Arquivo do blog

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Como Francisco enviou os primeiros irmãos ao mundo

Certo dia, Francisco e os primeiros sete irmãos chegaram a Poggio Bustone, no vale de Rieti. Quando ele viu a imensa planície a seus pés, ele compreendeu: Nós somos enviados ao mundo todo! Por isso, chamou os irmãos, falou-lhes do Reino de Deus e da vocação que cada um recebeu e pela qual deve responder. Depois, ele dividiu os irmãos em quatro grupos de dois e disse: Vão, queridos, de dois em dois às diferentes regiões do mundo e proclamem a boa nova de paz! “Sejam pacientes na tristeza e cheios de confiança, de que o Senhor cumpre as suas promessas. Aos que lhes perguntarem, respondam com humildade; abençoem a quem os persegue; agradeçam a quem os trata com injustiça e os difamam! " (1 Cor 29.).

Este episódio nos ensina que, tanto na origem de sua vocação como na compreensão de missão, Francisco confia em sua intuição! A missão dos irmãos é proclamar a Boa Nova da paz, o que correspondia ao Reino de Deus. E ao mundo todo, em todas as direções. Ele pensou que seria necessária uma vocação especial. “O Senhor mesmo me revelou”. Ele procura a confirmação de sua convicção, mas não se amarra a costumes e normas eclesiásticas do seu tempo. Nós os irmãos e irmãs de hoje, temos dificuldade de confiar em nossas intuições: “O Senhor mesmo nos revelou”. Tudo é estabelecido. Para tudo existem regras claras – para a Pastoral, a Missão ad Gentes, o serviço social, a formação e a responsabilidade. A rede das normas e leis é tão apertada, que não sobra muito espaço para o Espírito Santo. E, na busca de caminhos seguros, preferimos “a instituição à intuição”! Como nos faria bem, maior coragem franciscana!

Por outro lado, não podemos olhar nossa missão com a simplicidade de Francisco. Vivemos num mundo bem mais complexo! É uma aldeia global, onde cada acontecimento pode ser visto e acompanhado em tempo real, em qualquer lugar! E isto muitas vezes nos amedronta e nos leva a nos fecharmos em nosso mundo particular. Mas seria muito importante que, em especial nos dias de hoje, partilhássemos nossas experiências com outros. Assim, chegaremos a uma ação global. De outra maneira, não é possível experimentar a mensagem libertadora do Reino de Deus. Não podemos permitir que nossos próprios problemas nos impeçam de ver e encarar os desafios globais.

O que é preciso, então, para nos encantarmos novamente por Francisco e Clara, por sua inocente abertura a Deus e por sua convicção: “o Senhor mesmo me revelou?” Isto poderá acontecer hoje e nos levar a respostas novas e decisões originais! Não se trata de imitar Francisco e Clara, e sim de reescrever a história. Se quisermos saber para que Deus nos envia hoje, estejamos, antes de tudo, atentos para reconhecer “os sinais dos tempos” e, como Francisco e Clara, demos resposta adequada a estes sinais!

Como Francisco descobriu a sua vocação no encontro com o leproso, acolhamos os marginalizados de hoje e releiamos o Evangelho na ótica dos pobres e excluídos. É isto o que significa reanimação da opção franciscana pelos pobres.

Como Francisco mudou sua visão do centro para a periferia da cidade de Assis, assim também nós devemos assumir a causa dos 2/3 excluídos do mundo e sermos seus portavozes na sociedade e na igreja. Isto será a redescoberta da nossa vocação profética.

Como Francisco que, no “Cântico das Criaturas” cantou a irmandade de todo ser criado e nos lembrou intensamente, que nós não somos os donos da criação mas criaturas, também nós devemos assumir a defesa da criação de Deus. Isto significa redescobrir a espiritualidade da criação. Sensível às necessidades do tempo (800 anos atrás), Francisco fundou um movimento que mudou a Igreja. 800 anos depois, sejamos também um movimento, que ajuda a Igreja a devolver ao mundo sofrido, a confiança num Deus que ama a humanidade.

Andreas Müller OFM

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Firefox