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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

AS LETRAS DA VIDA: SOBRE O CONHECIMENTO HUMANO E SEUS RESULTADOS PRÁTICOS



AS LETRAS DA VIDA

SOBRE O CONHECIMENTO HUMANO E SEUS RESULTADOS PRÁTICOS

Ao criar todas as coisas Deus tudo dispôs com suas leis e ordenações para que a criação inteira cumprisse o seu múnus existencial, tal qual Ele determinou em seu infinito amor. Ao homem, porém, deu alma inteligente e profundo discernimento, e o cumulou de todas as virtudes para que não só dominasse todas as coisas, mas também contribuísse para o seu desenvolvimento até que tudo atingisse a perfeição desejada por Ele em seu santo desígnio.

Ora, dotado de alma imortal e inteligência racional, coube ao homem interagir com seu Criador para conhecê-lo e conhecer seu modo de operar entre nós; conhecer também a criação e dá-se conhecer a ela, produzindo os frutos desse conhecimento. De fato, ao longo dos tempos vemos que tudo isso aconteceu e continua acontecendo, quer pela ciência teológica, no que diz respeito ao conhecimento de Deus e a nossa interação com Ele; quer por meio das ciências humanas e naturais, ou ainda por outros tipos de conhecimentos científicos mais complexos, tipo nanotecnologia, que é o estudo de manipulação da matéria numa escala atômica e molecular, visando o conhecimento da criação e do homem em si mesmo. Assim procedendo o homem não só vivência e acumula tais conhecimentos, como também colabora com o Criador para o bem de toda criação.

Então, quais os tipos de conhecimentos os homens tem desenvolvido ao longo de sua presença no mundo e quais os resultados práticos em meio a todo este mistério da vida e do universo? Primeiro, a busca pelo conhecimento no homem se deu a partir de suas necessidades, pois ao longo da existência humana em meio à criação, surgiram questões que precisavam de respostas imediatas, tais como: quem somos, de onde vimos, para onde vamos? Será que estamos sozinhos no universo? Quem se encontra por traz de tudo isso? Por que nascemos, vivemos e morremos? Qual o desfecho final disso tudo? Como chegar ao autor de todas essas obras, incluindo nós que perguntamos? Isto para que, a partir das respostas, o homem pudesse se desenvolver e satisfazer suas necessidade mais urgentes, como viver bem e relacionar-se bem uns com os outros e com Deus, pois a fé sempre esteve presente em todas as culturas de todos os tempos. Segundo, existe em todos nós uma curiosidade natural que perpassa todas as gerações, desde as mais ingênuas às mais sofisticadas. Desse modo, o homem aprendeu a buscar essas respostas quer a partir dos fenômenos naturais enigmáticos, isto é, sem explicação; quer a partir de estudos mais elaborados ou científicos, que lhes trouxe certezas ou convicções racionais capazes de satisfazer todos os seus asseios de entendimento das coisas e dos fenômenos à sua volta.

Vejamos então, ao longo da busca humana, quais tipos de conhecimentos foram adquiridos e acumulados. Conhecimento empírico ou vulgar, ou ainda do senso comum, que é o conhecimento dos primeiros indivíduos, não baseado numa especulação mais apurada, mas sim em uma explicação paliativa que, de certa forma, respondia ao que se estava almejando, que se dava mais por convencimento e não por explicação elaborada racionalmente. Depois veio o conhecimento filosófico, que se deu a partir das observações dos fenômenos naturais, mas já com uma explicação racional mais elaborado, procurando responder o porquê da vida e da existência das coisas e demais seres. Em seguida, veio o conhecimento teológico por meio da revelação que Deus fez de si mesmo ao homem, dando-lhe com isso, a possibilidade de conhecê-lo, amá-lo e servi-lo e permanecer na sua presença aqui e por toda eternidade, e isso por meio da fé. Por último, veio o conhecimento científico, que é o conhecimento racional, sistemático, exato e verificável da realidade em que o homem vive e interage com os outros seres. É por esse tipo de conhecimento, dado por Deus ao homem, que ele desenvolveu o progresso da sociedade e dos meios adequados para se prolongar a vida e o equilíbrio social.

Porém, nem tudo é perfeito entre nós, isto porque atualmente a maior parte dos homens não tem colaborado para o equilíbrio e bem estar do nosso planeta, nosso habitat natural; pelo contrário tem colaborado mais para sua destruição do que para sua perfeição. Se por um lado temos o avanço da medicina na descoberta de medicamentos capazes de amenizar o flagelo da aids; por outro vemos a ganância dos laboratórios que não querem abrir mão de suas patentes, cedendo-as para que os governos possam dissipar essa terrível epidemia. Se por um lado vemos o aumento de safras ano após ano; por outro vemos milhões morrerem de fome, porque muitos preferem jogar fora os alimentos que não atingiram o preço que desejavam, à doarem para serem consumidos pelos mais necessitados. Se por um lado vemos as descobertas científicas para o tratamento e consumo de água saudável; por outro vemos as descobertas químicas contaminarem os lenções freáticos, causando a destruição de rios e mares, verdadeiro crime ecológico sem precedentes. Se por um lado vemos as indústrias bélicas cada vez mais sofisticadas com seus armamentos; por outro vemos milhares de guerras fraticidas destruindo milhões de vidas inocentes. 

Se por um lado vemos os conhecimentos tecnológicos em plena expansão, por outro vemos os donos de tais tecnologias explorarem seus consumidores, levando-os à dependência de suas tecnologias, a ponto de muitos morrem viciados em tais máquinas.

Eis porque tantas catástrofes naturais e tantos desequilíbrios sociais em todas as partes do nosso planeta, têm levado milhões ao desespero e à morte, e isto, por não prevalecer a virtude da bondade e do bom senso com que o nosso Criador nos dotou; e por fazerem do conhecimento acumulado uma bomba nuclear voltada para autodestruição humana. Que o digam os arsenais de armas de guerra, os mais potentes que existem, capazes de destruir a terra milhares de vezes, caso as nações usem todo potencial nuclear estocado em seus paióis.

Então, pra que serve mesmo todo conhecimento humano acumulado? Serve para o homem fazer o bem e somente o bem; mas não é isto que está acontecendo, pois leva-se mais em conta os bens materiais e o consumismo exagerado, do que o bem social como um todo. E assim, vemos as injustiças operando a todo vapor, principalmente nas ciências econômicas e administrativas, onde a corrupção dos poderes político, jurídico, legislativo e executivo tem sido a “bola da vez” e a causa da ruína dos mais pobres e abandonados de nossa sociedade. E quando aparece governos que procuram dar mais atenção a esses miseráveis, as elites políticas, mantenedora do poder manipulador das massas, fazem de tudo para que tais administrações não tenham sucesso; pois não querem perder seu “status quo”, adquirido pelas mais espúrias práticas de manipulações para se chegar ao poder.

O resultado são oposições e brigas políticas intermináveis, tendo como cúmplice os meios de comunicação de massa, que favorecidos pelos muitos dividendos recebidos das propagandas a favor dos manipuladores, usam seus conhecimentos midiáticos para devorar o bom senso e o poder de reação dos menos favorecidos, pois eles sabem que os votos dessas massas empobrecidas, são valiosíssimos para manterem no poder os políticos manipuladores que lhes pagam, e pagam caro com o dinheiro que não suaram para adquirir.

E assim, a inteligência humana que foi dada para o bem, não está sendo usada como convém, pois raras são as exceções, que usam os conhecimentos acumulados para livrar-nos dos perigos e tormentos que se nos apresenta nossa própria negligência. Pois, se os homens seguissem as ordens divinas, expressas nos mandamentos e no Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, faríamos deste mundo um verdadeiro paraíso, pois nenhum conhecimento humano se compara à sabedoria de Deus, que nos é comunicada pelo Espírito Santo em Jesus Cristo.

Portanto, nem tudo está perdido, uma vez que a Sabedoria de Deus veio em nosso socorro por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos deu o Espírito Santo, como penhor de nossa redenção. Precisamos, então, fazer de nossa história uma história de salvação, acolhendo o perdão do Senhor e a graça de participarmos do seu Reino de amor, cuja parte visível neste mundo é a Igreja da qual nascemos pelo batismo. Destarte, ouçamos o Senhor em sua oração e exortação: “Por aquele tempo, Jesus pronunciou estas palavras: Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequenos. Sim, Pai, eu te bendigo, porque assim foi do teu agrado. Todas as coisas me foram dadas por meu Pai; ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelá-lo. Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas. Porque meu jugo é suave e meu peso é leve. (Mt 11,25-30).

Por fim, resta abordar, que todo conhecimento acumulado nos veio por meio das experiências que deram certo e de certo modo contribuíram e contribuem para o bem de todos. Não digo isso em referência aos conhecimentos bélicos, pois estes só servem à indústria de armas de destruição em massa, capazes de destruírem a vida em segundos, nem dos conhecimentos científicos voltados para as grandes corporações, que só pensam no lucro e nada mais. No entanto, digo dos conhecimentos nas áreas educacionais, medicinais, alimentares, industriais, desenvolvimento humano sustentável, direitos humanos universais, etc. Pois tudo isso nos foi transmitido por meio da Palavra escrita ou da tradição oral, a exemplo do próprio Deus que tudo fez por meio de Sua Palavra, pois a palavra tem o poder de não só transmitir conhecimentos, mas de fazer acontecer o que é transmitido conforme a verdade pronunciada. Já dizia um velho bispo: “Somos Palavra de Deus realizada”, referindo-se à criação e a nós, criados à “imagem e semelhança” de Deus. De fato, Deus é eterno e tudo faz para a eternidade. Se tudo no tempo dizemos ser relativo, o resultado do que dizemos ser relativo, não é; porque a Fonte que nos gerou é Eterna, desse modo, tudo o que fazemos para a eternidade é que fazemos, seja para o bem ou para o mal. Felizes os que vivem somente para o bem, esses terão uma feliz recompensa.

Paz e Bem!

Frei Fernando Maria,OFMConv.


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