Arquivo do blog

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

O Carisma de Francisco de Assis

Deu no CCFMC-Boletín Outubro de 2005:
Francisco foi uma personagem luminosa. Um homem capaz de ver, sem intenção nenhuma, o mundo no esplendor do amor de Deus e assim dedicar-se carinhosa e vigorosamente aos homens e animais, a toda a criação. Sem intenções, sem interesses de lucro, sem pressão de consumo, sem pressão de aproveitamento – simplesmente assim, simples e sem segunda intenção e pleno de pureza interior.

Se perguntarmos como Francisco chegou a esta pureza e ligeireza do ser encontramos algo a este respeito no seu testamento. Aí lemos: “Assim o Senhor deu-me a mim, ao pequeno irmão Francisco, a coragem de começar uma vida de conversão e penitência: Pois, quando estava em pecado pareceu-me muito duro ver os leprosos. O Senhor mesmo, no entanto, levou-me até eles, e eu ofereci-lhes misericórdia. Quando saí destes leprosos, aquilo que me pareceu duro foi convertido em ternura da alma e do corpo. Depois parei um pouco e renunciei ao mundo...”

O que tinha acontecido nesta mudança de vida? A lepra outrora foi uma doença popular como hoje é o cancro [câncer] – e os leprosos não só eram marcados e desfigurados pela doença mortal, mas também marginalizados socialmente. Fugia-se dos leprosos. Foi sempre assim. É preferível estar entre os seus iguais. Conforme este padrão, também cresceu o filho dum comerciante, Francisco, até que foi parar aos leprosos. Em princípio, sem querer, mas, na retrospectiva, reconhece neste fato uma vontade carinhosa de Deus. A partir de aí, o amargo converteu-se-lhe em doce. “Na medida em que me afastei deles, converteu-se-me aquilo que me pareceu amargo numa douçura da alma e do corpo.” A Francisco aparece-lhe um mundo novo, o mundo do amor ao próximo e do amor às criaturas irmãs. O seu mundo anterior desmorona-se – aquele mundo, no qual existe o de cima e o de baixo, no qual existem possuidores e desposseídos, elevados e humilhados, senhores e servos. Despede-se deste mundo no qual riquezas determinam o prestígio social e êxitos a identidade.

Temos de compreender o que isto significa. Francisco encontra-se no princípio daquela época cujo fim, ou melhor dito, cuja crise vivemos hoje, época que se chama a época burguesa e na qual o homem se define primordialmente por aquilo que rende e possui. O início do modo capitalista de vida e do pensamento modifica o mundo de então. A burguesia nas cidades está crescendo. O monetarismo explode. Tudo tem de ser ganho e produzido. E ai daqueles que não consigam alcançar riquezas e não tenham êxito! Eles pertencem aos vencidos e marginalizados. No encontro com os leprosos, Francisco compreende que um mundo tal não pode ser o mundo verdadeiro. Descobre o mundo do Evangelho como alternativa. Uma humanidade e um mundo reconciliados com eles mesmos e com toda a natureza. Poderia ser que Francisco por isso provocasse “uma tal saudade”? Encontrou este tesouro que o enriquece mais do que todas as riquezas intelectuais e bancárias. Ele utiliza simplesmente a riqueza de Deus – na criação e no mundo. Precisamente por isso ele é tão importante para o nosso tempo.
Andreas Müller OFM
Extraído de http://www.ccfmc.net/wPortugues/cbcmf/cbcmf-news/2005_10_News.shtml?navid=94
acesso em 25 ago. 2008.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Firefox