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segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Opção por uma Igreja fraternal

Deu no CCFMC-Boletín Fevereiro de 2008:

A missão franciscana fomenta o modelo duma Igreja fraternal, na qual todos, desde o Papa até ao mais pobre dos pobres, desde o bispo até a um simples membro da paróquia, se devem tratar simplesmente como irmãs e irmãos. Pois, a realidade básica da Igreja é comunhão, povo, koinonia. A Palavra de Deus convida-nos a isso. Por isso, Cristo veio ao mundo. É Ele quem forma a comunidade, quem reconcilia judeus e gentios. O que nós podemos fazer, é celebrar e viver o que Cristo viveu e anunciou. Assim nos diz Lucas: “Eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos Apóstolos, na comunhão fraterna, no partir do pão e nas orações,” (Act 2,42)

Esta descrição é o padrão de todas as comunidades eclesiásticas nos primeiros dois séculos. Viviam como igreja na clandestinidade. Foi perigoso ser-se cristão. Ajudaram uns aos outros a viviam em comunidade o Evangelho. Os quatro Evangelhos nasceram para ajudarem as comunidades a viverem em comunhão. Foram escritos pelas comunidades para as comunidades, para encontrarem uma resposta às próprias perguntas. O impulso missionário emanou destas comunidades.

A situação da Igreja modificou-se fundamentalmente, quando, no reinado do Imperador Constantino, no princípio do século IV, o cristianismo foi declarado religião do Estado. A Igreja tornou-se Igreja popular. Foi necessário ser-se cristão para conseguir uma posição social. Mas assim também entrou a mediocridade e a superficialidade na Igreja, e, portanto, a necessidade de que as pessoas, que queriam viver o ideal original, se reunissem em comunidades pequenas tentando viver conforme o exemplo das primeiras dioceses, como João Lassian notou no século IV.

Isto foi o princípio da vida monástica e, simultaneamente, a sua primeira característica mais importante: levar a Igreja outra vez aos seus ideais originais do Evangelho. Uma pessoa que reconheceu isto intuitivamente foi Francisco de Assis. Pela sua fraternidade radical introduziu uma idéia bastante revolucionária nos pensamentos ordenadores da igreja e da sociedade do seu tempo. Todos são irmãos e irmãs. Não há senhores e servos, não há diferenças de classes. Por isso, Francisco também não quis superiores para a sua Ordem. Quem tem uma função dirigente deve ser o ministro, o servo dos outros.

Esta alternativa da vida em comum é um apelo a todos. Desde o Papa até ao simples leigos, desde o bispo até às pessoas humildes nas comunidades – todos têm a mesma dignidade. São filhos e filhas do Pai dos Céus, irmãos e irmãs do Filho que se fez homem, Jesus de Nazaré. Como Ele, nós devemos servir-nos uns aos outros e lavar os pés uns aos outros. Já não vale a lógica do poder, muito menos na Igreja, mas pura e simplesmente a dinâmica do amor. E já não existe a superioridade de clérigos sobre os leigos, dos homens sobre as mulheres.

É difícil para nós descobrir este modelo fraternal na convivência na Igreja de hoje. Pois é uma idéia de Igreja que é capaz de escutar, de deixar espaço de crescimento, na qual a confiança é mais importante do que o controle, na qual o encorajamento vale mais do que a intimidação e o desenvolvimento criativo é mais desejado do que a simples obediência. É uma Igreja que renuncia a privilégios e insígnias do poder espiritual.

Era uma Igreja fraternal com a qual sonhava Francisco, e a única tarefa das pessoas franciscanas é testemunhar e construir esta Igreja fraternal. Os dois textos básicos de Mattli 1982 e Aparecida 2007 oferecem bons estímulos e impulsos a este respeito. E, portanto, é fácil responder à pergunta em que medida o centralismo eclesiástico corresponde ou contradiz às idéias básicas do Evangelho.

Estes são os problemas prementes do nosso tempo, que estão domiciliados na teologia franciscana da Encarnação de Deus. Em outras palavras: é o antigo sonho da humanidade, que Deus colocou no nosso berço, dum mundo mais justo, mais humano, mais pacífico, menos violento. Esta é a nossa missão. No entanto, nunca tem sido mais atual do que hoje em dia.

Andreas Müller OFM

Extraído de http://www.ccfmc.net/wPortugues/cbcmf/cbcmf-news/2008/2008_02_News.shtml?navid=92
acesso em 1º set. 2008.

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