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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

As reformas no interior da Ordem de Santa Clara Séculos XV e XVI

Introdução

O século XIV assinala para as Clarissas, assim como para os franciscanos, um período de queda no fervor e na observância inicial. Crescendo o número de Irmãs, cresceram também as posses e vendas acumuladas pelas doações de generosos benfeitores e pelos dotes. Passaram a existir condescendências fáceis para o luxo, recorrendo-se mesmo às dispensas pontifícias da vivência da pobreza.
 
Facilmente eram admitidas nos mosteiros damas nobres, que por motivos interesseiros, não eram modelos de virtudes, mas até mesmo pedra de escândalo para as Irmãs simples. Essas damas da nobreza procuravam conseguir rodear-se de pompas e de criadagem dentro dos claustros, obtendo privilégios papais, contrariando assim expressamente o que dispunha Santa Clara na sua Regra. Com o cisma do Ocidente, em que três papas dirigiam a Igreja ao mesmo tempo, e a confusão reinara, a situação piorou seriamente. A Clausura, que por bula de Bonifácio VIII, em 1298, (“Periculoso”) havia se convertido em lei universal para todos os mosteiros femininos, mas que por motivos diversos deixava-se de observar com freqüência, deu ocasião a numerosas intervenções dos visitadores e alguma vez da própria Santa Sé.

Visão da Beata Clara de Rimini 
Os Estatutos de Benedito XII, em 1336, trataram de por fim aos abusos, com uma reorganização da vida religiosa, segundo formas mais acentuadamente monacais. Porém, a decadência era visível e aumentava. Naquilo que toca a Ordem de Santa Clara, com a independência dos mosteiros entre si, não se pode falar de uma decadência simultânea nem universal. Não faltaram exemplos de santidade, ainda que raros no século XIV: a Bem-aventurada Matia de Matélica (1253-1319)). a Bem-aventurada Clara de Rímini (+1326) e a Bem-aventurada Petronila de Troyes (+1355) comprovam isto. Além disso, a aspiração de Santa Clara de ver suas filhas sendo orientadas e ajudadas pelos frades Menores ia aos poucos se realizando. Os Provinciais foram aos poucos assumindo o cuidado das Clarissas em diversas regiões. Além do recurso ordinário às visitas canônicas houve, sobretudo a partir da segunda metade do século XIV visitadores apostólicos extraordinários, alguns encarregados de reformar mosteiros em algumas regiões. Esse foi o caso dos mosteiros de Clarissas no reino de Castela, por exemplo, entre os anos de 1373-1376. Quatro franciscanos foram encarregados de visitá-los e reformá-los.

Também a excessiva duração dos cargos tornou-se prejudicial nesta época de decadência do espírito primitivo da Ordem. Clara não limita o tempo de governo da abadessa, mas dispôs que quando j  não fosse idônea para o serviço e atividade das Irmãs, estas a depusessem e elegessem outra. Esse recurso jurídico não era de fácil aplicação. Em 1405, o Papa Inocêncio VII declarou que as abadessa não fossem vitalícias, mas eleitas a cada dez anos. Mais tarde o tempo foi reduzido a três anos. Entretanto, continuaram a existir mosteiros onde a abadessa continuava a ser vitalícia.

As reformas e os remédios não poderiam vir de fora. A verdadeira reforma vem sempre de dentro, do contato com o verdadeiro espírito que move a vivência evangélica. Senão, quando muito podem sustentar a observância exata das prescrições e evitar abusos, mas são vazios de idealismo.

A Ordem de Santa Clara, que desde o princípio representou um novo princípio de vida evangélica, sofreu com as estruturas impostas de fora. Mas os ideais da Regra própria de Santa Clara serviram  sempre como fermento renovador. Numerosas clarissas fizeram a experiência de amar e de atualizar em sua época o seu ideal. Essas reformas nasceram de dentro. Outras surgiram a partir de fora, da parte da Igreja ou dos Frades, mas foram acolhidas como bênção e realização de esperanças.

Estudaremos as grandes reformas da Ordem surgidas nos séculos XV e XVI. Ao renovar-se o ideal, abriu-se o caminho para a restauração da regularidade, da vida comum, da clausura, da oração, da sororidade e da dimensão penitencial, com um novo espírito, radicado em Clara - a fundadora - mas que recebeu característica peculiares, segundo a época e os lugares, das diversas reformadoras ou reformadores.

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