Frei Almir Ribeiro Guimarães,OFM (*)

2. E, no entanto, não pode haver amor morno para Cristo e para o Evangelho. Há uma palavra dura do Apocalipse que sempre nos questiona. A testemunha fiel, o Amém, assim se dirige ao anjo da Igreja de Laodicéia: “Conheço as tuas obras. Oxalá, fosses frio ou quente. Mas porque és morno, nem frio nem quente, estou para vomitar-te de minha boca” (Ap 3,14-15). Nos últimos tempos temos ouvido e lido muito a respeito da expressão “ardor”, “novo ardor”. Quem fala em ardor pensa naquilo que queima, que é quente. Não podemos elogiar um cristão frio, indiferente, rotineiro, “fazedor de rezas e de tarefas”.
3. Ora, Francisco de Assis foi uma pessoa fervorosa. Podemos dizer que apaixonou-se por Cristo, isto é, teve os mesmos sentimentos de Cristo. Encantou-se com seu nascimento singelo, com sua mãezinha pobre, com o fato de não ter ele tido uma pedra para reclinar a cabeça. Francisco viveu interiormente a solidão e o abandono de Cristo em sua via sacra até o alto do trono pobre e duro da cruz. Compreendeu que Deus amava tornando-se simples, despojado, pobre. Encantava-se com o Senhor pobre e despojado nas frágeis aparências do pão.
4. Há, no coração de Francisco, o desejo de amar aquele que não é amado. Famosa a formulação franciscana: O amor não é amado. Se o amor não é amado será preciso tornar-se arauto e divulgador desse amor. Isso se chama zelo missionário ou apostólico. Os franciscanos seculares têm consciência aguda dessa necessidade.
5. “Devotava a Cristo um amor tão fervente, e seu bem amado lhe correspondia com uma ternura tão familiar que o servo de Deus pensava ter diante dos olhos a presença quase contínua do Salvador. Ele mesmo contou isso confidencialmente, várias vezes, a seus companheiros” (São Boaventura IX,2).
6. Omer Englebert tentando compreender o que se passou no coração de Francisco no momento de sua conversão, assim escreve: “O que se pode dizer é que, nesse momento, Francisco é um homem que encontrou o amor e que se sente iluminado do alto. E como tal agirá doravante, consentindo em passar por visionário aos olhos dos cegos que andam nas trevas, e cumprindo atos tidos por loucos por parte dos que nunca amaram. Pode-se acrescentar que nele sobreviverão, no que tem de melhor, seus entusiasmos e ambições juvenis. Como um artista que não muda de estilo ao mudar a inspiração, ele não perderá a originalidade nem tampouco sua nobreza. Ele tinha sonhado ser cavaleiro e cavaleiros permanecerá até à morte” (Vida de São Francisco de Assis, EST Edições, Porto Alegre, 2004, p.51).
7. Pensar em Francisco é pensar em alguém abrasado de amor. Ele foi designado de santo seráfico, por ser semelhante aos serafins, que vivem perto do fogo que é Deus.
8. Temos que prestar atenção para que nosso amor não seja paixão cega. De outro lado, o que seria um amor por Cristo sem um apaixonado e apaixonante testemunho? Há os que amam Cristo fria e cerebralmente. Há outros que o amam zelosa e apaixonadamente.
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM,
é Assistente Nacional da OFS pela OFM
e Assistente Regional da OFM na Região Sudeste II.
Email: freialmir@hotmail.com
Extraído de http://www.franciscanos.org.br/noticias/noticias_especiais/2008/almir_070808/artigos_07.php acesso em 26 set. 2008.
Ilustração de Amaniero (aka Seldon).
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