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sábado, 23 de maio de 2009

Franciscanos seculares... afinal de contas o que queremos?

Frei Almir Ribeiro Guimarães,OFM (*)

1. A Fraternidade Franciscana Secular reúne homens e mulheres desejosos de seguir de perto Jesus Cristo. São leigos e vivem no mundo. Querem ser discípulos do Mestre à maneira de Francisco, de Clara e de tantos outros, leigos e religiosos, que viveram e vivem à luz da espiritualidade franciscana através de séculos. Antes de mais nada são pessoas fascinadas pela pessoa de Cristo, vivo e ressuscitado. Foram tocados pelo Mestre. Não podem mais viver sem ele. Em sua biografia pessoal podem contar com muitos encontros pessoais com o Mestre.

2. Buscam um amadurecimento humano, cristão, franciscano e missionário vivendo em fraternidades. Os formadores se preocupam de lhes propiciar elementos na linha de um renovado encontro com o Mistério de Cristo na Igreja. A maturação. No campo espiritual esse amadurecimento. A reunião geral é o sacramento de sua vida fraterna.

3. Não constituem os franciscanos seculares um grupo devocional ou “piedoso”. Na realidade, não são “inofensivos” , mas querem ser testemunhas de um mundo novo que descobriram a partir do encontro com Cristo. Com isto incomodam e questionam um certo status quo. Nunca se esquecem que, como Francisco, desejam restaurar a Igreja que pode apresentar rachaduras e fissuras... Fazem-no através do retorno ao Evangelho. De alguma forma adotam em suas vidas, a metodologia do ver, julgar e agir.

4. No coração dessas pessoas, efetivamente, está presente o desejo de viver a aventura do Evangelho. Buscam a perfeição na caridade, ou seja, a santidade, com as cores francisclarianas. Desejam fazer uma profunda experiência do Deus Altíssimo, do Bem, do Sumo Bem. Na realidade querem conformar-se com Cristo. Sentem-se chamados a entrar num processo de conversão evangélica que não conhece termo. Em suas vidas, com efeito, o doce se torna amargo e o amargo , doce. A contemplação dos mistérios de Cristo ocupa lugar importante em suas vidas. Mais do que isto, como Paulo, querem viver em sua carne os mistérios do Filho de Deus.

5. Permanecendo no mundo, em suas famílias e locais de trabalho, os franciscanos seculares se comprometem através da profissão (promessa/compromisso) a impregnar o mundo secular do Evangelho de Jesus: trabalho, respeito pela natureza, construção da paz, busca da justiça, dimensão política, âmbito familair. Sobretudo sentem-se responsáveis pela criação de ambientes fraternos e são “teimosos” em trabalhar pela paz.

6. Seguem carinhosa e persistentemente os preceitos da Regra da OFS aprovada pelo Papa Paulo VI a 24 de junho de 1978. Para os franciscanos seculares, a Regra é roteiro de vida. Estudam-na, meditam suas orientações na oração, no retiro, em dias de estudo, na reunião geral. O conteúdo da formação dos irmãos é um desdobramento dos preceitos da Regra.

7. Os irmãos se reúnem em fraternidades: fazem a experiência do irmão vivendo com o irmão, na oração em comum, no crescimento espiritual em comum, interessando-se uns pelos outros e pelos de fora. Suas fraternidades não constituem ninhos quentes ao abrigo das intempéries, mas plataformas para a missão.

8. Em suas vidas, como na vida de Francisco, há sempre uma tensão entre o eremitério e as estradas, a contemplação silenciosa e o arroubo da missão, a oração e a ação. Acompanham atentamente os mistérios de Cristo ao longo do ano litúrgico e na oração da liturgia das horas. Gostam dos textos franciscanos que falam do amor seráfico e querem experimentar uma oração contemplativa e mística.

9. Em suas reuniões, sempre bem preparadas, os irmãos estudam, rezam, se formam em todos os sentidos. Ninguém falta à reunião geral, ponto forte da vida de uma fraternidade: momentos de oração, tempo de estudo e ocasião de confraternização.

10. Importante para os franciscanos seculares, a celebração da Eucaristia aos domingos. Muitos franciscanos seculares, dentro de suas possibilidades, experimentam desejo de participar todos os dias da missa. Cultivam uma amizade especial por Cristo, presente em todas as igrejas do mundo, e o adoram porque pela sua santa cruz ele remiu o mundo.

11. Num mundo de pressa, de tempo sempre ocupado os franciscanos seculares cultivam relacionamentos entre os de dentro e os de fora. Têm um cuidado todo particular para com os doentes. Tentam compreender a todos os irmãos, mormente os mais difíceis. Querem “gastar” o tempo com os irmãos, com gente. Gostam de gente...

12.
Num mundo de consumismo e de vaidade, marcado pela aparência e desejoso do poder, mundo de competição e de indiferença, os franciscanos seculares ( e todos os outros) vivem a simplicidade do Evangelho, num estilo de vida não rebuscado e sem sofisticação. Os irmãos servem os irmãos, simplesmente, servem, sem chamar atenção para sua pessoa. Não querem ser protagonistas... São, no dizer do Evangelho, servos inúteis...

13.
Muitos de nossos Conselhos locais animam de verdade as fraternidades e realizam bem sua missão: não deixam que nenhum dos irmãos venha a se perder, preparam a reunião, cuidam de motivar os irmãos, zelam para que a fraternidade seja santa e missionária. Esses conselhos são constituídos de pessoas muito fiéis e responsáveis. Quando são eleitos para seus cargos de serviço sabem que serão como pessoas que lavam os pés dos outros.

14. Por onde andam são pessoas corteses e fraternas. Os franciscanos seculares são ativos sem serem deixar que sua ação se torne estéril ativismo. Sabem o que fazem na pastoral. Não são meros tocadores de obras nem gente que faz por fazer. Não são frios empregados de uma estrutura apenas organizacional. Fazem-se presentes nas atividades da Igreja diocesana e paroquial sempre com critério e discernimento. Colocam-se à disposição dos responsáveis pela pastoral e pela evangelização. Chegam mesmo a coordenar, não poucas vezes, com muita competência, os trabalhos pastorais. Cuidam sempre, no entanto, de não perder sua identidade evangélico-franciscana. Os que não firmaram sua vocação correm o risco de abandonar a Ordem e preferir ações e atividades na Igreja.

15. Vale a pena insistir no caráter missionário do franciscano secular. Sempre ressoa aos seus ouvidos o lamento e a queixa de Francisco: O Amor não é amado... Por isso, os franciscanos se sentem coagidos a anunciar o Evangelho de Jesus pelo testemunho e pela palavra. Anunciam o Senhor Jesus todos os dias e se engajam nas tarefas mais urgentes. Não são omissos. Pensam nos mais necessitados (os leprosos de hoje) e se adestram na costura do tecido da paz.

A todos levam uma mensagem de esperança e de paz.

(*) Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM é Assistente Nacional para a OFS e Assistente Regional da OFS do Sudeste II

Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/artigos/almir_070808/artigos_30.php acesso em 23 maio 2009.

Ilustração: The Charity of St. Elizabeth of Hungary / Edmund Blair Leighton. 1895.


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