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terça-feira, 31 de agosto de 2010

O QUE SERÁ DE TI POR TODA A ETERNIDADE?


O QUE SERÁ DE TI POR TODA A ETERNIDADE?

Canto com o coração em festa...
Esse meu canto brota do mais profundo de meu ser...
Ele é fruto do viver em contemplação...
Visão de minha alma absorta...
Tomada pela graça do novo que há de vir...
Mas que desde aqui o Senhor me faz experimentar...

Como não contemplar, Senhor, esse teu infinito amor?
Como não silenciar para admirar essa Tua Beleza Infinda?
E como não transpor os limites da criação...
para glorificar-Te em reverente louvação por tudo isso?
Realmente, só existe Tu e Tua obra indo ao Teu encontro...
E não posso pensar diferente...
Porque pensar diferente...
é não crer no infinito presente aos nossos olhos...

Por isso, Senhor, não me detenho na matéria que vejo...
Porque o meu desejo me impulsiona ir além...
Também não posso prender-me...
aos limites de minha razão que nem tudo compreende...
Porque assim seria eu o único critério para tudo que há...
Ora, mas tudo que há não depende de mim;
Nós é que dependemos de Ti...
Isso sim é a verdadeira evidência...

Logo, me desprendo de meus conceitos ou evidências naturais...
quando elas não me levam à Ti...
Quando negam o teu amor presente em mim e em toda criação...
Latente em cada pulsar do meu coração...
em cada respirar e expirar de meus pulmões, onde me dizes:
Sou Eu, Teu Deus, que te dou a vida a cada instante...

Como é maravilhoso Senhor compreender tudo isso...
Crer e saborear com afinco o teu paraíso...
muito antes ainda do juízo final...
É que o teu Espírito Santo...
revela aos eleitos os efeitos da graça da salvação...
lhes dando, pela contemplação,
a visão do Reino dos céus...

Por outro lado é triste observar...
quão perdida é a vida das almas...
que buscam tão somente as satisfações passageiras...
De fato, não creem e por isso não entendem nada...
no que diz respeito às coisas eternas...
Porque estão presas nas trevas das próprias concupiscências...
Nas maledicências e confusões;
nas torturas e amarguras psíquicas
de seus corações entorpecidos...
Empreendidos de pensamentos e sentimentos vãos...

Tais almas estão sufocadas...
pelo torpor das enlouquecidas paixões...
que as alicia e as atrai às perdidas ilusões...
onde encontram somente a morte e nada mais...

Ó almas enfraquecidas, cambaleantes,
intumescidas de si mesmos...
Infernizadas pelos apegos materiais...
Dominadas pelos instintos carnais...
Pelo ódio horripilante...
Incapazes de qualquer bem,
Porém, capazes de todo mal...

Mesmo assim, vindes à mim...
Vinde, com o tempo que te resta...
Volta para a festa dos arrependidos...
transformados, convertidos...
Como o filho pródigo da parábola...

Vinde, vedes o tempo que ainda te dou...
Vinde provar do meu amor...
Essa é a última hora...
Esse é o meu último chamado...
Porque, depois de tudo que o que sofri por ti,
se não voltares para mim...
O que será de ti por toda a eternidade?

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Comunicando: Curso de Aprofundamento em ecumenismo

Comunicando: Curso de Aprofundamento em ecumenismo: "Olá Juventudes Latinoamericanas!! '...e os jovens terão visões..' (Joel 2, 28)É com alegria que convidamos a todos e todas para participar d..."

Blog do Serviço de Animação Vocacional OFMRS

Blog do Serviço de Animação Vocacional OFMRS

O TEMPO E O FIM













O TEMPO E O FIM

Começo a enxergar o tempo findando...
E todos, todos mesmos,
sem o tempo que nos foi confiado...
Não restando nem mais um segundo sequer...

E já que o tempo que nos foi dado...
Foi, quem sabe, pouco ou quase nada bem aproveitado...
Como será o nosso depois?
Pois o tempo passado,
não pode ser recuperado...
porque já se foi...
A não ser que antes tenha havido conversão de fato...

Nossa! Que sufoco,
creio que talvez não atentamos pra isso...
E agora só o precipício do tempo perdido está à nossa frente...
Como um de repente...
ou mesmo um propósito do próprio tempo a nos dizer:
Tudo tende ao um fim, até eu...
E porque não soubeste me aproveitar bem...
O que será de ti alma estressada...
ao gastar-me sem critérios de nada...
sem te dar de mim o melhor?

Realmente, tem muita gente perdendo tempo...
E o pior de tudo, fazendo o que não deve...
Multiplicando, com isso,
as dores dessa nossa humanidade...
Que na verdade,
já está vivendo o inferno temporal...
pelas maldades praticadas...
Eivadas de toda perdição...

E porque não aproveitaram para o bem...
a vida e o tempo que Deus lhes deu...
Nada de bom sobrou...
Porque o que restou só serva para a proliferação do mal...
Assim são os que se acham donos da vida e do tempo...
Que aumentaram suas fortunas corruptas...
às custas de miseráveis multidões...

E pra que servirão tais fortunas materiais
ao término do tempo que lhes foi dado?
Servirão de provas contra seus malogrados intentos...
Porque não passam de infernais excrementos...
a lhes fustigar seus perversos juízos banais...

...
“Não vos enganeis: de Deus não se zomba. O que o homem semeia, isso mesmo colherá. Quem semeia na carne, da carne colherá a corrupção (e a morte); quem semeia no Espírito, do Espírito colherá a vida eterna”. (Gal 6,7-8).
...

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.


domingo, 29 de agosto de 2010

Francisco e o estudo acadêmico

Talvez a mais clara e firme intervenção de Francisco sobre os estudos tenha acontecido por ocasião de uma assembléia de cerca de 5 mil frades em Assis (11.6.1223). Entre os frades, muitos deles notáveis por seu saber e grau de instrução, encontrava-se também o cardeal Hugolino, cardeal-referência ou protetor da Ordem e, pouco depois, Papa Gregório IX. Na ocasião, um grupo de frades, ao que tudo indica composto pelos aludidos doutos e por ministros provinciais, dirigiu-se ao cardeal Hugolino, rogando que intercedesse junto a Francisco a fim de que este concordasse em introduzir na Regra de vida elementos das normas de vida de São Bento, de Santo Agostinho, de São Bernardo.

Ouvida a peroração e tomando o cardeal pela mão, Francisco dirigiu-se à multidão de frades reafirmando-lhes redondamente que "o Senhor convidou-me a seguir a vida da humildade e mostrou-me o caminho da simplicidade"; que este mesmo Senhor o queria qual "um novo louco no mundo". É por meio desta sabedoria que Ele nos quer conduzir, afirmava. Contraponto a supraproclamada simplicidade a possíveis pretensões de doutos, arremata: "Pela vossa ciência e sabedoria, Ele vos confundirá". Não é difícil imaginar a reação dos ouvintes(..).

Se, por um lado, como acima foi aludido, assinalamos a prevenção de Francisco em relação aos estudos, por outro, é evidente que esta prevenção não se refere ao estudo propriamente dito, mas sim, à postura dos frades em relação ao mesmo. Na verdade, era o modo como os frades poderiam conceber o estudo que estava diretamente ligado à limpidez, seja da escola de Francisco, ou seja, em última instância, da escola de Jesus Cristo. Por outro lado, embora Francisco "não tivesse tido nenhum estudo", tinha o bom senso do comerciante.

Foi este bom senso que o ajudou a buscar e a reter o essencial. Com efeito, iluminado pela luz eterna e através de assídua leitura, audição e memorização de textos bíblicos, "penetrava os segredos dos mistérios, e, onde ficava fora a ciência dos mestres, entrava seu afeto cheio de amor". Resumindo esta intuição do essencial, dizia Francisco, pelo final da vida, a um frade, que tinha aprendido tanta coisa na Bíblia que já lhe bastava meditar e recordar: já sei que o pobre Cristo foi crucificado. Desejava um conhecimento profundo, vale dizer, "da medula e não da casca, do conteúdo e não do invólucro, não das muitas coisas, mas daquele bem que é o grande, o maior, o estável".

Se Francisco, por um lado, exigia dos literatos, juristas, teólogos, pregadores e doutos em geral que, ao ingressar na Ordem, renunciassem à própria ciência para se apresentarem inteiramente disponíveis ao Crucificado, manifestava, por outro, o maior apreço aos mesmos doutos, bem como a outros sábios. E de se notar que em seus Escritos só apareça uma única vez o termo "teólogo". Mas aparece em sentido positivo: "a todos os teólogos e aos que nos ministram as santíssimas palavras divinas devemos honrar e venerar, como a quem nos ministra espírito e vida".

Finalmente, um texto expressivo para indicar a atitude de Francisco em relação aos estudos: a brevíssima carta, quase bilhete, dirigida a Santo Antônio: "Eu, Frei Francisco, saúdo a Frei Antônio, meu bispo. Gostaria muito que ensinasses aos irmãos a sagrada teologia, contanto que nesse estudo não extingas o espírito da santa oração e da devoção, segundo está escrito na Regra".

Aqui, Francisco manifesta sua satisfação, através da expressão: meu bispo dirigida a Santo Antônio e da outra: placet - me apraz, gosto, me alegro, aprovo. O motivo da satisfação de Francisco estaria no seguinte: em Santo Antônio, teria acontecido a admirável confluência do sábio e do teólogo, do santo e do homem de ciência, do ideal e de sua concatenação às exigências práticas da vida ao estudo, portanto. A cláusula condicionante contanto que está em perfeita sintonia com a ambigüidade ou tentação que Francisco percebia poder esconder-se no estudo ou no saber.

Portanto, do ponto de vista da sabedoria ou do "espírito do Senhor" ou da inspiração de Francisco não se trata de uma cláusula restritiva. Ela coloca, sim, o estudo que se deseja em relação à atitude do estudioso, em relação de servo da sabedoria, em outras palavras, em relação à promoção da vida. A mesma ressalva consta na Regra onde, com respeito ao trabalho (embora não especificado, se braçal ou intelectual), se estabelece a mesma ressalva.

Em suma, em relação à ciência e aos estudos, na função acima lembrada, podemos constatar o seguinte: Francisco os apoiou, seja acolhendo pessoas eruditas na fraternidade, seja acolhendo os serviços que estavam em condições de prestar (elaboração da Regra, funções administrativas da Ordem), seja reverenciando as pessoas doutas, seja alegrando-se pela teologia que Santo Antônio se dispôs ministrar em Bologna.

Não se portou, porém, como um incentivador ingênuo. Expressou prevenção e cautela, compreensíveis a partir da percepção que ele tinha da ambigüidade do uso da ciência e dos estudos. Ambigüidade, não pela ciência ou pelo estudo em si mesmos, mas por aqueles que neles estariam envolvidos.

Como lembramos, o próprio Francisco estudou, no sentido de se ter dedicado, de se ter consagrado durante toda vida a uma busca e a uma fruição do Amor. A própria Sagrada Escritura lhe forneceu os meios para conhecer, admirar e amar a ciência sagrada. Pressentia, porém, o risco que o estudo, que a busca do saber - também bíblico ou teológico-pastoral - poderia acobertar: ser utilizado como um umento de domínio, de orgulho, de poder, de distinção de classes, de discriminação social - poder que se torna cego em relação ao ideal de simplicidade, de pobreza, de fraternidade e que, enfim, o menospreza. Isto significa que Francisco, embora tivesse apreço pelo saber e por seus caminhos, relativizava tanto a um a outro em função da sabedoria do viver.

O fato de relativizar a importância de conhecimentos acadêmicos como instrumento essencial para a evangelização significa questionar a fundo algumas tendências eclesiais do tempo que consideravam a ciência como chave e arma para governar a Igreja, iluminar as inteligêcias e lutar contra os hereges. A postura de Francisco é questionadora e iluminadora ao mesmo tempo, tanto no âmbito secular como religioso, tanto para ontem para hoje.

Talvez hoje em dia se tenha até melhores condições para avaliar tanto os motivos de regozijo como de precaução de Francisco devido à magnitude de situações sociais e ecológicas de risco, frutos, não de um uso sábio do saber, mas do abuso do mesmo. Francisco navegava com liberdade nas águas das mediações: "ia direta, espontânea e vitalmente à realidade".

Portanto, estas alusões parecem demonstrar ou sugerir que Francisco foi um criador de cultura, foi à fonte e trouxe o eternamente novo e antigo. Por isso, descortina horizontes. A Escola Franciscana nele se inspira. Pensa e traduz na cultura de cada tempo e em sistema filosófico-teológico sua inspiração. A ele deve a existência.

Texto do livro "Herança Franciscana"; capítulo "Os franciscanos e a ciência", de Frei Elói Dionísio Piva, ofm

Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/especiais/2010/mesdabiblia/10.php acesso em 23 ago. 2010.
Ilustração: Septem artes liberales from "Hortus deliciarum" of Herrad von Landsberg. ca. 1180. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Septem-artes-liberales.jpg acesso em 23 ago. 2010.

sábado, 28 de agosto de 2010

O Evangelho como ponto de partida

Por Frei Atílio Abati

Francisco parte do Evangelho, para reconstruir a vida, e parte da vida, para confrontar-se com o Evangelho. Esta opção e escolha não seria apenas viver o Evangelho, acolhê-lo em sua vida, mas também anunciá-lo ao seus irmãos.

Novamente, em seu Testamento, Francisco escreve: "E depois que o Senhor me deu irmãos, o Senhor mesmo me revelou que eu devia viver segundo a forma do Santo Evangelho" (Test 4,14).

Francisco tinha clareza quanto à sua missão: o primeiro movimento é acolher a palavra de Deus, embeber-se dela, aprofundá-la na vida, confrontar-se com ela, para ser luz no caminhar e vigor no viver. E depois, levá-la e transmiti-la ao povo de Deus.

E assim, seu dinamismo missionário impele-o a ir ao encontro de todos os homens. Diante do envio e da missão, ele sente a paixão que tem pelo anúncio da Boa Nova.

Ele sente a vocação missionária a que Deus o chamou e sente-se feliz e realizado em ser o bom samaritano a difundir esta mensagem, não só aos leprosos, mas à humanidade toda.

Extraído do livro "Francisco, um encanto de Vida", Editora Vozes

Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/especiais/2010/mesdabiblia/05.php acesso em 23 ago. 2010.
Ilustração: Evangelistar von Speyer, um 1220 ; Manuscript in the Badische Landesbibliothek, Karlsruhe, Germany ; Cod. Bruchsal 1, Bl. 1v ; Shows Christ in vesica shape surrounded by the "animal" symbols of the four evangelists. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Codex_Bruchsal_1_01v_cropped.jpg acesso em 23 ago. 2010.

VENCENDO AS BATALHAS


VENCENDO AS BATALHAS

Sem dúvida, aqui neste mundo, empreendemos uma batalha espiritual terrível que terá o seu desfecho final na eternidade, onde veremos o resultado de todas as lutas aqui travadas. E nessa batalha o primeiro inimigo a ser vencido chama-se “EU”; é como escreveu São Francisco de Assis na décima admoestação: “O pior inimigo do homem é ele mesmo; vence-te a ti mesmo e vencerás todos os inimigos visíveis e invisíveis”. Porém, não nos esqueçamos, por nós mesmos nada podemos nada somos; a nossa força vem do Senhorio de Jesus em nossa vida. É como Ele mesmo disse: “Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim também vós: não podeis tampouco dar fruto, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer”. (Jo 15,4-5).

Após o vencimento de nós mesmos pela nossa permanência no “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, é a vez de justamente vencermos o pecado do mundo “que consiste em não crer em Cristo” (Cf. Jo 16,9), pois, todo aquele que diz que crê em Cristo, deve viver como Ele viveu (Cf. 1Jo 2,6), ou seja, fazendo em tudo a Vontade de Deus Pai (Cf. Jo 5,30). E como faremos em tudo a Vontade do Pai? Primeiro permanecendo em Cristo pela obediência aos Mandamentos (Cf. 1Jo 5,1-5); depois, evitando todas as formas de pecado como escreveu São João (Cf. 1Jo 2,1-2), pois, no pecado se encontra a derrota dos homens, porque pecar é ceder terreno ao inimigo de nossas almas, o demônio, que anda a espreita (Cf. 1Ped 5,8-9a) esperando uma brecha pecaminosa em nossa vida para empreender seu plano maléfico de perdição.

Com efeito, disse São Paulo nos alertando com que armas vencemos o inimigo de nossas almas: “Irmãos, fortalecei-vos no Senhor, pelo seu soberano poder. Revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do demônio. Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares. Tomai, portanto, a armadura de Deus, para que possais resistir nos dias maus e manter-vos inabaláveis no cumprimento do vosso dever. Ficai alerta, à cintura cingidos com a verdade, o corpo vestido com a couraça da justiça, e os pés calçados de prontidão para anunciar o Evangelho da paz. Sobretudo, embraçai o escudo da fé, com que possais apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Tomai, enfim, o capacete da salvação e a espada do Espírito, isto é, a palavra de Deus. Intensificai as vossas invocações e súplicas. Orai em toda circunstância, pelo Espírito, no qual perseverai em intensa vigília de súplica por todos os cristãos”. (Ef 6,10-18).

Finalmente irmãos, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Cristo, “se alguém for surpreendido numa falta, vós, que sois animados pelo Espírito, admoestai-o em espírito de mansidão. E tem cuidado de ti mesmo, para que não caias também em tentação”! (Gal 6,1-2). Pois, “meus irmãos, se alguém fizer voltar ao bom caminho algum de vós que se afastou para longe da verdade, saiba: aquele que fizer um pecador retroceder do seu erro, salvará sua alma da morte e fará desaparecer uma multidão de pecados”. (Tiag 5,20). “Além disso, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é nobre, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, tudo o que é virtuoso e louvável, eis o que deve ocupar vossos pensamentos. O que aprendestes, recebestes, ouvistes e observastes em mim, isto praticai, e o Deus da paz estará convosco”. (Fil 4,8-9).

Destarte, “Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos! Seja conhecida de todos os homens a vossa bondade. O Senhor está próximo. Não vos inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração, as súplicas e a ação de graças. E a paz de Deus, que excede toda a inteligência, haverá de guardar vossos corações e vossos pensamentos, em Cristo Jesus”. (Fil 4, 4-7).

...
O homem de bem procura seu refugio no Senhor e nunca se afasta dele por nada deste mundo. É como diz a antífona antes da comunhão: “Provai e vede como o Senhor é bom, feliz de quem Nele encontra seu refúgio” (Sl 33,9). Ouve, Senhor, a oração do teu servo e faz de minha vida o que for do teu agrado, livra-nos de todo o mal. Amém! Assim seja!
...

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv .


sexta-feira, 27 de agosto de 2010

São Francisco, o "repetitor Christi"

Por Leonardo Boff

O fascínio e o mistério da figura de S. Francisco reside em sua semelhança com o mistério e o fascínio de Jesus Cristo. Há tanto num quanto noutro algo de profundamente simples, transparente, nascivo, originário e convincente. Ambos constituem uma grande interrogação para todo homem verdadeiramente religioso. Ninguém pode subtrair-se ao Numinoso e Divino que se desprende de suas vidas. Evidentemente, para um cristão por maiores que sejam as semelhanças entre S. Francisco e Jesus Cristo nunca chegarão a esconder as infinitas diferenças que vigoram entre eles. Um é o Filho Unigênito e Eterno do Pai e o outro é, na expressão de S. Boaventura, um humilde repetidor de Jesus. '

Um constitui a realidade-fonte, outro a realidade-reflexo. São Francisco jamais quis seguir um caminho pessoal. Nunca buscou uma experiência nova. Propôs-se com todo empenho a imitar e a "seguir a doutrina e as pegadas de Cristo" ', o "totus Christus crucifixus et configuratus".' Nele há "uma deliberada renúncia a toda originalidade". * Jamais antes e depois de S. Francisco assistimos no Ocidente a um tão apaixonado amor a Cristo a ponto de tentar imitá-lo nos mínimos pormenores, na letra e no espírito. Queria venerar e reproduzir todos os aspectos da vida e do mistério de Cristo, não apenas os humanos, como se sói repetir.' Jamais alguém dentro do Cristianismo logrou assimilar Jesus Cristo em sua vida como S. Francisco a ponto de trazer no corpo os sinais da Paixão e na alma as arras do Reino de Deus. Com acerto resume S. Boaventura o sentido do impulso de S. Francisco: "saciava toda a alma no seu Cristo e se entregava todo, de corpo e de alma, somente a ele".

Extraído do livro "Nosso Irmão Francisco de Assis", da Editora Vozes

Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/especiais/2010/mesdabiblia/04.php acesso em 23 ago. 2010.
Foto: Vitral da fachada principal da Igreja São Francisco, Porto Alegre, RS, Brasil / Eugenio Hansen, OFS. 2010. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Francisco-de-assis-vitral-porto-alegre-detalhe_.jpeg acesso em 23 ago. 2010.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O profeta e o seu Evangelho

Por N.G. Van Doornik

Francisco teve com o Evangelho uma intimidade difícil de se compreender. Amava o Evangelho, mas ele não teria sido Francisco, se seu amor não tivesse desejado possuir o próprio livro.

A magnífica Bíblia da Idade Média, com os maravilhosos textos desenhados em elegantes letras, tinha para ele algo de sagrado. Já foi, de per si, um rito religioso, quando ele, com seus dois companheiros, entrou na pequena igreja de São Nicolau e lá abriu o livro sobre o altar. Manifesta-se aqui uma forma de respeito que, em nosso tempo, impregnado de obras tipográficas, se tomou impossível: o respeito pela palavra manuscrita.

Com isso, adquirem um sentido mais profundo certas ações aparentemente mágicas. Nas cartas que ditava, não permitia Francisco que se riscasse uma letra, mesmo que fosse um erro de ortografia. Recolhia com o mesmo respeito qualquer pedacinho de pergaminho que encontrava no chão.

Perguntaram-lhe, certa vez, por que tinha tanto cuidado até mesmo com obras de autores pagãos. A resposta tem um quê de surpreendente: "Porque nelas se encontram as letras que compõem o glorioso nome do Senhor". Por umas cinco vezes insiste ele, em suas cartas, em que se devem guardar respeitosamente as palavras do Evangelho, onde quer que sejam encontradas.

Francisco sentia o alcance psicológico desse simbolismo. "Devemos cuidar de tudo que encerra Sua Palavra sagrada. Assim ficamos profundamente compenetrados da sublimidade do nosso Criador e de nossa dependência em relação a Ele", escreverá mais tarde ao Capítulo de seus irmãos.

A verdadeira dificuldade de se compreender como Francisco lia a Bíblia, não se encontra na cultura medieval. O que é difícil compreender é o fato raro de a Bíblia ser lida aqui por um homem que era como ela o desejava. Ele não tinha necessidade dum comentário que a suavizasse. Com heróica abertura, Francisco aceitava o texto ao pé da letra, pois este já de há muito o havia empolgado. Talvez tenha ele, alguma vez, explicado a Bíblia de uma maneira por demais rigorosa - nunca, porém, branda demais.

Devemos perguntar se a concepção de Francisco a respeito da Bíblia ainda vale para nós. Em cada mudança religiosa na história, encontra-se o homem diante da pergunta: que é propriamente autêntico na Bíblia e que é que se conseguiu descobrir com o correr do tempo?

E em cada período são sempre os grandes cristãos que, da forma mais pura, reconhecem a autenticidade. Não se requer uma visão genial para se descobrir o que corrigir num texto ou apontar alguns cantos carcomidos numa estrutura eclesiástica antiquada.

Quando se trata, porém, de valores eternos, é absolutamente necessária uma visão de fé. Não é tão estranho que um homem como Francisco, que se afastara, por assim dizer, da própria cultura para viver o Evangelho até às últimas consequências - que este Francisco tenha descoberto algo que sobrepuja qualquer cultura.

As grandes personalidades não estão à frente de seu tempo, estão acima dele.

Extraído do livro "Francisco de Assis, Profeta de Nosso Tempo", Editora Vozes.

Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/especiais/2010/mesdabiblia/03.php acesso em 23 ago. 2010.
Ilustração: Imago Christi cum quattuor evangelistae. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Tetramorph.jpg acesso em 23 ago. 2010.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

OUÇAM...

















OUÇAM...

Quando me encontro em silêncio...
Escuto a Palavra Infinita que nos criou...
E feito amor, contemplo o Amor...
E me contento com o que ouço...
Porque o que ouço É...

Faz-me ser, Senhor, como o Teu Silêncio...
Límpido como as manhãs eternas...
Transparente como o invisível que nos cerca...
Quem o escuta, perfeitamente Te encontra nele...
E não mais se sente só,
porque o teu Silêncio, Senhor, não deixa...
É por isso que não há medo nem queixa...
em quem se refugia em Ti...
Porque Te ouvir assim...
é o maior dos privilégios...

E o Teu Silêncio Sagrado,
ecoa eternidade a dentro...
E é esse teu Silêncio meu Deus...
que me conduz à Ti...
Eu todo teu e Tu Todo em mim,
cadenciando a vida que me deste...
Vida esta, Senhor, que não tem fim...

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.

Francisco, Homo totus Evangelicus

Francisco entrou na intimidade do Evangelho e percebeu-o puro e sem retoques. Por isso, a Igreja o chamará de Homo totus Evangelicus, quer dizer, que "se evangelizou" na totalidade do ser e na radicalidade das exigências. E mostrou, ao mesmo tempo, que o Evangelho, no seu todo, é algo possível de ser traduzido em vida. O próprio Papa, Inocêndo III, observara que a norma de vida da primitiva comunidade era por demais árdua para compor um programa de vida, mas a tempo foi advertido que não poderia declará-la impossível, pois declararia impossível o Evangelho de Cristo.

Para Francisco a afirmação do Papa significava a impossibilidade de seguir os passos de Nosso Senhor Jesus Cristo, pois vinham eles retraçados, concretamente, nas páginas do Evangelho. Esta concreteza com que percebia o Evangelho fazia com que Francisco a ele recorresse com a simplicidade e a confiança de quem recorre a um "diretor espiritual".

Com naturalidade, colocava os livros dos Evangelhos à sua frente e os abria, a esmo, encontrando exatamente a Palavra que lhe servia de resposta. Não argumentava, não discutia, não duvidava. Deus acabara de lhe falar. E feliz partia para executar as ordens que acabara de ler.

Assim fala Celano, na vida I (n° 92-93): que abrindo o Evangelho, pôs-se de joelhos e pediu a Deus que lhe revelasse qual a sua vontade. "Levantando-se, fez o sinal da cruz, tomou o livro do altar e o abriu com reverência e temor. A primeira coisa que deparou, ao abrir o livro, foi a paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, no ponto em que anunciava as tribulações por que haveria de passar. Mas, para que ninguém pudesse suspeitar de que isso tivesse acontecido por acaso, abriu o livro mais duas vezes e o resultado foi o mesmo. Compreendeu, então, aquele homem cheio do espírito de Deus, que deveria entrar no reino de Deus depois de passar por muitas tribulações, muitas angústias e muitas lutas..."

Texto de Frei Hugo Baggio (extraído do livro "São Francisco Vida e Ideal, da Editora Vozes)

Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/especiais/2010/mesdabiblia/02.php acesso em 23 ago. 2010.

Plebsicito: Limite da propriedade da terra

Apresentação para o plebiscito popular sobre o limite da propriedade da terra:

terça-feira, 24 de agosto de 2010

[Leitura Orante ou] Lectio Divina

por Helber Clayton*

Muitos já ensinaram sobre a Lectio Divina, sua origem, seus passos, seus objetivos. Sobre o tema é fácil de encontrar na Internet, seja em português, seja em qualquer língua. Leia especialmente "Scala Claustralium (A Escada dos Monges)".

Mesmo assim, muitos ainda pedem explicações sobre essa antiquíssima prática. Tentarei então, em pausas, descrever aqui minha própria experiência na prática da Lectio.

Muitos traduzem "Lectio Divina" como "lição" ou "leitura de Deus", "leitura orante da Palavra". Eu a chamo de "leitura sob a inspiração do Espírito", uma vez que a Escritura é a própria voz do Espírito de Deus, e é do Espírito que deve brotar a nossa oração quotidiana (Cf. Rm 8, 26).

Devo chamar a atenção, como estudioso das Letras, que entendo a "leitura" não apenas como uma intelecção de textos escritos, mas como um processo, que começa na decifração dos códigos linguísticos, sejam eles escritos ou não, verbais ou não verbais, e termina na produção de outro texto que flui da mente e do coração através das nossas faculdades, seja da voz, da escrita ou qualquer outra forma de expressão.

A Lectio Divina é um processo. Como diria o monge Guigo, uma escada. Que leva, em quatro passos, da terra ao céu.

Fontes da Lectio Divina

Partimos da premissa monástica de que a oração nasce da leitura assídua e diligente das Escrituras (Orígenes). A Palavra de Deus é a fonte por excelência da Lectio Divina. Dessa forma, a Liturgia das Horas, por ser composta basicamente de textos extraídos da Sagrada Escritura, além de conter, entre outros elementos, hinos, antífonas e escritos, lapidados na tradição viva da Igreja, é opção privilegiada para o exercício da Lectio Divina.

Nesse processo comunicativo, nos colocamos, primeiramente como receptores, o Espírito Santo como emissor da mensagem, e o principal meio para nos transmiti-la é a Escritura Sagrada.

Mas a voz de Deus ressoa em toda parte:

"Os céus proclamam a glória do Senhor,
e o firmamento, a obra de suas mãos;
o dia ao dia transmite esta mensagem,
a noite à noite publica esta notícia.
Não são discursos nem frases ou palavras,
nem são vozes que possam ser ouvidas;
seu som ressoa e se espalha em toda a terra,
chega aos confins do universo a sua voz." (Sl 18, 2-5)

Podemos ouvi-lo nos murmúrios da natureza, nos acontecimentos diários, nas obras da arte humana, lê-lo na história, nas canções, na catequese da Igreja...

Para isso é necessário, antes de tudo, silêncio. Não apenas de ausência de palavras, mas de atenção e abandono, de renúncia de expectativas e (pré)conceitos, pois o Senhor irá falar. É a paz que ele vem anunciar (Sl 84, 9).

Lectio

Podemos dizer que a Lectio Divina começa, antes, com o esforço de Deus para comunicar-se conosco. É ele quem nos atrai, quem faz o nosso coração arder como aquela sarça no monte Horeb, faz com que nos aproximemos, e, do meio da sarça, nos chama pelo nome: "Moisés, Moisés!" (Cf. Ex 3, 1-6). E nosso primeiro movimento é dizer: "Eis-me aqui! (Ex 3, 4). Quando, enfim, escutamos a voz de Deus, aí começa para nós a Lectio Divina.

À leitura, eu escuto, é que diz o monge Guigo II, explicando o primeiro degrau de sua escada. E, ao prestar atenção, trazemos o conhecimento de Deus para o nosso conhecimento. Decodificamos a mensagem divina para a linguagem humana. Acrescentamos informação do céu ao nosso entendimento terreno.

Através da Lectio, a razão busca sentidos para a mensagem, as explicações para as figuras de linguagem, a localização no espaço e no tempo, o contexto histórico, a intencionalidade discursiva. Colhemos palavras, frases, sentidos, como colhemos flores num jardim.

A "leitura", porém, é apenas o primeiro degrau, a porta de entrada para os outros passos da Lectio Divina.

Meditatio

"Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração". (Lc 2,19)

Antes que Bruno, o Cartuxo, explicasse o sentido dos degraus, a Virgem já os praticava. Antes que os exegetas tentassem dar novo sentido ao logos e rhema de Platão, a mãe de Jesus já os demonstrava. Só conservando a Palavra e meditando-a no coração é possível trazer a Lei e os Profetas do seu contexto histórico para o atual; traduzir as metáforas para a linguagem corriqueira; transportar a teologia para a prática. É assim o Magnificat (Lc 1, 46-55): um canto baseado na escuta e meditação da Sagrada Escritura.

Na maioria das vezes, no entanto, nosso contato com Deus não passa do primeiro degrau, do mero entendimento. Temos uma enorme facilidade de esquecer as passagens da Escritura. Isto porque a mente tende a deletar aquilo que não damos serventia. Mesmo que sejam textos da Palavra de Deus.

Só escutar não basta. É preciso conservar a Palavra e meditá-la no coração.

Em vista disso, alguns escritores criaram uma espécie de sub-degrau para a Meditatio: a "Ruminatio" que é o trabalho de "conservar" a palavra na mente e no coração, através do retorno ao texto e até mesmo da memorização.

"Um Cristão deve meditar regularmente para não ser como os três primeiros terrenos da parábola do semeador". (CIC 2708).

Oratio

Chegamos ao momento da oração.

Como é isso? Só no terceiro degrau oramos de fato?

Mas é o movimento natural da vida!

Quando nascemos, qual a primeira coisa que fazemos antes de soltar o choro? Resposta: inspiramos o ar. Claro! antes de nascer, o oxigênio que nos chegava era através do sangue da mãe. Ao nascer inspiramos pela primeira vez. Ao inspirar, o ar chega aos pulmões, e, através dos pulmões, leva oxigênio a todos os órgãos do corpo.

E então, descobrimos a necessidade de algo que ainda não compreendemos. Por não compreender, choramos. É a única coisa que sabemos fazer. Descobrimos depois que aquela necessidade que nos levou ao choro era de conforto, carinho, alimento...

A Lectio Divina é como esse processo do nascimento.

A leitura é a inspiração. A meditação é quando o oxigênio é espalhado pelo corpo. A oração é o choro.

No Ofício das Leituras de sexta-feira após as cinzas lemos que:

"como uma criança que, chorando, chama sua mãe, a alma deseja o leite divino, exprime seus próprios desejos pela oração e recebe dons superiores a tudo que é natural e visível." (Pseudo-Crisóstomo).

Porque não sabemos orar como convém, emitimos, após inspirar, gemidos inefáveis (Rm 8,26).

Esse gemidos são a expressão do coração que ouviu e mergulhou no mistério. E não importa o tipo, a forma ou a fórmula da expressão. O que importa agora é dizer a Deus...

Contemplatio

"Como uma criança que a mãe consola, sereis consolados

em Jerusalém." (Is 66, 13)

Desde sempre entendi a"contemplatio" como "consolatio". Aqueles que choram pela oração são consolados na contemplação. Bem-aventurados estes (cf Mt 5,4).

A contemplação é a resposta à nossa oração. É a manifestação sensível da presença de Deus por meio do seu Espírito, que entra no cenário da nossa vida através da porta aberta pela oração. É obra daquele Paráclito prometido por Jesus, que haveria de ensinar toda a verdade (cf. Jo 16, 13), não da maneira racional, mas do suave consolo da fé.

Não devemos atribuir à palavra "contemplação" apenas o seu sentido mais usual que é de "olhar com atenção", mas o seu segundo sentido: "dar a; doar a; fazer mercê a". É Deus quem nos dá a sua graça, e nós somos "contemplados".

Penso que é esse o verdadeiro sentido que Guigo, o cartuxo, quis dar ao último degrau da sua escada, aquele que toca o céu, pois assim o descreve:

"E o Senhor, cujos olhos são fixos nos justos e cujos ouvidos estão não só atentos às suas preces" (cf. Sl 34, 16), mas presentes nelas, não espera a prece acabar. Pois, interrompendo o curso da oração, apressa-se a vir à alma que o deseja, banhado de orvalho da doçura celeste, ungido dos perfumes melhores.

Ele recria a alma fatigada, nutre a que tem fome, sacia a sua aridez, lhe faz esquecer tudo o que é terrestre, vivifica-a, mortificando-a por um admirável esquecimento de si mesma, e embriagando-a, sóbria a torna." (Scala Claustralium VII)

Assim, pela contemplação somos impregnados por esse orvalho do céu, de modo a buscarmos, mais vivamente, andar conforme a vontade daquele que veio em nós habitar.

"Não cesso de agradecer a Deus por vós, pela graça divina que vos foi dada em Jesus Cristo. Nele fostes ricamente CONTEMPLADOS com todos os dons, com os da palavra e os da ciência, tão solidamente foi confirmado em vós o testemunho de Cristo." (I Cor 1, 4-6)

A Lectio Divina e a Vida

Em verdade a Lectio Divina é um processo que envolve toda a nossa vida, desde o momento que aderimos à fé, até o último dia de nossa caminhada.

Foi assim para os discípulos de Jesus.

Eles, atendendo ao chamado do mestre, passaram a ouvi-lo, a saber o sentido das parábolas, a ver os seus atos, seus exemplos de vida. Fizeram uma verdadeira "leitura de Cristo".

Também, a exemplo da Mãe, conservavam tudo que tinham visto e ouvido, meditando em seus corações (cf. Lc 2, 19). Tanto que mesmo depois de muitas décadas lembravam de detalhes das palavras e das obras do Mestre e os contaram em seus Evangelhos.

Seguindo a Cristo pelos montes onde costumava orar e, inflamados pelo seu exemplo, sentiram o ardente desejo de também aprenderem a rezar, e pediram ao Senhor: "ensina-nos!" (Lc 11,1). Unânimes na oração (At 1, 14), permaneceram no Cenáculo juntamente com Maria, mãe de Jesus, até o dia de Pentecostes.

Tendo chegado o momento aguardado, subiram ao degrau da contemplação ao serem revestidos com os dons do Espírito Santo. Então compreenderam, pelo dom da fé, os sentidos da paixão e ressurreição do Senhor e a razão verdadeira do chamado: o anúncio do Evangelho a todos os povos. E, vivendo a vida de Cristo, sofrendo os mesmos ultrajes, açoites e martírios, foram dignos de serem chamados "Cristãos", desde Antioquia (At 11,26) até os dias de hoje.

Se do Senhor as palavras ouvirmos, se delas extrairmos o significado para nossa vida, se juntos com ele subirmos ao monte da oração, se sua vida tornar-se impregnada em nós a ponto de sermos "cristãos" de fato, não apenas em momentos determinados, mas em todo o tempo, então podemos dizer que somos discípulos de Jesus, e fazemos da nossa vida uma viva e verdadeira Lectio Divina.

Acesse: www.oratio.blogspot.com

*Leigo, casado, licenciado em Letras pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB

Extraído de http://www.liturgiadashoras.org/artigos/lectiodivina.html acesso em 23 ago. 2010.


RECOMENDAÇÕES NA LUTA CONTRA O MAL


















RECOMENDAÇÕES NA LUTA CONTRA O MAL

Cuidado, somos severamente tentados quando damos atenção aos apelos dos nossos instintos, de nossa carnalidade e não às graças que Deus nos concede para que possamos vencê-las. Precisamos ficar atentos ao que nos diz o Senhor a cada instante, de modo especial, quando estamos em perigo de cairmos em tentação, pois o inimigo de nossas almas faz de tudo para tirar a nossa atenção do Senhor; para que assim nos tornamos presas fáceis de suas sugestões perniciosas.

A curiosidade tem sido um meio de múltiplas quedas para os homens; a pessoa curiosa está sempre saindo do essencial para ouvir ou ver pretensas novidades, com isso, na maioria das vezes, envenena a própria vida e a dos outros com estórias que não correspondem aos fatos em si pelos acréscimos à eles dados. Toda pessoa por demais curiosa não percebe que a curiosidade lhe é uma armadilha funesta, por isso, no mais das vezes, se lança cegamente para onde sua curiosidade a leva, com isso, quase sempre se dá mal. Ora, a oração de intercessão é o melhor remédio para curar a alma ferida pela curiosidade mórbida.

Vejamos o que nos ensina São Pedro em uma de suas cartas: “Assim, pois, como Cristo padeceu na carne, armai-vos também vós deste mesmo pensamento: quem padeceu na carne rompeu com o pecado, a fim de que, no tempo que lhe resta para o corpo, já não viva segundo as paixões humanas, mas segundo a vontade de Deus. Baste-vos que no tempo passado tenhais vivido segundo os caprichos dos pagãos, em luxúrias, concupiscências, embriaguez, orgias, bebedeiras e criminosas idolatrias”. (1Pd 4,1-3).

Agora ouçamos o que disse o Senhor Jesus: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. Pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca”. (Mc 14,38). Com isso, Jesus nos ensinou que a oração é uma arma poderosíssima na luta contra o mal; e que por ela nos aproximamos de Deus e permanecemos em constante comunhão com Ele. A oração, de certo modo, é como o respirar da alma que se eleva para Deus; ora, nossa experiência nos revela que sem o ar que respiramos não temos vida, da mesma forma, a alma sem oração permanece em estado mórbido, sem a graça vital que a santifica e fortalece na luta contra si mesmo e contra todo mal; porque “sem oração não há vitória” (Santo Afonso de Ligório).

Portanto, quem deixa a novidade divina obtida por meio da vida de oração, para se entregar às pretensas novidades deste mundo, torna-se hostil a Deus e peca por afastar-se dele.

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.



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