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quinta-feira, 1 de outubro de 2009

São Francisco que admiramos

Fr. Sílvio João, OFMcap
Estaremos juntos, com toda família franciscana, neste mês de outubro, festejando nosso seráfico pai são Francisco. Lembro-me, quando morava com meus genitores e, de modo especial de minha mãe, que foi ela quem pela primeira vez falou-me, - juntamente com meus irmãos -, de são Francisco. Nunca esqueço de suas palavras: “São Francisco era um jovem, muito bonito que ser converteu para seguir Jesus Cristo. Era muito rico, mas que depois, passou a viver uma vida de pobreza. Morava numa cidade medieval chamada Assis, na Itália”. Lembro-me também de um pequeno livro que li e de um filme a que assistir, o qual contava um pouco de sua vida. Porém, nunca esqueci que Francisco foi um jovem, - usando a linguagem de hoje -, muito travesso, festeiro, malando, enérgico, boêmio, beberão. Cheio de coisas loucas na cabeça, dava um trabalhão aos seus pais. Na sua época, é possível descrevê-lo assim: “Este é, pois, um homem que vive no pecado com paixão juvenil. Arrastado pelos impulsos de sua idade, pelas tendências da juventude e incapaz de controlar-se” (1). Mas graça a misericórdia divina, desperta sua consciência e começa traçar um caminho totalmente diferente daquele que estava acostumado. Olhando sua mudança, somos levados a afirmar que “pelo menos uma vez na vida, já sonhamos em nos tornar santos”(2) ou, que pelo menos uma vez na vida, sentimos um desejo imenso de chegar à perfeição.

Já se passaram muitos séculos de sua passagem por este mundo, mas Francisco continua sendo modelo de cristão que encarna “a figura ideal do homem que tenta a aventura da santidade e torna-se a expressão de um modelo verdadeiramente universal”(3). Deste modo, podemos dizer que Francisco está “no profundo da cada homem tocado pela graça na medida em que no profundo de cada homem está o anseio da santidade”(4). Sendo assim, temos sempre que lembrar que o homem foi criado para o amor, porque foi criado por Deus que é Amor(5). Que todos os seres do universo apenas constituem vestígios desse Amor, ou apenas uma ilusão. Francisco, por sua vez, tinha-o experimentado, como todos os homens; no entanto, em vez de se fincar nesses vestígios sem futuro, aprendeu a subir sempre para o Original, sempre para a Fonte Maior. Em vez de hesitar entre uma e outra ilusão, para não achar mais do que desilusões; renuncia às ilusões do mundo e eleva-se à Realidade Eterna (6).

Graças a sua confiança no Deus único e seu amor incondicional e absoluto como resposta ao amor de Deus, Francisco centralizou toda sua vida espiritual na imitação de Jesus. Amando-o, desdobrava-se em dois amores: “ O amor de Deus porque Cristo é Deus e o amor pelos homens porque Cristo é homem. Ama Deus porque, sendo criador do universo, ama o universo em conseqüência do amor de Deus. Ama Jesus Cristo que é homem. Logo, ama todos os homens em desdobramento do amor de Jesus Cristo”(7) Deste modo, podemos afirmar que sua espiritualidade “constitui uma realidade eminente e eminentemente fecundo do Cristianismo”(8). Eminente que significa: “que se eleva”, “que esta no alto”, “insigne”, “sempre ilustre”. Eminentemente fecunda porque é uma das mais prefeita síntese histórica dos valores cristãos, onde através de uma vontade eminente, converteu-se numa consonância tão profunda com os desejos e os questionamentos do homem de sua época que resultou na vontade eminente em todos as épocas, convertendo-se assim num clássico do cristianismo(9).

Nossa admiração se confirma pelo grande desejo que tinha São Francisco de querer sempre o melhor para si e para seus amados irmãos. E o melhor, para ele e para nós é a “santidade interior do espírito”(10). Ao desejar o melhor, Francisco tinha claríssima consciência que só Deus é Santo e que nós, pequenos e flagreis, só teremos felicidade divina, fazendo partir das três pessoas, três vezes Santa: Pessoa Criadora, Pessoa Redentora e Pessoa Santificadora (11). Por sua vez, Deus sendo o Único Santo, tornar-se o único Objeto de nossos desejos e de nossa verdadeira felicidade.(12)Deste modo, Francisco, assim exorta a todos nós: “Outra coisa não desejemos, nem queiramos, nem nos agrade, nem nos alegre senão o nosso Criador e Redentor e Salvador, o único e verdadeiro Deus, que é o bem pleno, o bem todo, o bem inteiro, o sumo e verdadeiro bem, que só ele é bom, carinhoso e meigo, suave e doce, só ele é benigno, inocente e puro dele, por ele e nele é todo perdão, toda graça, toda glória de todos os penitentes e justos, de todos os santos que se alegram juntos no céu”(13).

Admirado não só em nosso meio fraterno, São Francisco, torna-se um santo tão popular que sua vida e espiritualidade ganharam admiração não só entre os cristãos católicos romanos, mas também entre protestantes, panteístas, racionalistas e gente de pouca devoção(14). Sua vida de santidade e perfeição logo, ao longo dos séculos, inspirou escritores e artistas em todos os lugares do mundo. Entre os artistas que retrataram tão bem São Francisco está o grande Murillo (1617-1682). Em seu trabalho no convento dos capuchinhos de Sevilla: “El Jubileo de la Porciúncula”, retrata uma aparição de Cristo e da Virgem Maria a São Francisco para concede-lhe uma indulgência.(15) Entre os milhares de escritores que escreveram sobre São Francisco temos: Tomás de Celano, São Boavanura, Bernardo de Bessa, Frei Leão, Jordão de Giano, Paul Sabatier, Jacques Dalarun, Chiara Frugoni, Jacques Le Goff.

Quando percebemos estas manifestações de reconhecimento e valorização do nosso seráfico pai, lembramo-nos da passagem do Evangelho: ‘Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra”(16). Sim, Francisco foi um homem manso que através de sua santidade e alegria conquistou o coração de muita gente pelo mundo. De Jacques de Le Goff, temos um testemunho que nos alegra: “Francisco foi uma das personagens mais impressionantes de seu tempo e, até hoje, da história medieval...Aliando simplicidade e prestígio, humildade e ascendência, físico comum e brilho excepcional, apresenta-se com uma autenticidade acolhedora que permite imaginar uma abordagem simultaneamente familiar e distante...Foi desde muito cedo o homem que, mais que qualquer outro, inspirou-me o desejo de fazer dele um objeto de história total...Histórica e humanamente exemplar em relação ao passado e ao presente”(17).

Portanto, ao festejarmos São Francisco, sempre presente em nossa vida fraterna, queremos renova nossa admiração e lembrar a todos que, nós da grande família franciscana, somos apaixonados por nosso seráfico pai. E acima de tudo rezar: Ô Pai São Francisco! Queremos falar-lhe que a ti, foi confiado à missão mais sublime de um cristão: à perfeição evangélica. Através da imitação de Jesus Cristo no mundo, deste exemplo e testemunho para todos em seu tempo e no nosso hoje. Tu que ti tornar-te um símbolo para todos no mundo: um mundo tão precisado de paz e bem. Tu que ti tornar-te um sinal de esperança, que ressuscita sempre das cinzas nossa falta de amor para com os irmãos. Renova nossa fraternidade. Nossa vontade de continuar sendo um sinal do Reino do Deus. Renova nossa alegria, para continuarmos sendo um arauto em todas as fraternidades de nossa queria amada Província nossa senhora do Carmo. Amém.!

Notas:

(1) Cf. 2C, 03.
(2) Cf. CARRETTO, Carlos. Eu, Francisco, Paulus, 1981, p. 11.
(3) Idem, p. 12.
(4) Idem.
(5) Cf. 1Jo 4,8
(6) Cf. VEUTHEY, Pe. Leão. Itinerário da Alma Franciscana, Braga, 1948, pp. 41-49.
(7) Cf. CASTRO, Pe. José. São Francisco de Assis, Rio de Janeiro, 1926, p. 139.
(8) Cf. VELASCO, Jun Martín. A experiência Cristã de Deus, Paulinas, 2001, p. 114.
(9) Idem, p. 115-132
(10) Cf. RNB, 17,12.
(11) Cf. CIC, 190.
(12) Cf. Dicionário Franciscano: verbete: Santo.
(13) Cf. RNB, 23,27-30.
(14) Cf. ENGLEBERT, O. Vida de san Francisco de Asís, Santiago do Chile, CEFEPAL, 1973, p. 5.
(15) Cf. VALDIVEISO, Enrique. Murillo, Alianza editorial , 1994, p. 27.
(16) Cf. Mt 5, 1-12; Lc, 6, 20-49.
(17) Cf. LE Goff, Jacques. São Francisco de Assis, São Paulo, Recod, 2005, p. 09-10.

Extraído de http://www.promapa.org.br/2006/index.php?pag=artigos&exibartigo=48 acesso em 28 set. 2009.

Ilustração: S. Francisco / Nicholas Roerich. 1932. Extraído de http://commons.wikimedia.org/wiki/File:St._Francis.jpg acesso em 28 set. 2009.

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