'A Teologia não se dá mal com o discurso não metafísico, por isso ela pode falar muito bem na pós-modernidade'. Entrevista especial com João Batista Libânio
Depois de participar do segundo módulo do evento De Medellín a Aparecida: marcos, trajetórias e perspectiva da Igreja Latino-Americana, o Padre João Batista Libânio concedeu a entrevista abaixo à IHU On-Line. Libânio falou sobre a Teologia da Libertação, padres casados na Igreja, a ordenação de mulheres, sobre Adolfo Nicolas à frente da Companhia de Jesus e sobre os objetivos da Igreja hoje. “A Teologia não se dá mal com o discurso não metafísico, por isso ela pode falar muito bem na pós-modernidade”, afirmou.IHU On-Line – Qual é a sua opinião sobre a posição do frei Clodovis Boff [1] com relação à Teologia da Libertação? O que o senhor pensa dos questionamentos críticos que ele faz?
João Batista Libânio é licenciado em Filosofia, pela Faculdade de Filosofia de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, em Letras Neolatinas, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), e em Teologia, pela Hochschule Sankt Georgen, em Frankfurt, Alemanha. É também mestre e doutor em Teologia, pela Pontifícia Universidade Gregoriana (PUG) de Roma e leciona Teologia no Instituto Santo Inácio de Belo Horizonte. É autor de Teologia da revelação a partir da Modernidade (5. ed. São Paulo: Loyola, 2005), Eu creio - Nós cremos. Tratado da fé (2. ed. São Paulo: Loyola, 2005), Qual o caminho entre o crer e o amar? (2. ed. São Paulo: Paulus, 2005) e Introdução à vida intelectual (3. ed. São Paulo: Loyola, 2006), entre outros livros.
Confira a entrevista.
João Batista Libânio – Toda pessoa deve ser situada em seu contexto. O que ele foi e escreveu, continua sendo. Clodovis Boff [1] é o teólogo da Libertação que melhor trabalhou a estrutura metodológica da Teologia da Libertação [2], com o livro Teologia e Prática: Teologia do Político e suas Mediações (Petrópolis: Vozes, 1978). Esse livro foi decisivo, ao marcar definitivamente a maneira de se pensar a metodologia da Teologia da Libertação. Confesso que sou muito devedor a Clodovis Boff, na minha maneira de pensar a Teologia da Libertação. Outro grande livro dele sobre metodologia foi Teoria do Método Teológico (Petrópolis, Vozes, 1998). Obra muito séria e profunda. Ele elaborou com pertinência a relação entre fé e política / prática e fé. Destaco também um livro sobre eclesiologia (Comunidade eclesial – comunidade política. Ensaios de eclesiologia política, Petrópolis, Vozes, 1978) no qual ele fez reflexões originais. Nem faltou análise bem sagaz da natureza do discurso de certos documentos da Igreja.
Tenho a impressão de que as novas posturas do Leonardo Boff [3] podem incomodar ao Clodovis sob alguns aspectos. Ele marca, de certa maneira, uma distância em relação ao irmão, sobretudo, no aspecto de afeição eclesial. Leonardo sente-se hoje muito livre diante de qualquer instituição eclesiástica e também diante de concepções eclesiásticas, porque não está mais interessado em elaborar isso. Então, muitas vezes quando ele aparece em público e quando o entrevistam, ele responde de maneira crítica a aspectos relacionados à vida interna da Igreja. Clodovis resgata esse lado eclesial que falta no seu irmão, como espécie de contrapeso. Esse seria talvez um ângulo para explicar o porquê de ele ter ficado tão eclesial e até eclesiástico. Essa é uma suposição puramente minha.
Outro aspecto
Clodovis guardou ao longo de seu itinerário teológico uma preocupação com a pureza metodológica. Esse é um traço da sua personalidade intelectual. Ele sente-se mal quando os discursos se misturam, qualquer tipo que seja. Agora, ele olhou para a Teologia da Libertação com mais distância e percebe que em muitos teólogos a autonomia da fé e da política não se mantiveram nítidas. Talvez se tenha pensado mais nas articulações e nas interpenetrações das duas do que na clareza do primeiro passo, que é a distinção das autonomias. Em geral, Clodovis começa distinguindo as especificidades, portanto, a originalidade de cada pensar para depois articular. Então, pode-se ter a idéia de que, ao fazer isso, ele cria uma fé quase que autônoma, mas esse é o primeiro passo.
Depois vem o passo da articulação. O irmão dele, nesse artigo que o criticou, disse, com certa razão, que isso é um pensar muito acadêmico, que não toca no real da vida – o real da vida é um pouco mais misturado –, e que essas autonomias não preocupam muito as pessoas. Isso quer dizer que a teoria da fé, do político é mais questão para discutir na academia, sobretudo, alemã. Nesse sentido, Clodovis toma distância de um certo pensar teológico e dá azo a posições conservadoras que insistem numa autonomia sem articulação. Aí, sim, a fé fica alienada. Quando a fé é articulada, não. Creio que Clodovis percebe muito bem tal tensão e não se ilude com nenhuma posição conservadora.
IHU On-Line – O senhor acompanhou o lançamento do livro de Dom Clemente Isnard [4] com todas as questões que ele propõe para debate. Ele levanta questões como a atuação dos padres casados na Igreja, a ordenação de mulheres, eleição dos bispos, participação dos leigos, com uma eleição mais democrática e participativa. O que o senhor acha dessas posições?
João Batista Libânio – A CNBB, quando enviou subsídios para Puebla, já notava alguns desses problemas: padres casados, novas maneira de conceder o ministério – não falavam diretamente na ordenação de mulheres –, então, não são temas específicos, e sim questionamentos que a própria Igreja do Brasil já abordou, recentemente em Aparecida. Só que nem Puebla, nem Aparecida levaram essas questões em consideração. O que um dos membros de Aparecida nos relatou numa conferência é que, quando quiseram tratar desses assuntos, um cardeal de Roma disse que tais questões não pertencem à agenda do Vaticano, ou seja, Roma não quer que elas sejam discutidas, importantes ou não. Pelo teor da Carta apostólica Ordinatio Sacerdotalis, de João Paulo II, a ordenação da mulher parece ser tema fechado para a discussão no interior da Igreja Católica. Nesse sentido, D. Isnard retoma-o e tenta trazê-lo para a discussão. Penso que no atual pontificado não há possibilidade de tal acontecer. É importante discutir a questão, mas vejo que não há ambiente a curto prazo.
Tenho a impressão de que não há nenhuma razão teológica absolutamente convincente para que as mulheres não possam ser ordenadas. Os argumentos são tão alambicados que se tornam ideológicos. Onde se quer defender um interesse, cria-se uma teoria para justificá-lo. Isso que chamo de ideológico no mau sentido da palavra. A posição quanto à ordenação das mulheres é ideológica, da instituição, que deve ter razões práticas de interesses econômicos, políticos e culturais. Vejam as considerações do Cardeal Martini [5], na entrevista dada a um jesuíta alemão em que aborda o tema da direção da mulher na Igreja, mencionando casos da Igreja primitiva. Diz ter animado o arcebispo de Cantuária a ordenar mulheres como contribuição ecumênica. Sobre a questão dos padres casados laicizados há largo consenso na Igreja para reintroduzir nos ministérios aqueles que o quiserem.
Quando um padre deixa o ministério de maneira acintosa, revoltada, é evidente que ele não será convidado para exercer o ministério. Mas não há nenhuma razão teológica para impedir aqueles que estão pacificados com a Igreja e querem continuar atuando. O argumento que se dava ou que talvez ainda se dê é para não desvalorizar o vínculo. Acham certas autoridades da Igreja que o vínculo do celibato, uma vez rompido, e depois retomado, perde a importância. É uma maneira de enfraquecê-lo. Trata-se de razão institucional. Se alguns podem casar e depois voltar a ser padres, então, não há sentido em continuar no celibato, fazendo esforço.
De qualquer modo, esse problema só seria resolvido se fosse feita reforma maior de modo que o celibato fosse uma disciplina opcional. Admitir os padres casados, mantendo a lei do celibato obrigatório, enfraquece-a. Tenho a impressão de que o correto é repensar o problema no seu conjunto. Qual o sentido do celibato? Li recentemente um livro do cardeal Walter Kasper [6], que é considerado um dos mais abertos de Roma. Ele escreveu sobre o sacerdócio e defende o celibato. Tive a impressão de que ele, mesmo sendo um cardeal muito aberto, não abre mão do celibato. Para a Igreja Católica latina, o argumento da longa tradição é muito forte. É muito difícil e perigoso mexer em algo que durante tanto tempo foi praticado,
O pensador francês Jean-Claude Guillebaud [7] diz que um dos problemas graves de Maio de 68 [8] é que ele quebrou uma tradição cultural do Ocidente e não percebeu que isso teria graves conseqüências; não soube medir os efeitos da asserção: é proibido proibir. Seguiu-se irrefreada liberação sexual. O rito do sexo não é uma coisa que se pode mexer facilmente. Ao mexer em longa tradição, se criam fenômenos cujos efeitos nos escapam. Esse é o argumento que o cardeal Kasper usa para justificar certas coisas da Igreja. Argumento semelhante, se não me engano, Bento XVI, quando era cardeal Ratzinger [9], usou a respeito do perigo de se ter proscrito a liturgia de Pio V, que agora ele fez ressuscitar. Mas, quando ele não era papa, discordou de Paulo VI, dizendo: “Como se pode proibir uma coisa que a Igreja praticou durante vários séculos?”. Nesse sentido, entendo que a Igreja Católica é muito marcada pela tradição, tem muita dificuldade de mexer em assuntos que envolvem séculos.
IHU On-Line – E sobre a eleição dos bispos, o que o senhor diria?
João Batista Libânio – Essa questão retomaria posições antigas da Igreja. O próprio Paulo VI [10] quis que a escolha dos bispos fosse mais amplamente consultada. Isso não está sendo cumprido. Portanto, estamos falando de uma coisa que pertence ao magistério da Igreja recente. Não há razão para que o cardeal da congregação dos bispos decida sobre a escolha de um bispo a partir das informações tiradas na Nunciatura. Revela certa arbitrariedade não muito de acordo com outras determinações e tradições da própria Igreja. Essa eleição teria que acontecer na linha de uma democracia qualitativamente organizada. Quer dizer, grupos, corpos eclesiais, pessoas que tivessem categoria espiritual e sensibilidade para escolher.
IHU On-Line – O papa está dando muita importância à liturgia e às questões que parecem pré-conciliais. Realmente existe uma preocupação de marcar uma linha ou são fatos isolados?
João Batista Libânio – O primeiro esforço que, honestamente, costumo fazer é o seguinte: mergulhar no universo cultural e existencial da pessoa antes de fazer um juízo crítico no sentido negativo. Considerando a tradição que o papa tem, sua teologia alemã, o tipo de cardeal que ele foi, percebo que ele dá muita importância não só à Tradição, mas também às tradições disciplinares. Ora, a missa em Latim, no rito de Pio V [11], é uma das grandes riquezas da tradição da Igreja. Por isso, ao ressuscitá-la, mesmo que pareça conservador, responde para ele a um dever de respeito ao passado. Esse tipo de reflexão não nos afeta muito a nós brasileiros, mas os alemães se tocam. Vivem imersos em obras do passado. O titulo de conservador não lhes vai mal. Somos latinos, mais sensíveis e ficamos ofendidos com tal pecha. O papa parece convencido de que a liturgia de Pio V é uma tradição importante da Igreja, mesmo que apenas uma minoria vá praticá-la. Então, não é uma volta ao passado, e sim, a opção de não perder uma tradição que ainda tem sentido para certos grupos tradicionais.
Tenho a impressão de que o procedimento de tomar um tema teológico e depois perguntar: “Isso vai atingir a práxis concreta do cristão?”, não é muito condizente com o tipo de pensamento do professor alemão. Ele olha a Teologia nas suas ligações internas e com outras ciências, mas não diretamente com a prática. Ele tem pouca sensibilidade, porque isso não pertence ao universo dele, e pessoalmente, ele não está nada preocupado com esse êxito da Igreja. Os que ficarem na Igreja, que fiquem realmente conscientes e vivam a eucaristia. Imagino que o papa preferia celebrar um missa para quarenta pessoas que participam intensamente e compreendam as leituras, do que para mil que apenas participam. Essas prescrições litúrgicas, a valorização da eucaristia na sua celebração, com normas bem definidas e cumpridas, correspondem ao que vi quando estava na Alemanha..
Em relação a nossa pastoral há uma defasagem. Mas ele não é papa do Brasil. Minha crítica mais forte é a seguinte: toca aos nossos bispos terem coragem e liberdade de dizer para si e para a nossa Igreja: “Ótimo! Mas para nós isso não serve”. Tenho a impressão de que se a Igreja tivesse muito mais liberdade interpretativa e pastoral, esses problemas seriam minimizados.
IHU On-Line – E Adolfo Nicolas [12]? Como o senhor vê esse novo momento da Companhia de Jesus e ele como superior geral?
João Batista Libânio – Primeiro, tenho que dizer que não o conhecia de lugar algum. Portanto, quando li seu nome, tive que pesquisar para saber quem era. O superior geral anterior eu conhecia e admirava muito. Lendo sobre Nicolas, percebi que ele é uma pessoa acessível e para o momento atual isso é importante. Creio que ele sabe, por sua idade e experiência, que seu tempo como superior não é muito grande e por isso ele tem mais liberdade para tomar certas decisões. Assim desenvolverá, provavelmente, trabalho mais intensivo. Quando se entra para ficar longa vida, as ações adquirem ritmo lento. O papado de João Paulo II [13], que começou muito jovem, foi muito longo e por isso as mudanças e ações feitas por ele levaram muito tempo para acontecer. Assume-se rotina burocrática de difíceis mudanças.
IHU On-Line – Mas é interessante olhar que Adolfo Nicolas entrou pensando na questão intercultural, inter-religiosa, pensando no mundo dos pobres...
João Batista Libânio – Seu passado, apesar de ele ser europeu, é asiático. Tem uma cultura antes oriental e isso, neste momento, é interessante. O sociólogo inglês P. Colin disse que está havendo uma orientalização do mundo. Anuncia que no ano 2010 o Ocidente estaria altamente orientalizado, e não apenas pela introdução de religiões, costumes, comidas, mas, sobretudo, pela mentalidade em oposição ao dualismo ocidental
IHU On-Line – As fronteiras e barreiras se romperam...
João Batista Libânio – Isso. Ele chama isso de tipicamente oriental. Usa-se, ao invés do sim ou não, o sim e não. Os jesuítas, em geral, não são nada orientais. Os espanhóis ainda mais cortantes e radicais. Um espanhol orientalizado é uma figura interessante.
IHU On-Line – 40 anos depois de Medellín, por onde vão os principais objetivos da Igreja?
João Batista Libânio – A análise não me dá muita esperança, mas a esperança existe. A esperança se cria, é uma virtude. Significa acreditar nas possibilidades de Deus atuar. No momento analítico, o que eu estou percebendo na Igreja Católica é o crescimento da centralização, do restauracionismo, a busca de reconhecimento social. Um artigo contundente do Padre L. Roberto Benedetti trata da exterioridade do novo clero, com menor interesse intelectual e teológico Ele diz que esse clero acentua “os sinais distintivos de sua condição – festas, vestes, poderes –, ausência de inquietação com relação ao destino da sociedade (e da Igreja), pouco amor aos estudos, nenhuma paixão pelo ecumenismo, pela justiça social”. Clero que busca a elegância da aparência. Alguns usam a expressão de “metrossexuais”.
A imprensa explora esse lado. Até mesmo na visita do papa ao Brasil, muitos noticiários se fixavam na exterioridade do vestir, de calçar, do cardápio da mesa etc. Há maior atenção em relação à estética, à exterioridade. Isso me preocupa muito. As instituições facilmente entram nessa jogada. Tal exterioridade é recomendada pelas Empresas de Auditorias. É isso o que está acontecendo em muitos lugares. Outra coisa que me preocupa é não tocar em nenhuma estrutura interna da Igreja para fazer uma grande evangelização. Esse é, para mim, o ponto frágil de Aparecida. Pensamos na evangelização, mas nunca nos perguntamos se as estruturas que temos aí servem. Há uma mentalidade que repete: a Igreja não falha e sim as pessoas falham. Essa leitura é muito perigosa, porque há uma relação dialética entre pessoas e estruturas. Se as pessoas erram é porque a estrutura força a errar. E, por sua vez, os erros das pessoas se consubstanciam em estruturas. A falta de pensamento dialético leva a idealização institucional.
Outra coisa que me faz questionar muito é o que eu chamaria de estilo “optimal”. Prefiro usar o neologismo na forma lusitana. Esse é um discurso do sacerdote, do homem que se entrega a Deus, que oferece o sacrifício, a vida religiosa. Tudo bonito, mas é “optimal”. Não se pergunta pela realidade nesse discurso. As normas, os discursos são ditos assim e a realidade está longe. As pessoas escrupulosas querem transformar o discurso optimal em realidade e aí lhes pesam as palavras e vem, sobretudo, a culpa. A culpa destrói as pessoas e as gerações. Por exemplo, caso dos recasados que não podem comungar. É um discurso optimal. Ninguém perguntou se esse casal recasado não vive muito mais o amor matrimonial do que no primeiro matrimônio.
Onde estão as esperanças? Eu gosto muito de uma frase de E. Poulat, pensador francês, que diz: “É admirável que a história sempre se recarregue de esperança.” Então, é admirável que a Igreja e as comunidades sempre se recarreguem de esperança. Nesse sentido, temos de considerar a esperança como um broto verde que nascerá de algum tronco seco de algum lugar. Precisamos acreditar na esperança, que a seiva nunca seca totalmente. Eu tenho esperança na Igreja, nas pessoas, nessa juventude, apesar de as análises me dizerem que daí não virá muita coisa. Nada me impede de esperar.
IHU On-Line – O Simpósio do IHU do próximo ano debaterá sobre as possibilidades e impossibilidades de se narrar Deus numa sociedade pós-metafísica. Como o senhor problematizaria essa questão e as chances do discurso teológico no momento atual?
João Batista Libânio – Eu tenho a impressão de que as escrituras ainda têm muita dificuldade porque elas são pré-metafísica. O discurso religioso, o discurso bíblico, o discurso de Jesus não são metafísicos. Por isso, tenho a impressão de que, se nós voltarmos mais ao discurso evangélico, não teremos dificuldade de comunicar Jesus e se as pessoas se afastarem do discurso ontológico, metafísico e quiserem um discurso mais narrativo vão encontrar no Evangelho, na tradição bíblica, em alguns Santos Padres também. Temos um recurso simbólico muito grande. Se a teologia começa a valorizar o discurso simbólico ela não vai sentir-se mal no mundo para o qual a metafísica não é tão importante. A Teologia não se dá mal com o discurso não metafísico, por isso ela pode falar muito bem na pós-modernidade. Mas o que ela talvez vá fazer é levar as pessoas a sempre descobrir um sentido maior, ajudá-las a unirem os pequenos sentidos e chegarem a um sentido maior. Esse é o nosso trabalho.
IHU On-Line – E como o senhor analisa a Teologia hoje nas universidades?
João Batista Libânio – A Teologia na universidade tem várias funções. A primeira é em relação aos alunos. Formá-los numa mentalidade dialógica, aberta ao diálogo inter-religioso e com grande responsabilidade. Cabe atender ao fato de que, em segundo lugar, a Teologia é ciência e quem a ensina são seres humanos. O teólogo, como pessoa, se relaciona com outras pessoas. Então tem que se perguntar qual é o serviço que pode prestar como teólogo. Que tipo de discurso vai usar para que todos nós entendam os problemas, atitudes etc. Preocupam-me cada vez mais as relações. Outra questão é a função da mulher na Teologia. Não há uma teologia “feminina”, mas uma verdadeira teologia produzida por mulheres. Elas certamente abordarão as questões de originalidade própria que ajuda aos homens captarem aspectos até então descuidados Há muito ainda o que se pensar e fazer nesse sentido.
Notas:
[1] Frei Clodovis Boff, frade da ordem dos Servos de Maria, nasceu em Concórdia, Santa Catarina, em 1944. Possui graduação em Filosofia, pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Mogi das Cruzes, graduação em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, e doutorado em Teologia, pela Universidade Católica de Lovaina. É autor de vários livros, entre os quais citamos Uma Igreja para o Novo Milênio (5. ed. São Paulo: Paulus, 2003). Atualmente, reside em Curitiba e leciona Teologia na Universidade Católica de Curitiba. Ele concedeu uma entrevista à IHU On-Line número 125, de 29 -11-2004, que foi posteriormente republicada no Cadernos IHU em formação número 8, de 2006, intitulado Teologia Pública. Também concedeu uma entrevista à Revista IHU On-Line edição nº 267.
[2] A edição 214 da Revista IHU On-Line dedicou seu tema de capa ao tema Teologia da Libertação.
[3] Leonardo Boff é um teólogo brasileiro, escritor e professor universitário, expoente da Teologia da Libertação no Brasil. Foi membro da Ordem dos Frades Menores. Seus questionamentos a respeito da hierarquia da Igreja, expressos no livro Igreja, carisma e poder, renderam-lhe um processo junto à Congregação para a Doutrina da Fé, então sob a direção de Joseph Ratzinger, hoje papa Bento XVI. Em 1985, foi condenado a um ano de “silêncio obsequioso”, perdendo sua cátedra e suas funções editoriais no interior da Igreja Católica. Em 1986, recuperou algumas funções, mas sempre sob severa vigilância. Em 1992, ante nova ameaça de punição, desligou-se da Ordem Franciscana e do sacerdócio. Apostatando, uniu-se, então, à teóloga libertacionista Márcia Monteiro da Silva Miranda. Continua seu trabalho de teólogo nos campos da Ética, Ecologia e da Espiritualidade, além de assessorar movimentos sociais como o MST e as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Trabalha também no campo do ecumenismo. Concedeu entrevista às edições 209, 214 e 238 da Revista IHU On-Line, além de uma entrevista intitulada "Os leigos devem salvaguardar a herança de Jesus" para o sítio do IHU.
[4] Dom Clemente Isnard foi bispo de Nova Friburgo de 1960 a 1992 e vice-presidente da CNBB de 1979 a 1983, quando Dom Ivo Lorscheiter era presidente e Dom Luciano Mendes de Almeida era secretário. Entre outros cargos, foi presidente do Departamento de Liturgia do CELAM de 1979 a 1982; 2º vice-presidente do CELAM de 1983 a 1987; participante das Conferência de Puebla (1979) e Santo Domingo (1992); e vigário geral da Diocese de Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Dentro da Igreja, sempre se destacou na dimensão litúrgica, tendo, inclusive, participado do Concílio Vaticano II. Cursou Teologia na Escola Teológica de São Bento, do Rio de Janeiro, Filosofia no Mosteiro de São Bento, e é ainda bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro. Atualmente, vive em Recife. É autor de, entre outros, Dom Martinho (biografia) (Rio de Janeiro: Lúmen Christi, 1999).
[5] Carlo Maria Martini, cardeal, é arcebispo emérito de Milão, na Itália. Foi considerado papabilis por muitos anos.
[6] Walter Kasper, cardeal alemão, teólogo de renome internacional, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.
[7] Jean-Claude Guillebaud é jornalista, ensaísta e diretor literário da prestigiada Editora francesa Seuil; autor de diversas obras, entre elas A traição do Iluminismo – Prêmio Jean Jacques Rousseau, 1995 e A tirania do prazer – Prêmio Renaudot de Ensaio, 1998, sendo referência obrigatória nas interlocuções de um possível “neocristianismo” defendido por teólogos protestantes e católicos, que recuperam as bases cristãs dentro de uma epistemologia coerente, não alicerçada somente no irracionalismo da fé.
[8] Maio de 68 foi o tema da edição 250 da Revista IHU On-Line.
[9] Joseph Alois Ratzinger é o papa Bento XVI, desde o dia 19 de Abril de 2005. Foi eleito como o 265º papa com a idade de 78 anos. Foi eleito para suceder ao papa João Paulo II.
[10] O Papa Paulo VI, nascido Giovanni Battista Enrico Antonio Maria Montini, foi papa do dia 21 de junho de 1963 até à data da sua morte, em 6 de agosto de 1978. Chefiou a Igreja Católica durante a maior parte do Concílio Vaticano II e foi decisivo na colocação em prática das suas decisões.
[11] Pio V, nascido Antonio Michele Ghisleri, foi papa de 7 de Janeiro de 1566 até a sua morte. Foi beatificado no dia 27 de Abril de 1672 e foi canonizado no dia 22 de Maio de 1712. Aplicou as decisões do Concílio de Trento, estabeleceu o texto oficial da Missa e do Ofício Divino, foi responsável pela publicação do Catecismo Romano e ordenou o ensino da Teologia tomista nas universidades. Sua principal obra foi a convocação de uma cruzada contra os muçulmanos.
[12] Adolfo Nicolás, é o Superior Geral da Companhia de Jesus desde 19 de Janeiro de 2008.
[13] O papa João Paulo II, nascido Karol Józef Wojtyła, foi o Sumo Pontífice da Igreja Católica Apostólica Romana de 16 de Outubro de 1978, sucedendo ao papa João Paulo I. Foi o primeiro papa não-italiano em 455 anos e o primeiro papa de origem polaca.
Extraído de http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=15937 acesso em 17 ago. 2008.
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