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terça-feira, 27 de abril de 2010

Quando Clara deixa a casa paterna

Continuamos a percorrer os passos de Clara. Nesta página nos deteremos nos acontecimentos daquele famoso domingo de ramos. Sempre temos em mão a obra Chiara di Assisi. Un silenzo che grida (Ed. Porziuncola, Assisi) de Chiara Giopvanna Cremaschi (p. 35-39).

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

1. Era o Domingo de Ramos de 1211. Clara, com a mãe e as irmãs participam da missa na Catedral de São Rufino, celebração presidida por Dom Guido, essa igreja tão pertinho da casa dos Favarone. No momento em que todos se levantam para receber os ramos. Clara por um sentimento de reserva ou porque pensava naquilo que estava para realizar à noite, não se mexe. Acontece alguma coisa fora de todo ritual. O bispo, passando no meio dos fiéis, vai até Clara para dar-lhe o ramo. “Neste gesto, sem dúvida, podemos ver a bênção do pastor da diocese, o selo eclesial de uma escolha que somente o Amor dá a coragem de realizar, através de liberdade profunda que é dom do Espírito”.

2. Naquela noite, ela vai colocar em prática um plano que traçara em combinação com Francisco e seus companheiros. No momento da realização está completamente só. Ela busca a força do Senhor. Ao mesmo tempo demonstra coragem e manifesta firmeza de decisão, o que aliás, ocorrerá ao longo de sua vida nova. Espera que todos, em casa, durmam. Não sairá pela porta comum, mas por uma porta secundária que existia para que os habitantes pudesse se defender de um eventual assalto. Esta porta habitualmente não é usada e tem pedras e travas. Só a força de muitos homens conseguia desentravá-la. Tão cheia de decisão de realizar seu plano e com a força de Jesus Cristo Clara consegue desobstruir o caminho. No dia seguinte seus familiares ficarão estupefatos em ver a coragem e a força da moça!

3. “Tendo saído de casa e já na estrada, a jovem deixa às suas costas a cidade adormecida e corre lepidamente na direção da única porta da cidade que está aberta”. Talvez estivessem sendo realizados trabalhos de conserto e assim depois do por do sol essa porta continuava sem trancas e aberta. Há quem afirme que alguém, sabendo do plano de Clara, tenha facilitado a coisas e deixado a dita porta aberta. Por que Clara resolve fugir? Por que não tentou conversar com a família? A jovem conhecia o caráter dos familiares, de modo especial a intransigência do Tio Monaldo. Este até aceitaria que ela ingressasse num mosteiro de contemplativas como o das beneditinas. Mas, certamente, teria enormes reticências quando se tratava de seguir um caminho que não existia, seguindo apenas a indicações de um jovem penitente que até aquele momento não tinha mais do que uma aprovação oral por parte da Igreja. Clara, nesse momento, muda de classe social, Coloca-se entre os minores, ela que pertencia a uma mais importantes famílias de Assis. São escolhas que não são aceitas pelos aristocratas da província. Esses os motivos pelos quais Clara foge à noite, sem seguranças exteriores.

4. Para que tudo fique sem mal entendidos, Clara vende a sua herança e a dá aos pobres, segundo a ordem do Evangelho. As Fontes fazem questão de colocar este gesto fundamental para o seguimento de Cristo. Não sabemos o modo como ela realizou a venda. Uma mulher da Idade Média, sob certos aspectos, podia dispor dos próprios bens mais facilmente do que hoje. Podia fazê-lo mesmo sendo bastante jovem. A idéia da maioridade de alguém era muito diferente da que temos hoje. As mulheres se casavam em torno dos quatorze anos. Estudos feitos na legislação de Assis dizem que uma mulher podia alienar a parte dos bens que lhe cabiam como dote.

5. Irmã Cristina de Messer Bernardo de Suppo de Assis, no Processo de Canonização: “A testemunha também disse que, quando Santa Clara vendeu sua herança, os parentes quiseram dar um preço maior que todos os outros, e ela não quis vender a eles, mas vendeu a outros para que os pobres não fossem defraudados, E tudo o que vendeu na venda da herança distribuiu-o aos pobres”. Para nós, segundo Chiara G. Cremaschi, é difícil saber os motivos pelos quais os pobres seriam defraudados se Clara tivesse vendido para seu parentes. Talvez Clara achasse que vendendo a seus parentes o resultado ficaria, de alguma forma, no círculo familiar e seu gesto perderia algo do brilho que pudesse ter.

6. “Assim, parece clara a situação da jovem que tinha fugido na noite daquele domingo de ramos: tinha deixado tudo para seguir aquele que se fez pobre por nós, para viver a entrega confiante e total dos pequenos que confiam inteiramente no Pai misericordioso. A primogênita dos Favarone tem cerca de dezoito anos que indicavam maturidade e consciência do que estava sendo feito. Não é o caso de se saber se está mesmo acompanhada de alguém. Corre velozmente na direção de Cristo Jesus como a esposa do Cântico dos Cânticos. O único apoio que tem vem de seu Dileto. Quando se aproxima da Capelinha da Porciúncula, os frades vêm a seu encontro com tochas acesas, pequenos pontos luminosos numa noite nupcial iluminada por aquele que fala ao coração da jovem. Enfeitara-se com a veste mais bela e vai ao encontro do Esposo. A partir de então, tudo só vai ter sentido a partir dele”.

Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/almir/artigos/clara/04.php acesso em 26 abr. 2010.

Ilustração: São Francisco e a profissão de Santa Clara / Francisco João. 1692. Évora, Portugal : Catedral de Évora. Foto (cortada) de Georges Jansoone disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Evora82.jpg acesso em 26 abr. 2010.

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