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domingo, 16 de novembro de 2008

Sínodo dos Bispos atualizou o Concílio Vaticano II

Entrevista especial com Johan Konings

Johan Konings participou XII Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, realizada de 5 a 26 de outubro, no Vaticano. Ele classifica o evento como “fabuloso”. Na entrevista concedida por e-mail para a IHU On-Line, Konings afirma que o sínodo “foi uma oportunidade para conhecer a situação e os projetos das mais diversas regiões onde a Igreja está presente neste mundo globalizado”. E conclui que “não se deu um passo para trás em relação ao Concílio, mas que, pelo contrário, se mostrou uma vontade unânime de avançar”.

Johan Konings é professor no Instituto Santo Inácio - Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus – ISI - CES, de Belo Horizonte, MG. Graduado em Filosofia e Teologia, Konings concluiu o doutorado em Teologia na Universidade Católica de Louvaina, na Bélgica. Entre seus livros publicados, citamos Ser cristão – Fé e prática (Petrópolis: Vozes, 2003) e Liturgia Dominical. Mistério de Cristo e formação dos fiéis (anos A – B – C) (Petrópolis: Vozes, 2003). È autor também do Cadernos Teologia Pública número 1, intitulado Hermenêutica da tradição cristã no limiar do século XXI.

Confira a entrevista.
IHU On-Line - Qual a avaliação geral que o senhor faz do Sínodo sobre a Bíblia realizado em Roma recentemente, considerando a sua importância no momento atual? Quais os principais avanços e quais os pontos que deixaram a desejar?

Johan Konings - O Sínodo é uma instituição para dar continuidade ao Concílio Vaticano II. Deve promover a recepção do Concílio pelo povo eclesial. A importância disso salta à vista quando se sabe que o Concílio de Trento levou quatrocentos anos para ser mais ou menos “recebido” no Brasil. Agora, estamos a mais de quarenta anos do Vaticano II (1962-1965), mas espera-se que a recepção não leve quatro séculos. As sucessivas Assembléias Gerais do Sínodo dos Bispos servem para fomentar e atualizar a realização na prática daquilo que o Concílio projetou. Assim, o Concílio fez um documento sobre a Revelação Divina: a constituição conciliar Dei Verbum, talvez o texto mais importante do Concílio. O último capítulo se intitulava: “A Palavra de Deus na vida da Igreja”. O Sínodo de 2008 teve como tema: “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”. Nota-se a intenção de continuar e de atualizar o Concílio, insistindo na “missão”, termo que não estava no texto do Concílio. Pois desde o Concílio percebeu-se que missão não é apenas ir aos indígenas da Amazônia, mas às tribos de nossa juventude urbana e aos pagãos de nossas avenidas e campi universitários. Olhando assim, achei o Sínodo fabuloso. Foi uma oportunidade para, através da voz de 253 bispos, eleitos por seu confrades de cada região, conhecer a situação e os projetos das mais diversas regiões onde a Igreja está presente neste mundo globalizado. E pode-se dizer que não se deu um passo para trás em relação ao Concílio, mas que, pelo contrário, se mostrou uma vontade unânime de avançar.

IHU On-Line - Como foi a participação das 25 mulheres e do rabino chefe de Haifa, Israel, Shear-Yashuv Cohen, neste sínodo? Como o senhor avalia a presença deles neste importante evento?

Johan Konings - A participação das mulheres foi, acho eu, uma coisa normal. Participaram como observadoras, pois os participantes com direito a voto eram somente os bispos. Claro, lamenta-se que a atual estrutura da Igreja não tenha mulheres na hierarquia. Algumas deram testemunho impressionante. Lembro-me de uma africana que falou das pequenas comunidades do povo sofrido na África, e de uma russa, professora de artes plásticas, que testemunhou sobre o impacto que os ícones com cenas bíblicas evocam entre seus colegas descristianizados. A própria madre geral das Paulinas, brasileira, falou com clareza sobre a pastoral bíblica popular. Quanto ao Rabino de Haifa, deu um testemunho da veneração profunda com que o povo judeu - pelo menos os piedosos - escuta e rumina a palavra de Deus na Torá e nos Profetas. Há algo que se percebia o tempo todo: as tensões no próximo e Médio Oriente pesam muito sobre a Igreja. Assim, logo depois do Sínodo, o Papa teve de explicitar junto aos líderes muçulmanos o pedido de respeito pela liberdade religiosa. Quanto a Israel, o problema é que os cristãos na região são quase sempre palestinos, isso sem falar das perseguições abertas na Indonésia e na Índia.

IHU On-Line - Como o senhor avalia o Sínodo no que diz respeito ao processo de reunir os avanços da leitura Bíblica Pastoral nos diversos continentes? Isso foi alcançado?

Johan Konings - O Sínodo não era para “decidir” novidades. Era uma reflexão, um curso de teologia fundamental em torno da Palavra de Deus. Mas nas proposições, ou seja, nas sugestões votadas em plenário para serem apresentadas ao Papa, aparecem claros avanços: o desejo de que a Bíblia seja mais divulgada, estudada com os devidos métodos científicos que a Igreja vem fomentando com toda a força nos últimos cinqüenta anos, claramente expostos no importantíssimo documento da Pontifícia Comissão Bíblica de 1993; o desejo de que o estudo leve à contemplação, à oração e à prática da comunhão fraterna; a valorização do trabalho dois leigos, dos agentes de pastoral bíblica, especialmente das mulheres, para as quais se pede seja estendida a ordenação ao ministério de leitorado; que os pobres sejam “artífices de sua própria história”, impulsionados pela Palavra de Deus acolhida nas suas comunidades; que a Bíblia esteja em todas as famílias, inclusive nas línguas dos povos pequenos e pobres; que a pastoral bíblica não seja uma pastoral ao lado das outras, mas a inspiração que permeie todas as pastorais; que finalmente se leve a sério o enriquecimento bíblico da Liturgia a partir do Vaticano II e o valor de uma homilia bem preparada pelo estudo e pela oração - além de bem proferida; essas e tantas outras foram expressões do desejo praticamente unânime dos bispos de avançar na linha do Concílio Vaticano II.

IHU On-Line - Por que os livros Apócrifos atraem tanto o público? Não está na hora de fazer uma leitura de como foram selecionados os livros que hoje formam a Bíblia e revisar os que ficaram de fora?

Johan Konings - Falou-se da Bíblia que temos. Esta é a consignação por escrito do “evento da Palavra de Deus” no seu momento culminante, quando a Palavra se fez carne em Jesus de Nazaré. A Bíblia é o documento escrito desse evento a partir das testemunhas de primeira mão, no tempo dos Apóstolos. Esse testemunho inclui as Escrituras de Israel, que lhe fornecem a linguagem e que em Jesus encontram sua plenitude. É o documento referencial da fé das testemunhas de Jesus. Com isso não se mexe. Seria como destruir um monumento para colocar outra coisa no lugar. É verdade que a Palavra de Deus é maior que a Bíblia. A Palavra de Deus é um diálogo conosco que começou com palavra da criação, como lembra São João no prólogo que anuncia a encarnação dessa Palavra em Jesus - encarnação situada no tempo e no espaço, e que continua na Sagrada Escritura, situada ela também no tempo e no espaço, participando das limitações históricas humanas, sem, contudo, perder sua “confiabilidade” divina. Assim, fica claro que a Palavra de Deus é maior que a Bíblia, que é sua expressão “autorizada”. E ninguém pode proibir a Deus de dar-se a conhecer em outras oportunidades, em escritos não oficiais, em outras religiões. Mas a Bíblia que temos é o monumento seguro do evento Jesus Cristo atestado por seus seguidores de primeira mão, “o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos e o que as nossas mãos apalparam da Palavra da vida”, como diz a primeira Carta de João. Quanto aos apócrifos, estou estudando todos os apócrifos do tempo do Antigo e do Novo Testamento, e posso dizer que não gostaria de complicar a vida dos fiéis com esses escritos, sobretudo os que dizem respeito ao Novo Testamento, escritos num código gnóstico impenetrável.

IHU On-Line - Que hermenêuticas o senhor apontaria como importantes hoje na leitura da Palavra, para não cair em fundamentalismos, literalismos ou leituras ideológicas?

Johan Konings - Quanto à hermenêutica ou interpretação, toda escuta e toda leitura é uma interpretação, pois senão, não se entende nada. Os fundamentalistas pensam que eles não interpretam, mas interpretam sem que saibam, e reforçam interpretações subliminares sem se darem conta disso. Ora, interpretação sempre tem uma dupla interface - por isso se chama “inter”-pretação: é interlocução, mediação entre o texto que representa o evento Jesus no seu momento fundador, abordado com métodos históricos e literários, e o nosso texto de hoje, o texto de nossa vida, em nossa sociedade, em nosso mundo político-econômico-social-cultural-ecológico etc., assimilado com a nossa psicologia pessoal e coletiva. Colocar tudo isso em diálogo é hermenêutica, é leitura. Também no caso da Bíblia.
Extraído de http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=18265 acesso em 16 nov. 2008.

sábado, 15 de novembro de 2008

A atualidade do pensamento de Duns Scotus


Por Frei Sinivaldo Silva Tavares, OFM

Duns Scotus (1265/6 - 1308) foi, com razão, considerado um dos expoentes máximos da “escola franciscana”. Suas intuições e sistematizações teológicas têm, neste sentido, marcado o desenrolar de uma específica maneira de refletir teologicamente, que nos foi legada pela tradição com o nome de “teologia franciscana”. Indagar, portanto, acerca das posições teológicas de Scotus, segundo nos parece, pode se tornar uma grande oportunidade. Pode se converter, de fato, na ocasião propícia para se resgatar nossa mais genuína identidade franciscana e, consequentemente, recuperar sua peculiar relevância para o “nosso tempo”.

Ao tratarmos, portanto, do pensamento de Scotus não podemos deixar de nos perguntar pela sua ‘relevância’, vale dizer, pela importância de suas reflexões teológicas para o “nosso tempo”. A consciência que estamos atravessando uma crise epocal tem-se tornado um lugar-comum. Em âmbito teológico, verifica-se o reflexo desta crise na forma específica de uma profunda crise dos assim chamados “paradigmas teológicos”. Adverte-se hoje a necessidade de se recorrer a paradigmas mais amplos e, ao mesmo tempo, mais flexíveis que permitam à teologia pensar os seus vários temas na sua permanente inter-relação, desentranhando assim a intrínseca abertura de cada evento ou experiência àquela dimensão mais global e complexa da inteira realidade. Para tanto, torna-se imprescindível ampliar, ou, em certos casos, até substituir, os paradigmas utilizados pela teologia moderna e contemporânea.

Urge, portanto, repensar a fé na sua mais intrínseca relação com a totalidade e a complexidade da vida e do cosmos. Por esta razão, a pergunta de fundo que guiará nossa incursão pela teologia de Scotus é precisamente esta: de que maneira suas intuições e suas reflexões podem nos auxiliar na tentativa de elaborar reflexões mais pertinentes, mediante o recurso a paradigmas mais afins aos desafios e às demandas postos à reflexão teológica atual?

Salientamos, de início, que a singularidade de Scotus não consiste propriamente no exercício de um pensamento alheio à complexidade do labor teológico de seu tempo. E o tempo de Scotus, como sabemos, é marcado por graves lacerações e, por isso mesmo, caracterizado por inusitadas possibilidades. Diríamos que a genialidade do ilustre teólogo franciscano consiste justamente na capacidade por ele manifestada de intuir os reais desafios de então e de saber problematizá-los no bojo mesmo da tarefa teológica. Imerso em um específico contexto no interior do qual a teologia se sentia radicalmente confrontada pelo saber das incipientes universidades, Scotus assume com particular gravidade o ônus de repensar as bases e o processo mesmo de constituição da teologia enquanto ciência. Não sucumbe face aos novos desafios por mais que parecessem ameaçadores. Assume a incumbência de pensar radicalmente a fé cristã, pois convencido está de que fé e razão não constituem espaços separados, nem são como que dimensões alheias e, portanto, indiferentes uma à outra. Expressão da acolhida de um dom gratuitamente oferecido, a fé constitui o húmus no interior do qual a razão pode oferecer o melhor de si, explorando ao máximo suas próprias e intrínsecas virtualidades, em vista de uma compreensão cada vez mais profunda dos mistérios de Deus, do ser humano e da inteira realidade criada.

No exercício desta peculiar incumbência, Scotus se destaca pela fina acribia em bem discernir, o que lhe possibilitou dissipar inúmeras confusões e esmerar-se na especulação acerca dos mistérios da fé. O Doutor sutil se caracteriza, ainda, por um raciocínio deveras singular capaz de, num cerrado diálogo com seus interlocutores, desconstruir seus argumentos e forjar conceitos e linguagem novos cada vez mais precisos e inclusivos. Com Scotus, talvez a teologia cristã tenha atingido os mais altos píncaros da especulação. Scotus é filho daquele período plasticamente descrito por Huizinga como “outono da Idade Média”. Todavia, seria injustiça nossa considerá-lo apenas o derradeiro fruto daquele longo e rico período histórico. Scotus constitui, na verdade, o fruto maduro daquela fecunda estação, porque sorveu no melhor dos modos a mais genuína seiva que corria pelos veios mais profundos dos sulcos de então.

É visível, em nossos dias, o crescente interesse pelo pensamento de Scotus. Nosso tempo parece marcado pela experiência da dissolução dos grandes sistemas, pela deslegitimação das grandes narrativas, pelo desencanto em face dos grandes projetos construídos sobre a razão, que parecia constituir um sólido alicerce. Chega-se a falar em pós-Modernidade como termo apto a exprimir o total desencanto frente a todas as grandes pretensões totalizantes e excessivamente pretensiosas da Modernidade. Denominador comum a todos os projetos da Modernidade seria propriamente a “epistemologia forte”: racionalista e naturalista. Por esta razão, poder-se-ia dizer que a Modernidade nasce e se desenvolve num viés oposto àquele inaugurado por Scotus, em fins do século XIII e inícios do século XIV. Estaríamos, porventura, presenciando hoje uma configuração cultural mudada no seio da qual estariam sendo recriadas condições propícias à aceitação da proposta do Doutor sutil? Estaríamos, finalmente, mais predispostos a acolher o modelo defendido pelo ilustre pensador escocês de uma sadia pluralidade dos diversos saberes mediante um processo de profundo respeito pela autonomia de cada um deles?

Extraído de http://www.itf.org.br/index.php?pg=noticias2&id=352 acesso em 15 nov. 2008.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Carta de São Francisco aos governantes dos povos




Por Leonardo Boff


Quase no final de sua vida, Francisco de Assis escreveu uma carta aberta aos governantes dos povos. Mais de mil franciscanos, vindos do mundo inteiro, reunidos em Brasília em meados de outubro, tentaram reescrevê-la. Dei minha colaboração, proibida pelo bispo local, nestes termos:



“A todos os chefes de Estado e aos portadores de poder neste mundo, eu Frei Francisco de Assis, vosso pequenino e humilde servo, lhes desejo Paz e Bem.

Escrevo-vos esta mensagem com o coração na mão e com os olhos voltados ao alto em forma de súplica.

Ouço, vindo de todos os lados, dois clamores que sobem até ao céu. Um, é o brado da Mãe Terra terrivelmente devastada. E o outro, é a queixa lancinante dos milhões e milhões de nossos irmãos e irmãs, famintos, doentes e excluídos, os seres mais ameaçados da criação.

É um clamor da injustiça ecológica e da injustiça social que implora urgentemente ser escutado.

Meus irmãos e irmãs constituídos em poder: em nome daquele que se anunciou como o “soberano amante da vida”(Sabedoria 11,26) vos suplico: façamos uma aliança global em prol da Terra e da vida.

Temos pouco tempo e falta-nos sabedoria. A roda do aquecimento global do Planeta está girando e não podemos mais pará-la. Mas podemos diminuir-lhe a velocidade e impedir seus efeitos catastróficos.

Não queremos que a nossa Mãe Terra, para salvar outras vidas ameaçadas por nós, se veja obrigada a nos excluir de seu próprio corpo e da comunidade dos viventes.

Por tempo demasiado nos comportamos como um Satã, explorando e devastando os ecossistemas, quando nossa vocação é sermos o Anjo Bom, o Cuidador e o Guardião de tudo o que existe e vive.

Por isso, meus senhores e minhas senhoras, aconselho-vos firmemente que penseis não somente no desenvolvimento sustentável de vossas regiões. Mas que penseis no planeta Terra como um todo, a única Casa Comum que possuímos para morar, para que ela continue a ter vitalidade e integridade e preserve as condições para a nossa existência e para a de toda a comunidade terrenal.

A tecno-ciência que ajudou a destruir, pode nos ajudar a resgatar. E será salvadora se a razão vier acompanhada de sensibilidade, de coração, de compaixão e de reverência.

Advirto-vos, humildemente, meus irmãos e irmãs, que se não fizerdes esta aliança sagrada de cuidado e de irmandade universal deveis prestar contas diante do tribunal da humanidade e enfrentar o Juízo do Senhor da história.

Queremos que nosso tempo seja lembrado como um tempo de responsabilidade coletiva e de cuidado amoroso para com a Mãe Terra e para com toda a vida.

Por fim, irmãos e irmãs, modeladores e modeladoras de nosso futuro comum: recordeis que a Terra não nos pertence. Nós pertencemos a ela pois nos gestou e gerou como filhos e filhas queridos. Custo aceitar que depois de tantos milhões e milhões de anos sobre esse planeta esplendoroso, tenhamos que ser expulsos dele.

Pela iluminação que me vem do Alto, pressinto que não estamos diante de uma tragédia cujo fim é desastroso. Estamos dentro de uma crise que nos acrisolará, nos purificará e nos fará melhores. A vida é chamada à vida. Nascidos do pó das estrelas, o Senhor do universo nos criou para brilharmos e cantarmos a beleza, a majestade e a grandeza da Criação que é o espaço do Espírito e o templo da Santíssima Trindade, do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Se observardes tudo isso que Deus me inspirou para vos comunicar em breves palavras, garanto-vos que a Terra voltará novamente a ser o Jardim do Éden e nós os seus dedicados jardineiros e cuidadores”.

Assinado F. de Assis.

* Leonardo Boff é teólogo e autor de mais de 60 livros nas áreas de Teologia, Espiritualidade, Filosofia, Antropologia e Mística. A maioria de sua obra está traduzida nos principais idiomas modernos Extraído de http://www.franciscanos.org.br/ecologia/agua/artigos2008/44.php acesso em 13 nov. 2008

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Francisco de Assis e o cuidado

Por Aldir Crocoli, OFMcap
Testemunhos de cuidado de Francisco
Mística e identidade

1. Francisco não conseguia permanecer com uma roupa caso percebesse que alguém precisava mais do que ele, a tal ponto de que tiverem de proibi-lo de fazer isso sem a licença de seu guardião.

2. Certa feita, diante da queixa da mãe de dois frades que, entrando na ordem a deixaram sem possibilidade do auto-sustento, privada força de trabalho, manda entregar o único novo testamento que havia na casa, porque o evangelho manda ajudar os pobres (2Cel 91. Essa mãe não era esmoler. Apenas manifestara sua apreensão.

3. Embora lhe tenha custado muito no início, Francisco começa a cuidar dos leprosos, os chamados “irmãos cristãos”(CA 64). Foi um passo significativo porque teve de vencer o nojo e o medo de contaminação, além de infringir a norma de profilaxia social. Provavelmente é um dos motivos mais fortes de sua expulsão da família. Pensa o noviciado entre os leprosos (CA 9)

4. Do cuidado com as pessoas passou ao cuidado das demais criaturas. Contam os biógrafos que mandava dar mel e vinho às abelhas no inverno para que não morressem de fome. Solta uma lebre da arapuca. Compra dois cordeiros que estavam sendo vendidos no mercado para que não morressem e os devolve ao dono para criá-los. Pede para cortar as árvores acima do primeiro galho para que tivessem chance de continuar vivendo. Quer um canteiro na horta para as ervas daninhas para que elas possam louvar a Deus.

Razões desse cuidado

1. Francisco, por uma série de fatos de sua juventude, tomou consciência e assumiu sua pequenez e fragilidade, sentindo a necessidade do cuidado de outros. Perdeu a auto-suficiência que torna as pessoas cegas às necessidades dos demais. Quando alguém está de salto alto, os demais não são importantes para ele, a não ser enquanto o favorecem. Perdendo o estrado, sentiu-se um necessitado entre os necessitados. Convivendo com sua finitude vê a vida diferentemente.

Por isso Jesus diz que o rico (o auto-suficiente) tem maior dificuldade de entrar no Reino que um camelo passar pelo buraco de uma agulha.

2. Descobre a grandeza e a beleza de Deus que acolhe e cuida de todas as pessoas, indistintamente, sem excluir nem sequer quem o matava. O poder divino é percebido por Francisco não como um poder despótico que oprime e obriga à obediência, mas como uma proposta a ser acolhida com alegria. Dá-se conta de que ser cristão é seguir no mesmo dinamismo de Deus. Mais que ser batizado, de pertencer a uma instituição, trata-se de reproduzir na vida o modo de ser de Deus que inclui em seus cuidados ater os inimigos.

Provavelmente por volta de 1224, disse, que se pudesse, solicitaria do rei um decreto: que por ocasião do Natal todos tivessem de jogar trigo pelos caminhos para os pássaros comerem; que fosse dada ração em dobro aos animais e que os pobres fossem saciados em sua fome. Pois nesse dia nenhuma criatura tivesse de sofrer, já que Deus veio ao nosso encontro em seu filho Jesus de Nazaré.

3. Começa a construir uma fraternidade (irmãos menores) desde a periferia: com os pobres, com os leprosos, com os excomungados civis. São irmãos que deixam fluir o cuidado de Deus em suas vidas. E, portanto, tratam fraternalmente, de igual para igual, a todos. Na prática, para se viver isso é preciso sempre considerar o outro mais necessitado do que eu. E Deus está sempre interessado no bem de todos, seja quem quer que seja.

Aparece aqui a dinâmica de criação ou construção da fraternidade: a saída de si mesmo em direção ao outro, a todo o outro. Jesus parece colocar isso acima da própria fé e da prática religiosa com o exemplo do samaritano. Numa linguagem muito plástica, mas profundamente antropológica, Francisco recomenda que sejamos mães uns para os outros.

4. A qualidade de vida de uma sociedade não está em seu progresso econômico e nos avanços científicos. Está antes de mais nada na qualidade das relações que se estabelecem entre todos os participantes da sociedade: direitos preservados, necessidades atendidas. Somos todos vocacionados à convivialidade, a sermos comensais da mesma mesa, participantes do mesmo banquete.

A estratégia aqui apresenta duas facetas, que se reclamam mutuamente: o viver expropriado, o viver sem fazer valer o direito à apropriação, pois quem quer acumular começa manipular em proveito próprio; e o viver sem poder, o colocar-se a serviço dos outros.

Viver expropriado é outra maneira de afirmar a partilha em vista do banquete que Jesus tanto insiste em apresentar como figura privilegiada do Reino. Aprender a partilhar foi também uma das grandes provas que o povo bíblico teve de fazer no deserto, conforme nos conta o êxodo 16.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

VIII Centenário de Santa Isabel da Hungria, OFS

Com este video podemos ter idéia dessa formidável mulher que intrinsicamente ligada a forma de vida franciscana , seguindo o CRISTO nos passos de SÃO FRANCISCO DE ASSIS (SEU CONTEMPORÂNEO) , torna-se a primeira santa franciscana da OFS . Queremos nós também festejarmos tão importante data , dos 800 anos de Santa Isabel da Hungria !! PAZ E BEM !!!

XII CAPÍTULO GERAL DA OFS NA HÚNGRIA DE 15 A 22 DE NOVEMBRO DE 2008






A imagem de Isabel da Hungria é o ícone que se impõe à mente e ao coração ao pensar, desde já, neste iminente encontro de grande importância que a Ordem Franciscana Secular de todo o mundo se prepara para viver.Nos últimos dois anos, Santa Isabel foi o centro da vida das fraternidades franciscanas seculares em toda parte do mundo. Hoje, o biênio de celebração do oitavo centenário da patrona da OFS se conclui na Hungria, pátria de Isabel, com a celebração do momento mais expressivo da vida da Ordem, isto é, o momento do capítulo eletivo.De 15 a 22 de novembro próximo, a Ordem Franciscana Secular celebra seu XII Capítulo Geral na Hungria. Será um Capítulo eletivo e tem como tema: “A profissão dos franciscanos seculares e seu significado de pertença à Ordem Franciscana Secular”.Em certo sentido, então, o Capítulo será ocasião para prosseguir e completar a reflexão que, a partir da figura de Isabel, os franciscanos seculares em todo mundo se empenharam em fazer, num esforço de reflexão sobre si mesmo, sobre a própria identidade, sobre a pertença à Ordem, sobre valores profundos do pessoal e específico chamado vocacional.Para ajudar, na fase precedente foi redigido um documento preparatório sobre o qual as diversas realidades de fraternidades nacionais da OFS foram chamadas a trabalhar e refletir nestes meses em preparação ao Capítulo Geral.O logo idealizado como emblema identificador do capítulo, também possui muito significado: No centro há duas mãos em posição de oração com uma rosa simbolizando a unidade, a humildade e o “perfume” da nossa profissão e pertença à OFS e, ao mesmo tempo, recorda Santa Isabel, a nossa padroeira.Em torno há três círculos concêntricos simbolizando a Família Franciscana, ou seja, as três ordens fundadas por São Francisco de Assis. Ao lado das mãos se localizam seis linhas paralelas horizontais que formam uma escada e são símbolos das seis prioridades da OFS (formação, presença no mundo, juventude franciscana, contribuição financeira, assistência espiritual e a comunhão com a família franciscana). Tudo isso, resumido no Tau que se encontra no coração da Igreja. Esta representada pelas doze colunas organizadas como arco contornando os outros símbolos, recordando sua presença no mundo.O Capítulo Geral como todos os capítulos eletivos das fraternidades dos demais níveis, também é ocasião de balanço e avaliação dos serviços daqueles que cumpriram a função de animar e guiar a fraternidade. No caso específico do Capítulo Geral, os capitulares, provenientes de cada parte do mundo, terão a oportunidade de avaliar o trabalho do Conselho de Presidência que há seis anos está no cargo-serviço do “governo” da Ordem.Durante o Capítulo Geral, procederão as eleições de vários cargos-serviços: ministro (a) geral, vice-ministro (a) geral, sete conselheiros (as) de presidência, um conselheiro (a) da Juventude Franciscana. Os conselheiros de presidência são eleitos segundo o modo previsto no Estatuto da Fraternidade Internacional da Ordem Franciscana Secular. O Capítulo Geral determinará previamente a área de representação dos conselheiros no próximo seis anos, que pode ser: lingüístico, geográfico-continental, geográfico-lingüístico ou geográfico-cultural.O atual Conselho é composto pela ministra geral Encarnacion Del Pozo, espanhola que conclui neste capítulo seu primeiro mandato; do vice-ministro geral Rosalvo Gonçalves Mota, brasileiro; dos conselheiros: Lucy A. Almirañez das Filipinas, Doug Clorey do Canadá, Maria Consuelo de Nuñez da Venezuela, Benedetto Lino da Itália, Wilhelmina Visser-Pelsma da Bélgica, Louis Hervé Sylva das Ilhas Maurício, Maria Aparecida Crepaldi do Brasil.Faz parte também do conselho de presidência o espanhol Xavier Ramos Pozo, conselheiro pela Jufra e os quatro assistentes espirituais gerais: frei Armando Trujillo-Cano, TOR; frei Irudaya Samy, OFM Cap; frei Ivan Matic, OFM; e frei Martín Pablo Bitzer, OFM Conv.A ministra e seu conselho foram eleitos em 2002, no X Capítulo. O XI Capítulo celebrado em Assis no ano de 2005 foi dedicado ao início da estratégia pastoral e não foi eletivo.O Capítulo se desenvolverá em sete dias. No primeiro dia, sábado dia 15 de novembro está previsto a chegada dos capitulares, a abertura oficial com a Santa Missa, as saudações aos presentes e a apresentação dos capitulares. No domingo (16) serão introduzidos os trabalhos cumprindo os procedimentos formais e serão apresentados os relatórios do conselho cessante: relatório da ministra, relatório econômico, relatório dos assistentes espirituais, etc. Ainda no domingo serão feitos os trabalhos nos grupos de estudos sobre as atividades do conselho cessante, situação econômica e considerações sobre propostas para modificações no Estatuto.Na segunda-feira (17) pela manhã será votada a aceitação dos relatórios do conselho cessante, o restante do dia será dedicado ao aprofundamento e à formação. A assembléia ouvirá as palestras de frei Felice Cangelonsi, vigário geral dos Frades Menores Capuchinhos, com o tema “profissão dos franciscanos seculares”, e de Emanuela de Nunzio, ex-ministra geral, sobre o tema “senso de pertença à OFS”. À tarde, os capitulares irão para Estergom, onde solenemente será celebrada a conclusão do biênio jubilar de Santa Isabel.Terça-feira (18), a maior parte do tempo será reservada para o aprofundamento em grupo. Serão avaliadas as áreas bases das quais se elegerá os conselheiros de presidência, e será completado o quadro das candidaturas.Na quarta-feira (19), frei Marco Tasca, ministro geral dos Frades Menores Conventuais, na função de delegado da Conferência dos Ministros Gerais da Primeira Ordem e da TOR, presidirá a fase eletiva, que durará o dia todo e se concluirá com a celebração eucarística e a benção da nova presidência. A eleição do novo conselho será festejada pelos capitulares com uma noite fraterna. A quinta-feira (20) será dedicada a um passeio fraterno com uma visita a Budapeste.O dia de sexta-feira (21) será usado como um tempo de aprofundamento e reflexão sobre propostas para a nova presidência trabalhar nestes próximos seis anos. A partir das sugestões dos próprios capitulares ou recolhidas das fraternidades nacionais será escrita a agenda de empenho do governo da Ordem. As propostas e prioridades serão elaboradas nos grupos de estudo e apresentadas à assembléia para serem votadas e escolhidas como os seis pontos da ação da OFS no mundo durante o mandato do novo conselho de presidência.O capítulo se encerrará no almoço de sábado (22), depois uma última assembléia plenária será convocada para a votação do texto de conclusão do Capítulo, que representa o documento final, quase um “manifesto” da presidência eleita a respeito da indicação das propostas e prioridades recebidas da assembléia do capítulo.É válido repetir a importância do Capitulo, não só pela delicadeza de escolher as pessoas para governar a Ordem por seis anos, mas também para enfatizar que deste encontro sairão as respostas aos desafios que a Ordem enfrenta, desafios bem resumidos no documento preparatório:“É necessário ‘inventar’, ‘criar’ um modo de ser e de agir que corresponda às exigências de uma Ordem Secular, composta predominantemente por leigos, plenamente envoltos às coisas do mundo e nas atividades cotidianas das famílias, do trabalho e da sociedade. É preciso ser capaz de assumir as exigências de harmonia e íntima conexão com todos os membros da instituição sem que, para isso, a Ordem perca a sua capacidade de ser em todo lugar, igual ou diverso, expressão do comum carisma nas variadas e múltiplas situações presentes no mundo. Com agilidade, capacidade de adaptação e o inesgotável impulso carismático que reluz, possa permanecer indicando, verdadeiramente, o fundamento vital do mundo.”“O desafio - conclui sabiamente o documento- se pode vencer ou perder. A nós cabe o empenho para que a OFS o vença”.Sobre a atual ministra geralEncarnación del Pazo, OFS foi eleita ministra geral da Ordem Franciscana Secular em novebro de 2002. Encarnita, como é carinhosamente chamada, faz parte da fraternidade de Santo Antonio de Cuarto Caminos, em Madri, capital da Espanha. Professou na OFS com 19 anos no dia 8 de dezembro de 1965. Nos seus 43 anos de profissão já serviu a Ordem como ministra da fraternidade local, ministra regional, ministra nacional da Espanha, conselheira de presidência do CIOFS pela língua espanhola, vice ministra geral, e ultimamente, ministra geral da Ordem.Atualmente reside em Madri com seu marido Juan Renóm, que também é franciscano secular e a apóia no seu amor e empenho pela Ordem. Do ponto de vista profissional é formada pelo Instituto de Seguros de Madri e hoje trabalha como corretora de seguros autônoma.OFS no mundoHoje, existem mais cerca de 430.000 franciscanos seculares professos e mais de 50.000 inscritos na Juventude Franciscana presentes em mais de 100 países nos cinco continentes.Europa:Albânia, Alemanha, Áustria, Bielorrússia, Bélgica, Bósnia, Bulgária, Croácia, Chipre, República Checa, Dinamarca, Estônia, França, Inglaterra, Irlanda, Itália, Cazaquistão, Letônia, Lituânia, Malta, Noruega, Holanda, Polônia, Portugal, România, Rússia, República Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Suécia, Suíça, Ucrânia, Hungria.África:Angola, África do Sul, Benin, Burundi, Camarões, República Centro Africana, Chade, República Democrática do Congo, Costa do Marfim, Egito, Eritréia, Madagascar, Malawi, Ilhas Maurício, Moçambique, Nigéria, Quênia, Ruanda, Tanzânia, Togo, Uganda, Zâmbia, Zimbábue.América:Argentina, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, República Dominicana, Equador, El Salvador, Estados Unidos, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico, Uruguai e Venezuela.Oceania:Austrália, Nova ZelândiaÁsia:Coréia, Filipinas, Japão, Hong Kong, Índia, Indonésia, Líbano, Malásia, Paquistão, Singapura, Sri Lanka, Tailândia, Taiwan e Vietnam.
Fonte FVS-Revista Oficial da OFS da Itáilia - Traduzida por Paulo Américo Piotto

sábado, 8 de novembro de 2008

Campanha da Fraternidade 2009

Paz e bem!

A Campanha da Fraternidade 2009
terá como tema:
Fraternidade e Segurança Pública
com o lema:
A paz é fruto da justiça. (Is 32, 17)

E seguem abaixo três vídeos:

1 Hino da CF2009


2 Vídeo institucional da CF 2009


3 Oração da CF2009

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