Zelo excessivo

A partir deste momento, flagelou-se com um castigo tão severo da carne que foi demasiado rígido para com o seu corpo em dias de saúde bem como em dias de enfermidade. Mal ou nunca poupou o seu corpo. Por isso confessou na proximidade do dia da sua morte que pecou muito contra o irmão asno, quer dizer contra o seu corpo. (Leg3C14)

Francisco de Assis é-nos simpático em muitos aspectos. Mas agora fala-se dum rasgo que se nos tornou estranho: a severidade contra a própria pessoa, a flagelação do corpo, o zelo excessivo que corresponde a uma visão do mundo completamente diferente.

A visão do mundo que está por detrás deste zelo excessivo chamamo-la dualismo. Vive do conceito de que o corpo, isto é, a “parte inferior” do homem, leva para baixo, para o escuro, o negativo, o mau. O espírito, a “parte superior” do homem, tem, por tanto, que promover um movimento contrário correspondente. Tem de matar a assim chamada parte inferior. Por isso, falava-se ainda na nossa juventude de mortificação.

No fim da sua vida, Francisco reconheceu que algo não estava certo. Até diz que pecou contra o corpo. Interpretando bem, vemos que continua ligado à visão do mundo dualista. Embora a imagem do burro seja bastante querida, um burro teimoso tem de ser castigado, mas não demasiado.

Visto desde a Bíblia, Francisco tinha de dar mais um passo. Tinha de considerar o seu corpo como pertença da perfeita Criação de Deus, como terra bafejada carinhosamente por Deus, como uma coisa que mesmo Deus adota. “E a Palavra fez-se Homem”.

Por outro lado, ainda há algo válido por trás do zelo excessivo que é cultivado, sobre tudo, por jovens. Só a idade traz a sabedoria e a moderação. O válido é a decisão com a qual alguém persegue um objetivo, nenhuma obstinação, mas sim uma iniciativa decidida alegre que vê mais na espiritualidade do que um programa de bem-estar. Um molengão nunca se tornará santo.

Perguntas:

1. O que dizes ao zelo excessivo de Francisco de Assis?
2. Reconheces este zelo em ti mesmo?
3. Qual o aspecto de compromisso, conseqüência e tenacidade hoje?
4. Como lutas contra aquilo que te faz cair?

Extraído de:
Carisma 2008/2009 : intercâmbio de idéias e impulsos / Anton Rotzetter. Disponível em http://www.ccfmc.net/wPortugues/cbcmf/bibliothek/charisma/2007_Charisma_Impulse.shtml?navid=104 acesso em 11 fev. 2009.