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quarta-feira, 24 de março de 2010

Clara busca seu caminho

Refletindo sobre a vida de Clara servimo-nos da excelente biografia da santa escrita por Chiara Giovanna Cremaschi, Chiara di Assisi. Un silenzio qui grita (p. 30-34)

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

1. Clara sentia em seu interior um chamamento para a entrega total ao Senhor. A realidade eclesial em que Clara se movia poderia lhe oferecer algumas escolhas de consagração na vida religiosa. Enquanto a jovem se acha num processo vocacional, fica sabendo que Francisco de Pietro Beranrdone havia abandonado tudo e estava tentando criar um caminho evangélico novo. Ele e uns poucos companheiros começaram a levar uma vida de comunhão fraterna e extrema pobreza, parecida com a vida dos marginalizados de seu tempo, provocando comentários de todo tipo. Também Rufino, primo de Clara, havia deixado família e bens, riquezas e honras para viver singelamente e anunciar o evangelho de paz. Um dia se lhe apresenta a ocasião de se aproximar da experiência de seu concidadão: Francisco fala aos fiéis na Catedral de São Rufino, ao lado da casa de Clara. A filha de Favorone, ouvindo-o, sente vibrar as fibras do coração em profunda sintonia espiritual.

2. A moça procura encontrar-se com Francisco. Não podemos esquecer que nesse momento o filho de Pietro Bernardone , aos olhos de muitos, não passa de um aventureiro, alguém exaltado e exagerado. Clara começa a elaborar um projeto escondido e que não pode revelar aos seus parentes. Vai ter com Francisco acompanhada de Buena de Guelfuccio, sua fiel amiga, e ele a recebe com um de seus companheiros, Filipe Longo. O Poverello fala da seqüela de Cristo, da alegria de pertencer somente a ele na pobreza mais total e Frei Filipe, que tem o dom de transmitir e de explicar a Palavra com sabedoria espiritual, fala com as brilhantes palavras que lhe são próprias. As palavras dos dois vão ao coração de Clara e encontram lá o eco de seus desejos. Francisco conhecia a boa fama de Clara. O santo vê qualquer coisa de divino no desejo de Clara e ela vê em Francisco um caminho de discernimento.

3. No final de sua vida, narrando os acontecimentos de sua conversão, a sua plantinha dirá que Francisco, quando não tinha nem irmãos, nem companheiros, reedificou São Damião em vista da vinda de umas senhoras. Em tal contexto, ela dá a entender que nesta época, fazendo uma profecia, já conhecia a sua boa fama. Nesse momento, Clara começa a ser discípula de Francisco. Evidentemente, nesse momento, lhe era impossível falar desses pensamentos a seus familiares. Estava claro que Clara desejava viver o Evangelho com modalidade semelhante à do jovem convertido. Na realidade, aquilo que Francisco parece propor já estava no coração de Clara sugerido pelo próprio Espírito Santo.

4. Nasce, assim, no coração de Clara a vontade firme de tudo abandonar pelo Senhor Jesus Cristo, descoberto e amado não somente no coração e na oração, mas também através do caminho e do rosto de Francisco, que lhe mostra a via: o Filho de Deus. Clara descobre nos olhos de Francisco o brilho da luz do Amor e ele passa a ser para Clara o espelho de seu Senhor. Através dele, ela atinge diretamente a pessoa de Jesus Cristo. Há qualquer coisa de indizível que crescerá com os anos e dará origem a um relacionamento de comunhão fundado no único Amor derramado no coração de ambos. Em tudo não se trata de coisa sentimental, como muitos afirmaram e escreveram. Não se pode esquecer que no momento em que o filho de Pietro Bernardone começa seu itinerário de conversão, Clara é uma criança de uns dez anos, na iminência de partir para Perugia. O que vemos descrevendo se passou depois da volta da cidade de Perugia. Nesse momento, o filho de Pietro Bernardone e a primogênita dos Favarone já tinham colocado em Deus todo o objeto de seu amor. “Além disso, não se pode esquecer que Clara, vivendo muitos anos depois da morte de Francisco, deixa transparecer o que ele representou para ela e suas irmãs; enquanto nos Escritos do Poverello, nunca é mencionada, mas sua presença está sempre ligada à da sororidade. Trata-se de um relacionamento de comunhão que envolve dois grupos humanos, indo além da relacionamento de um homem e de uma mulher” (p.33).

5. Podemos dizer que o fogo do Espírito, que anima Francisco e Clara os convocou a realizar uma obra de profunda renovação espiritual na Igreja. A obra dos dois não se apoia em seguranças humanas: somente o abandono confiante nas mãos do Pai celeste abre o coração à ação do Espírito e dá a franqueza típica dos apóstolos de todos os tempos.

6. Podemos encontrar no jovem convertido a intuição de alguma coisa grandiosa nesta moça sedenta de Deus, na qual ele encontrou a imagem concreta da pobreza que ele tinha abraçado. Em certo sentido se poderia supor que ele tivesse entrevisto na filha de Favarone a mulher nova capaz de começar na Igreja, reedificando-a com a oferta total de si. São hipóteses que tentam jogar um pouco de luz naqueles começos, semelhantes às sementes pequenas de que falam os Evangelhos.

7. “Os encontros secretos produzem logo seus frutos; tudo é predisposto para que Clara possa abandonar a casa paterna e embrenhar-se na aventura evangélica. Os passos a serem dados ainda não decididos. Dia após dia, o Senhor haverá de iluminar. Não é andar às cegas... O Bispo de Assis, que tinha acolhido sob seu manto o jovem Francisco quando em praça pública havia deixado tudo, inclusive as roupas, está a par da decisões tomadas por Clara sob a orientação do penitente filho de Pietro Bernardone e dá sua bênção.

Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/almir/artigos/clara/03.php acesso em 24 mar. 2010.

Ilustração: Clare of Assisi is received into the order of the minorites by St. Francis [iluminura medieval]. ca. 1435. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Saint_Francis_receives_Clare_of_Assisi_into_the_order_of_the_minorites.jpg acesso em 24 mar. 2010.

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