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quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Pequeno retrato de Francisco de Assis

Frei Almir Ribeiro Guimarães,OFM (*)
Vivia na cidade de Assis, na região do Vale de Espoleto, um homem chamado Francisco (1Celano 1)

Todo mundo conhece Francisco de Assis. Ele é patrimônio da humanidade. Esse Francisco, originário da cidade de Assis, esse italiano natural da verdejante região da Úmbria experimentara no peito a ânsia das coisas grandes e foi se tornando o Irmão Francisco. Não havia nascido para a mesmice e a mediocridade, para a banalidade e a rotina. Tudo nele se revestia do novo e da novidade.

Tomás de Celano, contemporâneo de Francisco, depois da morte do santo ficou encarregado de escrever uma biografia do Pai. É ele, pois, que nos pinta um quadro com os traços de Francisco do mundo inteiro.

“Como era bonito, atraente e de aspecto glorioso na inocência de sua vida, na simplicidade das palavras, na pureza do coração, no amor de Deus, na caridade fraterna, na obediência ardorosa, no trato afetuoso, no aspecto angelical! Tinha maneiras simples, era sereno por natureza e de trato amável, muito oportuno quando dava conselhos, sempre fiel às suas obrigações, prudente nos julgamentos, eficiente no trabalho e em tudo cheio de elegância. Sereno na inteligência, delicado, sóbrio, contemplativo, constante na oração e fervoroso em todas as coisas. Firme nas resoluções, equilibrado, perseverante e sempre o mesmo. Rápido para perdoar e demorado para se irar, tinha a inteligência pronta, uma memória luminosa, era sutil ao falar, sério em suas ações e sempre simples. Era rigoroso consigo mesmo, paciente com os outros, discreto com todos.

Muito eloqüente, tinha o rosto alegre e o aspecto bondoso, era diligente e incapaz de ser arrogante. Era de estatura um pouco abaixo da média, cabeça proporcionada e redonda, rosto um tanto longo e fino, testa plana e curta, olhos nem grandes nem pequenos, negros e simples, cabelos castanhos, pestanas retas, nariz proporcional, delgado e reto, orelhas levantadas mas pequenas, têmporas chatas, língua apaziguante, fogosa e aguda, voz forte, doce, clara e sonora, dentes unidos, iguais e brancos, lábios pequenos e delgados, barba preta e um tanto rala, pescoço fino, ombros retos, braços curtos, mãos delicadas, dedos longos, unhas compridas, penas finas, pés pequenos, pele fina, descarnado,roupa rude, sono muito curto, trabalho contínuo.

E como era muito humilde, mostrava toda a mansidão para com todas as pessoas, adaptando-se a todos com facilidade. Embora fosse o mais santo de todos, sabia estar com os pecadores, como se fosse um deles”. (1Celano 83).

Difícil pintar um retrato desse homem. Muitos gostam simplesmente de designá-lo de Irmão, de Irmão Francisco, de Frei Francisco. E isto lhes basta. Durante muito pouco tempo, pouco mais de quarenta anos, os caminhos desta terra foram percorridos por um irmão de todos que deixou lembranças nas pétalas das flores, na limpidez da água, nas chagas dos doentes e nas penas das cotovias. Ele honrou a humanidade. Foi nosso irmão e o retrato mais acabado de Jesus Cristo.

Éloi Leclerc, franciscano francês, foi martirizado na alma e sofreu no corpo os horrores da guerra. Numa obra do outono de seus dias ( O Sol nasce em Assis) ele evoca o seu encontro com Francisco. Este livro, afirma ele, é a “história de um encontro maravilhoso: meu encontro com um daqueles homens tão raros na nossa história que não nos deixam desesperar do ser humano. Trata-se de Francisco de Assis. Seu espírito – o espírito de Assis, como é chamado – nos traz a luz, uma luz que precisamos atrozmente. Aquele homem luminoso fez surgir no meu coração o Sol, e com o Sol, toda a criação. Foi para ele que me voltei. Foi a ele que pedi no segredo de uma verdadeira fraternidade humana. Pouco a pouco, além das grandes aflições e das tragédias deste mundo, Francisco abriu a minha alma à harmonia profunda e das coisas e de tudo o que vive. Num universo desencantado, ele foi para mim um encantador. Mostrou-me o caminho de uma verdadeira humanidade, corrigindo o que o nosso humanismo dos direitos humanos tem de limitado e até mesmo de ambíguo e perigoso. Parece-me que, se a humanidade um dia encontrar a alegre esperança e o sentido da caminhada para a sua realização, será na direção inaugurada pelo Pobre de Assis” (O sol nasce em Assis, Vozes Petrópolis, 2000, p. 9-10).

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM,
é Assistente Nacional da OFS pela OFM
e Assistente Regional da OFM na Região Sudeste II.
Email: freialmir@hotmail.com

Extraído de http://www.franciscanos.org.br/noticias/noticias_especiais/2008/almir_070808/artigos_04.php
acesso em 11 set. 2008.

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