Por outro lado, é mediante estes últimos métodos que os primeiros atingem os seus objectivos, pois todo o estudo científico tem uma finalidade essencialmente pastoral. Uma das grandes dificuldades da Igreja, ao longo da sua já longa História - numas épocas mais do que noutras - foi precisamente a de saber traduzir a linguagem da Bíblia para os fiéis. Tudo quanto afirmamos é justamente ressaltado em todos os documentos da Igreja sobre a Bíblia[1]. Por isso, não se percebem tantas reticências quanto ao uso da Bíblia, nem os receios de falsas interpretações devidas à leitura da Bíblia pelo povo. Se a Bíblia nasceu dum povo e foi sempre o livro do povo - e não apenas dos exegetas e do clero - a principal tarefa da Igreja estará em ensinar o povo a ler e a compreender a Bíblia como Palavra de Deus. Não podemos voltar a um passado, mais ou menos remoto, em que se retirou o pão da Bíblia das mãos do povo, oferecendo-lhe, em troca, o alimento de muitas devoções de valor cristãmente duvidoso. Para acabar com todos os equívocos, o Concílio Vaticano II afirmou solenemente:
"A Igreja venerou sempre as divinas Escrituras como venera o próprio Corpo do Senhor, não deixando jamais, sobretudo na sagrada liturgia, de tomar e distribuir aos fiéis o Pão da vida, tanto da mesa da Palavra de Deus, como do Corpo de Cristo"A Igreja parte da convicção de que é a Palavra de Deus que há-de renovar a pastoral dos seus agentes e a vida dos cristãos e das comunidades: Deus, que outrora falou, dialoga sem interrupção com a Esposa do Seu amado Filho; e o Espírito Santo - por Quem ressoa a voz do Evangelho na Igreja e no mundo - introduz os crentes na verdade plena e faz com que a Palavra de Cristo neles habite em toda a sua riqueza (ver Col 3,16). A este propósito, o card. Martini diz que um povo que não utiliza a Palavra permanece passivo e mudo, a ouvir e a calar, não cresce na comunhão do mistério e não pode exprimir na vida a sua fé.
(DV 21).
As experiências levadas a cabo tanto em países culturalmente avançados como menos avançados testemunham, por um lado, a ignorância quase total do que é a Bíblia e a falta de convicção da sua necessidade, o que se deve a uma catequese muito deficiente; por outro lado, sentiu-se a necessidade duma leitura simples e popular da Bíblia, acessível a todas as pessoas.
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[1]. "Considerando as imensas fadigas arcadas pela exegese católica durante quase dois mil anos, para que a Palavra de Deus, comunicada aos homens nas Sagradas Letras, se compreenda cada dia mais perfeitamente e mais ardentemente se ame, surge espontânea a convicção de que os fiéis, e particularmente os sacerdotes, têm o grave dever de aproveitar larga e santamente aquele tesouro acumulado durante tantos séculos pelos maiores talentos. Deus não deu aos homens os livros santos para satisfazer a sua curiosidade, ou para lhes oferecer matéria de estudo e investigação, mas, como adverte o Apóstolo, para que estes divinos oráculos nos pudessem levar à salvação pela fé em Jesus Cristo" a fim de que o homem de Deus seja perfeito e apto para toda a boa obra" (Divino Afflante Spiritu, nº 26 in Alves, H., Documentos da Igreja sobre a Bíblia, p. 184).
Extraído de http://www.capuchinhos.org/porciuncula/ler_biblia/introducao.htm acesso em 18 ago. 2008.
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