Deu no Instituto Humanitas-Unisinos:
Para melhor agir, pensar e sentir a liturgia da Vigília Pascal, a Profª. Drª. Ione Buyst, irmã religiosa e doutora em teologia dogmática com concentração em liturgia pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo, está presente no IHU para ministrar dois minicursos, como parte da programação da Páscoa IHU 2009.
Profª. Drª. Ione Buyst |
Ir. Ione, que é membro e co-fundadora da Associação dos Liturgistas do Brasil e assessora de cursos de formação litúrgica em todo o país, destacou que a importância da liturgia nas celebrações é justamente unir estas três ações: o agir-fazer, o pensar-saber e o sentir-viver. Dessa forma, explicou, é que o mistério de cada celebração pode ser celebrado com a inteireza do ser – consciência, vontade e sentimento.
A importância que a liturgia tem, nesse sentido, é aquilo que os liturgistas chamam de mistagogia, ou seja, conduzir para dentro do mistério. Porém, muitas vezes, a formação litúrgica, especialmente nos seminários, promove uma separação entre teoria e prática, o que é justamente a morte da liturgia, destacou Ir. Ione, que também é professora da pós-graduação em pedagogia catequética na Universidade Católica de Goiás e autora do livro "Música ritual e mistagogia" (Paulus), em parceria com Joaquim Fonseca.
Um dos exemplos destacados pela liturgista é o próprio sinal da cruz, tão importante para os cristãos. Esse sinal, afirmou Ir. Ione, resume uma profunda teologia da cruz: quem o faz está se crucificando junto com Cristo. O cristão que se expressa dessa forma demonstra claramente o seu desejo de seguir Jesus, inclusive, se necessário, até a morte. Mas quantos cristãos se dão conta disso ao fazer o gesto?
Essa expressão corporal tem grande importância para a liturgia, não apenas a cristã. Segundo Ir. Ione, a liturgia alimenta a dimensão sagrada do corpo, que, na teologia cristã, é "templo do Espírito", afirmou. Corpo e liturgia são duas dimensões relacionadas e necessárias.
Torna-se necessário, assim, compreender a liturgia como um ato de fé, ou seja, a liturgia forma o fiel. Mas para isso, destacou Ir. Ione, é necessário dialogar com os ritos, ou, em suas palavras, "subjetivar a objetividade do rito".
Aqui entra uma nova compreensão da liturgia, chamada de teologia sacramentaria ecológica. Segundo Ir. Ione, nessa interpretação teológica o cosmos é um sacramento primordial, em uma busca mais profunda por um diálogo com as demais religiões, com uma preocupação central com a ecologia – em suma, com todo o cosmos. Isso estaria, inclusive, em sintonia com o que os estudos da teoria quântica vêm revelando, explicou a liturgista. Ir. Ione comentou que os estudos mais avançados da física revelam que não há uma divisão sensível entre matéria e espírito. O desafio, para a liturgia, é também ver a matéria como o lugar da divindade, como o lugar da revelação de Deus, como defendeu e vivenciou Teilhard de Chardin.
Porém, tudo isso foi apenas uma introdução. A vivência litúrgica, destacou Ir. Ione, é vivida na prática, com criatividade, com o silêncio, os gestos, a palavra. Com técnicas de relaxamento e aquecimento, motivações verbais, cantos, mas principalmente a vivência experimental, prática, de um determinado rito. A ação de cada participante, por isso, foi muito necessária ao longo do dia, não apenas como atitude interior, mas também colocando "a mão na massa". Citando o conceito de "homo ludens", de Johan Huizinga, apresentado ainda na década de 30, Ir. Ione defendeu que a liturgia também é uma forma de expressão do caráter lúdico do ser humano. Como em uma brincadeira – teologicamente embasada e revivida a partir da tradição.
O minicurso e a vivência litúrgica continua nesta quinta-feira, das 8h30 às 16h30, na sala 1G119, na Unisinos. Confira aqui outros eventos que compõem a Páscoa IHU 2009, que segue até o dia 26 de abril.
(Reportagem de Moisés Sbardelotto)
Extraído de http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=21079 acesso em 02 abr. 2009.
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