Deu no CCFMC Boletín Abril 2008:
Parece que todas as experiências no sentido de que as guerras não resolvem os conflitos, pelo contrário, causam nova violência, não fizeram com que as pessoas no poder sejam mais prudentes. O terror e o ódio não podem ser vencidos por bombas e mísseis, a ânsia de liberdade e autodeterminação não pode ser oprimida por muros e arame farpado. O balanço do sofrimento no Iraque e no Afeganistão, no Médio Oriente e em muitas regiões de conflito da África, no Tibet e na Birmânia é tão deprimente que a nossa razão nos deveria dizer: basta.
Basta também porque só a guerra no Iraque custa a quantia inconcebível de 6000 mil milhões de dólares incluindo todos os custos adicionais, segundo um estudo acabado de ser publicado e elaborado pelo economista e prêmio Nobel norte americano Joseph Stiglitz e por Linda Bilmes. Quando, em 2005, a comissão orçamental do Congresso norte americano indicou os meios até à altura dos gastos com a guerra do Iraque com 500 mil milhões de dólares, Stiglitz suspeitou e começou a calcular de novo. Chegou ao seguinte resultado: a guerra custa, só aos EEUU, 3 bilhões de dólares, e o resto do mundo tem de pagar o mesmo montante. Em total seis bilhões. O fato de que esta soma gigantesca vai faltar para resolver os verdadeiros problemas como pobreza, fome, doenças, proteção do meio ambiente, está patente. E isto é mais deprimente ainda, pois, desta maneira, arriscamos o nosso futuro. Por um bilhão de dólares só poderiam pagar-se 15 milhões de professores ou dar-se assistência médica a 530 milhões de crianças. Este é o cálculo deprimente dos autores.
Se a guerra – também por razões econômicas – já não presta para defender-nos do terror e para solucionar conflitos de interesses globais, podemos, então, ainda esperar um mundo mais justo e mais humano? Seria, no entanto, simplório, denunciar só as pessoas no poder. Não devemos deixar aos outros gerarem a paz, mas temos de começar nós mesmos – como tratamos os outros, os concorrentes, os estrangeiros. A paz é uma atitude, que tem de ser expressa no pensamento e na linguagem.
Francisco foi uma pessoa exemplar de paz. Como encontrou a paz em Deus foi capaz de agüentar também conflitos e tematizá-los sem violência, mas decididamente. A não-violência não é uma atitude fraca de tolerância, mas sim uma atitude interior de respeito e paciência. Com esta atitude, Francisco conseguiu verdadeiramente gerar a paz em muitas cidades, como também em casos de litígios pessoais. Mas, a condição prévia é que não continuemos presos querendo ter razão e querendo possuir. Por isso, Francisco converte a pobreza no pilar mestre da sua comunidade, pois, segundo a sua opinião, posses e a guerra estão intrinsecamente ligadas.
A sua atitude não violenta e geradora de paz concentra-se na famosa lenda do Lobo de Gubbio que nos é contada nas “Fioretti”. Francisco gera a paz entre os cidadãos de Gubbio e um lobo mau que só se fez uma besta feroz devido à fome. Vai ao encontro do lobo sem medo e sem armas persuadindo-o a desistir dos seus roubos, ao mesmo tempo persuadiu os cidadãos de Gubbio a que só poderiam viver em paz se dessem, ao mesmo tempo, aquilo que o lobo necessitava para viver. Assim se fez um pacto estranho de paz. No futuro, o lobo e os cidadãos da cidade viviam juntos em paz.
Esta lenda do lobo de Gubbio é uma fábula na qual todos os elementos franciscanos de gerar a paz podem ser vistos. A paz nunca se faz sozinha, devem dar-se os passos necessários até à paz. A paz não se pode conseguir à força, pois a violência gera nova violência, portanto, a renúncia às armas e o compromisso à não-violência ativa. Francisco estava convencido de que, no fundo, só Deus pode garantir a paz. Por isso também é claro que a paz sem violência não pode ser conseguida sem uma espiritualidade profunda. A paz só pode ser mantida se nos entendermos e tratarmos como irmãos e irmãs, quer dizer, se renunciarmos a todas as formas de prepotência e predominância. Gerar a paz quer dizer ativar a reconciliação. Por outras palavras: perdoar onde for necessário, e aceitar desculpas onde forem oferecidas. E finalmente: os conflitos, regra geral, surgem onde as condições forem completamente desiguais e injustas. A paz sem justiça não é possível.
A visão franciscana é determinada por simplicidade e humildade, pelo amor ao próximo e pela alegria. Luta contra todas as formas de violência e contra a exploração dos povos e da Criação. Insiste em relações justas e determinadas pelo amor entre os povos tentando assim recordar o plano de Deus dum desenvolvimento do universo.
Andreas Müller OFM
Extraído de http://www.ccfmc.net/wPortugues/cbcmf/cbcmf-news/2008/2008_04_News.shtml?navid=92 acesso em 03 set. 2008.
Nenhum comentário:
Postar um comentário