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sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Francisco – um Homem de Abertura e Diálogo

Deu no CCFMC Boletín Julho/Agosto de 2008:

Porque é que Francisco entusiasma todo o mundo? Já há 800 anos os seus próprios companheiros e irmãos se puseram esta pergunta que ainda tem validade hoje. Porque é que ele tem um papel tão importante em encontros ecumênicos e interreligiosos? Porque é que ele é um elo de ligação com outros cristãos, com fiéis de outras religiões e também com aqueles que só crêem na vida e nos valores humanos? Às vezes até parece que estes o compreendem melhor que os próprios irmãos.

Uma razão pelo entusiasmo em relação ao pobre de Assis é talvez o seu amor aos seres humanos. Ele é o “homem reconciliado que reconcilia”; ele é o “pacífico que gera a paz”; ele é “quem tem compaixão e quem consola”, ele é o “homem livre que quer libertar toda a Criação.”

Assim revela o seu amor para com os pobres. Não quer possuir nada, não quer dominar, não quer ser ninguém e não pretende fazer nada que possa ferir ou menosprezar a outra maneira de estar na vida ou a dignidade dos outros. Pois todos são irmãos, criados e amados por Deus.

Numa época na qual o ministério eclesiástico vive contra o espírito do Evangelho devido à ânsia de domínio e autoridade, apresenta-se Francisco como um irmão menor, orientando-se totalmente no humilde e pobre Jesus de Nazaré; sente-se como servo humilde de tudo aquilo que habita a terra vivendo a paz do céu e o amor generoso de Cristo (Adm XV, 1-2). A pobreza, a atenção, a tolerância e a renúncia a todo o poder residem na lógica do Crucificado. O encontro com o outro significa sempre testemunhar a bondade de Deus e o amor vertente que se revestiu na fragilidade humana de Jesus Cristo. Estas são as condições prévias e a base para todo o diálogo com os outros.

Aos valores básicos de tal espiritualidade do diálogo pertencem fraternidade, reconciliação, pobreza e conversão. Quem reconheceu Deus como Pai e Jesus como irmão sabe que não deve haver entre os homens os de cima e os de baixo, nem senhores, nem servos. Todos têm a mesma dignidade e a mesma vocação e todos são imagens únicas de Deus. Para Francisco, portanto, não há exceção na sua estima e nenhuma reserva ante ladrões ou incrédulos. Todos merecem respeito e confiança. Só a fraternidade confiante abre as portas à compreensão mútua e ao ato de compartilhar.

Desta maneira, Francisco alcança uma vida completamente reconciliada com Deus, com ele mesmo, com todos os homens, em fim, com toda a Criação. Temos de aprender isto com grande esforço. Portanto, admoesta os seus irmãos: “Ninguém deve ser irritado pela vossa ira ou vossa disputa, ao contrário, pela vossa brandura, todos devem ser chamados à paz, à bondade e à unidade. Pois vocês são chamados a curar os feridos, pôr ligaduras aos fraturados e chamar os despistados”. (Leg3C 58)

Só assim se reconhece o amor e o zelo de Francisco duma vida “sem posses”. Não devemos ter nada o que, segundo a vontade de criação de Deus, pertença a todos. Podemos usar tudo, mas de maneira que não impeça ao outro de participar na vida em plenitude. Quem vive assim estará cheio duma gratidão profunda por saber que vive daquilo que recebeu gratuitamente.

A conversão é a chave da vida de Francisco. “Assim o Senhor deu-me... para começar a vida de penitência.” (Test 1). Penitência significa pensar de outra maneira, confiar na promessa de Deus, começar sempre de novo; assim como Francisco no fim da sua vida confessou: “Comecemos a servir ao Senhor Deus porque só temos avançado pouco.” (1Cel 113)

Andreas Müller OFM
Extraído de http://www.ccfmc.net/wPortugues/cbcmf/cbcmf-news/2008/2008_07_News.shtml?navid=92 acesso em 05 set. 2008.

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