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terça-feira, 23 de setembro de 2008

Família Bernardone: Pedro, Pica, Francisco e Ângelo


Pedro Bernardone tinha loja em Assis e se dedicava não à produção de tecidos de lã, mas ao comércio de tecidos de luxo. Mesmo que ignoremos os aspectos específicos e particulares desta atividade, o fato de Pedro Bernardone viajar para a França nos indica a importância dela: era importador de tecidos de luxo que, depois, os revendia com larga margens de lucro. Ao que parece, foi um respeitável homem de negócios, aquele que iniciou a fortuna da família, e que foi perpetuada mesmo após sua morte, já que Ângelo, seu outro filho, atestado por documentos do século XIII, e depois os seus netos, tiveram larga disponibilidade financeira e várias casas.

A riqueza material era acompanhada pelo pai do santo por intenso amor ao dinheiro, por uma atividade intensa que chamamos análoga, senão idêntica, em outros comerciantes de seu tempo. É precisamente esta mentalidade que, no confronto entre pai e filho, causará desprezo a Pedro Bernardone, com acusações de dureza de coração, de incompreensão, de malvadez. O que sabemos dele, considerando a indicação documentada, se apóia nos biógrafos do santo, homens da igreja que continuam a tradição segundo a qual a atividade mercantil está associada ao pecado.

Esta mentalidade capitalista devia incluir a capacidade de ler, escrever e fazer contas, acompanhada de um conhecimento, embora elementar, de latim: era costume que os escrivões escrevessem em latim, pois na segunda metade do século XII as conclusões de negócios, compras e vendas eram redigidas em latim. As viagens de negócios devem te-lo forçado a aprender francês e, com ele, deve te-lo aprendido o filho Francisco, que – como nos dizem com absoluta concordância de todas as fontes – gostava de cantar em francês.

Sabe-se menos ainda sobre sua mãe. O nome Pica aparece bastante tarde e, em todo caso, nunca nas fontes mais dignas de fé em questões relativas a Assis, como a Legenda trium sociorum. Ainda mais tardia é a informação que possua origem provençal, assim como outra que diz ser proveniente de Lucca. Todos esses dados que fogem à capacidade atual de qualquer demonstração objetiva e inequívoca, enquanto outros, como o cuidado com a saúde frágil de seu filho e sua demonstração de afeto, parecem condizer com os fatos. Pica é quase sempre representada positivamente pelos biógrafos - nesse ponto, somente Tomás de Celano faria surgir algumas dúvidas, cujos limites, já delimitamos no que diz respeito ao seu juízo à família de Francisco.

Os biógrafos apresentam-nos, ainda, o irmão Ângelo, mas apenas para dizer-nos de sua avidez e seu desejo de recuperar o que Francisco, em seu louco desejo de doar, parecia dilapidar.



MANSELLI, Raoul. São Francisco. Editora Vozes: Petrópolis, 1997.

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