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segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Legenda dos três companheiros (2)

Fr. Sílvio João Santos do Carmo, OFMcap
freisilviocarmo@hotmail.com

Para esta empreitada, nessa segunda reflexão pessoal, da legenda dos três companheiros, Paul Sabetier nos conta que os três companheiros que escreveram a vida de são Francisco, foram de fato digno de tal empreendimento: “Essa legenda tem como autores homens dignos de narrar a história de São Francisco e, certamente, também os mais capazes de faze-los. Os três viveram em sua intimidade e o acompanharam durante os anos mais importantes”. Observamos assim, uma obra cheia de intimidade, de aprofundamento, de certeza, de vivência, não do tipo: me contaram, me desceram, mas sim de uma narração de dentro para fora, isto é, da verdadeira escuta, do verdadeiro olhar, do verdadeiro silêncio, da verdadeira afetividade. Pois, quando um relacionamento só é vivido externamente, temos a certeza que dura pouco ou quase nada, e aí, perdemos a oportunidade de conhecer aqueles que pela graça de Deus foram colocados em nosso meio para amarmos. Todavia, quando encontramos espaço – pessoas verdadeiramente acolhedoras – tudo fica mais fácil e o que está dentro do coração se manifesta como desabrochar de uma flor.

Os três companheiros de Francisco nos contam que, ele era um jovem alegre e liberal. Que gostava da convivência com os do mesmo temperamento”. Seus pais, o ama com ternura, permitindo fazer “coisas”, para não entristecê-lo. Já na juventudeguardava o firme propósito de jamais dirigir injúrias a quem quer que fosse. Antes, sendo jovem, brincalhão e boêmio, fez consigo mesmo o propósito de nunca responder a quem lhe falasse torpezas”. Partindo destas virtudes, depois de sua conversão diz: “Se és generoso e cortes com os homens de quem não recebes coisa alguma, a não ser favores transitórios e de pouco proveito. É justo que, por amor de Deus, que é generosíssimo em retribuir, o sejas também com os pobres”. A partir daí fez o propósito em seu coração de nunca mais negar a quem pedissem em nome do grande Senhor. Na prisão durante a guerra entre Perusa e Assis, Francisco, vendo como um dos soldados tivesse injuriado a um companheiro e por esta causa, “todos dele queriam afastar-se, só Francisco não lhe negou a amizade”.

Depois de várias experiência boas e cheias de fantasias com seus companheiros, Francisco foi gradativamente sendo visitado pelo Senhor. Experiências que nunca esqueceu e, que foram contadas – acredito eu – varias vezes, a ponto de serem lembradas com detalhes pelos três companheiros: Após a refeição saíram de casa: os companheiros iam na frente cantando pelas ruas da cidade, e ele, um pouco atrás, ia meditando com atenção. O Senhor o visitou, e seu coração ficou repleto de doçura. A partir daí tudo vai mudando, tudo vai se “transformando pela graça de Deus”. Sua primeira atitude, conta seus companheiros foi: “estar em alguma cidade, onde, desconhecido pudesse tirar as próprias roupas e, em troca, vestir as roupas de algum pobre, para experimentar pedir esmolas pelo amor de Deu”. Desejoso de experimentar cada vez mais a doçura do Senhor em seu coração sem ainda ter como explicar, certa vez, encontra-se com um homem leproso, alcança a mais “perfeita vitória sobre si mesmo”. Aquilo que “antes um amargo mudara-se em doçura”, “Apeou e ofereceu-lhe uma moeda, beijando-lhe a mão”.

Partindo daí, Francisco desejoso de possuir o verdadeiro tesouro, vai travando uma batalhar com seu próprio desejo humano. Procurando uma caverna perto de Assis, orava a Deus e ao sair da caverna, apareceu diante de um companheiro em “um outro homem”. Depois dessa experiência, outras foram se sucedendo gradativamente. O desejo de reformar a pequena igreja de são Damião. Diante do crucifixo, trêmulo e atônito disse: “com muito boa vontade o farei Senhor”. “Com estas palavras ficou repleto de tanta contentamento, que sentiu em sua alma a presença de Cristo crucificado que lhe havia falado”. Diante das várias experiências desagradáveis e amargas com sua família e de modo particular com seu pai. Da caridade e o amor para com os sacerdotes. Os vários encontros com os cônsules e com o senhor bispo, que lhe foi de grande ajuda em momentos tão difíceis: “Tem pois, filho, confiança no Senhor, e comporta-te varonilmente”. Francisco “despojando de todas as coisas do mundo, dedica-se ao serviço divino por todos os modos possíveis”.

Os três companheiros nos contam também, que todas estas experiências foram para Francisco grande provação. Uma grande luta pessoal, uma amargura sem fim, um sofrimento necessário, uma angústia compartilhada do Cristo na Cruz e uma dor profunda. Depois, tudo em sua vida vai tomando outros rumos, outra realidade, para lembrar-nos que precisamos fazer sempre a renúncia necessária, diante da família, de si mesmo e dos bens. Tendo concluído a obra que desejava realizar, da igreja de São Damião, Francisco, vai mudando seu modo de se vestir. Suas roupas de finas e elegantes passam em um primeiro momento para um hábito de eremético, de cajado na não, calçados nos pés e correia na cintura. Depois, fazendo com suas próprias mãos, usa uma túnica rústica e uma corda por cíngulo. É sempre assim, quando a mudança começar de dentro, o externo muda. Não temos como escapar. Sentimos forte desejo de despojamos do velho homem, para vive o homem novo. O novo, para quem é verdadeiramente agraciado pela graça divina, não causa medo e sim, explosão de alegria sem fim. Tudo é maravilhoso, gostoso, alegre, encantador, radiante e profundo. Tudo muda: o olhar, o andar, o jeito, o afeto, o falar, o amor, o relacionamento, o afeto. Portanto, nada mais tem sentido diante da transformação que Deus realiza quanto estamos vivendo o TUDO, o SUMO BEM, o MISTÉRIO ETERNO em nós.

A partir desse momento, Francisco, “começou, por inspiração divina, a apresentar-se como anunciador da perfeição evangélica e a pregar a penitência em público e de modo simples”. Agora seu desejo, não era mais reconstruir igrejas em ruínas pela cidade de Assis e sim, falar, falar muito do que estava sentindo com sua vida; de como poderia transmitir para todos a transformação que Deus fez em sua alma. Seus três companheiros, narram que Francisco, escutando sempre mais as Palavras de Jesus na celebração da Santa Missa, começa a pregar o Evangelho. Segundo eles “suas palavras não eram vazias nem dignas de riso mais cheiras de virtude do Espírito Santo e penetravam o âmago do coração, de modo a levar vivamente os ouvintes ao espanto”. Sim, foi desta maneira que Francisco foi cativando as pessoas de seu tempo. Sim, foi com palavras cheias de virtudes do Espírito de Deus, pois é isso que se espera de um apaixonado pelo Senhor; é isso também que as pessoas desejam ver no pregador: virtudes espirituais. Sem isso, não falamos nada porque não sentimos nada para depois dizer e, aí, como cativar as pessoas para Deus? Como motiva a fé de muitos que já perderam “sua fé” no mundo tão marcado pelo individualismo e pelo materialismo?

Demos isso como certo: quanto mais nos aproximarmos do MISTÉRIO, tanto mais teremos condições de ajudar muitas pessoas. Quando Francisco começou a pregar de “modo simples” e chegando ao conhecimento de muitos a verdade tanto da doutrina quanto do testemunho da vida, com nos fala os três companheiros, após dois anos, alguns homens começaram a ser animados pelo seu exemplo de vida santa. É isso que veremos na última e III reflexão. Que o Senhor cheio de Amor para conosco, nos dê a sua verdadeira Paz. Amém!


Frei Sílvio João
Extraído de http://www.promapa.org.br/2006/index.php?pag=artigos&exibartigo=72 acesso em 24 nov. 2008.

Observação:
Não foi localizada a terceira reflexão sobre a Legenda dos Três Companheiros.

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