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sexta-feira, 18 de maio de 2012

Só a experiência direta e imediata do Evangelho pode revitalizar a Igreja


A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 16, 15-20 que corresponde ao Domingo da Ascenção do Senhor, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto

Novo começo

Os evangelistas descrevem com diferentes linguagens a missão que Jesus confia aos seus seguidores. De acordo com Mateus, hão de “fazer discípulos” que aprendam a viver como Ele os ensinou. De acordo com Lucas, hão de ser “testemunhas” do que viveram junto Dele. Marcos resume tudo dizendo que hão de “proclamar o Evangelho a toda a criação”.

Quem se aproxima hoje de uma comunidade cristã não se encontra diretamente com o Evangelho. O que se percebe é o funcionamento de uma religião envelhecida, com graves sinais de crise. Não podem identificar com clareza no interior dessa religião a Boa Nova proveniente do impacto provocado por Jesus há vinte séculos.

Por outro lado, muitos cristãos não conhecem diretamente o Evangelho. Tudo o que sabem de Jesus e da sua mensagem é o que podem reconstruir de forma parcial e fragmentária escutando catequistas e pregadores. Vivem a sua religião privados do contato pessoal com o Evangelho.

Como poderão proclamá-lo se não o conhecem nas suas próprias comunidades? O Concílio Vaticano II recordou algo demasiado esquecido nestes momentos: “O Evangelho é, em todos os tempos, o princípio de toda a sua vida para a Igreja”. Chegou o momento de entender e configurar a comunidade cristã como um lugar onde o principal é acolher o Evangelho de Jesus.

Nada pode regenerar o tecido em crise das nossas comunidades como a força do Evangelho. Só a experiência direta e imediata do Evangelho pode revitalizar a Igreja. Dentro de alguns anos, quando a crise nos obrigue a centrar-nos apenas no essencial, veremos com clareza que nada é mais importante hoje para os cristãos do que nos reunir para ler, escutar e partilhar juntos os relatos evangélicos.

O principal é acreditar na força regeneradora do Evangelho. Os relatos evangélicos ensinam a viver a fé, não por obrigação mas por atração. Fazem viver a vida cristã, não como dever mas como irradiação e contágio. É possível introduzir já nas paróquias uma dinâmica nova. Reunidos em pequenos grupos, em contato com o Evangelho, iremos recuperar a nossa verdadeira identidade de seguidores de Jesus.

Temos de voltar ao Evangelho como novo começo. Já não serve qualquer programa ou estratégia pastoral. Dentro de uns anos, escutar juntos o Evangelho de Jesus não será uma atividade a mais entre outras, mas a matriz desde a qual começará a regeneração da fé cristã nas pequenas comunidades dispersas no meio de uma sociedade secularizada.

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