Páginas de um diário
1. Não longe do Antonianum, em Roma, estão o Coliseu e as ruínas do Palatino. Como sabemos, o Palatino é uma das sete colinas de Roma. Ali nasceu a cidade. Encravado nesse amplo espaço de ruínas visitadas por turistas e estudiosos, foi conservado um Convento franciscano, o de São Boaventura, que é habitado e não é apenas um museu. O interior é simples e pobre. De seu pátio se vislumbra grande parte de Roma. Tive a dita de passar uma tarde e uma noite nesse espaço excepcional. Não sei se moraria ali. Pode ser. Há frades alegres e dispostos na casa do Patatino. Pertencem eles à Província de Roma. Uns estudam na cidade, um é capelão no Hospital Agostinho Gemelli, há um padre diocesano de Moçambique fazendo estudos em Roma. Dizem que, entre 21 e 23h00 há muitos grupos que ali se reúnem: jovens, franciscanos seculares e curiosos pelas coisas de São Francisco. Na tarde em que estive ali chovia muito. Roma estava toda encharcada. Quando desci para a janta ouvi alguém falando português com o padre diocesano moçambicano ali hospedado. Cheguei perto. Tratava-se do provincial de Roma, Fra Marino, que durante muitos anos fora missionário na antiga colônia portuguesa de Moçambique e que guardava muitas boas lembranças de seus tempos missionários. Há italianos que foram “picados” pela missão... Na conversa ele exprimiu sua alegria em poder ter convivido com frei Sebastião Kremer na Cúria dos Franciscanos. Frei Marino dizia ter saudades do tempo de missionário e que a tarefa de provincial é bem mais espinhosa... Naquela noite estava também presente Fr. Massimo Fusarelli, atual responsável pela formação na Ordem e que também é membro da Província conhecida como Província de Roma. Depois do jantar italiano, com a presença de quatro jovens candidatos à vida franciscana, houve a reunião dos confrades e eu fui para o meu canto... pensando em imperadores e imperatrizes que haviam circulado por ali, tão perto, que a gente ainda podia perceber o farfalhar de suas vestes e o som das cornetas e trombetas... Dormi bem, deixando que os mortos enterrassem os mortos.
2. No dia seguinte comecei minha viagem para Fonte Colombo. Fui de carro com Fra Alessandro, irmão não clérigo, guardião do convento de São Boaventura. Atravessamos a região da Sabina e tomamos a Via Salaria. Saímos às 7 horas da manhã e chegamos ao nosso destino uma hora depois. O trânsito era bom. Conversamos. Quer dizer, tentei conversar com meu italiano desajeitado. Falamos disso e daquilo. Alessandro ia participar de um encontro de formadores. Um desses era médico e psicólogo. A paisagem, durante a viagem, era agradável e não chovia. Alessandro chamou a minha atenção para as oliveiras que forneceriam o melhor azeite da Itália. Também se viam as videiras, secas, escuras, esperando a chegada da primavera. Logo atrás de nós chegava Fra Marino, o Provincial. Fonte Colombo é casa de noviciado. Lá estavam eles, os nove noviços de várias províncias italianas... Jovens quase todos, e alguns já com mais de trinta... Mas sempre noviços... Os noviços de todos os cantos são os mesmos.. Gostam de gente que chega para quebrar um pouco a rotina de suas vidas. Fomos recebidos pelo guardião. Um homem de seus 50 anos. Cabelos negros, meio encaracolados, o homem todo enrolado nessa capa que nossos frades usavam antigamente. Lembro-me que o Frei Fernando Jansen, ainda tinha ou tem uma delas... também o Fr. Taciano Stenzel, mesmo no Rio, gostava de trajar a dita cuja... Com capa e solidéu, o guardião nos recebeu... Ele nos recebeu bem e depois veio me contar que Frei Constantino Koser, ao que me parece em 1978 esteve lá, em Fonte Colombo quando ele, o dito guardião, era noviço. Fonte Colombo é casa de noviciado. Lembrava-se ele da visita solene do Geral da Ordem e mesmo do esquema que ele fez a respeito da vida franciscana... Saudades de Frei Constantino... Quantos gerais passaram depois dele e agora, em 2009, haverá nova eleição... Concelebrei com os frades que participavam da reunião e depois estive comigo mesmo e com tudo que está ligado à Fonte Colombo... Dizem que o certo seria dizer A fonte das pombas. Francisco teria ali encontrado uma fonte onde as pombas bebiam água... Segundo me disseram não valia a pena descer para reencontrar a tal da fonte...ela estava abandonada...
3. Essas igrejas do Vale de Rieti são despojadas, na verdade pequenas capelas... A igreja de Fonte Colombo é dedicada a São Francisco. Somos acolhidos por um afresco que está sobre a porta de entrada: Maria, o menino, o bambino, São Luis de Tolosa e São Francisco... Entra-se no templo e logo nos deparamos com uma escultura em madeira representando Francisco em postura de adoração diante do Senhor na cruz. Seria do século XVII. Vem à mente logo a oração tão franciscana de Francisco: Nós vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo... Nas minhas andanças pela Itália vejo que sempre que os frades se reúnem dizem o nós vos adoramos... Insisto no sempre... Por vezes penso que esse costume deveria ser mais divulgado.. Algumas vezes vejo as pessoas entrarem em nossos templos onde há a presença do Santíssimo e se sentarem sem mais nem menos começando uma conversa, nem sempre com moderação, com os vizinhos e sem o cuidado de dizer ao Senhor : Nós vos adoramos... Não tenho a intenção de descrever toda a igreja que está viva dentro de mim pelas horas ali passadas. Chamo apenas atenção para dois vitraux de 1926, entre outros. Um representa o presépio de Greccio.. um esplendor perdido lá no alto e outro luminoso em que Francisco pede que o irmão fogo lhe seja clemente no momento da operação dos olhos. Se fosse fotógrafo haveria de subir lá em cima com uma escada e fazer umas belas fotos de um e de outro...Como Francisco amou o presépio e como ele se sentia irmão de tudo!!!
4. Gostaria de me deter no coro dos religiosos, pequeno, aconchegante, desculpem e que me perdoem os psicólogos, um coro como se fosse um seio de mãe que reúne os filhos para a oração. Estalas estreitas. Tem-se a impressão que os frades de antanho eram todos magrinhos. O coro é também do século XVII. Há umas inscrições curiosas na madeira... Choro ore, Deo corde com a boca em coro, mas com o coração em Deus ou ainda Si cor non orat in vanum língua laborat , se o coração não reza, em vão a língua se cansa... Pensei na questão delicada do Ofício Divino. Francisco insiste que os frades se unam à oração da Igreja através do Ofício. Sabemos. Esperemos que, de nós religiosos, o Senhor não diga: Esse povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. Francisco queria que não nos preocupássemos muito com a beleza da voz, mas atentássemos antes para o coração... Na minha permanência nos lugares franciscanos dei-me conta do cuidado e do apreço pela liturgia das horas. Pelo amor de Deus, não digam que quero voltar ao passado... Não julgo nada e ninguém. Relato o que ouvi e vi...em La Verna, Porziuncola, Antonianum, Greccio e Fontecolombo... Há uma presença maciça dos religiosos na oração. Sei que entre nós se trabalha mais em termos de pastoral, se corre, se agita, se reza belamente, e talvez melhor, com o povo. Não julgo a ninguém... Em cima de meus 70 anos, não tenho a pretensão de dar conselho, mas vivi experiências bonitas no campo da oração nas casas e lugares franciscanos... Ali, em Fonte Colombo, por exemplo.. pelas 12h20, os frades se dirigiam à igreja depois de ouvirem o sino e rezavam os juntos o Oficio das Leituras. Fazia bem ouvir ali a homilia de São Fulgêncio de Ruspe falando da fórmula de oração do por Cristo nosso Senhor... Naquele silêncio, naquela interioridade, essas palavras e todas as outras e os salmos, alguns cantados... mesmo que se tivesse fome esperando il primo e il secondo piato... era o louvor de Deus de todos os frades, alguns muito idosos e esses novos.. Confesso que aquilo que fazia bem.. E entre os religiosos Fra Ludovico, de 90 anos, presente em tudo. Um rosto de gente decidida...rosto grande, imenso...entrando com duas bengalas, quase se arrastando... E no dia seguinte, às 6h30, muitos já estavam na igreja, no coro. O guardião com sua capa, seu solidéu, as mãos no rosto fazia meditação... Essa fidelidade ao ofício, à oração, o canto, o esmero na postura do corpo, tudo isso, me encantava... Antes de se dirigirem ao refeitório, os religiosos se organizam no corredor, em fila, em forma de procissão, para irem recitando, em latim, o De profundis... Por favor, não estou dizendo que se faça isso hoje... Estou descrevendo com simpatia o que me entrava pelos olhos e por algumas brechas do coração que já anda meio empedernido.
5. Interrompi agora a escrita de minhas reflexões sobre Fonte Colombo para concelebrar na Basílica de Santo Antônio, do dia 24 de janeiro, à tardinha. Mesmo com a festa da Conversão de Paulo, aqui em Roma, ela foi omitida. Há a possibilidade de se celebrar uma única missa em cada igreja de Roma. Fra Candido, suíço que mora no Antonianum, acrescentou algumas orações e referências ao Apóstolo das Gentes. Na tarde chuvosa de Roma, menos da metade da igreja, bem menos... pessoas de idade, enroladas em manteaux e cachecóis... quase todos vestindo cores escuras. Uma senhora, pobrezinha, se abanava o tempo todo, mulher pobre e modesta que lá estava para apresentar seu coração ao Senhor. Fra Candido falou bem e brevemente sobre a conversão que é menos recordação do passado, do que desejo de um futuro mais aberto, mais de Deus...
6. Voltemos a Fonte Colombo. Quando começa a descida na direção do lugar onde Francisco e o Espírito de Deus escreveram a Regra, há um ossuário. Está escrito: Cio che noi fumo, voi siete; cio che noi siamo, voi sarete (O que fomos, vós sois. O que somos, vós sereis). Gosto da Igrejinha da Madalena que parece ser do século XII. Ali há uma encantadora pintura de Santa Clara. E um tau que deve, que pode ter sido escrito pelo próprio Francisco de Assis. Tudo é belo nessa capelinha. Tive vontade de celebrar ali, de viver mais tempo ali...mas era frio e úmido... Fiquei pensando nesse Tau que todo mundo usa, que virou moda. É preciso pensar de verdade no que pode representar para alguém carregar esse distintivo dos marcados por Deus... Parece que aos fiéis seguidores de Francisco, aos que desejam ser frades não apenas pelo hábito ou por um costume, mas aqueles que são frades são pessoas predestinadas e que o Pai olha como sendo gente poverella, gente da raça de Francisco, gente marcada pelo Tau...
7. Quanta rudeza nesses lugares que Francisco amou e nos quais viveu em grande intimidade com o Senhor! Aliás, sempre de novo essa impressão ou convicção: Francisco intimíssimo do Senhor. Antes de chegar ao lugar da confecção da Regra é preciso lembrar que Francisco, ali naqueles espaços, foi operado da vista por um médico de Rieti. Há sinais desse evento... O Francisco cantor do sol, da lua, da bondade do rosto do irmão que via, foi ficando cego. Rieti, médico de Rieti, operação das vistas e aquele pedido do pai para que o fogo fosse clemente...
8. Rudeza na cavidade onde Francisco e seus colaboradores diretos escreveram a Regra.... Tudo isso quer dizer muito para nós que celebramos os 800 anos do carisma. Deus queira que todos os eventos programados aqui e ali, no país, na Província ou no mundo remetam sempre ao frescor da Regra. O tempo não estava bonito quando lá estive. Bem longe, sobre os picos do Terminilo, havia neve e um vento frio cortava o rosto quando eu descia rumo ao lugar onde Francisco escrevera a Regra......Mas tinha sido ali que ela tinha sido escrita como medula do Evangelho e norma de vida...
- A vida dos frades é viver o Evangelho, como pessoas que aprenderam o caminho de uma vida simples, sem aparato, sem a doença do consumismo; pessoas que têm um coração não dividido, mas puro, sem duplicidade; gente que anda fazendo o aprendizado da auscultação da vontade de Alguém que pode plenificar os corações mostrando seus caminhos de um mundo novo. Pobreza, castidade e obediência.
- Os que chegam vendem suas coisas, fazem o leilão de suas pretensões altaneiras e passam a confiar naquele que cuida dos pássaros do céu e dos lírios dos campos. Quando têm o necessário, ficam contentes. Sabem também viver privações, bem igualzinho ao apóstolo Paulo.
- Esses homens novos, os irmãos, os frades, não desprezam as pessoas que se vestem com requinte, mas também nunca se servem dos endinheirados para seus próprios interesses. Não aceitem serem compadres...
- Rezam o ofício segundo a orientação da Mãe Igreja. Não esqueçam de rezar pelos irmãos que já faleceram.
- Andando pelo mundo, a Regra pede que não censurem, não falem mal, sejam cordiais e cordatos. Fraternidade dentro, mas também fora de casa. Não murmurem, não sejam amargos, não sejam venenosos.
- Usem o dinheiro com parcimônia e,sobretudo, sirvam-se dele para cuidar dos irmãos doentes e dos homens sem teto e sem comida. Não é preciso vender as coisas da sacristia, mas sejam generosos com os que precisam. Lembrem-se que Francisco vendeu até um breviário para poder atender às necessidades da mãe de um frade.... Usar do dinheiro com parcimônia.
- Trabalhem, não sejam ociosos, cuidem que o vai e vem dos afazeres não impeça a vida de oração. Carreguem a cela pelo mundo, no metrô, nas viagens, nas andanças, nas visitas às comunidades, quando ministram aulas de teologia ou de filosofia ou quando estão reunidos em definitório.
- Onde quer que os irmãos se encontrem sejam familiares, manifestem uns aos outros suas necessidades, amem seu irmão com amor parecido da mãe, nos encontros no refeitório, na visita aos frades vizinhos, acudindo os doentes. Que nossas casas de Concórdia, São João de Meriti e Quibala sejam lugares onde os irmãos se estimem. Que uns e outros sejam respeitados...
- Os que cometem delitos graves saibam que somente a penitência mostrará o caminho da volta e esses graves delitos são mais aqueles marcados pela arrogância e pelo orgulho, do que os outros cometidos num momento de fragilidade. Aliás, os irmãos não devem se preocupar ou se irritar com o pecado dos outros...Toda perturbação prejudica a vida fraterna e a paz em si. Penitência e conversão... Retiros anuais que sejam retiros, retiros mensais que sejam retiros, momentos de silêncio dentro de casa, exame de consciência, trabalho de conversão, antes que seja tarde, tarde demais...Os que professam a Regra sabem que o tempo urge e que será preciso ficar em estado de vigília..
- Os frades se reúnam em capítulo, para tratar de suas coisas e tomar decisões que sejam importantes. Procurem encontrar-se na qualidade de gente que se estima, com espírito desarmado. Capítulos que fomentem a fraternidade. Dentro da lei, é claro. Mas alguém precisa cuidar que sejam momentos de verdadeiro fraternismo.
- “ Admoesto e exorto meus irmãos a que, nos sermões que fazem, seja seu falar ponderado e casto, edificante e útil ao povo, denunciando os vícios e inculcando as virtudes, o castigo e a glória em sermões pequenos, porque o Senhor também fez alocuções breves sobre a terra” (cap.9).
- Os que são guardiães saibam que não são meros administradores, mas carinhosos zeladores pela alma dos irmãos...corrijam-nos com humildade e caridade...é sua obrigação... para isso existe o capítulo da fraternidade, as celebrações, os momentos de exortação ao longo do ano litúrgico... Guardiães conscientes de sua fragilidade, mas também sabedores que foram colocados para que não se perca nenhum dos que lhes foram confiados. Os guardiães são pastores. Que coisa difícil ser guardião...
- Os irmãos súditos procurem obedecer e todos guardem o espírito do Senhor e seu santo modo de operar. Assim traduziram o texto da Regra os nossos irmãos portugueses: ter o espírito do Senhor, a sua santa obra, orar sempre a Deus com um coração puro, ter humildade e paciência nas perseguições e enfermidades e amar os que nos perseguem insultam e acusam...” (cap. 10).
- Que os ministros deixem ir para as missões os frades que lhes parecem capazes de serem enviados.O Amor precisa ser amado... Missões sérias, missões feitas a partir de um programa bem delineado junto com a diocese. Missões com frades que saibam viver com os outros em Angola, nas regiões pobres de nossas baixadas e onde os pequenos se associam para se protegerem do vento frio da indiferença... Uma família de missionários...
9. Ali, com frio mas enrolado em panos, tentei ler a Regra. Terminada esta grata tarefa meu espírito refletia. Primeiro chamou minha atenção um odor forte, não diria um perfume, porque não era agradável para meu olfato. Vinha de uma cerca viva que me parecia feita de arbustos de murta. Pensava também em Francisco...Ele já estava no final de sua caminhada. Não podia perder tempo. Ele e seus irmãos já vinham vivendo o Evangelho. Havia aquela primeira regra, uma proto-regra aprovada oralmente pelo Papa. Houve a segunda regra não bulada e agora essa que vinha das profundezas de Deus e dos abismos do silêncio de Fonte Colombo. Francisco não podia esperar mais...As autoridades esperavam a Regra. Na vida há tarefas que não podem ser proteladas. Precisam ser feitas logo. Quando a graça chega não se pode adiar. Francisco sabia disso. Os irmãos iam se reunir em Capítulo e ele mesmo se dava conta que seus dias não seriam tão numerosos ainda. Para escrever a Regra ou ditá-la não precisava de muitos livros porque já sabia de cor o Evangelho. O que iria ditar era carne de sua carne. Ele respirava o Evangelho. Pensei nos frades, em nós todos, como seres novos, seres evangélicos, seres que mudam as coisas que tocam com seu jeito, seu olhar, seus gestos. As fadas das histórias para crianças tocam coisas e pessoas e as transformam. Um sapo feio vira um príncipe encantado. Um céu tempestuoso se transformar num manto de estrelas... Parece que os frades, aqueles que se deixam tocar pelo espírito do Evangelho que está na Regra são seres que transformam o mundo, proclamam uma boa nova com seu estilo de viver, desarmam os que estão prontos para a guerra e colocam dúvidas os projetos prepotentes de não poucas pessoas. Tudo isso com a Regra evangélica que Francisco escreveu em Fonte Colombo. Os frades são seres bons que transformam aquilo que tocam... Pensei ainda nas vistas de Francisco, nesses olhos do pequeno Francesco...Esses olhos que haviam visto a graça das moças de seu tempo, as feridas do leproso da estrada, a beleza da água das fontes, agora via com certa dificuldade o irmão fogo. Enxergava mal... e temia o momento em que aquele doutor havia de tomar o ferro ardente e queimar suas têmporas... Francisco ia se debilitando... Ainda não tinha acontecido La Verna. Ele aprendeu a olhar com os olhos do interior. Como diz o poeta, só se vê bem com os olhos do coração. A vida foi fazendo com que ele não se guiasse pelas aparências. Pensei e fiquei com essa convicção de que é preciso abrir os olhos e enxergar... Cada frade nesse tempo de graças precisará dizer com o cego de Jericó... Eu quero ver... O tempo urge... não se pode esperar mais.
10. Tive ainda a graça de percorrer a graciosa cidade de Rieti. Lembrei-me das experiências vividas por Francisco ali. Francisco esteve ali na belíssima catedral... e entrei no Salão Papal que evocava a presença dos papas nessa encantadora Rieti. Tive ainda uns poucos minutos em La Foresta. Um rapaz que conseguiu sair do mundo das drogas procurou ternamente me explicar o mistério do lugar enquanto outros que se recuperam varriam e trabalhavam na simplicidade daqueles lugares. Ainda agora, quando fecho os olhos, lembro-me da neve no Terminilo, do moço de La Foresta, do guardião dos cabelos encaracolados, dos noviços lépidos e ágeis, das ruelas encantadoras de Rieti e da Regra daquele que chamamos de nosso Pai São Francisco.
(*) Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM é Assistente Nacional para a OFS e Assistente Regional da OFS do Sudeste II
Foto: Convento di Fonte Colombo : culla della regola francescana / Samuphoto.
Texto extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/artigos/almir_070808/artigos_19.php acesso em 5 fev. 2009.
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