Frei Celso Márcio Teixeira, OFM*
Petrópolis - RJ
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Uma  leitura que se tornou comum desde o 
início do século XX é a chamada  sabateriana. O adjetivo “sabateriana”, 
termo familiar aos estudiosos de franciscanismo,  provém do sobrenome de
 Paul Sabatier. Este pesquisador, a partir do final do  século XIX, se 
destacou como um dos grandes estudiosos de Francisco de Assis,  
contribuindo decisivamente para os estudos em torno deste santo, a ponto
 de  podermos dizer com propriedade que suas conquistas constituem um 
marco  divisório nas pesquisas sobre o tema. Foi com Sabatier que as 
investigações de  caráter histórico sobre Francisco de Assis ganharam 
notável impulso. Além de  editar criticamente textos antigos sobre São 
Francisco, escreveu Vie de Saint François d’Assise, sua obra  
mais famosa e não menos polêmica. Fundou coleções de publicações sobre o
 santo  de Assis, dentre as quais as conceituadas Collection  d’Études e des documents sur l’histoire religieuse et littéraire du moyen Âge e Opuscules de critique historique.  Fundou também a Sociedade Internacional  de Estudos Franciscanos,
 com sede em Assis, aberta aos estudiosos de  franciscanismo de todo o 
mundo, com congressos anuais. Seus méritos são  incontestáveis, tendo 
sido ele um dos primeiros a fazer a leitura do  Francisco-homem, de 
preferência à leitura do Francisco-santo.
 
Mas  o que caracteriza a leitura sabateriana 
não é a abordagem de Francisco-homem,  mas seus pressupostos. Nossa 
tentativa será a de fazer uma leitura alternativa  à de Sabatier.
1. Leitura sabateriana
O  notável pesquisador fez uma leitura muito 
própria de Francisco de Assis. Pelo  fato de ter sido ele o inaugurador 
dessa leitura ou, pelo menos, o que a  aplicou a Francisco, é que 
preferimos denominá-la de leitura sabateriana. Ela,  porém, não terminou
 com a morte do grande estudioso, mas foi retomada por  estudiosos 
imediatamente posteriores a ele e ainda é praticada por estudiosos e  
escritores de hoje, caracterizando uma maneira muito comum de abordagem 
da  figura do santo de Assis.
 
Daí  as perguntas: Basicamente, em que 
consistiria esta leitura? Quais os seus  pressupostos fundamentais? Que 
implicações poderia ela trazer? Comportaria uma  modificação da imagem 
de Francisco? Que imagem de Francisco ela nos apresenta?
 
Sem  dúvida, uma leitura ou interpretação 
comporta uma imagem que é transmitida.  Inevitável e inconscientemente, 
quando fazemos uma leitura de um personagem  como Francisco de Assis, 
acabamos por projetar nele nossas próprias atitudes,  anseios, lutas, 
problemáticas. Colocamo-nos de tal modo na “pele” dele que o  fazemos 
pensar como nós pensamos, desejar o que nós desejamos, julgar como e o  
que nós julgamos. Isto, porque nunca conseguiremos desvencilhar-nos de 
nosso  subjetivismo. Jamais alcançaremos a pura objetividade. 
Importante, no entanto,  é ter sempre presente que nossa leitura não 
coincide absolutamente com a  realidade lida, mas representa apenas uma 
busca da objetividade, um esforço de  aproximação da realidade a ser 
lida ou interpretada. Portanto, qualquer leitura  deve ser relativizada,
 inclusive a que nós nos propomos neste pequeno estudo.
 
No  entanto, embora a objetividade absoluta 
seja inalcançável (não é o que se  pretende aqui), existem abordagens 
que mais se aproximam e outras que mais se distanciam  da realidade 
lida. O que nos pode garantir uma maior aproximação da  objetividade é o
 uso criterioso e crítico das fontes e o recurso à história,  embora 
saibamos que estas, por sua vez, foram escritas sempre a partir de  
subjetividades, dentro de contextos sócio-culturais determinados e  
determinantes.
a)  O pressuposto de Paul Sabatier
O  pressuposto de Sabatier é que Francisco e a
 Igreja são polos diametralmente  opostos e em permanente tensão. De um 
lado, Francisco vive de uma maneira que  se contrapõe à maneira da 
Igreja; e, de outro lado, a Igreja procura sufocar a  novidade 
franciscana e, não o conseguindo, faz todo o possível para dominá-la  
através de uma aprovação jurídica, tendo como finalidade controlá-la e  
manipulá-la para alcançar seus próprios interesses e colocar a nova 
Ordem a  serviço de sua política. Nessa leitura, não é Francisco que tem
 a iniciativa de  dirigir-se à Igreja para buscar nela proteção e 
orientação, mas é a Igreja que  pretende absorver e neutralizar os 
questionamentos, contestações e impactos que  esse homem pobre estava 
apresentando por seu modoevangélico de vida. Na busca  de seus 
objetivos, a Igreja, na pessoa do cardeal protetor e utilizando alguns  
frades letrados, exerce sobre Francisco constante pressão para que o 
movimento  franciscano se curve às pretensões dela.
 
A  leitura de antonímia, isto é, por meio de 
opostos, oferece o risco de  santificação de um polo e de demonização do
 outro. Fundamentalmente, trata-se  de uma leitura maniqueísta. 
Estabelece-se como método básico de leitura a  oposição bem-mal, 
luzes-trevas, graça-pecado, trigo-joio, como se a realidade  humana se 
dividisse nitidamente em dois campos antagônicos e irreconciliáveis e  
como se esses campos nunca se mesclassem e se interpenetrassem. 
Esquece-se que  a experiência nos mostra que a realidade humana comporta
 contradições, que o  ser humano é um ser de contradições, pois é, ao 
mesmo tempo, trigo e joio, luz  e trevas, santo e pecador.
b)  A utilização das fontes
A  partir desse pressuposto fundamental, 
Sabatier vê nas primeiras fontes  hagiográficas surgidas no âmbito da 
Ordem franciscana o dedo da Igreja. Por ter  sido a primeira hagiografia
 escrita a pedido do papa, ele de antemão a rejeita  sistematicamente, 
bem como outras que dela dependem, sem sequer entrar no mérito  delas. 
Pelo fato de essas hagiografias tecerem elogios ao papa e ao cardeal  
Hugolino e mostrarem uma imagem positiva de certos personagens da Ordem,
 como  Frei Elias, ele conclui que elas não são fidedignas. Dá, então, 
preferência a  fontes tardias do final do século XIII e início do século
 XIV que espelham não  tanto o contexto de Francisco, mas o de grupos 
extremistas que começaram a  surgir dentro da própria Ordem franciscana a
 partir da metade do século XIII.
 
É  verdade que ele insiste em que a prioridade cabe aos escritos de 
São Francisco.  Mas a leitura dos escritos de Francisco é feita por ele 
dentro e a partir do  mesmo pressuposto. Apenas para citar um exemplo: 
Sabatier vê no Testamento de  Francisco um inconsciente insurgir contra a
 Regra definitiva. Segundo seu modo  de ler, a Igreja, ao confirmar a 
regra franciscana por meio de uma bula papal,  “teria aprisionado” a 
iniciativa evangélica da Ordem franciscana. O Testamento  de Francisco, 
protestando contra a confirmação-estratificação da regra, retomaria  os 
ideais de Francisco anulados pela bula papal. Esta leitura contradiz o  
próprio texto do Testamento, em que o santo explicitamente afirma que 
este não  se opõe nem se coloca acima da regra, mas é apenas uma 
exortação para que a  regra seja mais catolicamente observada.
c)  A imagem de Francisco
Uma  primeira imagem  que se infere da 
leitura  sabateriana – e aqui não se compreende apenas  a leitura feita 
 por Sabatier unicamente, mas por muitos que  percorrem a sua trilha  – é
 a de um Francisco ingênuo que,  em sua  simplicidade e 
humildade,  se deixa manipular  pelas autoridades eclesiásticas e se 
lhes submete como  um cordeiro indefeso diante de um lobo voraz; a de um
  Francisco sem fibra diante de frades  que se impõem e fazem da Ordem o que bem entendem; a de um  Francisco incapaz
 de conduzir os destinos  da Ordem, o qual  deve ceder às pressões  dos 
frades, especialmente  dos letrados, e modificar  a regra de acordo  não
 com  sua vontade,  mas para atender aos interesses  deles.
 
Outra imagem  resultante desta leitura  é a de um Francisco reformador
 da Igreja e da sociedade, segundo o modelo de Lutero ou de Calvino, o 
qual,  porém, não  conseguiu seu intento,  pois a Igreja  teria sido 
bastante hábil,  absorvendo-o dentro da “oficialidade” para  anular-lhe o
 impulso renovador  e quaisquer pretensões de reforma. Uma justificativa
 talvez  para o fato  de Francisco não ter  passado à história  como um 
 crítico reformador  da Igreja e da sociedade,  ou como  um irreverente 
 contestador, ou talvez  até mesmo  como um  renitente herege.
 
Ainda outra  imagem é a de um  Francisco vítima
 não apenas  das manipulações de poder  por parte  da Igreja, mas  
também das incompreensões  e rebeldia dos frades, como se estes se 
conspirassem contra ele, no intuito de  colocar a Ordem em caminhos 
contrários às opções das origens. E a redação da  regra bulada seria o 
resultado das manobras dos frades, contra a vontade de  Francisco.
2. Considerações críticas
Antes  de apresentarmos uma leitura 
alternativa, faz-se necessário tecer, ainda que  brevemente, algum 
comentário ou consideração às posições de Sabatier com  relação aos três
 itens abordados: pressuposto, utilização das fontes e imagem  de 
Francisco.
a)  Quanto ao pressuposto – Pressupostos 
podem ser evidentes, porque devidamente  provados, menos evidentes e não
 evidentes. Nos dois últimos casos, eles têm que  ser fundamentados, as 
afirmativas justificadas, e as conclusões comprovadas.  Deve-se levar em
 conta aquele princípio básico da lógica que diz: quod gratis affirmatur gratis negatur.
  Este princípio adverte que tudo aquilo que é afirmado gratuitamente, 
sem  comprovação, é passível de negação gratuita. Portanto, sem uma 
comprovação  suficiente dos pressupostos, corre-se o risco de uma 
leitura puramente  hipotética, perpassada de suspeições, na qual 
prevalece não tanto a realidade  lida, quanto o subjetivismo de quem a 
lê e interpreta. E a hipótese, em  qualquer campo da ciência, é 
“verdade” a ser comprovada.
b)  No que concerne à utilização das fontes –
 A rejeição apriorística das primeiras  hagiografias, igualmente sem uma
 comprovação que a justifique, negando-lhes sem  mais a fidedignidade, 
não deixa de caracterizar-se como posição de puro  subjetivismo. E, 
curiosamente, as fontes tardias que a leitura sabateriana  utiliza 
também não lhe dão respaldo em seu pressuposto fundamental.
 
É  claro que as primeiras hagiografias, como quaisquer outras, 
espelham a ótica de  seus escritores com todos os seus condicionamentos 
sócio-culturais. A rejeição  de um grupo de fontes por causa de 
subjetivismos levaria coerentemente à  rejeição de toda e qualquer 
fonte.
 
Além  do mais, não se pode esquecer que os 
primeiros hagiógrafos estavam sob o  controle da comunidade, isto é, 
eles não podiam inventar ou falsificar os  dados, pois aqueles que 
viveram com Francisco ainda estavam vivos. Interessante  é que Frei 
Leão, companheiro de Francisco e apontado por Sabatier como o  legítimo 
hagiógrafo dele em oposição aos primeiros, em uma carta escrita em  
Gréccio em 1246, atesta, juntamente com Ângelo e Rufino, a fidedignidade
 das  primeiras hagiografias. Literalmente se diz na carta: “há algum 
tempo foram  redigidas legendas de sua vida... em linguagem tão verídica
 quão elegante”.
c)  Com relação à imagem de Francisco – Uma 
primeira consideração a ser feita é a  de que Francisco era filho de 
Pedro  Bernardone e herdara do pai a tenacidade. Se ele enfrentou o pai 
de igual para  igual, é porque tinha a mesma têmpera, sem temer as 
consequências (ser  deserdado pelo pai, sem sequer levar consigo a roupa
 do corpo). Na leitura  sabateriana, não sobressai aquele  Francisco 
vigoroso que,  em 1209, ainda  desconhecido, se dirigiu a Roma para 
pedir aprovação  de sua “forma  de vida” e, questionado  sobre a 
dificuldade  de seu propósito,  o defendeu sem concessões,  recusando 
com consciência  e firmeza a proposta  do cardeal encarregado de 
encaminhar  ao papa os pedidos  de aprovação de regras  religiosas. E 
manteve, na mesma ocasião, esta firmeza diante do papa Inocêncio  III, 
firmeza mostrada também ao bispo de Assis que lhe propusera adquirir  
propriedades como as Ordens monacais. A imagem  de um Francisco 
manipulável não condiz com  o que algumas fontes tardias narram sobre 
ele em episódio, a ser datado dez anos depois ou pouco mais, em que, 
diante de um pedido de alguns  frades letrados  com relação  à regra, 
apresentado pelo  cardeal Hugolino, o santo  mostrou a mesma 
inflexibilidade de 1209.  Noutra ocasião, ao mesmo cardeal Hugolino, que
 queria nomear alguns frades como  prelados da Igreja, Francisco 
respondeu com humildade, mas também com firmeza:  “Quero que meus frades
 deem frutos na Igreja em sua condição de menores, não  como prelados”.
 
Com  esta resposta, cai por terra também a 
imagem de Francisco-reformador. Se ele  quisesse ser um reformador da 
Igreja, ele próprio promoveria estrategicamente  seus frades a cargos de
 influência. A minoridade franciscana, de fato, não condiz  com a 
pretensão de tornar-se reformador da Igreja ou da sociedade.
Quanto a Francisco-vítima, trata-se de uma imagem transmitida muito sutilmente pelas fontes tardias, especialmente quando estas mostram Francisco como que doentiamente ocupado em lamentar e em recriminar os maus comportamentos dos frades. Sem dúvida, havia maus frades naquela época, como sempre os houve e há. Certamente Francisco sofria ao ver abusos, ao constatar a defasagem entre ideal proposto e realidade vivida. Mas deduzir disto uma conspiração dos frades contra Francisco é tirar conclusões que as premissas não permitem. Concluir que a regra bulada foi redigida à revelia de Francisco ou por pressão dos frades é advogar um complexo de perseguição ao santo.
3. Uma leitura  alternativa
Ao  iniciar seu processo de conversão, 
Francisco não pensava em fazer oposição a  ninguém nem a nada. Motivo 
para recriminar a Igreja e a sociedade da época ele  tinha em profusão. 
Ele  próprio reconhecia que a Igreja tinha seus pecados e que a 
hierarquia estava  caminhando à distância do Evangelho e, algumas vezes,
 na contramão do  Evangelho. Ele tinha inteligência suficiente para 
perceber a realidade eclesial  que o cercava. Prova disto é que em seus 
escritos ele faz alusão ao pecado do  clero. Mas em lugar nenhum de 
todos os seus escritos se percebe qualquer  indício de que ele se 
propunha, a si e aos frades, a tarefa de reformar a  Igreja e a 
sociedade. Em lugar algum dos seus escritos se percebe o mínimo  sinal 
que pudesse sugerir que ele fizesse oposição à Igreja como um todo ou à 
 hierarquia. Pelo contrário. Chegou a afirmar que, mesmo sendo 
pecadores, os  membros da hierarquia eram seus senhores. Aliás, se 
Francisco quisesse fazer  oposição à Igreja, ter-se-ia tornado de início
 um herege, caminho mais fácil e  coerente para a oposição naquela 
época.
 
Quando  ele se dirige à Igreja para pedir 
aprovação de sua “forma de vida”, tem plena  consciência de que seu 
propósito constitui uma alternativa, não uma oposição.  Se fosse 
oposição, como entender que pedisse aprovação exatamente ao suposto  
adversário?
 
De  sua parte, a Igreja o questiona, 
propondo-lhe os caminhos já existentes, a  saber, que ele vivesse com 
seu grupo uma das regras antigas. Não se trata de  querer manipular 
desde o início o propósito de Francisco e de seu grupo, mas de  um 
procedimento normal, em que se questiona o que se propõe como específico
 e  se discutem os detalhes da vida, tais como sobrevivência, trabalho, 
organização  do grupo, possibilidades e maneiras de aceitação de novos 
membros, presença e  atuação dentro da Igreja, etc. Trata-se de uma 
negociação. E é possível que em  matéria de somenos importância 
Francisco tenha cedido às sugestões de quem o  questionava. Pequenos 
acertos necessários para dar consistência e coesão  organizativa ao 
grupo, uma ajuda antes que uma manipulação. Alegar que a Igreja  os 
manipulou por se tratar de pessoas ignorantes, é desconhecer a realidade
 do  grupo. Três dos doze frades que compunham e que estavam à frente do
 grupo  podiam não ter grandes estudos, mas eram pessoas experientes. 
Francisco tinha  experiência do comércio, sabia negociar; Bernardo de 
Quintavalle era um homem  rico, certamente não devia ter sido tão 
ignorante; Pedro Cattani era formado em  Direito.
 
Interessante  é observar que o cardeal 
encarregado desses questionamentos foi considerado  pelos frades da 
primeira hora não como adversário que os queria sufocar, mas  como 
“cardeal protetor” da Ordem, consistindo sua ajuda não somente nesses  
questionamentos iniciais, mas principalmente na defesa da novidade que 
ele  assumiu diante do colégio dos cardeais reunidos em consistório.
 
E a  Igreja compreende e aprova o diferente de
 Francisco como caminho alternativo,  não como oposição. Com toda a 
certeza, não o teria aprovado, se tivesse visto  nele uma oposição. Mais
 ainda, teria proscrito o grupo como um bando de  hereges, como soía 
acontecer. Pelo contrário, deixou liberdade ao grupo para  que 
explicitasse melhor os caminhos a percorrer, pois a Igreja também era  
consciente de que se tratava de algo realmente novo.
 
A  aprovação, porém, não significava ausência 
de conflitos. Certos setores da  Igreja, como bispados e paróquias, viam
 o caminho alternativo de Francisco com  desconfiança e suspeita. Em 
algumas dioceses e paróquias, os frades eram  proibidos de pregar. Em 
outras, eram considerados hereges ou confundidos com  eles. Mas isto não
 significa que devamos considerar a Ordem como vítima de uma  oposição 
sistemática da Igreja. Trata-se de um processo normal. Em qualquer  
sociedade, o aparecimento de um grupo diferente ou de uma proposta 
alternativa  causa estranheza a certos setores. E a inserção de um grupo
 novo na sociedade  não se dá sem arranhões. E o grupo novo tinha a 
tarefa de encontrar na Igreja e  na sociedade o seu espaço e desempenhar
 seu papel específico, caso contrário,  ou se colocaria à margem da 
sociedade ou teria que abandonar o caminho  alternativo. Trata-se, 
portanto, de processos históricos absolutamente normais.  Com a Ordem 
franciscana não se deu de modo diferente.
Conclusão 
A  leitura alternativa apresenta um Francisco 
também alternativo, no sentido de  que ele propôs um caminho alternativo
 de vida evangélica. Ele não pretendeu  substituir nada do que já 
existia nem opor-se a instituição alguma; nem fazer  um caminho 
paralelo, como foi, por exemplo, a reforma luterana, mas inserir-se  na 
instituição existente; nem impor-se como o único caminho válido, mas  
respeitando a pluralidade. Ele deu sua contribuição própria, sem 
tornar-se  reformador.
Esta leitura evita dramatizações que se criaram em torno de Francisco e liberta-o da síndrome de vítima que comumente se lhe atribui ou sob a qual ele é interpretado (vítima de conspiração dos frades e das manipulações da Igreja). Reconhece que houve conflitos nas relações com setores da Igreja, que ele sofria quando seus frades não viviam de acordo com as opções de origem, mas considera isto como processo histórico normal.
Apresenta  um Francisco não ingênuo, mas 
inflexível no essencial; iletrado, mas  suficientemente experiente e 
capaz de propor e de defender seu propósito diante  da autoridade máxima
 da Igreja.
 
Enfim,  esta leitura prefere valorizar 
Francisco pela sua vida a engrandecê-lo por  supostas perseguições 
sofridas.
- Texto publicado na Grande Sinal de setembro/outubro 63/2009/5
 - * Frei Celso Márcio Teixeira é da Ordem dos Frades Menores, doutor em Espiritualidade atualmente leciona Teologia Espiritual e Espiritualidade Franciscana na Faculdade de Teologia - ITF.
 - Extraído de http://franciscanos.org.br/itf/artigos/2011/011.php acesso em 29 nov. 2011.
 
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