Arquivo do blog

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A Mensagem de Jesus tem de ser encarnada

Neste ano, em que nasceu o movimento franciscano há 800 anos, lembramos das características fundamentais do carisma franciscano as quais, há 26 anos, foram enumeradas durante o congresso internacional da Família Franciscana de Mattli. Foi a primeira tentativa de reler a herança franciscana desde a óptica do chamado Terceiro Mundo traduzindo-a para o nosso mundo de hoje. Neste processo, aprendemos que, sobretudo, os irmãos e as irmãs do “Primeiro Mundo” têm de mudar consideravelmente de idéias. Este processo de aprendizagem continua sendo muito atual hoje em dia.

O cristianismo espalhou-se por todo o mundo seguindo a história européia do descobrimento e da colonização. A expansão da civilização européia e do cristianismo europeu realizaram-se paralelamente. E isto, numa simbiose tão unida que não se distinguiu entre o que foi realmente o Evangelho, e o que foi a cristandade européia. Ainda não era conhecido o termo de inculturação. Também a Família Franciscana, que nos últimos 500 anos, teve uma grande participação na obra missionária da Igreja, não foi capaz de se opor a esta tendência. Seguiu as regras da Igreja Romana transplantando as formas e os modos de viver da sua comunidade para as outras culturas. Isto vale para os trajes, para o estilo de construção dos seus conventos, para o modo de viver e os costumes duma comunidade bem como para a determinação do âmbito de tarefas. A missão foi um transplante da Alemanha, da Holanda, da Itália, da Espanha, de Portugal, dos Estados Unidos etc. E se realizou de tal modo que, ainda hoje, é possível determinar a origem nacional de cada comunidade.

É verdade, que a mensagem do Evangelho só pode ser transmitida com os instrumentos duma cultura, mas tem de ser fundamentada e enraizada de novo em cada cultura. Por isso, os próprios critérios e valores culturais não devem ser simplesmente transferidos. Isto vale para a liturgia, a teologia, os ministérios e âmbitos de atividades na mesma medida. A mensagem de Jesus tem de ser “encarnada” em cada cultura, isto é, converter-se em criação nova. É uma mensagem em muitos rostos, marcados pelos problemas e modos de viver socio-culturais próprios dum país ou dum continente.

Francisco, seguramente, não conheceu o termo de “inculturação”. Mas como tinha uma visão genial adivinhou o que era o mais importante. A sua indicação na Regra de 1223 aponta para este fato: “Os irmãos devem vestir-se conforme o lugar e o tempo e regiões frias” (Reg 1 4). Deviam tomar atenção “ao modo de viver” ou conforme outros usos e costumes determinados pelo clima e pelo meio. Não foi só um conselho sábio mas sim algo como uma exortação à inculturação. O fato de ele ser uma pessoa extraordinariamente aberta e livre é demonstrado também pelo fato de que se deixava impressionar pela piedade dos muçulmanos e das suas formas de expressão, isto é, da sua cultura.

E, marcado por esta impressão, dá regras claras para os irmãos que queiram ir para a missão. A primeira coisa que têm de fazer é o seguinte: “que não comecem nem colaborem em brigas e disputas, mas sim sejam, por amor de Deus, súbditos a cada criatura humana e confessem que são cristãos” (Reg 2 16,6). O testemunho da vida é o primeiro e mais importante sermão. Numa época na qual havia guerras religiosas ferozes entre cristãos e muçulmanos e todos queriam ter razão, esta atitude foi uma sensação. Enquanto que a Igreja oficial fez guerras em nome de Cristo e por causa do Evangelho, Francisco pregou o “ser súbdito” como a primeira e mais importante maneira de missão. Só deviam pregar quando notarem que é do agrado do Senhor. Esta é a pura inculturação.

Desta maneira Francisco vive o Evangelho de Deus, do Pai e Criador, e de Cristo, o Salvador. O que valem todas as palavras bonitas sobre o amor paternal de Deus, o que valem todos os louvores sobre a alteza do Criador, se dividirmos os homens em pobres e ricos, em senhores e servos, em bons e maus; e se utilizarmos a Criação como um armazém explorando a terra desertificando-a? A mensagem libertadora de Reino vindouro de Deus só é aceite se for vivida sem querer impô-la. E toda a riqueza desta mensagem se torna visível se se puder desenvolver nas muitas culturas desta humanidade única. Isto é o que as pessoas franciscanas deveriam fazer notar no ano do Jubileu de 2008.


Andreas Müller OFM
Extraído de http://www.ccfmc.net/wPortugues/cbcmf/cbcmf-news/2008/2008_09_News.shtml acesso em 25 set. 2008.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Firefox