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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Introdução

Sei que é de praxe dedicar livros, amostras e canções; mas gostaria de dedicar esta palestra e este momento a Santa Clara. Não falarei dela de um modo específico, porém ela está plenamente presente por dois motivos:

1. Não se pode trilhar um caminho sem a força de um grande amor inspiracional. Amar alguém intensamente, de um modo subjetivo, é levar o Amor para os nossos grandes objetivos.

2. Estamos iniciando neste ano o grande Tríduo em preparação ao Jubileu da chegada de Clara junto ao lugar da fraternidade: a Porciúncula, em 1212; de modo que, em 2012, serão 800 anos da comemoração do fato real de Clara juntar-se no mesmo caminho e nos mesmos passos do Evangelho e de Francisco. Por isso, proponho aos organizadores deste Congresso Franciscano que, nos próximos eventos até 2012, façam um Congresso com o tema "O Sagrado Feminino".

Queria dedicar também esta reflexão ao meu amigo o professor Alberto Moreira, idealizador, alma e concreção de todos os congressos realizados pelo IFAN; ele não tem idéia da sua influência no meu caminho de vida, pesquisa e pensamento franciscano. Aprendi com ele a tirar de cada palavra seu fervor existencial e seu mundo significante; como diz o goiano - "é bom demais da conta" - ter o Alberto no eito desta estrada.

Há muito tempo, no Rio de Janeiro, assisti, ao vivo, a um show de Jorge Aragão, que mais tarde foi lançado em DVD. No show e no DVD aparecem a sua sugestiva fala inicial: "Isto aqui não é um show não. Vim aqui apenas para cantar um sambinha com vocês!". Parafraseando Jorge Aragão, quero também dizer: "Isto não é uma palestra. Vim aqui fazer apenas uma reflexãozinha com vocês!". Então, vamos lá:

A história é a narração de uma existência. No esforço de se compreender a existência, os gregos criaram os mitos e os franciscanos medievais as Legendas, um modo de edificar a vida, um modo dinâmico de apontar sendas seguras. O passado helênico, o franciscanismo medieval têm valor na medida em que trazem luz para o presente. Todos estamos vivendo um ausente que trazemos para, agora, a atualidade através de uma interpretação.

Francisco de Assis e o Franciscanismo não são um dogma, uma doutrina, mas sim um CAMINHO. Com eles, aprendemos a andar na existência, na graciosidade da vida. Diante de um homem como Francisco, a vida é desvelada no que ela é.

Estamos hoje assistindo a um movimento que chamamos "o retorno ao Sagrado", uma busca da proposta espiritual e religiosa que toca o ser, que provoca o conhecimento, que atinge a vida pessoal, social e os caminhos da história. Há 800 anos, Francisco vem antecipando estes acenos típicos da busca pós-moderna do sagrado. Ele é uma hierofania (a constante manifestação do sagrado) concreta. Para ele, o sagrado transcende qualquer ente; faz-se presente em lugares e momentos. Ele coloca o sagrado ao alcance da experiência humana. No tempo, no real, na cultura, no agora e nas coisas, deixa transparecer o eterno. Francisco dialoga e convive bem com o limitado e o infinito, a morte e a vida.

Ele é, ainda hoje, um provocador da razão científica e industrial pós-medieval que afugentou os deuses. A modernidade desconstruiu o conceito de Deus a tal ponto que Nietzsche declarou sua morte e a morte do ateísmo. Por que não acreditar ou ser contra algo que não existe?

Francisco inaugurou, já no seu tempo, a construção pós-moderna: Ele existe em tudo e nos detalhes da existência; Ele ajuda-nos a reencontrar a Fraternidade perdida.

Não seria este o Caminho?

Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/artigos/vitorio/virtudes_191009/01.php acesso em 22 out. 2009.

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