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sábado, 30 de agosto de 2008

... súbditos de todas as criaturas humanas – por amor de Deus

Deu no CCFMC Boletín Novembro de 2007:
Diariamente ouvimos e vemos o que os islamistas podem provocar quando possuídos por um fanatismo cego. Ou até crêem, sendo “combatentes de Deus”, poderem originar o acesso direto ao paraíso mediante atentados suicidas. Pessoas – sobre tudo jovens – podem ser transformadas em máquinas assassinas em campos de treino ideologicamente cegos. Com tal não só trazem sofrimentos incalculáveis a pessoas inocentes, mas também conduzem a sua comunidade de fé à suspeita geral de que estão fundamentalmente prontos à violência e entendem a “dschihad” como ensinamento divino à “guerra santa”. Todos os eruditos islâmicos concordam em que este pensamento é um mal entendido fatal.

Como cristãos devemos acautelar-nos a acusar este abuso da religião só no caso dos outros. Na época das Cruzadas, a Igreja interpretou mal a mensagem do Evangelho dum modo semelhante. Em nome de Deus, os cruzados quiseram vencer e subjugar os muçulmanos. O papa Inocêncio III até obrigou os cristãos a lutarem “em nome de Deus e de Jesus Cristo”. “Devem saber que todos os que, nesta hora de aflição, recusarem o serviço ao seu Salvador, cometem uma ofensa muito grande devendo ser acusados gravemente”, quer dizer, perdem o direito à salvação eterna.

Neste contexto histórico, a atitude contrastante de Francisco não poderia ser mais nítida. Procurava fazer o contrário, isto é, “ser súbdito dos sarracenos por amor de Deus.” Qualquer que seja o ponto de vista, é inevitável a seguinte conseqüência: o Deus dos cruzados e dos que os chamaram foi o contrário do Deus de Francisco. O Deus como Francisco O entendeu quis que todos os homens fossem irmãos e irmãs. Não deviam dominar-se e subjugar-se mutuamente. Ao contrário, deviam servir-se uns aos outros com humildade até se conseguir a verdadeira paz. Por isso optou pela sua vida em pobreza, entre os pobres e com os pobres. Por isso não quis “superiores” na sua fraternidade, mas sim “ministros” (servos) que se ocupassem do bem dos irmãos. Por isso foi ao campo dos muçulmanos sem qualquer proteção de armas, sem qualquer sentimento de superioridade e livre de preconceitos. E tudo isso aconteceu “por amor de Deus”, que é um Deus da humildade e da paz. Este Deus da humildade revelou-se na pessoa de Jesus como sendo um Deus que está próximo a todos os homens querendo a salvação de todos. E Francisco descobriu este Deus também entre os muçulmanos. Experimentou que o espírito do Senhor obra também entre eles – na sua profunda religiosidade e na veneração respeitosa do seu livro santo, do Corão, e do santo nome de Deus.

De volta à Itália, escreveu uma carta aos dirigentes dos povos. Deveriam preocupar-se por que todo o povo louvasse e desse graças a Deus Onipotente, como ele experimentou junto dos muçulmanos. Esta é uma visão dum ecumenismo cristão-muçulmano no qual em “cada hora quando os sinos tocarem, os homens em todo o mundo devem louvar e agradecer a Deus Onipotente” (CtCust 8). Com tal atitude que se baseia no respeito de e na submissão ao agrado de Deus, Francisco ensina-nos como deveria ser um diálogo sincero capaz de gerar uma verdadeira “oikumene” da paz.

Isto temos de aprender de novo se quisermos sair do círculo vicioso da violência. Na sua missão da paz, Francisco invocou sempre a sua certeza interior de “Deus mesmo me revelou – contra a corrente da sua época na Igreja e na sociedade. Quando, em 2008, a celebração dos 800 anos do nascimento do movimento franciscano converter esta missão de paz outra vez em certeza, então o jubileu cumpriu a sua obrigação – mas só sob esta condição.

Andreas Müller OFM

Extraído de http://www.ccfmc.net/wPortugues/cbcmf/cbcmf-news/2007/2007_11_News.shtml?navid=93 acesso em 30 ago. 2008.

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