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terça-feira, 28 de outubro de 2008

O Profetismo Franciscano Secular

Frei Adilson Corrêa da Silva, ofm.
(Assistente Espiritual OFS-MG)

“Os leigos exercem sua missão profética também pela evangelização”, isto é, o anúncio de Cristo feito pelo testemunho da vida e pela palavra “. Nos leigos, esta evangelização... adquire características específicas e eficácia peculiar pelo fato de se realizar nas condições comuns do século”. (LG 35)
O seguimento de Jesus Cristo se traduz para o Franciscano na vivência radical do Evangelho. Assumir os passos de Cristo é traduzir para o cotidiano da vida a sua missão, que consiste na prática da justiça, da fraternidade, de paz e na manifestação do amor. Com esta forma de vida e assimilação destes valores estarão garantidos os pilares de um novo Reino anunciado por Jesus em nome do Pai. Um Reino que já iniciou com sua vinda, e que perpetua através daqueles e daquelas que assumem e põe em prática o seu projeto.

O carisma do Franciscano, se bem entendido, é uma maneira de viver mais profundamente este projeto de Jesus. Pois foi assim que Francisco e Clara buscaram seguir Jesus, o pobre, humilde e cruxificado. Intuíram estar na periferia da sociedade e da Igreja. Eles partiram para fora dos muros da cidade de Assis, onde estavam os leprosos, os mendigos, os miseráveis... e ali foram viver, seguir o Cristo. Assumiram com alegria a capelinha de São Damião e depois Santa Maria dos Anjos, ambas em ruínas. Igrejinhas estas que também estavam distantes do centro de Assis. Estas atitudes como as de Jesus, mostram o lugar onde se inicia e se instaura o Novo Reino. Como Jesus, o movimento franciscano apresenta uma nova alternativa, distante daquela implantada já repleta de vícios e manias. Assim, também agiu Jesus diante de uma prática religiosa sobrecarregada de leis que mais oprimiam do que libertavam, que distanciava a tempos da proposta amorosa do Deus da Aliança. O profetismo do movimento dos Penitentes de Assis está nesta nova proposta de vivência do Evangelho, longe dos palácios, das cúrias, das catedrais, e próximos da periferia, dos pequenos, dos menores.... E ser profeta é ter a mente no passado, todo o conhecimento da Tradição, os pés devem estar no presente, na realidade e o olhar no futuro, adiante dos acontecimentos.

A força geradora de todo esta mudança é a Sagrada Escritura, é o relato da Revelação Divina na caminhada humana. Francisco e Clara nos apresentam um modelo de interpretação desta Palavra: quando escuta o Evangelho, procuram colocá-lo em prática e desta atitude nasce uma compreensão mais profunda. Ou seja, com a ‘vida interpreta a Palavra e com a Palavra ilumina e transforma a vida’. É uma transformação radical, um movimento ‘contrário’, como já citado: do centro para a periferia da cidade, da Igreja e da vida. Lembremos da ‘escuta do Evangelho na Porciúncula, a Palavra ouvida faz Francisco mudar de hábito, este é um primeiro passo para a compreensão da Palavra que exige mais. Fazendo acontecer uma círcularidade entre Evangelho e vida. Em São Damião também podemos perceber esta realidade, a Palavra do Cruxificado convida a Francisco a restaurar a Igreja. E ele inicia a restauração daquelas paredes, porém esta restauração é bem mais ampla e atinge em cheio a Igreja humana, a Igreja estrutura, a Igreja hierarquia. Eis aqui o ponto chave de toda a vocação franciscana: Levar o Evangelho a vida e a vida ao Evangelho; ou melhor transformar a vida a partir do Evangelho, deixar –se conduzir pelo Espírito do Senhor.’

O sustentáculo para toda esta compreensão e vivência de nossa vocação e do Evangelho está na oração. É a ponte que proporciona um profundo diálogo com o Criador. Nosso Seráfico Pai já nos orienta quanto a vida de oração: “não extinguir o espírito da santa oração e devoção, ao qual dever servir todas as coisas temporais” ( RegB 5,2). Não podemos nos deixar levar por uma vida desenfreada, alienada. É preciso dialogar com Deus de maneira profunda e sóbria. Abrir o coração e silenciar para escutar a voz do Senhor. Num exercício freqüente e até mesmo exaustivo. Pois corremos o grande risco de depreciarmos nossa vida de oração, seja por um excessivo ativismo no mundo trabalho e por uma vivência alienante sem nada fazer. É preciso bem dosar nossa vida de trabalho, familiar, eclesial, e social. Dialogando com o Deus de Abraão, de Jacó, de Isaac, com Deus de Jesus Cristo, como o nosso Deus em todos os momentos da vida.

Sendo franciscanos neste novo milênio busquemos novos caminhos para vivermos nossa vocação – missão. Procurando não abrir mão do essencial que é a prática do Evangelho: na minoridade junto aos empobrecidos, com o coração aberto a itinerância, sensíveis e acolhedores na fraternidade. Assimilando os sinais de nosso tempo a partir do Evangelho, com os pés no chão e o coração aberto, colocando em prática os ensinamentos de Francisco e Clara de Assis: “Vamos recomeçar, pois até agora pouco ou nada fizemos”.
Que o Senhor vos dê a Paz!

Fonte Bibliográfica.

- O Espírito de Oração e Devoção. Documentos/ OFM – N. 18 – SP – 1996.
- A Vida em Fraternidade. OFS do Brasil. Vozes. Pertópolis – 1997.
- MULLER, Nelson; SILVA, José Belizário; TEIXEIRA, Celso Márcio; A Maneira Franciscana de Evangelizar. CFMB. Vozes. Petrópolis – 1996.
Extraído de http://www.franciscanossantacruz.org.br/informaximo/artigos/artigo.asp?id=18 acesso em 28 out. 2008.

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