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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Denize A. M. Gusmão: Todo católico batizado deveria ser um franciscano

Em meio aos trabalhos preparatórios para o Capítulo Geral da OFS, que tem início no próximo dia 22 de outubro, a Ministra Regional da OFS, região Sudeste III, Denize Aparecida Marum Gusmão, conseguiu um tempo para falar sobre este grande evento franciscano no Brasil, sobre a OFS no Brasil e de como decidiu fazer parte do projeto franciscano, como leiga, há 11 anos. Natural da cidade de Piedade (SP), Denize se mudou para Sorocaba com 8 anos. Lecionou em sala de aula por 20 anos (de 1ª a 4ª série) e foi Coordenadora por 5 anos. Enquanto formava cidadãos, Denize buscou a sua formação espiritual e a encontrou em São Francisco de Assis, que lhe deu uma espiritualidade completa "em todos os sentidos, dando oportunidade para crescer como pessoa humana e cristã”. Por duas ocasiões foi eleita ministra local da Fraternidade Bom Jesus dos Aflitos de Sorocaba (1988-91 e 1991-94) e, no ano passado, foi eleita Ministra Regional pela terceira vez (98-2001, 2004-07 e 2010-2013).
Por Moacir Beggo

Site Franciscanos - Qual a sua expectativa para este Capítulo Geral no Brasil? Já participou de algum outro capítulo Geral?
Denize Marum - A expectativa é muito grande, pois é a primeira vez que um Capítulo Geral é realizado na América do Sul. É uma oportunidade dos irmãos e irmãs, provenientes de várias partes do mundo, conhecer a realidade da OFS do Brasil. Será uma grande troca de experiências.  Nunca participei de um Capítulo Geral. E, neste, faço parte da Comissão organizadora, mas não sou capitular.

Site Franciscanos -  Qual a importância dele ser realizado no nosso país?
Denize - A grande importância está no envolvimento das Fraternidades locais, de certa forma na participação dos irmãos ajudando na organização. Desde o momento em que a presidência do CIOFS anunciou que o Capítulo seria realizado no Brasil, há um ano, procuramos por todo esse tempo motivar as Fraternidades para esse evento tão importante, e elas corresponderam ao nosso pedido. Esse envolvimento serviu para uma integração maior entre a Fraternidade nacional e internacional. Sendo a sua estrutura muito grande, foi preciso envolver muitas pessoas, até não-franciscanos, e que gostaria de agradecer muito, sem citar nomes, para não correr o risco de deixar de mencionar alguém. Não só os franciscanos seculares foram envolvidos, como também outros ramos da Família Franciscana: a Primeira e Segunda Ordem e a TOR. Os bispos franciscanos foram convidados para a celebração em Aparecida. Os quatro Ministros Provinciais de São Paulo contribuíram com as despesas do Capítulo e estarão celebrando a missa do dia 28 de outubro. A eles, a nossa gratidão e reconhecimento.


A Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo cedeu os ônibus para levarmos os capitulares a Aparecida. E o ponto alto de tudo isso será no dia 23 de outubro, em Aparecida, quando os irmãos e irmãs, vindos de várias regiões do Brasil, terão um encontro com a Ministra Geral, Encarnazion Del Pozo, e os capitulares e, logo após, a participação na celebração eucarística. Como muitas pessoas não-franciscanas foram envolvidas, isso tornou a OFS mais conhecida.

Site Franciscanos - Como a sra. entende o tema "Evangelizados para evangelizar"?
Denize - Primeira necessidade é conhecer a Jesus Cristo e fazer dele o centro de nossa vida, a exemplo de São Francisco, para então, a partir daí, torná-lo conhecido através do anúncio e, principalmente, do nosso testemunho de vida. É o que diz a nossa Regra em seu artigo 4. Penso que o tema foi muito oportuno para nossa realidade de Brasil, porque a evangelização é o ponto marcante no Documento de Aparecida.

Site Franciscanos - Nesta sociedade, cada vez mais consumista, tem lugar para o Evangelho e para o projeto de Francisco de Assis?
Denize - Sim, porque o Evangelho é sempre atual. Em cada época, ele se apresenta sempre novo. Francisco de Assis, em seu tempo, optou em vivê-lo radicalmente, entrando num processo de conversão, transformando totalmente sua vida, mostrando que isso é possível. E nós, franciscanos e franciscanas, oitocentos anos depois, continuamos fazendo dele nossa fonte de inspiração, procurando fazer a diferença.

Site Franciscanos -  Quais as necessidades evangelizadoras no nosso país?
Denize - Vejo como necessidade urgente a evangelização na família e juventude. Na família muito se tem a dizer, mas ficaria na questão de resgatar os valores cristãos para que ela volte a ser a célula primeira da sociedade: onde pais e filhos se amem e se respeitem. E a juventude vivendo num lar cristão, devolverá bons frutos para a sociedade. Atualmente vemos um quadro alarmante na juventude, cada vez mais se distanciando da vida em Deus, substituindo-O pela ganância, pelo consumismo, pelas drogas, materialismo, discriminação, gerando com isso muita violência. A evangelização se faz urgente nestes dois campos.

Site Franciscanos -  Para onde caminha a OFS, no Brasil e no mundo?
Denize - A renovação da nossa Regra, aprovada em 24 de junho de 1978 pelo Papa Paulo VI, mostrou o verdadeiro caminho que a OFS deve seguir. A conscientização de viver o Evangelho, à maneira de Francisco, mas no estado secular, foi uma luz para os franciscanos e franciscanas. Antes disso, víamos uma OFS mais devocional, hoje ela se faz presente em muitos campos da sociedade. Hoje, o leigo franciscano está mais consciente de sua missão no mundo, abrangendo a família, o trabalho, o lazer, a comunidade... Nesses campos, ele vai fazendo a diferença como: - ser um médico franciscano; - um político franciscano; - um educador franciscano; - um comerciante franciscano; - um catequista franciscano...

Site Franciscanos - Por que falta uma aproximação maior com a Jufra?
Denize - Sinceramente não sei o que acontece. Também sempre me faço essa pergunta e ainda não encontrei a resposta. Mesmo carisma, mesmo ideal, mesmos propósitos... A única diferença que vejo é a questão da idade, mas não creio que seja isso, pois no projeto de Francisco isso não poderia ser. Não diria que falta uma maior aproximação. Atualmente, a relação melhorou muito, graças ao esforço e luta das lideranças do passado e presente. Muita coisa foi feita para que as mútuas relações acontecessem. Portanto, vejo isso como um desafio que temos que vencer como tantos outros. O Regional de São Paulo tem procurado fazer de tudo para que o relacionamento OFS/JUFRA seja cada vez melhor.

Site Franciscanos - Quantas fraternidades fazem parte do seu Regional?
Denize - Fazem parte do Regional Sudeste III – SP, 85 Fraternidades erigidas canonicamente e uma em formação.

Site Franciscanos - Qual é o papel da Ministra Regional?
Denize - O papel de todo Ministro (a), seja ela Local, Regional, Nacional e Geral, é estar a serviço. No caso do Ministro (a) Regional é servir as Fraternidades locais. Acrescidas a isso tem a parte da estrutura e dos vários serviços, que o Ministro precisa estar atento e cuidar bem para que tudo funcione de acordo. A integração com a Fraternidade Nacional e também com a Família Franciscana é muito importante. Mas o Ministro (a) não trabalha sozinho, ele conta com o auxílio dos demais irmãos que fazem parte do Conselho, inclusive os assistentes espirituais.  Os trabalhos são realizados em conjunto.

Site Franciscanos – Como e quando resolveu ser franciscana secular?
Denize - Como toda vocação é um chamado, um convite, no meu caso não poderia ser diferente. Isso começou há algum tempo, por volta de 1975, quando ao final da missa das 19h30 do sábado, fui convidada por uma irmã da Fraternidade Bom Jesus dos Aflitos/Sorocaba (a Ana Maldonado – já falecida) a participar de uma reunião numa sala da Comunidade. Na verdade, ela havia convidado a minha mãe e minha tia, mas como  estava junto, também fui convidada. Nesse dia os irmãos estavam reunidos para comemorar o aniversário dela e do Frei Fortunato (também já falecido). Era o dia 5 de julho de 1975. Estava um pouco tímida, retraída, sem graça, por não conhecer ninguém, mas a acolhida foi tão calorosa que isso logo passou. Notei que havia muita alegria, muito entusiasmo naquele grupo, algo diferente que me chamou atenção. Mas não sabia o que era. Terminou a festinha e fiquei sem entender nada. Ao me despedir fui convidada para retornar no sábado seguinte. Como minha mãe e minha tia retornaram, resolvi ir também. Percebi que a reunião começava com a missa preparada pela Fraternidade. Nesse dia, os irmãos estavam reunidos para a formação permanente, dada pelo assistente, Frei Luiz Squizato, OFM. Recebi o convite para participar de um Encontro Distrital na cidade de Itaporanga (SP). Como demonstrei não entender o que seria esse Encontro Distrital, uma irmã me explicou que se tratava de um encontro entre os franciscanos das fraternidades mais próximas. Quando ela me falou que teríamos que sair às 4 horas, porque levava 4 horas para chegar,  estranhei um pouco porque era longe. Mas foram tão insistentes que topei. Foram até me buscar em casa para não ir sozinha até a igreja, pois era de madrugada. Achei isso o máximo! E depois desse encontro vieram outros e mais outros... Lembro que, no final do ano, a Ministra me perguntou se gostaria de começar o tempo de iniciação (naquela época era o postulantado), eu respondi que iria pensar. Mas foi apenas uma desculpa para não dizer não. Aí, então, ela me deu um livro da vida de São Francisco, de Maria Sticco para que eu o conhecesse e pudesse me decidir. Como haviam chegado as férias (nessa época estava lecionando em São Paulo), aproveitei para ler. O episódio que mais me impressionou foi aquele em que Frei Masseo pergunta a Francisco: “Por que a ti? Por que a ti? Por que a ti Francisco? Por que todo mundo anda atrás de ti? Não és homem belo de corpo, não és de grande ciência, não és nobre: donde vem, pois, que todo mundo anda atrás de ti”? Ouvindo isso São Francisco disse? “Queres saber por que a mim? Queres saber por que a mim? Queres saber por que todo mundo anda atrás de mim? Porque o Senhor não encontrou uma pessoa mais vil nem mais insuficiente nem maior pecador sobre a terra; e por isso me escolheu para confundir a nobreza, e a grandeza e a força e a beleza e a sabedoria do mundo: para que se reconheça que toda a virtude, e todo bem é dele e não da criatura, e para que ninguém se possa vangloriar na presença dele...”  

A resposta de Francisco me marcou muito. Lembro que fiquei muitos dias refletindo e, depois disso, resolvi conhecer o carisma franciscano participando primeiramente das reuniões mensais. Depois, fiz o Postulantado até 1977. Em 1978, passei para o Noviciado (hoje tempo de formação). Em 1979, fiz a profissão temporária e, em 1981, a profissão definitiva.

Site Franciscanos -  Para encerrar, o que diria para os leigos que podem ser franciscanos seculares?
D
enize - Diria que vale a pena ser franciscano (a). Francisco foi muito inspirado por Deus quando pensou em criar a Terceira Ordem para que os leigos pudessem também viver o seu projeto de vida. Se não fosse tanta ousadia e, apesar de ser uma vocação, diria que todo católico batizado deveria ser um (a) franciscano (a). A espiritualidade franciscana é completa em todos os sentidos e nos dá a oportunidade de crescer como pessoa humana e cristã.

Um comentário:

  1. Paz e bem!

    Não consigo de modo algum apoiar
    a afirmativa da Denize de que
    "todo católico batizado deveria ser um franciscano"
    .

    Isto seria péssimo para a ICAR,
    há católicos de diversos tipos,
    para uns a espiritualidade franciscana
    é a mais adequada,
    para outros a beneditina,
    outros a carmelitana,
    tem os que se encontram com as CEBs,
    tem os que o fazem com a Meditação Cristã
    etcetera.

    Se isto ocorresse o franciscanismo
    de fato empobreceria,
    pois são as diferenças que nos fazem crescer.

    E para recordar,
    do próprio Francisco:
    "Vem um mensageiro e diz que todos os mestres de Paris vieram para a Ordem, escreve: não é a verdadeira alegria.
    "Também que todos os prelados ultramontanos, arcebispos e bispos; também que o rei da França e o rei da Inglaterra: escreve, não é a verdadeira alegria."
    (Verdadeira Alegria, 4-5)

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