Deu no CCFMC-Boletín Março de 2009:O Concílio Vaticano II relembrou-nos que, sendo a Igreja povo de Deus, seu centro é Deus mesmo. Ele chama, dirige, e envia o povo. Ele quer que seja o Seu povo e deseja que seus membros procedam uns com os outros, como Ele mesmo procede para eles. É um povo de esperança. A esperança de um novo céu uma nova terra, quer dizer, a célula germinativa de uma humanidade nova.
Numa Igreja assim percebida, a política e o humanismo (justiça, paz, preservação da Criação, direito humano etc.) são temas centrais. São as questões básicas da Igreja e os fundamentos imprescindíveis, quando falamos do Deus da Bíblia. Ele convoca o Seu povo para que se converta, fora das garras do poder, da ganância de ter, e Ele o liberta da escravidão, da repressão e miséria. O povo de Deus é formado, pois, de pessoas que estão dispostas a testemunhar este sonho de Deus no mundo; que tem a coragem de testemunhar que Deus é Deus e não um ídolo, que é um ser social que quer a vida de todos; que reclama justiça entre eles, que enche os famintos de bens e despede os ricos de mãos vazias, e que “derruba do trono os poderosos e eleva os humildes” (cf. Lc 1, 46s).
O povo de Deus, portanto, é forçosamente um povo profético, um povo santo e um povo real. São estas três características que o Concílio sublinha especialmente em Lumen Gentium: sua missão messiânica, a dignidade especial dos seus membros bem como a qualidade nova de vida da qual participam e para a qual foram chamados: isto é, ser a semente da unidade, da esperança e da salvação da humanidade. Pois “aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que O conhecesse na verdade e O servisse santamente“ (LG 9). E isto significa, naturalmente, também que o povo de Deus, quer dizer, todos os membros da Igreja, tem uma missão messiânica através da vocação própria e não através dum mandato feito pela hierarquia da Igreja.
O êxodo para fora da desumanização, da escravidão e exploração só acontecerá se Deus, também hoje, preceder o “povo escravizado” e se o “povo de Deus” não chorar pelas “panelas de carne do Egito” e renegar aos ídolos antigos para se tornar povo de Deus, no qual o amor de Deus e do próximo se tornam também os pilares da sociedade política.
Francisco viveu esta visão do Concílio, nos princípios, com a sua fraternidade de maneira exemplar. Ele sabe que é chamado por Deus. Recorda sempre a sua certeza interior de que Deus mesmo está agindo: “o Senhor mesmo me revelou... o Senhor deu-me.... o Senhor mostrou-me” (Test). Francisco qualifica este impulso como sendo uma revelação. Numa época na qual a sociedade feudal dividida em nobreza e povo era entendida como ordem dada por Deus, introduziu uma idéia completamente nova. Se Deus desce, aliando-se aos mais humildes não deve haver diferenças separadoras na família humana. Pois todos somos filhos e filhas de Deus, irmãos e irmãs de Jesus de Nazaré. Portanto não quis superiores na sua fraternidade, mas sim ministros, servos, pois ninguém deve ter uma posição de poder, muito menos entre irmãos. Manda os seus irmãos para todo o mundo para anunciarem a paz, pace e bene, a paz e todo o bem, o que podemos entender como uma fórmula breve do Reino de Deus. Fá-lo porque Jesus o fez.
Assim, Francisco deu um exemplo contagioso de como pode nascer o “povo de Deus”: defender calorosamente a visão do Reino de Deus como Jesus o fez; confiar sempre que Deus há de despertar os ministérios necessários para libertar o seu povo da “casa da escravidão”; não perder os pobres de vista, pois eles são os membros mais importantes do Seu povo. Desta maneira, a visão do Concílio poderia recobrar a sua luminosidade.
Andreas Müller OFM
Extraído de http://www.ccfmc.net/wPortugues/cbcmf/cbcmf-news/2009/2009_03_News.shtml acesso em 25 mar. 2009.
Ilustração: Deus, o Criador. Vitral de Stanisław Wyspiański (1869-1907) para a igreja de São Francisco, Cracóvia, Polônia.
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