela, depois de certo tempo em silêncio: sabes que tens razão! De fato, não existe amor nem felicidade sem Deus, isto porque Deus é o único Amor que gera a felicidade eterna.

Escrevendo sobre o amor, assim se expressou São João: ”Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo o que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em nos ter enviado ao mundo o seu Filho único, para que vivamos por ele. Nisto consiste o amor: não em termos nós amado a Deus, mas em ter-nos ele amado, e enviado o seu Filho para expiar os nossos pecados. Caríssimos, se Deus assim nos amou, também nós nos devemos amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus. Se nos amarmos mutuamente, Deus permanece em nós e o seu amor em nós é perfeito”. (1Jo 4,7-12).

Também São Paulo escreveu uma das páginas mais linda da Bíblia sobre o amor, que se tornou um hino ao amor, ele o começa dizendo: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver amor, não sou nada. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, de nada valeria! O amor é paciente, o amor é bondoso. Não tem inveja. O amor não é orgulhoso. Não é arrogante. Nem escandaloso. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acabará”. (1Cor 13,1-8a).

Então, qual é a lógica do amor? O amor não precisa de lógica para se expressar, porque tudo o que existe, existe como expressão do amor de Deus. A falta de lógica é não amar a Deus sobre todas as coisas, é não corresponder ao Seu Amor Eterno. É por isso que a maior parte dos homens vive mergulhada no inferno, porque deixou de amar, a Deus primeiramente, e ao próximo como a si mesmo.

Paz e Bem!

Frei Fernando Maria,OFMConv.

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Os Salmos: a anatomia da alma humana

Os salmos constituem uma  das formas mais altas de oração que a humanidade produziu. Milhões e milhões de pessoas, judeus, cristãos e religiosos de todas as tradições, dia a dia, recitam e cantam salmos, especialmente os religiosos e religiosas e os padres no assim chamado “ofício das horas”diário.

David tocando harpa.
Saltério Egbert. ca. 980d.C.
Não sabemos exatamente quem seus autores, pois eles recolhem as orações que circulavam no  meio do povo. Seguramente muitos são de Davi (século X a.C). É considerado, por excelência, o protótipo do salmista. Foi pastor, guerreiro, profeta, poeta, músico, rei e profundamente religioso. Conquistou o Monte Sion dentro de Jerusalém e lá, ao redor da Arca da Aliança, organizou o culto e introduziu os salmos.

Quando se diz “salmo de Davi” na maioria das vezes significa: “salmo feito no estilo de Davi”. Os salmos surgiram no arco de quase mil anos, nos lugares de culto e recitados pelo povo até serem recopilados na época dos Macabeus no século II.a.C. O saltério é um microcosmo histórico, semelhante a uma catedral da Idade Média, construída durante séculos, por gerações e gerações, por milhares de mãos e incorporando as mudanças de estilo arquitetônico das várias épocas. Assim há salmos que revelam diferentes concepções de Deus, próprias de certa época, como aqueles, estranhas para nós, que expressam o desejo de vingança e o juízo implacável de Deus.

Os salmos testemunham a profunda convicção de que Deus, não obstante habitar numa luz inacessível, está em nosso meio, morando como que numa tenda (shekinah). Podemos chegar a Ele, em súplicas, lamentações, louvores e ações de graças. Ele está sempre pronto para escutar.

O lugar denso de sua presença é o Templo onde se cantam os salmos. Mas como Criador do céu e da terra, está igualmente em todos os lugares, embora nenhum possa contê-lo.

Com razão, se orgulhavam os hebreus dizendo: “ninguém tem um Deus tão próximo como nós”! Próximo de cada um e no meio de seu povo. Os salmos revelam a consciência da proximidade divina e do amparo consolador. Por isso há neles intimidade pessoal sem cair no intimismo individualista. Há oração coletiva sem destituir a experiência pessoal. Uma dimensão reforça a outra, pois cada uma é verdadeira: não há pessoas sem o povo no qual estão inseridas e não há povo sem pessoas livres que o formam.

Ao rezar os salmos, encontramos neles a nossa radiografia espiritual, pessoal e coletiva. Neles identificamos nossos estados de ânimo:  desespero e alegria, medo e confiança, luto e dança, vontade de vingança e  desejo de perdão, interioridade e fascinação pela grandeza do céu estrelado. Bem o expressou o reformador João Calvino (1509-1564) no prefácio de seu grandioso comentário aos salmos:

“Costumo definir este livro como uma anatomia de todas as partes da alma, porque não há sentimento no ser humano que não esteja aí representado como num espelho. Diria que o Espírito Santo colocou ali, ao vivo, todas as dores, todas as tristezas, todos os temores, todas as dúvidas, todas as esperanças, todas as preocupações, todas as perplexidades até as emoções mais confusas que agitam habitualmente o espírito humano”.

Pelo fato de revelarem nossa autobiografia espiritual, os salmos representam a palavra do ser humano a  Deus e, ao mesmo tempo, a palavra de Deus ao ser humano. O saltério serviu sempre como  livro de consolação e fonte secreta de sentido, especialmente quando irrompe na humanidade o desamparo, a perseguição, a injustiça e a ameaça de morte. O filósofo francês Henri Bergson (1859-1941) deu este insuspeitado testemunho:”Das centenas de livros que li nenhum me trouxe tanta luz e conforto quanto estes poucos versos do salmo 23: O Senhor é meu pastor e nada me falta; ainda que ande por um vale tenebroso, não temo mal nenhum, porque Tu estás comigo”.

Um judeu, por exemplo, cercado de filhos, era empurrado, para as câmaras de gás em Auschwitz. Ele sabia que caminhava para o extermínio. Mesmo assim, ia recitando alto o salmo 23: “O Senhor é meu pastor…Ainda que eu ande pela sombra do  vale da morte, nenhum mal temerei, porque Tu estás comigo”. A morte não rompe a comunhão com Deus. É passagem, mesmo dolorosa, para o grande abraço infinito da paz eterna.

Por fim, os salmos são poesias religiosas e místicas da mais alta expressão. Como toda poesia, recriam a realidade com metáforas e imagens tiradas do imaginário. Este obedece a uma lógica própria, diferente daquela da racionalidade. Pelo imaginário, transfiguramos situações e fatos detectando neles sentidos ocultos e mensagens divinas. Por isso dizemos que não só habitamos prosaicamente o mundo, colhendo o sentido manifesto do desenrolar rotineiro dos acontecimentos. Habitamos também poeticamene o mundo, vendo o outro lado das coisas e um outro mundo dentro do mundo de beleza e de  encantamento.

Os salmos nos ensinam a habitar poeticamente a realidade. Então ela se transmuta num grande sacramento de Deus, cheia de sabedoria, de admoestações e de lições que tornam mais seguro nosso peregrinar rumo à Fonte. Como bem diz o salmista: “quando caminho entre perigos, tu me conservas a vida…e estás  até o fim a meu favor” (Salmo 138, 7-8).

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